Don't be fear of the darkness escrita por ABNiterói


Capítulo 17
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Ato II



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No último capítulo...

– Você pode não ser o melhor pai do mundo, mas é o melhor pai para mim. Eu te amo. Muito. E tudo que eu estou fazendo é por que eu quero. Potter e Weasley apenas impulsionaram minha decisão, mas eu me conheço bem o suficiente para saber que eu nunca viraria as costas para minha família.

“Eu nunca me senti tão feliz como nesse tempo que fiquei com vocês. Pela primeira vez na minha vida eu posso ser quem realmente sou, e eu gosto disso. Sou filha de Tom e Bellatrix Riddle, dois dos bruxos mais poderosos de toda a historia. Não sou perfeita, mas tenho orgulho de quem sou.”

“Eu estarei ao seu lado até o final meu pai. E não me arrependo de minha decisão.“

Capítulo 13

POV Hermione Riddle

É possível odiar alguém ao ponto de apenas por saber que essa pessoa está respirando você querer torturá-la e fazê-la sofrer o máximo possível antes de matá-la lentamente?

Se isso não é possível, então eu devo ter desenvolvido um novo tipo de ódio, pois é exatamente assim que me sinto depois de me despedir de Jean e Paul, que haviam me levado à King’s Cross depois de conhecerem meus pais. Ao cruzar a barreira que separa o mundo bruxo do trouxa, vi os Weasley e Potter acompanhados por aurores, e esse sentimento se apoderou de mim.

Potter nem perguntou como eu estava, ou como foram minhas férias, apenas me arrastou até uma cabine vazia, junto ao Weasley, e me disse que Draco era um Comensal. Por mais que essa fosse a vontade de meu primo, meu pai só o permitiria receber a Marca Negra depois que ele completasse 17 anos, mas até lá Dray havia conseguido uma missão: infiltrar os Comensais dentro de Hogwarts.

Harry estava tão resoluto de que sabia a verdade sobre meu primo que conseguiu ser imobilizado por ele, perder a seleção dos alunos do primeiro ano, e ser escoltado por Severus até o salão principal com o nariz cheio de sangue.

Eu havia saído do trem na companhia de Ron, Gina, Luna e Neville. Eles conversavam como se eu não estivesse ali, e a cada segundo dentro da carruagem que nos levava ao castelo aumentava minha vontade de amaldiçoá-los. Eu mal passei pela porta e Minerva apareceu na minha frente, pendido para que eu a seguisse.

Quando percebi que estávamos indo em direção ao gabinete do diretor, temi que houvessem descoberto sobre meus pais, então reforcei minhas barreiras mentais e fiz o possível para me acalmar.

– Obrigada Minerva. Você pode ir agora – disse Dumbledore assim que entramos em seu escritório. Contra sua vontade, McGonagall nos deixou, e o velho indicou uma cadeira para que eu sentasse.

– Albus – a porta se abriu um minuto depois, minuto esse que eu não havia dito ou ouvido palavra alguma, e Severus nos cumprimentou.

– Severus, obrigado por vir, estávamos apenas aguardando sua presença.

Meu professor se aproximou e sentou na cadeira ao meu lado, dando apenas um pequeno aceno em minha direção.

– Senhorita Granger, você conhece a posição de Severus, tanto como membro da Ordem e professor de Hogwarts, quanto como espião nas linhas de Voldemort. Depois do ocorrido no semestre passado no Ministério da Magia, Severus precisará de toda a ajuda possível.

– O que Albus está tentando dizer entre toda essa embolação, é que eu estou sendo obrigado a assumir um... estagiário esse ano.

– Não seja tão rígido Severus, ou a Srta Granger vai pensar que você não quer sua ajuda.

– Já discutimos isso muitas vezes Albus. Eu posso fazer tudo sozinho. Não preciso de uma grifinória se metendo no meu trabalho – eu entendia que Severus devia manter sua repugnância sobre mim aparente, mas o asco em sua voz me fez tremer.

