Cidade do Tempo Cruzado escrita por Beatriz Costa


Capítulo 4
Capitulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Capitulo 4

No final do Jace tinha chegado ao nível de tédio que Maryse Lightwood tinha apelidado de “Zona de Perigo”. Muitas crianças tinham zonas de perigo, a única diferença com a zona de perigo de Jace era que era mais perigosa para outros do que eram para ele. Quando a maior parte dos adolescentes entrava numa zona perigosa de tédio eles experimentavam drogas pesadas e álcool. Jace saia e matava grandes demónios com pequenos e afiados objetos. Já que isso não era uma opção, ele estava reduzido a pelos corredores do Instituto.

Durante suas viagens ele quase foi de cabeça contra Sophie, e a teria deitado abaixo se não fossem seus reflexos bons o suficiente para a apanhar.

Sophie olhou para um dos novos habitantes do Instituto que ela tinha tentado evitar a todo o custo. Esse garoto dourado a lembrava muito Will para se sentir confortável perto dele. Os dois garotos partilhavam a mesma confiança e boa aparência. “Me desculpe, senhor,” ela murmurou. “Foi minha culpa.”

“Não leve o crédito por algo que não fez,” Jace disse em brincadeira. “É um mau hábito para as pessoas terem,” então ele se desviou para a deixar passar.

Suas maneiras eram mais agradáveis do que Sophie esperava. Will também brincava com ela, mas havia nessas brincadeiras uma malicia deliberada. Jace era diferente. E também se tinha desviado do caminho. Patrões raramente saiam do caminho para seus serviçais passarem. Sophie estreitou os olhos ao passar por ele no caso de ele estar planeado alguma partida. Uma vez longe o suficiente, ela acelerou o passo.

“Ei, Sophie?” chamou Jace do fundo do corredor, atingido por uma súbita ideia de como passar as próximas horas até alguém estabelecer algum tipo de plano de ação. Ele tinha juntado toda a informação do que se passava no Instituto de Londres, e agora estava dentro do assunto Axel Mortmain e seu exército mecânico. Ele percebeu que alguma coisa excitante estaria para acontecer.

Sophie congelou. É claro que ele iria dizer alguma coisa. “Sim, senhor?”

Jace revirou os olhos. “Primeiro, não me trate por senhor. Me faz sentir velho. Segundo, porque é que você parece preparada para levar um tiro? Seria incómodo me desfazer do seu corpo. E terceiro,” ele concluiu. “Você pode dizer-me onde fica a sala de música?”

O pedido de Jace era um tanto invulgar. Tirando o Sr. Jem, ela não conhecia nenhum outro Caçador que gostasse de tocar algum instrumento, ou até ter tempo para isso. Ela assentiu para Jace. “Claro, Sr. Siga até ao fundo desse corredor. Suba as escadas, vire á esquerda no corredor, a sala de música é na terceira porta do lado direito.”

Jace assentiu e se foi, seguindo as instruções de Sophie. Elas foram precisas, e Jace rapidamente se encontrava sentado ao piano. A tampa permaneceu sobre as teclas do piano. Jace não tinha tocado num piano desde que tinha descoberto que tinha sido criado por Valentine. Foi por causa de Valentine que aprendera a tocar. Ele tinha dito que todos os homens deveriam ser capazes de tocar um instrumento, assim como todos deveriam saber como vender. Foi uma das poucas vezes que Valentine disse “todos os homens” em vez de “todos os Caçadores de Sombras”. Tinha sido uma das poucas vezes que ele sentiu que havia mais no mundo do que apenas a mansão e as colinas em volta do lugar onde cresceu.

Tocar piano costumava fazer ele relembrar sua infância e sentir segurança. Quando pensava que era filho de Valentine tudo o que pensou foi que deveria ter sabido. Mais tarde, o instrumento o fez se perguntar porque é que sequer pensou que Valentine era seu pai, quando era óbvio que ele apenas tinha sido um soldado experimental. Jace também se tinha questionado se ele realmente gostava de tocar piano, ou se era apenas algo que tinha aprendido pela mesma razão que aprendera a lutar, ou Latim. Porque Valentine marcava as lições e Jace nunca o questionava.

“Sophie disse que você estaria aqui,” Clary falou da porta, tirando Jace de seus pensamentos. Ela andou pela sala e pegou numa cadeira confortável, utilizado para as pessoas sentarem e ouvirem música.

Jace notou que Clary usava uma camisa de dormir Vitoriana que obviamente era emprestada. “Quanto tempo tenho estado aqui?” perguntou ele.

Clary deu de ombros. “Umas duas horas. Já passa das onze. Eu trouxe pra você algo pra jantar,” ela ergueu um prato com um sanduiche e uma maça fatiada.

Jace sorriu e pegou no prato. A visão da comida o fez perceber o quão faminto estava, mas não comeu. “Você lembra do picnic que eu levei você no seu décimo sexto aniversário?”

“Hmm…” ela fingiu pensar. “Isso me lembra algo. Você não apareceu na porta do meu quarto a meio da noite e começou a disparatar sobre seu propósito metafisico, e disse que fez um ótimo sanduiche de queijo?”

