Já fazia dez minutos que o filme tinha acabado e Rose podia sentir que tinha alguém a observando, ok talvez fosse paranóia dela, mas ainda sim a sensação era horrível. O cobertor estava levantado até a altura do nariz, deixando só os olhos de fora, esse vagavam por toda sala certificando-se que a Samara não estava ali.

– Rose, você está bem?

Seu olho esquerdo começou a tremer.

– Você é o maior babaca que eu conheço - se virou para ele - Eu vou ficar sem dormir por uma semana, Malfoy!

O loiro riu, aliviado por ela ter falado alguma coisa (mesmo que fossem possíveis ameaças de morte).

– Não é pra tanto, é só um filme.

– SÓ um filme? - a expressão dela era tão assassina que Scorpius achou melhor não discutir. - Isso é tortura psicológica, aquela porra vai me assombrar pela eternidade.

– Não seja tão dramática - revirou os olhos - Vou ao banheiro e já volto.

Antes que ela pudesse reagir, o loiro já tinha levantado e sumido pelo corredor. Rose engoliu em seco.

Ele realmente me deixou sozinha aqui… Ele me largou aqui COM A LUZ APAGADA.

A ruiva se encolheu no sofá, olhando amedrontada para todos os lados.

Loiro maldito, loiro maldito, loiro maldito….

– SCORPIUS?

Droga, droga, droga.

Com as pernas tremendo e ainda enrolada no cobertor, Rose se levantou e foi andando com as costas coladas na parede até o interruptor. *

Respira, não tem ninguém aqui, calma.

Rose estava apenas alguns centímetros do interruptor quando o telefone tocou.

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Ela tinha mais que certeza, que seu berro tinha acordado o prédio todo, desesperada correu para o sofá se enfiando entre as almofadas, o coração batia a mil por hora. Alguns segundos depois, Rose escutou uma gargalhada que conhecia muito bem, levantou o rosto apenas alguns milímetros para comprovar o que achava, Scorpius tinha lágrimas nos olhos e as mãos na barriga.

Irritada a ruiva se levantou em um pulo, correndo atrás dele igual a uma maníaca com um travesseiro.

– MALFOY, SEU DESGRAÇADO!

Os dois pareciam duas crianças correndo pela casa, bagunçando todos os cômodos, subindo em cima da cama, usando móveis como obstáculos…

– Calma Rose, foi só uma brincadeirinha…

Scorpius se apoiava na mesa, ofegante, enquanto encarava o olhar assassino da ruiva do outro lado.

– BRINCADEIRINHA?????????

Quando eu botar as mãos nesse loiro…**

1… 2… 3

O loiro saiu disparado em direção ao sofá, onde ele pegaria uma munição (vulgo travesseiro) foi quando sentiu um peso em suas costas. Scorpius sabia que ela era maluca, mas não tanto, Rose começou a bater com a almofada na cabeça dele enquanto Scorpius girava com a ruiva em cima dele.

Qualquer um que olhasse, saberia que era só questão de tempo até que eles caíssem no chão, então como uma última almofadada na cabeça, Scorpius tropeçou no cobertor e caiu levando a ruiva com ele.

Os dois não sabiam se riam ou se gemiam por terem caído, Rose sentia sua bunda doendo (já que a mesma tinha amaciado a queda) e Scorpius quase não sentia o braço depois de ter aterrizado em cima dele.

– Ruiva, você é doida? - ele gemeu de dor enquanto segurava o braço - Podia ter nos matado.

– Quem é dramático agora, ein? - ela gargalhou feliz, o que fez o loiro olhar para ela.

O pescoço tombado para trás, os olhos fechados, o cabelo todo bagunçado esparramado pelo chão e os lábios cheinhos entreabertos, simplesmente linda.

Aproveitando-se da distração dela, Scorpius tacou uma almofada em seu rosto.

– Ei! - ela reclamou - Então é assim?

Rose revidou lhe acertando em cheio na barriga se levantando em seguida, o loiro a acertou ainda de joelhos e depois ficou de pé.

Os dois ficaram andando em círculos, encarando um ao outro, igual naquelas cenas antigas de velho-oeste. Scorpius sabia que era só uma questão de tempo até que ela atacasse.

