A batida ritmada da música eletrônica preenchia os seus ouvidos enquanto seus olhos vagavam dispersos pelo salão. Aquele ambiente de bebidas e sexo estava deixando-o irritado e o loiro quase não se reconhecia mais.

Boates e festas sempre tinham sido o habitat natural de Scorpius, no entanto nessa última semana que passara ele quase não suportava mais ficar em um lugar assim. Tentara todas as noites sair para se divertir, mas por algum motivo aquela vida não parecia mais tão atraente assim.

Por mais belas que fossem as mulheres com que ele se deitara, sempre sentia como se não valesse apena. Por mais saborosas que fossem as bebidas que tomava, não sentia mais a necessidade de entorna-las. E por maior que fosse seu desejo de se divertir tudo que o loiro conseguia sentir era um vazio.

Levantou-se irritado da cadeira próxima ao bar e se esgueirou na multidão até a saída, algumas mulheres lançavam olhares lascivos em sua direção outras até mesmo o tocavam, mas o loiro ignorou-as.

Fazia frio naquela noite de outono mas o loiro parecia não se incomodar enquanto caminhava calmamente pelas ruas da cidade, fazendo aquele caminho tão conhecido pelo mesmo. Uma das coisas que ele mais gostava naquela padaria, era que a mesma funcionava 24 horas.

Sentou-se próximo ao balcão como sempre fazia com Rose e começou a folhear o cardápio. Sentiu-se ainda mais idiota quando tentou adivinhar o que ela comeria, qual era o propósito? A ruiva nem mesmo estava aqui.

Scorpius não fazia idéia de que poderia sentir tanta falta de uma pessoa, os dois passavam tanto tempo juntos que encontrá-la durante o dia tinha virado rotina. Estava acostumado a comprar dois cafés de manhã no Starbucks, de ir até o Metropolitan na hora do almoço e levá-la para um restaurante, depois sentar naquele mesmo banco em que estava agora e dividir uma deliciosa sobremesa.

É como o sol, pensou distraidamente enquanto passava as folhas do cardápio, eu sei que ele está no céu todos os dias e sei que preciso dele, mas eu não paro para observar o sol.

Foi uma comparação péssima mas serviu o seu propósito. Talvez ele não estivesse reparando em Rose como devia, talvez desde aquela primeira noite em que se conheceram ele nunca mais tenha pensado nela como pensa em uma mulher. Mas algo dizia, que sim, ela já havia pensado nele dessa forma.

Scorpius respirou fundo e afundou o rosto entre as mãos.

Que merda eu fiz?

[…]

Rose sentia-se igual a uma adolescente apaixonada naquele momento, com as costas apoiadas na porta, mordendo o lábio enquanto sorria, segurando a rosa contra seu peito e respirando fundo esperando que seu coração voltasse ao ritmo normal.

Em um movimento rápido ela deslizou até o chão e encarou seu reflexo pelo espelho do outro lado do quarto. Quase não se reconheceu, a mulher que ela via, estava radiante. Suas faces estavam coradas, a boca um pouco inchada e o peito subia e descia rapidamente. Não lembrava da última vez que se sentiu assim.

Agora que já tinha retornado para seu quarto pensava em como a noite tinha sido perfeita. Colin dessa vez a levou até uma vinícola que pertencia a sua família, lhe mostrou como era feita a produção e onde as uvas eram colhidas. Depois a levou até o porão, onde ficava o estoque particular de sua família, com os melhores vinhos ali guardados e para sua surpresa uma linda mesa de jantar.

O porão era iluminado por lindos candelabros, no centro uma mesa com dois lugares. A toalha era de seda e uma rosa vermelha enfeitava em um jarro, Colin puxou a cadeira para que Rose sentasse e logo tratou de servir o jantar.

O fondue combinou perfeitamente com a noite um pouco fria, o vinho francês deu aquele toque a mais enquanto os dois desfrutavam daquele momento. A conversa corria suave, como sempre ele a fazia rir e o tempo voou aos olhos dela.

