Sabe quando você é criança e consegue ignorar o fato de você e seu amiguinho terem brigado 5 segundos atrás e quando você vê já estão dividindo os brinquedos de novo?

Então, ninguém era mais criança do que Scorpius e Rose. Ah sim, porque eles tinham a incrível habilidade de se fingirem de desentendidos.

Na volta para a casa da ruiva, o loiro dirigia pelas ruas de Nova York e ria de uma piada boba qualquer que ela havia contado como se eles não tivessem quase se atacado no provador da loja.

 - Então, você vai subir? - Rose perguntou assim que ele estacionou o carro em frente ao tão conhecido prédio dela.

— Vou ficar uns minutinhos - deu de ombros.

Apesar de ambos estarem se esforçando muito para que o clima não ficasse estranho, foi inevitável que isso acontecesse a partir do momento que entraram no elevador tão apertado.

Rose lembrou de mais uma das milhares de vezes que parou em frente ao espelho, assim como aquele que tinha no elevador, e tentou encontrar algum problema.

"… encarou seu reflexo no espelho, usava uma calça jeans skinny de cor escura, com uma blusa soltinha rosa e uma confortável sapatilha da mesma cor. Estava com pouca maquiagem, seus cabelos estavam arrumados e a ruiva até mesmo usava acessórios. Ela era bem feminina, apesar de não ser nenhuma patricinha e sabia que era uma mulher bonita, então qual era o problema dele?”  

Foi desviada de seus pensamentos quando a porta do elevador se abriu e Rose jamais imaginaria o que a estava esperando.

A porta de seu apartamento estava aberta com uma faixa branca pendurada “Para a nossa noivinha”.

Em uma fração de segundos ela olhou para Scorpius que a encarava com um sorriso sapeca no rosto.

— Culpado - ele deu de ombros e fez um sinal para que ela saísse do elevador primeiro.

Foi assim que, com um sorriso imenso no rosto, várias pessoas pularam ao mesmo tempo estourando serpentinas, confetes e segurando balões brancos de decorações.

Logo foi “atacada" por suas amigas com abraços e risadas, reconheceu alguns rostos familiares como sua mãe e avô, colegas de trabalho…

[…]

Quase uma hora depois, Rose estava no cantinho da sua sala com uma taça de champagne na mão observando como tudo estava perfeito com um singelo sorriso no rosto.

À sua esquerda, tinha um cesto gigante onde os convidados colocaram os presentes. Um pouco mais afastado, uma mesa cheia de doces e aperitivos repleta de enfeites com  as mais delicadas rosas brancas, atrás tinha um painel de pequenas luzes que caiam em espiral. O teto estava decorado com um misto de balões brancos cheio de frases douradas para desejar felicitações pelo casamento. Próximo a entrada, tinha a mesa de enxoval com lembrancinhas para os convidados: cestas decoradas com docinhos, velas aromatizadas e uma toalha bordada com o nome do casal.

O ambiente estava surpreendentemente aconchegante, cheio por pessoas que Rose valorizava muito em sua vida e que pareciam estar se divertindo bastante.

— Que sorriso bobo na cara é esse, ruiva? - Rox se aproximava junto a Lily e Domi.

— Meninas, vocês são incríveis! - passou um braço por cima do ombro de cada uma, de forma que as quatro ficassem enfileiradas - Está tudo perfeito!

— Ah rose… Eu sei que nós somos maravilhosas e tal, mas tenho que dizer que não merecemos levar o crédito por isso. - deu uma risadinha no final.

— Como assim? - ela franziu o cenho, saindo do abraço e ficando de frente para as amigas.

— O chá de panela é trabalho da madrinha de honra, querida - foi Dominique que respondeu erguendo a taça de champagne até Scorpius que estava de costas para elas numa conversa animada com a mãe de Rose.

— Não - a ruiva sacudiu a cabeça, incrédula - Scorp acha essas coisas ridículas.

— Mas você - e Rox apontou para ela - não acha e todas nós sabemos que o é importante para você, é importante para ele.

E as meninas sacudiram a cabeça em concordância. Rose então lembrou de onde tinham passado o dia, como ele fora atencioso ajudando-a escolher a mesa perfeita para recepcionar os convidados. “Se for com a pessoa certa, vai ser perfeito de qualquer forma”.

— Sabe - ela olhou de relance para o melhor amigo - Scorpius anda estranho ultimamente, vocês sabem se ele conheceu alguém?

E suas mãos de repente pareceram levemente suadas, talvez fosse o champagne que começava a degelar.

As três pareceram sorrir de alguma piada interna.

— Não ruiva - Lily deu um gole no seu copo - Ele não conheceu ninguém novo.

— Ele parece mudado - deu de ombros - Diferente, talvez.

— As vezes as pessoas precisam de um choque de realidade, só isso - Roxanne, sempre a mais direta, deixou no ar junto com uma piscadinha.

Rose arqueou uma sobrancelha.

 - O que você quer dizer com isso?

— Ai rosinha - Domi apertou sua bochecha - Você sempre foi a mais inocente de nós.

Mas antes que a ruiva pudesse dizer algo, as amigas se afastaram dizendo que precisavam cuidar de alguma coisa no som e Rose logo entendeu, pois Scorpius surgiu segundos depois que elas foram embora.

— Ei - ela cumprimentou - um passarinho me disse que alguém se esforçou muito para organizar isso aqui.