– Severus tem um grande problema em compartilhar. – o velho sorriu para mim como se fossemos crianças e aquele fosse o maior problema do mundo. – Mas a senhorita vai perceber com o tempo que, por trás dessa máscara, está um grande homem.

– Desculpe professor, mas não tenho certeza se entendi onde o senhor está querendo chegar. – respondi com minha melhor cara de santa.

– Ah, sim! Como Severus terá que focar em seu trabalho como espião, precisaremos de reforços na preparação de poções. A senhorita, como já me falaram, é a bruxa mais inteligente de sua idade, alem de ser a melhor amiga de Harry e ter ótimas notas em todas as matérias, mas em especifico em poções. Por esses motivos, eu quero que você ajude o professor Snape em tudo o que ele precisar. A noite deve ser o melhor horário, assim nenhum dos dois será comprometido em seus compromissos.

– Vai ser um grande prazer poder ajudar. Na verdade professor, eu faço 17 anos em alguns dias, e eu gostaria muito de me unir a Ordem da Fênix. Quero ajudar de todos os modos possíveis na derrota do Lorde das Trevas.

– Bem, fiquei sabendo que a senhorita não se juntou aos Weasley nessas férias.

– É verdade professor – enrijeci ao ouvir a acusação – depois do que aconteceu no Ministério, eu quis passar todo o tempo possível com meus pais. – não era exatamente uma mentira...

– Harry ainda não deve ter tido tempo de lhe contar, mas eu estarei dando algumas aulas particulares a ele esse ano. Eu, na minha mais modesta opinião, acredito que você já terá muito que fazer, mesmo não sendo membro efetivo da Ordem, mas todos nós confiamos em você, e sabemos que a senhorita estará ao lado de Harry até o final. Ajudar Severus é um grande caminho para derrotar Voldemort.

– Então eu farei o meu melhor, Diretor. Quando e onde devo lhe encontrar, professor Snape?

– Venha aos meus aposentos amanhã após o jantar, e decidiremos isso.

– Seus amigos devem estar se perguntando onde você está, Srta Granger.

Com uma pequena despedida, deixei a sala, respirando fundo ao fechar a porta. Eu não sabia como Severus aguentava viver assim 24 horas por dia. Nos poucos minutos que fiquei naquela sala, eu temia cada vez mais que o velho desconfiasse de algo. Eu não conseguia imaginar como seria viver assim. Não pude deixar de perceber que a mão de Dumbledore estava enegrecida, provavelmente por conta de ter usado a Horcrux de meu pai. Eu apenas gostaria de saber por que, sabendo o que o anel era, o velho insistiu em usá-lo.

Depois do jantar dei aos meus “amigos” a desculpa de que tinha que correr ajudar os alunos do primeiro ano, e consegui não ficar perto daqueles traidores. Podia parecer criancice ficar fugindo assim, mas não era tão simples para meu emocional ficar ao lado de Potter, Weasleys e Longbottom.

Na manhã seguinte, aproveitei que todos os alunos do meu ano estavam enrolando para pegar seus horários com McGonagall, e logo depois de tomar meu desjejum corri para a sala da diretora da minha casa.

– Hermione – cumprimentou Minerva assim que fechei a porta.

– Olá Minnie – eu disse brincando e minha professora sorriu.

– Não há muito que discutirmos, há? Você obteve as melhores notas em todas as matérias que prestou. Pode continuar em todas elas. – eu já ia concordar quando a professora levantou a mão em um claro sinal para eu não dizer nada – Não leve isso como uma duvida, pois sei que você é mais do que capaz de seguir com tudo isso, mas Albus me contou que Severus te aceitou como aprendiza. Você é mesmo uma bruxa especial, pensei que ninguém nunca poderia se gabar por isso, mas parece que me enganei. A senhorita é muito especial apenas por ter conseguido essa façanha.