“Ainda faço,” disse Jace com um sorriso.

“Pois, eu também,” disse Clary, se inclinando e levantando o prato com o sanduiche. “Toca a comer.”

Jace obedeceu e deu uma trinca. “Também falamos de aniversários,” ele lembrou. “Você queria mesmo andar no secador?”

Clary olhou para ele. “Se você disser na frente de alguém, talvez eu tenha que matar você. Ou prefere que eu comece contando sobre seu banho de esparguete?”

“Nem se atreva,” ele disse sinistramente.

“Você me mostrou a flor que apenas cresce á meia-noite,” disse Clary suavemente. "Foi uma das coisas mais bonitas que já vi.”

“Eu estava apenas olhando você,” admitiu Jace. “Eu lembro que seus dedos remexiam, como se não conseguisse esperar para desenhar. Foi incrível para mim, a maneira como seu rosto se iluminou. Foi parte do que me atraiu de início. A maneira como tudo era incrível e mágico para você. Mesmo Caçadores não usando magia.”

“Eu lembro quando você disse exatamente quando se apaixonou por mim,” disse Clary. “Você disse que tinha sido depois de eu dar um tapa em você porque você tinha dito que havia dez porcento de não ter certeza se eu me machucaria ou não.”

“Eu toquei piano,” Jace murmurou. “Eu precisa pensar em outra coisa até você acordar. Eu já precisava que você acordasse. Quando me deu o tapa, foi quando eu soube que precisa beijar você.”

“Me beije agora,” sussurrou Clary.

Jace estava mais que disposto a obedecer. Ele entrelaçou os dedos no cabelo dela, e Clary colocou seus braços em volta de seu pescoço. Para Jace, beijar Clary foi o que fez perceber porque os beijos em filmes eram sempre filmados com a camara rodando. Ele sempre se sentia que estava rodando e afogando, e Clary era a única tábua de salvação.

Clary se afastou, quando respirar se tornou um problema evidente. Não querendo se afastar completamente, ela encostou sua testa na dele. Ela esperou sua respiração acalmar, notando que Jace estava tão ofegante como ela. Tirou os braços do pescoço de Jace e afundou na cadeira. Se enrolou na cadeira e pegou a manta que trouxera, se aconchegando nela. Se pôs numa posição confortável e fechou os olhos.

Uma mecha de cabelo escapou do coque desarrumado, fazendo cócegas. Ela levou uma mão para o afastar, mas os dedos de Jace chegaram primeiro. Em vez de voltar a pôr o cabelo no coque, ele o desmanchou e passou os dedos por ele até estar caído em volta do rosto.

“O que está fazendo?” perguntou Clary sem se dar ao trabalho de abrir os olhos.

“Eu prefiro ele assim,” argumentou Jace.

“Ok,” disse Clary, se afundando mais na cadeira. “Agora, toque para mim.”

“Como queira,” citou Jace antes de se voltar para o piano e levantar a tampa.

“Também te amo,” murmurou Clary. “Embora suas citações sejam mais acima do que A Princesa Prometida.”

Jace sorriu. “Vou tentar arranjar algo melhor.”

E então começou a tocar. A música começou baixa e obscura, antes de subir umas oitavas misturadas com notas altas e brilhantes. A música mudou para um tom mais doce. Então todo o calor se foi para notas profundas, obscuras e depressivas. E então voltou a mudar, para um tom quase puro e doce.

Quando Jace acabou de tocar e se virou, Clary estava adormecida na cadeira. Sua respiração afastava algumas mechas de cabelo do rosto, toda a vez que expirava. Ele ouviu algo vindo da porta e olhou pra cima rapidamente.

Will estava na porta. “Oh, é você,” ele disse. ”Eu pensei que Jem tinha descoberto um novo talento. Há quanto tempo você toca piano?”

“Tinha cinco anos quando tive minha primeira lição,” contou Jace. Ele tapou o teclado. Se aproximou de Clary e pegou nela, com manta e tudo. Ele foi até á porta e saiu. Will o seguiu.

“Jem sempre diz que eu deveria aprender a tocar piano,” refletiu Will. “Ele diz que tenho mãos para isso.”

Jace rolou os olhos para ninguém em particular. É claro que as mãos seriam herança familiar. O que mais poderiam ser? “É,” disse Jace para disfarçar. “Se vou não aprendeu até agora, provavelmente não vai aprender nunca.”

Quando viraram para outro corredor Will perguntou, ”Que música você estava tocando? Não reconheci.”

Jace deu de ombros. “Eu que compus.”

“Como?”

“Clary pediu para tocar para ela,” disse Jace. Como se fosse assim simples.

Will olhou para a pequena ruiva nos braços de Jace. “Você faria qualquer coisa por essa garota, não é?”

Jace olhou para Will. “Não existe “qualquer coisa”. Se Clary me pedir algo que eu lhe possa dar, eu dou. Custe o que custar.” Com isso, Jace entrou no quarto de Clary para a deixar na cama.

“Sim,” Will murmurou para a porta fechada. Ele viu o rosto de Tessa em sua mente. “Custe o que custar.”


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Notas finais do capítulo

O que acharam?