Demorou um tempo até que se lembrasse onde estava, ao abrir os olhos com a visão embaçada não reconheceu de primeira as paredes claras, nem a cortina rosa, muito menos os outros móveis. No entanto, quando se lembrou do motivo de estar ali, não pode evitar um sorriso.

Colocou os pés para fora da cama, sentindo o movimento do colchão macio (macio até demais), que era tão diferente do dela. Separou uma muda de roupa simples, já que ficaria a maior parte do dia na oficina mesmo e entrou no banho.

Rose prezava seu banho demorado todo dia de manhã e de noite, a água estava na temperatura certa pra ela. Dançava e cantarolava “pocketfull of sunshine” enquanto se ensaboava e lavava os cabelos.

[…]

– Cara, você tem algum problema? Candice Swanepoel é mil vezes melhor do que a Doutzen Kroes.

Scorpius o encarou perplexo, enquanto passava o sabonete*.

– Alvo, a Doutzen Kroes é muito mais gostosa…

O moreno o cortou, desligando o chuveiro.

– As lingeries da Candice são muito mais sexy…

James se meteu, já fora do chuveiro, ele se secava.

– A Doutzen desfila muito melhor…

Luke teve que concordar com Alvo, sacudindo os cabelos molhados.

– A Candice faz a melhor cara de safada…

Já fazia meia hora que eles tinham saído da quadra e agora estavam tomando banho no vestiário, desde então não conseguiam entrar em um acordo sobre qual modelo da Victoria Secret era a melhor.

– De qualquer jeito - Alvo continuou - Eu estaria feliz de dormir com qualquer uma delas.

James revirou os olhos e enrolou a toalha (deixando-a mais grossa) e bateu com toda força na cabeça do Alvo.

– Ah você jura, cabeção?

– Vai se fuder, James!

Scorpius e Luke riam dos irmãos que agora faziam uma luta de toalhas, como se fossem sabres de luz. Enquanto isso os dois loiros já estavam quase vestidos.

– Cara - Scorpius chegou perto deles - É por isso que vocês nunca transam com ninguém, parecem duas crianças.

E quase no mesmo momento, os dois o atingiram com a toalha, talvez ele merecesse essa. O loiro se despediu deles, já que tinha que chegar mais cedo no trabalho hoje, e soube que os três continuariam discutindo.

Quando passou pela recepção viu que a recepcionista o encarava descaradamente, sem resistir Scorpius piscou para a mesma que abriu um sorriso safado. Ao entrar no porsche o loiro ainda ria e quase que inconscientemente imaginou Rose revirando os olhos para ele.

O loiro vasculhou dentro do bolso do terno, em busca do seu iPhone e soltou um suspiro quando viu que não tinha nenhuma ligação. Ficou dez minutos encarando o celular, decidindo se ligaria ou não.

Ah que se dane.

A cada “bip”, seu coração parecia bater mais rápido e isso era pura idiotice.

É só a Rose.

Parecia repetir para si mesmo.

– Scorp!

Foi involuntário o sorriso que abriu em seu rosto, o loiro soltou a respiração (ele nem tinha reparado que prendera).

– Rose! Onde você estava? Te liguei ontem mais tarde e você não me atendeu.

– Desculpa loiro, as coisas estão agitadas por aqui - ele ouviu um suspiro - Queria que você visse esse lugar, é incrível.

– Vê se não se apega muito, você tem que voltar pra casa.

Escutou a gargalhada dela do outro lado e sentiu-se leve.

– Olha, eu já tomei café e tenho que ir pro estúdio agora… Hora de trabalhar, eu te ligo mais tarde pra compensar por ontem.

Scorpius se tranquilizou com as palavras dela.

– Certo, bom trabalho ruiva.

– Pra você também.

Ele ainda nem tinha tirado o iPhone da orelha, quando viu que Rose já tinha desligado.

Certo, melhor que nada.

Scorpius sabia que o dia de hoje seria exaustivo, teria que cuidar de muitos casos e ir ao tribunal duas vezes, o que ele mais odiava como advogado.

[…]

Rose estava no seu intervalo de almoço. Tinha acabado de sair da sala e agora rodava pelos corredores da mansão, aproveitando o resto do tempo que tinha livre.

O lugar era muito confuso. Havia corredores com várias bifurcações, portas para todos os lados e nada marcante que a fizesse lembrar que já tinha passado por ali.

Esse quadro não está no outro corredor? Eu acabei de passar por ele… Ou será que eu confundi com o corredor do lado da cozinha? Talvez fosse o da biblioteca?

No final das contas, a ruiva estava perdida e não sabia como voltar para seu estúdio. Estava quase dando meia volta para tentar encontrar alguém que a explicasse quando um quadro em particular chamou a sua atenção. Localizava-se no final de uma bifurcação do corredor em que ela estava, no fundo tinha um belo móvel e logo acima o tal quadro.

