Bônus 4

POV Severus Snape

Não tenho o direito de reclamar, o ano que se passou me trouxe mais próximo de Hermione e, apesar de nossos desentendimentos ocasionais, consegui conquistar sua confiança em mim. Entretanto, estar perto de nossa companheira mantinha o Bakant alerta, ansioso e irritado. Tornou-se cada vez mais fácil perder o controle e fazer algo impensado, como aconteceu no Natal quando eu a beijei. Existia um motivo propício, uma desculpa, mas essas falhas só serviam para deixar a mim e ao Bakant no limite.

Sabíamos que algo deveria ser feito, mas a cada dia parecia mais difícil contar a ela a verdade. Temíamos por sua reação: não por como Hermione responderia ao descobrir ser nossa companheira, mas como ela reagiria ao perceber que mantivemos esse segredo dela por tanto tempo.

Após uma reunião privada com meu Lorde, eu andava em direção à saída da Mansão Malfoy e meus pensamentos corriam soltos. Matar Albus Dumbledore foi mais simples que qualquer um podia imaginar. O velho realmente acreditava que eu estava ao seu lado, Draco fez um bom trabalho cumprindo sua missão e o Bakant estava feliz em vingar nossa companheira pela morte de seus pais adotivos.

Não ter que fingir estar ao lado da Ordem me dava mais tempo livre, pelo menos enquanto todos estavam amedrontados demais com a morte do diretor de Hogwarts para fazer alguma coisa. Aproveitei esse tempo ao lado de minha companheira, treinando a ela – a mando de Tom – e a mais alguns para o que eles enfrentariam dentro de alguns dias.

Eu podia sentir por nossa conexão que algo estava atormentando Hermione, e assim que nos encontramos sozinhos, andando em um dos corredores que levaria aos jardins, ela expos qual era o problema. “Como é matar alguém?”

– Por que a pergunta agora, Carinho? – Rebati com outra pergunta apesar de entender o porquê de sua dúvida.

– Ser a filha do chefe trás suas vantagens. Eu sei que no dia da reunião seremos enviados para alguma vila trouxa... E só conseguiremos voltar para cá depois que tirarmos ao menos uma vida. Então, como é matar alguém? Lembro-me de minha mãe falar a Potter depois que ela matou Sirius que é preciso querer usar a maldição. Contudo, não consigo me imaginar lançando uma maldição da morte contra um inocente.

– E eu agradeço por isso. O Avada Kedavra, apesar de proporcionar uma morte rápida, cobra seu preço. – o Bakant se mexeu dentro de mim, ansioso. Pensar em nossa pequena tirando uma vida não era a imagem mais agradável, e fazer isso por meio da maldição da morte apenas tornava o cenário pior.

Você já permitiu que ela perdesse sua pureza com outro. Não aceitarei minha companheira tendo sua alma quebrada! Não por conta de uma Marca desnecessária! Não é uma Marca desnecessária! No futuro, essa Marca pode ser a diferença entre viver e morrer. A única Marca que minha companheira precisa é a minha! Eu a protegerei de qualquer um que coloque sua vida em risco.

– Eu sei! Tanto é que esse é o último passo para construir uma Horcrux. Você já me ensinou isso Sev! Mas eu não vou falhar. Eu quero minha Marca! – ela bradou com força cortando minha discussão interna.

– Você não precisa destruir sua alma por isso! – Pontuei concordando com o Bakant. Talvez fosse melhor que ela não soubesse o que teria que fazer, assim como os outros, mas eu entendia que Tom não arriscaria perder a filha por que ela não conseguiu completar sua Marca. Como eu e o Bakant somos contra colocar nossa menina em perigo, não aprovamos que ela se torne uma Comensal, mas não havia muito o que fazer nesse caso alem de protegê-la. – Existem outras formas de tirar uma vida. Também já te ensinei isso, e terá o mesmo efeito para o ritual de iniciação.

– Para eu passar vergonha? Para os outros futuros Comensais verem que a filha do Lorde das Trevas não é capaz de lançar uma maldição imperdoável? – ela resmungou com raiva.