Eu teria ficado muito mais orgulhosa de ouvir aquilo se eu não soubesse que o único motivo para Severus ter aceitado ser meu ‘professor particular’ foi meu pai ter mandado.

– Mas sim, onde eu estava? Bem, Severus é rigoroso, e eu sei que você é capaz de seguir com todas as aulas e ser sua aprendiza, mas eu te aconselharia a declinar pelo menos uma matéria.

– Profes...

– Por favor, Hermione. Eu era como você, mas inteligência não é tudo. Estamos passando por tempos difíceis. Você precisa estar perto de seus amigos, viver o melhor possível a vida que você tem. E não é crime nenhum você se apaixonar. Coloque a culpa em seus hormônios para cada besteira que você fizer, mas nunca deixe de viver, e não tenha medo disso.

Era fácil pensar assim quando você não está entre a cruz e a espada, ou no meu caso, quando você é filha do Lorde das Trevas, e finge ser a melhor amiga do Eleito. E eu realmente não podia colocar tudo a perder em relação ao meu coração. O que Severus Snape faria se eu dissesse, ou pior ainda: mostrasse o que eu sinto por ele? No mínimo me lançaria um Obliviate.

– Professora, de verdade, não há nada alem das aulas para eu fazer, e mesmo assim, estudar tira minha mente dos problemas.

– Eu sei. Como eu disse, eu era como você. Escolha uma matéria para eu tirar de seu horário. Nem que você use esse tempo extra trancada na masmorra com Severus, preparando poções.

– Trato das criaturas mágicas. – respondi depois de pensar um pouco. A ideia de ficar sozinha com Severus, trancada na masmorra, era no mínimo tentadora.

– Aqui está. Boa sorte, Hermione – peguei minha lista de horários, me despedi de McGonagall e corri para a aula de Runas Antigas.

Ao fim da minha primeira aula, eu tinha um trabalho de quase quatro metros, duas traduções e cinco livros para ler até quarta-feira. Eu fiquei grata pela insistência de Minerva em me fazer desistir de uma matéria. Esse seria um ano corrido. Na segunda aula, DCAT, Severus já havia deixado a sala com a sua cara. Apesar dele não gostar tanto dessa matéria como gostava de poções, era fantástico pela primeira vez ter um professor qualificado nos ensinando.

– O adversário não pode prever que tipo de feitiço a pessoa vai realizar, o que lhe da uma fração de segundo de vantagem – respondi a pergunta que Snape havia feito sobre a vantagem dos feitiços mudos.

– Fraco. Poderia ser melhor Srta Granger. Muito melhor.

Ele estava certo. Nós havíamos passado semanas treinando feitiços mudos nas minhas férias, e o mínimo que eu podia fazer a esse ponto era oferecer uma resposta completa. Como Severus não cansava de me lembrar, não basta apenas decorar livros e mais livros. É preciso entender a essência de cada assunto e formar sua própria opinião, chegar ao ponto da magia estar tão clara que você pode controlá-la sem palavras, movimentos ou varinha, apenas com o pensamento e sua força de vontade. Só que era mais complicado do que eu podia imaginar. Nas minhas aulas com Severus eu percebia que eu não era nada mais que uma traça de biblioteca, como meus amigos bem diziam. Mas eu estava melhorando, eu estava caminhando para me tornar a melhor depois de meu pai.

Ao fim da aula não tive como fugir dos meninos, então acompanhei os dois no caminho para o jardim, onde aproveitamos um pouco do sol enquanto Harry me contava sobre as aulas particulares que ele teria com Dumbledore. Achei melhor dizer sobre minhas aulas com Snape para que os dois não estranhassem quando eu sumisse a noite.

– Meus pêsames Mione – foi a resposta de Potter enquanto Ronald se matava de rir.

Na próxima aula, poções, eu percebi que tinha muita sorte de ter o professor Snape me ajudando. Não que professor Slughorn fosse ruim, mas ele deixava muito a desejar, e era muito distraído. Por causa da pouca quantidade de alunos, todas as casas estavam cursando poções no mesmo horário, e eu vi claramente quando meu primo conjurou um vidro e roubou uma grande quantidade de poção polissuco.