Dito e feito, Rose se aproximou dele pronta para lhe acertar, mas Scorp foi mais rápido, desviando de seu golpe, segurando-a pela cintura e jogando-a no sofá onde começou a fazer cosquinhas na barriga dela.

A ruiva ria tanto que chegava a ficar sem ar, ela se contorcia tentando fazer com que ele parasse.

– Chega - risos - Scorp - risos - Por - risos - Favor

Mas o loiro estava se divertindo demais para acabar assim, sem mais nem menos.

– É só você se render ruiva.

– Nunca

Scorpius fez ainda mais cosquinha, a barriga dela doía, o pulmão implorava por ar e foi ai que ela teve uma idéia.

Em um momento de distração dele, Rose conseguiu soltar um de seus braços e ao mesmo tempo em que colocava a mão em seu rosto, enrolava suas pernas em torno da cintura dele.

Por alguns segundos o loiro a encarou estático, surpreso pela posição em que estavam, Rose em baixo dele, com as pernas enroladas em sua cintura e ela com uma mão em seu rosto. A ruiva fez questão de não desviar o olhar, fitando aqueles olhos cinzas quase como se pudesse ver através deles. Bem lentamente, sua mão começou a acariciar o rosto dele, fazendo com que Scorpius fechasse os olhos (o que fez o ego da ruiva ir as alturas) e, o que a deixou ainda mais surpresa, entreabrisse os lábios. Usando o peso do próprio corpo, Rose fez com que os dois caíssem no chão.

Quando Scorpius abriu os olhos, já era tarde demais, Rose já segurava seus dois braços acima da cabeça e as pernas com as suas próprias.

– Eu ganhei - ela comemorou infantilmente, saindo de cima dele em seguida.

O que foi isso?

Confuso, Scorpius se levantou.

– Hum... Porque você não faz mais pipoca? Eu já volto.

E saiu em passos largos para o banheiro, deixando Rose sentada no chão, descabelada e extremamente confusa.

O que foi isso?

Ele se perguntou pela segunda vez, assim que trancou a porta do banheiro. Scorpius abriu a torneira, molhando o rosto.

Eu… Eu queria que ela me beijasse? Ela é… É só a Rose. É a minha melhor amiga, a mulher com quem eu falo sobre mulheres, certo? A que me faz companhia e que vai nos eventos familiares. Nada mais que isso.

É só que… Bom, ela não é feia (nem um pouco) e eu sou um cara. É normal que eu tenha atração física por ela. E eu não transei com ninguém ontem, então… Isso é só falta de mulher. Isso, só falta de mulher. Nada mais.

Parecendo satisfeito com a sua conclusão, Scorpius voltou para sala.

[…]

Depois de Scorpius ter agido estranho, tudo tinha voltado ao normal. Os dois estavam deitados no sofá como antes, assistindo Titanic e não tinha nada de estranho entre eles.

Mas ainda sim… Foi tão estranho! Eu daria tudo para saber o que ele estava pensando. Scorpius nunca ficava assim comigo. Será que ele me acha atirada? Pelo amor de deus, aquilo era só brincadeira. Não que eu não tenha gostado, mas ele também não precisa saber disso. Argh, esquece, ele já está normal não tem porque ficar remoendo isso.

Rose voltou a prestar atenção no filme, se deixando levar por toda magia do navio, pelo mar lindo, pelo romance entre os dois. Só de pensar que aquela história era real, que o Titanic realmente existiu, que as pessoas realmente morreram congeladas pela água, Rose já ficava arrepiada.

O filme já estava na metade e já eram quase quatro horas da manhã, foi inevitável que a ruiva caísse no sono depois do dia cansativo de compras (ficar andando de um lado para o outro carregando sacolas e provando roupas é exaustivo).

Scorpius riu quando viu a cabeça da ruiva tombando para fora do sofá, até mesmo ela que gostava do filme dormia, tomando cuidado para não acorda-la ele ajeitou sua cabeça no sofá. Esticou-se para pegar o controle e desligou a televisão. Rose resmungou baixinho, apoiando sua cabeça no peito dele e jogando um braço em sua barriga.

– Sempre folgada, ein? - sussurrou baixinho, Scorpius balançou a cabeça, colocando o braço nas costas dela e fechou os olhos - Boa noite, ruiva.

[...]