Era um Van Gogh original, sua boca se abriu em um perfeito O. Rose podia ver as pinceladas, de tão perto que estava, as cores vivas se sobressaiam (com certeza restaurado há pouco tempo), a vivacidade do quadro era magnífica. Não soube quanto tempo ficou encarando a pintura, porém despertou quando alguém abriu a porta com força, acertando-a no ombro.

O homem a encarou assustado, Rose nem mesmo tinha percebido que havia uma porta do seu lado.

– EI!

– Sinto muitíssimo - tocou-a delicadamente no ombro - Não sabia que tinha alguém aqui, normalmente ninguém vem nessa área da mansão.

De repente, a ruiva sentiu-se como uma adolescente sendo pega em flagrante matando aula por um professor.

– Desculpe, não sabia que não podia vir aqui.

O homem a encarou confuso, ele tinha uma postura imponente, usava um terno (que devia Rose pode ver que era caríssimo) e uma pasta elegante de couro. Devia ser algum contador que tinha vindo prestar serviço ao Duque.

– Talvez seja um equívoco de minha parte, mas pensei que já tinha deixado claro para todas as criadas que não gosto de ser incomodado no escritório.

As sobrancelhas dela se arquearam.

– Eu não sou nenhuma criada - colocou as mãos na cintura, ultrajada. - E na verdade, Davina disse que eu podia circular pela mansão quando quisesse. Talvez ela tenha esquecido de mencionar que tenha contadores mal educados e mesquinhos que te acertam com portas por ai.

Talvez eu não devesse ter sido tão rude.

Ele me chamou de criada.

Certo, ele mereceu.

O homem parecia perplexo.

– Perdão, você acabou de me chamar de contador? De mesquinho e mal educado?

Rose revirou os olhos.

– Você é surdo? Sim foi isso que eu disse e se você não é contador, é o que? E cara qual é a sua em ficar falando estranho desse jeito?

O homem riu debochado com a audácia daquela mulher.

– Prazer, sou Colin McMurray, futuro Duque.

Os olhos dela quase saltaram para fora das órbitas, envergonhada ela colocou a mão na boca.

– Eu sinto muito - fez uma careta - Ai meu deus… fui tão mal educada, não sabia que você… Bom… Eu fiquei irritada, você me chamou de criada então… Eu…

Colin começou a rir.

– Você é sempre assim?

Ela fechou a cara para ele.

– Algum problema, Vossa Alteza?

Ele arqueou as sobrancelhas ruivas.

Que mulher atrevida.

Que babaca, tenho pena desse país.

Colin balançou a cabeça.

– Certo, sinto muito por ter lhe acertado com a porta - ele sorriu, estendendo a mão - E por ter te chamado de criada.

Rose revirou os olhos, mas acabou dando um sorriso sem vontade para ele e estendeu a mão, como um perfeito cavaleiro deu um beijo em sua mão. Não pode deixar que a memória invadisse sua cabeça.

– Scorpius Malfoy

Os dois pararam em frente a porta do quarto dela.

– Rose Weasley

Scorpius segurou sua mão e lentamente depositou um beijo, a boca fria em contato com a pele quente dela. A ruiva puxou a mão bruscamente.

– Sua mão está suada

Ele fechou a cara e estreitou os olhos, abrindo um sorriso logo depois.

– E a sua camisola é transparente.

Rose teve vontade de lhe dar um outro tapa, ao invés disso se contentou em bater a porta na cara dele.

– Tudo bem - ela se afastou envergonhada - Desculpe também… er… por tudo.

Colin sorriu novamente, tinha um sorriso bonito. Pela primeira vez reparou nele, era muito alto e ruivo assim como ela. Os olhos eram claros, um intermediário entre o azul e o verde, tinha lábios grossos e barba rala. Seu corpo, pelo que Rose viu no terno, era forte. **

– Perdão, seu nome é?

Foi tirada dos devaneios pela voz grossa dele, sexy teve que admitir.

– Rose Weasley, sou a…

– Pintora, certo?

– Restauradora na verdade, não tenho muitas idéias para pintar meus próprios quadros.

– É uma pena… - Colin passou por ela em direção ao outro lado do corredor - Foi um prazer conhece-la, mas infelizmente eu tenho que ir.

Rose sorriu, afagando um braço com o outro.

– É, foi um prazer.

Quando estava quase desaparecendo no final do corredor, se virou ainda com um sorriso.

– O que vai fazer essa noite?

Ela arqueou as sobrancelhas.

– Depende - deu de ombros encarando-o de forma divertida, sentiu suas bochechas corando.

Meu deus, eu estou fretando com ele? Aliás, ele está flertando comigo?

Colin riu, abaixando a cabeça e depois fitando-a.

– Deixe-me pagar jantar, para me desculpar por meus terríveis modos.

Rose achou engraçado o jeito que ele falava, era fofo.

– Certo, às oito.

Colin desencostou da parede em que estava apoiado.

– Excelente!

E com mais uma troca de olhares, Colin se virou e sumiu de sua visão. Rose olhou para os próprios pés e mordeu o lábio inferior, rindo logo depois.

Oh deus, eu preciso falar com a Lily.

[...]