Surpreendi-me por os outros alunos não conseguirem adivinhar quais eram as poções que Slughorn nos mostrou. Apesar de serem poções avançadas, Severus havia nos mostrado todas elas com o passar dos anos, e todas tinham características muito especiais, que tornavam fácil o seu reconhecimento.

Sai da sala especialmente irritada. Potter havia pegado um livro de poções emprestado, e o livro – que pertenceu a um tal de Príncipe Mestiço – estava cheio de anotações, que fizeram O Eleito preparar pela primeira vez na vida uma boa poção, e por consequência ganhar um frasco de Felix Felicis.

Depois que terminamos de jantar, corri para meu quarto, tomei banho, e coloquei uma roupa da mala que minha mãe havia passado horas arrumando para mim (http://www.polyvore.com/head_girl/set?id=127526740). Coloquei o distintivo de monitora para que ninguém ficasse no meu caminho, e usando a maior quantidade de passagens secretas possível, fui até as masmorras.

– Entre senhorita Granger – a voz rouca do meu professor favorito falou antes que eu batesse na porta. Estranhei ele me chamar de Granger, mas dei de ombros e entrei no quarto.

Ao contrario do que eu imaginaria do lugar em que Severus Snape passa grande parte do ano, eu me encontrei em uma sala confortável, composta por dois sofás e uma poltrona – todos pretos – um tapete que dava vontade de deitar, de tão macio que devia ser, uma pequena mesa de centro redonda, uma lareira que estava acesa esquentando o cômodo, e as paredes eram cobertas por estantes, todas cheias de livros. Havia três portas além da que eu entrei. Minerva McGonagall estava sentada em frente à Severus em um dos sofás.

– Espero que estejamos entendidos, Severus. – disse a professora em seu pior tom. Ela se levantou, me analisou da cabeça aos pés – Hermione. – e saiu batendo a porta atrás de si.

– O que foi isso? – pedi assim que a porta fechou.

Severus colocou o dedo na frente da boca, em sinal de silêncio, e esperamos um pouco até ele voltar a sentar e indicar o sofá a sua frente para mim.

– Você precisa lembrar-se de conferir se ninguém está ouvindo atrás da porta, principalmente se a senhorita for mostrar tanta intimidade. – ele respondeu rígido.

– Desculpa professor Snape. Não vai se repetir, senhor. – exagerei na formalidade de propósito. Eu odiava quando ele me tratava como uma aluna qualquer.

– Desculpe Hermione – ele pediu suspirando e eu fiz um gesto como se aquilo não tivesse importância. – Minerva tem me enchido desde que soube que você será minha aprendiza. Ela acha que, de alguma forma, eu vou tirar vantagem da senhorita, se é que você me entende.

– Sim Severus, eu entendo. Mas não me preocupo com isso – respondi sinceramente. Eu ficaria feliz se ele se aproveitasse de mim.

– Seu pai deixou claro que, desde que não atrapalhe seus estudos, eu posso fazer tudo o que for necessário para o seu treinamento. Trabalhando juntos, dois dias por semana devem ser o suficiente para produzirmos as poções necessárias para a Ordem e para a Ala Hospitalar. Quando você pode me encontrar?

– Tenho aula de Astronomia quintas. Os outros dias estão livres.

– Você vai querer aproveitar seus fins de semana com seus amigos...

– Não. Eu não tenho amigos. Não posso ser vista com Draco e não consigo olhar para aqueles traidores sem querer matá-los. Mas prometi ao meu pai que manteria um olho em Potter. O melhor modo de não me afastar deles e ainda assim não ter que ficar ao lado daqueles traidores é dizer que o senhor está me fazendo de escrava todas as noites e todo o dia nos finais de semana.

– O que for melhor para você Hermione – Severus disse olhando-me com intensidade.