O loiro abriu um sorriso, daqueles bem sinceros, parecidos com o de crianças na manhã de natal.

— Aé? - bebericou um gole do seu próprio copo - E valeu a pena?

— Ficou incrível, Scorp - e ela não podia ter sido mais sincera - Obrigada por tudo, você tem sido…

— Eu sei que sou perfeito, ruiva - deu uma piscadinha, sabendo que Rose ficaria irritada por ter sido interrompida.

— Uma vez Scorp, sempre Scorp - ela revirou os olhos - Tão convencido.

— Ah fala sério, o momento tava meloso demais precisava quebrar o gelo.

E os dois riram porque quando estavam juntos, as coisas eram simples assim, a conversa fluía por mais boba que fosse.

— Ei - ele pareceu se lembrar de uma coisa - Segura aqui para mim.

E então entregou seu copo para ela, Rose arqueou uma sobrancelha esperando para ver o que o loiro tava aprontando e ele tirou do bolso um controle remoto.

— Achei que seria legal para tornar a festa um pouquinho mais no clima do casamento - sua voz soou tão sarcástica que Rose já soube que coisa boa não sairia dali.

Quando deu o play, o som da gaita de fole logo preencheu cada centímetro do cômodo.

— É uma música típica escocesa - ele riu e aumentou mais o volume - LEGAL, NÉ?

— SCORP, TÁ MEIO ALTO. - a ruiva fazia uma careta, não tinha palavras para expressar o quão irritante aquilo soava em seus ouvidos.

Discretamente ele aumentou um pouquinho mais o som.

— QUE? EU NÃO TO TE OUVINDO!!!

E ele estava fazendo realmente um esforço divino para não rir da careta que a sua melhor amiga fazia, parecia querer socá-lo.

— ESTÁ MUITO ALTO! - ela agarrou seu braço num pedido silencioso “para com isso pelo amor de Deus”  e assim o fez.

Mal dando tempo para que a ruiva pudesse respirar e agradecer, Scorp já a puxou pelo braço levando-a perto da mesa com aperitivos.

— Você tem que provar isso aqui - já estendia em sua direção um salgado embrulhado em um papel - Você vai adorar.

Rose então, colocou a taça de champagne em cima da mesa e aceitou o salgado de bom grado.

— Haggis Rosa - ele sorriu maldosamente quando a ruiva deu a primeira mordida - Pimenta, queijo, pulmão de cordeiro com pituitária bovina, é uma comida tipicamente escocesa… Colin que recomendou!

A reação foi instantânea e Rose usou o mesmo guardanapo para cuspir a comida, tossiu de leve.

— Talvez meu paladar não seja assim tão apurado - sua cara de desespero estava hilária e mais uma vez o loiro se contorceu para não rir, mas se permitiu abrir um sorriso satisfeito.

— Aqui - estendeu um copo de água para ela, junto com um mini doce de torta de limão - acho que talvez isso aqui seja melhor.

Rose nunca achou que poderia ficar tão agradecida assim, o gosto parecia ter impregnado na sua boca e uma náusea se instalou na boca do estômago.

— Ah, já ia me esquecendo - ele colocou a mão na parte interna do paletó - Fecha os olhos, ruiva.

Ainda com o copo em mãos, ela fez como ele pediu e fechou os olhos para em seguida sentir algo deslizando em seu cabelo. Quando abriu os olhos não pode evitar o sorriso e até mesmo pequenas lágrimas que brotaram em seus olhos.

— Pronto, assim tá perfeito.

E ele sorriu ao contemplar o resultado, o contraste perfeito entre o cabelo vermelho vivo e o arquinho com o mini véu branco. Rose seria uma noiva linda, principalmente se fosse sua.

— Gostou?

O momento parecia ter congelado, afinal não era todo dia que Scorpius, com as mãos no bolso da frente da calça, sacudia para frente e para atrás aguardando uma resposta, com as bochechas levemente coradas. Rose nunca tinha o visto tão inocente e aquilo a deixava sem palavras.

No entanto, quando finalmente abriu a boca para tentar articular alguma frase - ainda que estivesse muito emocionada - gritos vindo da porta a interromperam.

— AI MEU DEUS OLHA O QUE CHEGOU PARA, ROSE!

E numa fração de segundo estava sendo puxada para o meio da roda que havia se formado e lhe entregavam uma caixa transparente com uma flor dentro. Ainda confusa com o que estava acontecendo, escutou a voz de sua mãe em voz alta.

Meu amor,

Essa flor só vive quatro horas após florescer. São incrivelmente raras, assim como o amor que eu tenho por você.

Colin

Um coro de suspiros apaixonados e gritinhos felizes se espalharam pela sala, mas Rose apenas conseguiu abrir um meio sorriso.

Pela “multidão" de pessoas ela viu Scorpius que olhava para ela meio cabisbaixo, mas forçou um sorriso triste mesmo assim.

— Ai Rose - sua mãe a abraçou de lado - Ele deve ter cronometrado tudo, que incrível!

Ela apenas acenou com a cabeça.

Sim, um presente super elaborado… O que aconteceu com as coisas simples?

E seu olhar recaiu em Scorpius novamente. “eu adorei” foi capaz de dizer em silêncio e os dois sabiam ao que ela se referia, nada no mundo apagaria o brilho nos olhos dele.