Como a ruiva sempre fora apaixonada por chocolate, não pode negar que estava ansiosa pela sobremesa. Colin puxou a cadeira para perto dela, com todo respeito colocou as pernas de Rose sobre as suas ficando ainda mais próximos e com toda delicadeza do mundo molhava o morango no chocolate e levava até a boca da ruiva, beijando-a em seguida sentindo o gosto de chocolate em sua boca. Rose também alimentava-o, levando pedacinhos de banana com chocolate até ele, dando pequenos selinhos para limpar o excesso que escorria de sua boca.

Naquele momento sozinha com ele, Rose teve seu verdadeiro conto de fadas como se o mundo lá fora não importasse mais, com direito a todos os clichês que a ruiva tanto gostava.

[…]

Uma fresta aberta da cortina foi o suficiente para acordar o loiro. Não que ele realmente estivesse dormindo, estava mais em um transe entre a realidade e o sonhos, perdido nos pensamentos.

Foi até a sua cozinha sem o menor ânimo e logo preparou uma boa xícara de café. Encostou-se na bancada de frente para geladeira, uma foto dele e de Rose estava pendurada ali. O braço dele estava nos ombros dela e os dois sorriam.

Eu sou um idiota.

Terminou o café deixando a xícara jogada na pia, resolveu tomar um banho gelado para despertar os sentidos. Não demorou muito no chuveiro e colocou uma regata preta e a bermuda de basquete, iria para a quadra com os caras. Antes de sair pela porta com a mochila em um ombro, apertou a secretária eletrônica.

Você não tem nenhum recado ou chamada perdida.

Bufou frustrado e bateu a porta com força.

***

Já era a quinta bola que Scorpius perdia para Alvo no jogo, ele colocou as mãos no joelho respirando fundo enquanto via o amigo correr até a cesta e fazer o ponto.

– Scorpius, o que ‘tá' acontecendo com você hoje? - Luke, sua dupla, se aproximou dele ofegante.

O loiro balançou a cabeça, ficando ereto novamente.

– Nada, foi mal.

Scorpius passou a bola para Luke que driblou James devolvendo a bola para o loiro que acertou a cesta facilmente.

– É só que… - ele fez uma careta se inclinando para frente apoiando-se nas coxas - Eu acho que eu gosto da Rose.

Alvo que estava com a bola na mão, deixou-a cair, Luke o encarava com as sobrancelhas arqueadas e James parecia descrente as palavras do loiro.

– Deixa pra lá, vamos voltar pro jogo - com um movimento rápido pegou a bola que Alvo tinha deixado cair, mas parou quando viu que nenhum dos três tinha se mexido.

– Wow, wow, wow calma ai Scorp - Luke e os Potters se aproximaram dele - Como assim você acha que gosta da Rose?

Scorpius fechou os olhos irritado, porque ele teve que abrir aquela boca enorme?

– Eu… Sei lá, desde que ela foi embora tem alguma coisa errada - ele passou as mãos pelo rosto - E isso me fez pensar que talvez existam mais coisas na vida do que ficar transando por ai.

Luke tinha um sorriso presunçoso no rosto, quase como se disse “eu te disse”. Alvo o encarava chocado, como se ele tivesse algum tipo de problema e James começou a rir achando que o loiro estava brincando.

– Boa Scorp, você me enganou por um segundo.

Ele fez uma careta.

– Eu to falando sério James, quando Rose voltar eu vou contar - Scorpius parecia determinado - Vou pedir para ela ficar comigo.

James parou de rir ao ver a expressão do amigo.

– Cara onde foram parar as suas bolas? - Alvo estava chocado.

– Cala a boca, Alvo! - Luke lhe deu um tapa na cabeça - Eu achei que não viveria tempo o bastante pra ouvir você dizendo isso.

– Para de ser dramático - Scorpius revirou os olhos com um pequeno sorriso no rosto.

– O que você pretende fazer?

Scorpius deu um sorriso.

Se depender de mim, ela nunca mais sairá do meu lado.