– Durante a semana venho te encontrar após o jantar. Sábado e domingo posso vir 10 horas mais ou menos? – tentei parecer certa do que eu queria, mas acabou saindo como uma pergunta.

– Sim, mas você irá jantar no Salão Principal, e depois terá tempo livre para fazer o que quiser. Não! – Ele exclamou quando tentei interromper. – Você não vai passar praticamente dois dias inteiros trancada aqui nos finais de semana.

– Como você quiser Severus – disse cabisbaixa, sabendo que não adiantaria de nada discutir.

Severus se levantou e veio até mim. Sentada eu mal alcançava seu peito. Por estar com a cabeça baixa, apenas senti sua mão deslizar por minha cabeça até meu queixo, que ele segurou e levantou meu rosto.

– Talvez você diga que não tem amigos, e eu entendo que você não consiga ficar com Potter e Weasley sem querer matá-los, mas você não está sozinha Hermione – a carícia em meu rosto era tão boa que me fez fechar os olhos, guardando aquele momento – Sempre que você quiser alguém para conversar, ou apenas para fazer companhia, estarei aqui.

– Obrigada Sev – sorri, ainda de olhos fechados, imensamente feliz por ele estar me deixando entrar tanto em sua vida.


Nas semanas que se seguiram uma rotina confortável se formou. Terça a noite e sábado eu e Severus preparávamos as poções que eram necessárias e fazíamos um estoque das poções que não estavam na lista de Dumbledore.

Um dia, com raiva de Potter, contei a Severus sobre o livro do Príncipe Mestiço. Depois que eu muito xinguei a quem escreveu as anotações no livro e Potter, Severus me disse que o livro pertenceu a ele quando estava no sexto ano. Fiquei super mal pelo que eu havia dito antes, mas Severus concordou que foi errado deixar um dos livros que continham suas anotações na escola.

No dia seguinte pedi a Potter o livro emprestado 'para ter certeza que não havia nada perigoso com ele'. Quando fui me encontrar com Severus levei o livro comigo e ele fez uma cópia quase idêntica, mas que não continha alguns feitiços perigosos anotados na margem. Potter nunca percebeu que eu devolvi a ele um livro diferente do que eu peguei.

Preparar poções junto à Severus Snape era uma das melhores experiências que já tive na minha vida. Sempre gostei das aulas de poções, mas ao estamos sozinhos ali eu podia praticamente sentir o poder de Severus impregnado na sala, e isso me contagiava. Eu poderia passar o dia inteiro apenas sentada ao seu lado, obsevando seus movimentos e ouvindo atentamente cada explicação que ele me dava. Quando disse ao meu professor como me sentia nessas horas, ele admitiu que quando eu era pequena eu amava ficar sentada no laboratório de poções da Mansão Riddle vendo-o cozinhar cada poção.

Passei aquele sábado inteiro tentando lembrar-me disso, mas não fui capaz. Pouco antes de eu ir embora, Severus me chamou e perguntou se eu queria ver uma memória dele de quando eu era pequena. Minha curiosidade impediu-me de negar.

– Use legilimência em mim, mas não procure por nada. Apenas entre em minha mente e me permita mostrar-lhe.

Fiz como ele disse não encontrando nenhuma barreira. A mente de Severus, por algum motivo, quase não parecia humana. Antes que eu pudesse pensar mais nisso, vi uma versão bem mais nova de mim sentada em uma bancada de pedra cinza, ao lado de um caldeirão.
O Severus da memória era bem mais novo – devia ter uns 20 anos – mas eu me sentia muito mais atraída pelo homem que ele é no presente. Tirei o pensamento de foco, prestando atenção ao que Severus dizia. Ele estava explicando à minha versão mais nova cada ingrediente que era acrescentado no caldeirão, e dizia cada modificação que ele fazia da receita original.

Fui tirada da mente de Severus com mais delicadeza que pensei ser possível.

– Você sabe qual poção estávamos preparando?