– Desde quando você se importa com o que os outros pensam Hermione? – perguntei perdido por sua reação. Era fácil entender que ela estava preocupada em ter que matar alguém, afinal essa não é uma tarefa simples, ainda mais na primeira vez, mas Hermione estar assim por vergonha não fazia sentido. – Sua alma é um dos seus bens mais precioso. Se for para quebrá-la, que seja por algo que realmente valha. Depois que a alma se divide pela primeira vez, não há como restaurá-la! Isso vai te mudar! – Me matava por dentro ter que aumentar o tom de minha voz, mas ela não entendia o quão importante esse assunto é!

– Por que isso importa? Se não for dessa vez, será na próxima ou na seguinte. Estamos em guerra Severus! Você sabe disso melhor do que eu. – eu sabia que ela estava a ponto de quebrar, mas isso não me impediu de continuar a tentar.

– Quem disse que você vai voltar para o campo de batalha depois de sua iniciação? – rugi. Por um segundo cogitei deixar que o Bakant tomasse o controle de nosso corpo. Se ela recebesse nossa marca antes da Marca Negra, poderíamos impedi-la de fazer qualquer besteira.

– E QUEM VOCÊ ACHA QUE É PARA DIZER O QUE EU POSSO OU NÃO FAZER?! – Hermione finalmente gritou. Seu rosto estava vermelho e seus olhos dilatados da raiva que ela sentia.

– EU SOU SE... – parei antes que eu dissesse algo que apenas pioraria a situação. Afastei-me alguns passos de minha pequena. – Apenas não use a maldição da morte. Você vai se sair bem. – disse mais controlado antes de me virar e sair pelo caminho oposto que seguíamos.

Depois da reação de Hermione ao descobrir que eu era um Bakant, prometemos que quando fossemos dizer a verdade a ela, faríamos do modo certo: sentando e conversando. Eu não podia perdê-la por causa de seu humor, por que as coisas não foram bem explicadas. E sabíamos que o momento de contar-lhe a verdade estava chegando.

–

–

–

Era uma pequena tortura não ouvir sua voz todos os dias, mas estávamos dando-lhe o espaço do qual ela precisava. Ao finalmente chegar o dia de sua iniciação, eu não podia estar mais aflito. Nem durante a minha própria iniciação eu fiquei tão preocupado como eu estava nesta noite.

Vigiei cada movimento e cada reação de Hermione enquanto ela estava no salão. Ela se sairá bem, minha mente continuava repetindo para mim e para o Bakant que estava mais agitado do que nunca. A apreensão, o prazer, e o orgulho se misturavam ao vê-la usando as vestes tradicionais dos Comensais. Sabíamos que Hermione já era considerada adulta, mas ao vê-la assim, tornava-se claro a mulher em que ela se transformou.

Nossos olhos apenas se cruzaram enquanto ela estava ajoelhada esperando sua vez de receber a Marca. “Boa sorte, Carinho” disse sem emitir som. Ainda mais orgulhoso, como sabia que seus pais estariam, não ouvi nenhum protesto passar por ela enquanto a magia agia se impregnando em suas células e criando a forma da Marca Negra.

Os últimos jovens que restavam receberam a base de suas marcas e eles se foram. Nem dez minutos se passaram depois que todos os futuros Comensais sumiram do salão e eu soube que algo estava errado. A fúria vinda do Bakant era tanta que não consegui controlá-lo completamente, mas como a apreensão e o medo também eram meus sentimentos, deixei que a fera tomasse controle de alguns de meus sentidos, aguçando-os. Lucius deve ter percebido, pois foi atrás de Tom enquanto eu abria minha conexão com Hermione para ver o que estava acontecendo.

– Aurores. – disse ao conseguir interpretar os sentimentos de Hermione.

– Não pode ser Severus – Tom disse tentando não chamar atenção dos outros na sala. Apesar de ninguém estar olhando diretamente para nós, era obvio que todos prestavam atenção. – Mandei-os para uma pequena vila ao norte da Escócia. Não era para eles terem trabalho algum. Minha filha deveria estar de volta em alguns minutos!

Sabendo que Tom e Bellatrix estavam tão preocupados quanto eu, dei mais controle ao Bakant, permitindo-o usar toda a conexão que tínhamos com nossa companheira para monitorá-la, mal conseguindo manter-me na forma humana.

– Você acha que o ministério voltou a vigiar esses lugares mais afastados, como da última vez? – Bella pediu apreensiva.

