Eu odeio aquele asno doentio. Sério que o meu professor de redação, um cara que está lá para nos ensinar a escrever coisas realmente importantes, como bilhetes para a menina mais gostosa da escola, está me obrigando a escrever motivos para eu odiar a nerd estranha? Será que o fato de ela ser uma nerd estranha já não basta?

Mas tudo bem. De qualquer forma, eu sou obrigado a aceitar isso porque vale mais da metade da minha nota de redação de semestre. E, digamos que, uma pessoa como eu que está quase de recuperação, e fazer essa redação é a única opção em que eu não recebo um bom puxão de orelha da minha mãe, farei isso, por mais que não queria nem um pouco.

Ontem a nerd pirralha foi para a minha casa. Nem preciso dizer que ela abriu o berreiro assim que viu as minhas coisas. Qual é? Quem se importa que eu deixe um par de sapatos extras debaixo da cama? Ou mesmo que eu coloco a minha blusa de frio em cima da cama? Acho que nem a minha mãe se esquenta com isso.

Mas o importante agora é que eu, Percy Jackson, o cara mais popular e bonitão de toda a escola, estou sendo obrigado a ir para a casa da menina mais nerd e tosca de todo o mundo. Mereço? Claro que não!

Sério, preciso urgentemente de um calmante bem forte. Um daqueles "boa-noite-Cinderela". Se bem que eu acho que nem isso vai impedir a pestinha de me infernizar. E olha que mal se passaram dois dias e eu já estou querendo desistir dessa bagaça.

E a coisinha loira também não ajuda nem um pouco. É sério! Aquela peste ontem escreveu o primeiro fato tão rápido que mal deu tempo de eu tirar um cochilo. Mas eu tenho certeza que agora vai ficar tudo bem mais difícil pra ela, porque eu sou quase perfeito e é quase impossível achar um sequer defeito em mim. Bem que eu poderia me tornar modelo, mas não quero humilhar ninguém com as minhas fotos.

Nós estamos indo a pé, porque a "miss-chata" fala que carro solta muitas substâncias tóxicas que cooperam com o aquecimento global. Não que isso tenha me surpreendido, pois ela doa sua mesada para o Greenpeace e é vegetariana. Será que toda nerd é certinha assim?

Passei tanto tempo pensando, que mal notei que já havíamos chegado no prédio da garota. É uma coisa estranha, pois moro em uma casa grande. Porém, mesmo assim olhá-la é legal.

A faixada do prédio é de pedras marrons, e dentro tem uma piscina onde estavam um grupo de garotinhos brincando de vólei aquático. Tem aquela típica bancada para o porteiro e no centro tem uma fonte pequena. E, claro, depois de uma porta de vidro, estão os elevadores.

Entramos dentro daquelas mini cabines anti pessoas claustrofóbicas. Não que eu seja um. Ela apertou o botão do décimo segundo andar. Qual é? Será que a pirralha vai ficar calada até quando? Será que ela fez um voto ou sei lá? Se bem que é melhor ela calada do que reclamando da forma em que eu uso meu uniforme ou sei lá.

O elevador abriu, ela abriu a porta para que nós entrássemos e o gato finalmente resolveu vomitar a língua dela.

— Essa é a minha casa, onde eu moro com meu pai, a biscate particular dele e as crias melequentas dos dois. Na geladeira, cada um tem as suas coisas marcadas pelo nome com fita-adesiva, então, se sentir fome, pega qualquer coisa com o nome Marie, Logan ou Nicolas, mas não toque nas minhas batatas. É sério. Não pegue nem as batatas-fritas em forma de salgadinho, nem em purê. Não encoste em nada do meu quarto que não sirva para você fazer essa merda de redação, estamos entendidos? Em cima da escrivaninha tem lápis, borracha e papel de fichário, então não toque nem na bolsinha e nem mecha nas gavetas.

"Bom trabalho e, enquanto você faz alguma coisa, eu vou estudar um pouco"

Sério que precisava desse discurso? Eu acho puro exagero essa coisa de "não-toque-em-nada-se-não-eu-soco-a-sua-cara" que era o que o olhar que ela me olhava devia significar. Se bem que eu não posso ter certeza absoluta, porque meninas são muito estranhas e confusas.

— Sim, tenente Chase. — falei irônico, o que gerou um olhar mortífero de Annabeth.

Mas a única coisa que ela vez foi dar de ombros, pegar um livro e ir para sei lá onde. E pior ainda, ela nem me disse onde é o quarto dela. Acho que vou ter que chutar.

Depois de abrir quase todas as portas da casa e descobrir um quarto mais estranho que o outro, finalmente achei um que podia ser o dela.

A porta era branca, normal. Porém, dentro, o quarto é uma coisa tão... ela. Paredes bege, cheias de posteres de cientistas famosos e mulheres importantes na história feminista e no canto uma prateleira cheia de livros. O chão é de madeira fosca e a cama está impecavelmente arrumada. Estranho para uma menina de 16 anos, não?

Quando parei de encarar Albert Einstein, finalmente me sentei na não citada escrivaninha e comecei a escrever.

"Odeio sua chatice

É sério, professor Quíron. Ela é chata pra caramba!

Começando peço o que aconteceu hoje, o senhor sabe que ela não me falou nada, e quando fala é pra dar ordens idiotas que eu mal tenho ideia de quais são.

E por que mesmo estamos indo um na casa do outro? Eu sei que eu odeio ela, e não preciso de vê-la todo dia para confirmar essa minha teoria. Será que o senhor ainda não notou o quanto ela é insuportável? Aquele jeitinho sabe-tudo e a forma em que ela é mandona, e tudo mais.

Não sei como o senhor aguenta dar aula para ela, com aquele jeitão tupetudo dela, como se ela estivesse pronta para provar que por achar a cura do câncer enquanto você mal sabe quantos ossos tem um corpo humano. Falando nisso, o senhor sabe? Ouvi dizer que está namorando a professora de biologia. Se isso for contra as regras, eu te ajudo e você me ajuda, okay?

E esse é um dos principais motivos para eu odiá-la."

Quando terminei, vi que Annabeth estava dormindo, então resolvi zoar ela um pouco.

Peguei uma canetinha na minha mochila, desenhei um bigode nela e fui embora correndo.

Estou pronto para lutar pela minha vida quando ela descobrir isso.