Fiquei imensamente feliz por ele ter falado no plural, como se eu estivesse ajudando de alguma forma. Fechei os olhos lembrando-me do que vi. Analisei os ingredientes que estavam na bancada ao meu lado e a poção que estava no caldeirão.

– Felix Felicis? - arrisquei sem muita certeza, mas recebi um belo sorriso de confirmação.

– Bella sempre teve raiva por você preferir ficar comigo no laboratório a brincar com Draco ou ser a boneca dela, provando vestidos e tirando fotos.

Ri, mas por dentro, pela primeira vez, eu pensava na diferença de idade que havia entre nós. Severus não devia ser muito mais velho que eu atualmente sou quando eu nasci. Pensei se a situação fosse contrária, e tive mais certeza que sempre tive que Severus nunca me veria como nada mais que sua aluna, no máximo uma sobrinha adotiva.

– É por isso que minha mãe não gosta de você? – perguntei voltando a me concentrar na memória que ele havia me mostrado.

– Eu não diria que Bellatrix não gosta de mim. Ela apenas tem muito ciúmes de você. Ela nunca aceitou que você não seria o bebê dela para sempre. Por você passar muito tempo comigo, Bella acabou transferindo sua 'frustração' para mim. De todo modo, você cresceu mais rápido que o normal, sempre foi mais velha do que realmente é. Sua mãe nunca vai se perdoar por não ter estado ao seu lado tanto quanto ela podia.

– Nunca imaginei que minha mãe fosse tão ciumenta.

Pendurei minha bolsa novamente e sentei na bancada – que já havíamos limpado – exatamente como eu estava em sua memória. Severus puxou um banco alto e sentou de frente para mim.

– Você não faz ideia. Você tinha um mês quando Tom falou pela primeira vez sobre seu casamento. Eu pensei que Bella fosse matar seu pai.

– Você sabe que é meu noivo, Severus? - perguntei temendo a resposta pela primeira vez.

– Sim, eu sei. Mas não vou te contar.

– Por favor? - tentei.

– Não. Aproveite a liberdade que você possui. Depois que você souber quem é ele, sua vida vai mudar. – Qual era o problema de me contarem quem será meu futuro marido? – Desculpe Carinho. – Severus disse como se fosse culpa dele eu estar noiva.

– Por que Carinho? – Perguntei sem perceber.

– Você não gosta? – pediu apreensivo. Eu sabia que ele temia ter me ofendido ou algo assim.

– Eu gosto. Muito! – respondi rapidamente. Por algum motivo eu estava com vergonha de admitir o quanto eu amava o apelido. Parecia algo muito íntimo; uma intimidade que eu desejava, mas sabia que nunca teria. – Apenas queria saber de onde surgiu...

– Te chamei assim pela primeira vez quando deixei essa cicatriz em sua mão esquerda. Pareceu certo naquela hora e continuei a te chamar assim. Mas agora vejo que o apelido não te deixa confortável. Não te chamarei assim novamente Hermione.

– Não, por favor! – eu seria capaz de implorar se fosse necessário, mas eu não iria perder algo que era único entre nós. – Eu já disse que amo quando você me chama assim, e eu te proíbo de parar Severus!

– É uma honra cumprir suas ordens minha Princesa. – ele disse solene.

Eu não conseguia acreditar! Ele estava mesmo brincando comigo!

– É estranho você me chamar de princesa sendo que você é o Príncipe. – revidei.

– Você não acha então que formaríamos um belo casal? – Não era possível não ficar sem palavras. O que estava de errado com ele? Se fosse qualquer outro eu pensaria que aquilo foi um flerte, mas considerando quem era...

– Não acha que sou muito nova para você? – imitei seu tom de brincadeira, dando voz ao meu pensamento anterior.

– Como eu já disse, você é mais velha que a idade que possui. E mesmo que não... - ele parou de repente deixando-me curiosa. – Já está tarde. Perdemos o jantar. Venha, vamos comer algo.