– Provavelmente escolheram alguns lugares como esse para ponto de encontro. – disse Lucius – São pontos estratégicos para sair do país e estão fortemente protegidos.

Uma pequena parte de mim acompanhava a conversa enquanto minha concentração estava no que acontecia a quilômetros de distância. Apesar de nossa conexão ainda não ser forte o suficiente para eu enxergar pelos olhos de Hermione, eu praticamente conseguia ouvir sua mente trabalhando.

– Argh! – nem cogitei tentar esconder o pequeno arquejo de dor.

– Severus? – Bella pediu preocupada.

– Hermione completou sua Marca. – respondi semialiviado e voltei a prestar atenção ao que acontecia na vila.

O sol estava quase nascendo e Hermione ainda lutava.

– Draco! – verbalizei seu aviso quando traduzi a mistura de emoções que passou por ela.

– Meu filho! Diga que ele está vivo! – Narcisa quase gritou.

– Ele está bem. – afirmei ao “ver” minha companheira usar o athame que lhe dei de presente. – Está acabado.

Mesmo dizendo que havia acabado, que estava tudo bem, o Bakant se mantinha totalmente alerta, como se soubesse o que viria a seguir. Tom perguntou o que estava acontecendo e lhe disse que estavam queimando os corpos para não reconheceram os Comensais mortos.

Eu sabia que ele aprovava o gesto, mas sua vontade de ter a filha de volta era maior que tudo. Eu entendia.

– Eles não estão conseguindo aparatar – disse buscando uma resposta. Então o pânico tomou conta de Hermione. – A Ordem da Fênix está lá.

Pude sentir os Comensais se aproximarem ao ouvirem minhas últimas palavras.

– Ninguém se mexa! Essa é a missão deles. Os que forem merecedores da Marca Negra voltaram vivos.

– A maioria deles não tem treinamento de campo, My Lord! – disse Lucius – E mesmo os que têm... eles podem enfrentar aurores, mas a Ordem é muito mais preparada.

– Você não confia em seu filho Lucius? Minha ordem está clara. Quem desrespeitá-la será punido!

Usei de meu vinculo com Hermione para lhe enviar um pouco de minha energia, mas não era o suficiente. Ela estava cansada e sua magia começava a se esgotar. Ela estava indo bem, mas sabia que não aguentaria muito. A cada segundo eu e o Bakant tínhamos que nos segurar mais para não acabarmos com isso pessoalmente. Sabíamos que nossa companheira tem capacidade para vencer, mas mesmo um Comensal com anos de treinamento estaria com o mínimo de suas forças a essa altura.

– RIDDLE! – o grito invadiu a mente de Hermione como um tiro.

Sem saber o que estava acontecendo, fui inundado pelo medo e pela derrota.

Ninguém encosta em minha companheira!

Foi o ultimo pensamento racional que passou por minha cabeça antes que o Bakant tomasse controle total de meu corpo e usasse toda a força de nossa conexão com Hermione para alcançá-la.

Não prestei atenção ao lugar em que eu estava. A única coisa que importava era o corpo de minha pequena que gritava em baixo de minhas patas. Senti o exato instante em que ela perdeu a consciência, mas sabendo que ela estava viva olhei ao redor. Tudo estava vermelho, como acontece quando o Bakant assume todo o controle.

Você.

Todos haviam parado e me encaravam. O Bakant facilmente farejou quem havia lançado a maldição da morte contra nossa companheira. Sabendo que ninguém voltaria a atacá-la, com um salto o homem gritava sob minhas garras e com uma mordida sua garganta estava dilacerada, escorrendo todo o sangue que antes circulava por aquele corpo.

O sabor do sangue em nossa boca fez crescer nossa fome. Mais alguém vai morrer essa noite.

Pulei para o inimigo mais próximo, que estático, não tentou fugir ou gritar. Mais três morreram antes que desativassem as barreiras contra aparatação e os membros da Ordem fugissem.

Ao ter certeza que não havia mais ninguém que podia ferir minha companheira, voltamos para onde Hermione ainda estava deitada sem consciência. Com um pouco de esforço conseguimos colocá-la contra nossas costas, onde ela estaria segura, e aparatamos para a Mansão Prince, onde eu sabia que ficaríamos bem.