POV Fred

Hermione me analisou com os olhos arregalados e a boca formando um enorme “O”. E do nada começou a me estapear.

–Ei, pára! Hermione! PÁRA!

Tentei segurar seus braços enquanto ela me batia nos braços, peito e rosto.

–SEU IDIOTA!

–Hermione, ta começando a machucar! Pára!

Finalmente consegui agarrar seus braços. A fiz olhar para mim, enquanto ela tentava se desvencilhar das minhas mãos.

–Por que está me batendo?

Ela ofegava.

–Não basta mentir para mim uma vez? Tem que mentir novamente, e tentar me iludir apenas para não ficar com um ligeiro peso na consciência?

–Eu não menti!

Ela me observou até suas feições mudarem de zangadas, para feições de compreensão, depois de volta pra zangadas.

–Ou está fazendo isso tudo apenas para me separar de Vitor?

–O quê?! Eu não...

–A que ponto chegou, hein Weasley?

Ela cuspiu as palavras.

–Você acha que me seduzindo, eu vou me separar dele, não é? Escute aqui, eu jamais, repito, JAMAIS, iria me apaixonar por um pobretão idiota como você.

Naquele momento meu sangue ferveu e eu larguei seus pulsos subitamente. Um sorriso irônico que eu não planejava, apareceu em meus lábios.

–Quem você pensa que é para falar de mim, hein? SANGUE-RUIM!

Virei as costas antes que pudesse dizer qualquer coisa e andei, com uma calma que não possuía de verdade, até sair das masmorras. Passei pelo idiota do Krum no caminho, que tinha uma ruga de preocupação na testa.

Voltei para o jardim e encontrei Lino e George na mesma mesa de antes.

–E aí, Fred? Resolveu o que tinha que resolver com a sabichona?

–Você nem imagina.

E sorri. Isso mesmo. O sorriso mais falso que já dei em todos os meus 16 anos.

POV Hermione

Eu não queria, mas chorei logo após Fred sair dali. Como ele pôde me chamar de sangue ruim? Isso é o pior xingamento existente para um nascido trouxa. Me agachei no chão e deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto, na esperança de levarem todo aquele tormento junto. Sinto passos se aproximando, mas não levanto a cabeça.

–Hermione...

Vitor. Ele estava ali, me vendo chorar por outro. Isso não era justo. Me forcei a engolir o choro e limpei as lágrimas do meu rosto. Me recompus rapidamente e levantei.

–Me desculpe por isso.

Forcei um sorriso. Ele pareceu encabulado e sem jeito.

–Hermione, eu sei que não é o melhor momento para isso, mas eu preciso te perguntar algo.

–Claro. Pode falar.

–Você... Bom, eu escutei toda a confusão, pelo menos o final já que vocês praticamente berraram e... Por que você não me disse que era uma nascida trouxa?

Um medo avassalador me atingiu. Percebi que minhas mãos tremiam.

–E isso importa?

–Bem, importa, na verdade. Quer dizer, eu tenho uma carreira para cuidar. Tenho que me preocupar com isso, já que a mídia não admite outra coisa senão sangue-puro.

–O que você quer dizer com isso?

–Que... Bem, eu não posso continuar com você. Se a mídia descobre que me envolvi com uma sangue ruim, toda a minha carreira se acaba.

Meus olhos se encheram de lágrimas novamente. Eu sentia-as rolando por toda a extensão da minha face.

–Eu jamais deveria ter confiado em você. Eu quebrei meus princípios apenas por um sentimento que não era recíproco.

Dito isso, me afastei das masmorras correndo. Eu queria alguém para conversar. Alguém que não me julgasse e dissesse “Eu te avisei”. Mas nesse momento, a única pessoa que poderia fazer isso, estava longe. Não de distância. Apenas... Longe.

POV Fred

–Ei Fred!

Me viro e dou de cara com Rony.

–Você por acaso não viu a Hermione por aí?

–Por que eu teria visto?

–Bom, vocês andam meio próximos ultimamente.

Revirei os olhos.

–Não, não vi. E não andamos “próximos” ultimamente.

Ele se afastou.

Quando me virei novamente, George e Lino tinham um sorriso travesso no rosto.

–Que foi?

Eles se olharam e, sem nada dizer, me arrastaram até a Sala Precisa, onde novamente, se encontravam o sofá de couro preto, uma mesa de centro e um aparelho de som trouxa.

–Agora, diga-nos: O que foi que aconteceu com a Hermione?

–O quê?! Nada, oras!

–Vocês se pegaram, anda, admite.

Olhei para Lino, em seguida para George, com um ar de interrogação. Ele deu de ombros.

–Sim, eu contei pro Lino sobre sua paixão maluca. Agora, vocês se pegaram?

Revirei os olhos.

–Não. Só isso?

–Ah, mas rolou alguma coisa aí.

–Concordo com o Lino.

–Rolou. Sabe o que rolou? Rolou a briga mais inútil de toda a minha vida.

Eles estavam estupefatos.

–Como?

Eu, por livre e espontânea pressão, contei sobre tudo o que aconteceu nas masmorras.

–Você chamou ela de Sangue Ruim?!

–Chamei.

–Ei, mas ela chamou ele de pobretão primeiro!

Observei Lino e George discutirem sobre quem estava certo naquilo tudo, mas a verdade é que, nenhum dos lados estava com a razão.

POV Hermione

Andei tão curvada até meu dormitório, que sentia que meu nariz tocaria o chão a qualquer momento. As lágrimas pareciam ter secado. Talvez se eu bebesse bastante água, elas voltariam a dar a graça de sua presença. Ou talvez se eu bebesse bastante água, acabaria por afogar meus órgãos e simplesmente morrer. É, pode ser uma boa opção.

Subo as escadas vagarosamente, com flashes disparando em minha mente. Como Vitor pode ser tão... Argh, não tenho palavras para descrever sua atitude medieval. E Fred... Eu não deveria tê-lo xingado. Acabei de xingar junto, toda a sua família. Aquela família que me acolheu como uma filha. O que considerava improvável, aconteceu. Mais lágrimas rolavam pelo meu rosto, com o mesmo ritmo de antes.

Cheguei ao meu quarto e me curvei sobre o chão. Uma pressão no estômago e percebi que tinha vomitado. Senti uma leve tontura e rastejei até minha cama. Fraca e lentamente me levantei e me joguei sobre o confortável colchão. Quase que instantaneamente adormeci, mas não sem pesadelos. Não, os pesadelos me seguiam por toda parte, quase incrustados em quem eu sou.