Segui Sev para fora do laboratório. Tentei descobrir o que ele ia falar, mas sem sucesso. Por fim me contentei apenas em saber que ele não me considerava nova de mais, e sentei na cozinha enquanto Severus pedia a um elfo da escola para trazer nosso jantar.

Comemos em um confortável silêncio e, não querendo que a noite acabasse, quando nós terminamos de comer eu sentei em um sofá na sala.

Mesmo com todo o espaço livre, Severus sentou ao meu lado. Quase não controlei o impulso de escorar minha cabeça em seu ombro.

– Sev... – comecei sem ter certeza se queria mesmo saber aquilo. – Você podia me contar o que aconteceu na noite do meu pesadelo?

Senti ele me encarando, mas não encontrei seu olhar. Pensei que ele não fosse me responder pelo tempo que ficamos em silêncio. Severus pegou minha mão e encarei nossos dedos entrelaçados.

– Eu ouvi um pedaço de uma profecia que Trelawney fez para Dumbledore. A profecia falava da derrota do Lorde das Trevas - a mesma que Potter quebrou no departamento de Mistérios no ano passado. Quando contei ao seu pai ele se comprometeu a impedir que as palavras de Sibila tornassem realidade. Bella tentou de tudo para dissuadir Tom, mas nada adiantou, então ela pediu para que eu cuidasse de você naquela noite e me avisou que Maya saberia o que fazer se algo acontecesse. My Lord foi até os Potter e Bellatrix aos Longbottom.

Sua voz não passava de um sussurro, e se eu não estivesse ao seu lado, não ouviria suas palavras.

– Depois que seus pais deixaram a Mansão Riddle você sentou no meu colo e ficamos lendo Os Contos de Beedle, o Bardo. Senti minha Marca doer como nunca e pouco depois recebi uma mensagem de Bellatrix. Mal terminei de ouvir a mensagem e os aurores invadiram a casa. As janelas explodiram, e por conta do impacto você foi jogada para longe de mim – Severus apertou minha mão, claramente preso às lembranças – Cortaram as luzes. Você começou a gritar. Eu consegui chegar até você, e você estava com tanto medo! Chamei Maya, e mesmo você querendo ficar comigo, a elfa te levou. Eu fui para a casa de meu pai, e naquele semestre comecei a lecionar. Nunca soube o que aconteceu com você até cinco anos atrás.

Tentei me imaginar com dois anos de idade, sentada no colo de Severus e lendo estórias infantis. Não foi difícil criar a cena em minha mente, e era algo que eu realmente gostaria de tentar.

– Nos meus pesadelos parece algo tão horrível – comentei sem ter certeza do que falar.

– Quando aconteceu, foi horrível para nós dois. Não me espanto que você tenha ficado traumatizada. Eu não consegui tirar aquela noite da minha mente por um longo tempo.

– Não consigo imaginar você com medo de algo. – Pensei alto.

– É claro que fiquei com medo. Eu não sabia o que aconteceria com você.

Olhei para Severus. Ele me encarava fixamente e seus olhos estavam cercados por uma aura vermelha, mas isso não me assustou, ao contrário, me fez sentir-me mais confortável que nunca.

– Acabo de perceber que tenho muito que agradecer a você.

– Você não tem nada que me agradecer. Tudo o que fiz, faço e farei é de boníssimo grado.

– Obrigada Sev. – apesar de suas palavras, agradeci e impulsionei meu corpo para mais perto dele, beijando sua bochecha demoradamente.

– De nada Carinho – Severus respondeu tranquilamente, beijou minha testa e me abraçou.


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Notas finais do capítulo

Juro juradinho que a partir de agora terá cada vez mais momentos Sev e Hermione...
Vou ter simulado esse sábado, então duvido que eu consiga escrever alguma coisa até semana que vem, mas já comecei a escrever o próximo capítulo... acho que não vou demorar muito para postá-lo.
Kisses