Não dormi quase nada esta noite, como era habitual. Porque será que eu só conseguia dormir uma noite inteira sem pesadelos com o Potter? Quer dizer, eu não ia começar a dormir com ele, não é?

“Facilitava a tarefa de o matares” – disse a voz na minha cabeça.

Abanei a cabeça, tentando ignorar, e peguei nos últimos livros daquele carro. Serio, a biblioteca tinha de ter tantos livros? Ou melhor, nós somos mágicos porque não arrumar os livros com magia? Ah, pois, porque eu estava de detenção por ter ajudado o Potter e Fred.

Ainda hoje não sei a razão para os ter ajudado. Tudo bem que o Fred era meu amigo, e eu não queria o Potter expulso embora ele me irrita-se, mas seria isso o suficiente para me submeter a um castigo para os ajudar?

“Se o Potter estivesse longe como o irias matar?” – outra vez a voz de Bellatrix.

Arrepiei-me. Era por isso?

Foi por isso que eu os ajudei? Para os poder matar? Não! Eu não queria matá-los, nem conseguiria! No entanto, a voz estava cada vez mais forte na minha cabeça. Seja lá o que estiver a acontecer comigo estava mais forte. Será que eu os ajudei porque, inconscientemente, a voz de Belatrix me mandou?

Não! Isso era idiota, certo?

Porque estás a duvidar Andrea?

Oh, boa, agora estou a falar comigo própria.

Soltei um risinho pela minha estupidez e voltei aos livros. Peguei num.

“Criaturas estanhas e perigosas”. Isto pertencia a uma das estantes mais afastadas. Dirigi-me para lá.

– Oh, merlin! – Soltei sem querer, e depois virei-me de costas quando vi o casal á minha frente.

Aquilo era a mão de Scorpius a sair de baixo da saia de Rose? Sorri maliciosa, ciente de que nenhum deles me via, pois estava de costas.

– Andrea? – Rose chamou. Olhei-os, um pouco envergonhada. Mas de certeza, que não mais que a ruiva. Rose estava da cor do cabelo, Scorpius mantinha-se normal. – Desculpa, nós…

– Tudo bem – cortei-a. – Não precisam explicar. Eu só vim arrumar o livro – coloquei-o na estante. – Desculpem interromper. Vemo-nos mais tarde – virei-me e distanciei-me o mais rápido possível.

Minutos mais tarde, vi-os sair da biblioteca apressados.

Sorri. Aqueles dois…

– Olá Andie.

– Freddie – cumprimentei, esquecendo o assunto Scorpius&Rose. – O que fazes aqui?

Ele corou um pouco e sorriu.

– Vim ler qualquer coisa – disse e eu percebi que ele estava a mentir. Olhei para a janela e vi Ivy sentada, a ler um livro sobre um romance muggle.

– Tu a leres? – Arqueei uma sobrancelha. – Diverte-te então.

Fred pegou num livro qualquer do meu carro e sentou-se na mesa que Ivanna havia dito que ele sempre se sentava.

Abanei a cabeça. O que se passava com aquela biblioteca?! Casais a pegar fogo e casais mais frios que o Polo Norte?!

Soltei uma pequena gargalhada.

“Mata-o!” – Ordenou a voz, apanhando-me desprevenida.

– Não – respondi baixinho.

“Vais acabar por fazê-lo! É o teu dever! Foi para isso que foste feita!”

Foi para isso que fui feita? Como assim?

– Não interessa – assegurei. – Eu posso mudar o meu destino!

– Estás a falar com quem? – Perguntou alguém atrás de mim.

Virei-me assustada.

– Potter! Com ninguém!

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Sozinha, então? – Não respondi, e ele assegurou isso como uma afirmação. – Sabes que falar sozinha é a primeira fase para nos tornarmos malucos?

Encolhi os ombros.

– O que fazes aqui? – Perguntei.

– Vim ajudar-te – retirou-me os livros que eu tinha na mão e começou a arrumá-los na prateleira. – Não acho justo, tu sofreres um castigo sozinha, principalmente quando o fizeste para me ajudar.

O quê? Porque raio estas a sorrir?

“Mata-o” – A voz ordenou.

Congelei. O Potter estava aqui, a voz iria voltar. Senti medo!

– Devias ir embora – tirei-lhe os livros das mãos. Ele olhou para mim, analisando-me. Eu tentei me manter neutra, não deixando os meus olhos mudarem de cor, mas foi em vão.

Quando dei por mim já sentia o arder nos olhos.

– Verde – disse James. – De que tens medo, Andrea?

Arfei. Porque será que ele tem de decorar as “minhas” cores?!

– De nada - menti. – Vai-te embora, por favor.

Ele olhou-me sério. Vi os seus olhos percorrerem-me a cara e senti-me um pouco incomodada.

– Por favor, afasta-te de mim – implorei.

Ele levantou as mãos em sinal de rendição e foi sentar-se com Fred, ainda a olhar para mim.

Suspirei mas ainda me sentia presa.

“Um dia” – Prometeu a voz.

Quando eu morrer, pensei, talvez tu consigas o que queres.

Continuei a arrumar os livros, ciente dos olhos do Potter em mim. Tentei ignorá-lo o máximo que conseguia, mas era difícil quando duas esferas verdes acastanhadas te seguiam.

Passado algum tempo vi Fred levantar-se e dirigir-se a Ivanna. Ela tinha deixado cair o livro e ele apanhou-o. Sorri. Pelo menos, era uma boa maneira de se aproximar dela. Eles continuaram a falar durante algum tempo e depois saíram da biblioteca, deixando James para trás a observar-me.

Eram quase horas de jantar quando Roxy entrou na biblioteca. Arqueei uma sobrancelha. Ela nunca vinha á biblioteca. Roxanne dirigiu-me a James, que ainda me observava, e juntos vieram na minha direção.

– O que foi? – Perguntei receosa.

Eles sorriram. E não um sorriso normal, foi um sorriso maroto. Andavam a tramar alguma coisa.

– Tu vens connosco – afirmou Roxy.

– Não posso. Estou de castigo – assegurei.

– Tecnicamente, o castigo acaba á hora de jantar – disse James. – E adivinha só, já é hora de jantar!

Suspirei. Eu conhecia-os, eles não me iriam deixar em paz.

– Onde vamos?

Eles sorriram.

– Segue-nos – disseram ao mesmo tempo e começamos a andar.

Uns corredores mais tarde, pararam. Franzi a testa. Aquela era a Sala Precisa.

– O que…

Antes que acabasse de falar, a porta surgiu e eles empurram-me lá para dentro. Estava escuro.

– SURPRESA! – O grito foi ouvido quando as luzes se acenderam, deixando ver os ocupantes da sala.

Todos os meus amigos estavam ali. Potter’s, Weasley’s e Malfoy’s. Incluindo os adultos.

– O quê? Porquê surpresa? – Perguntei nervosa.

– Nós lembramos nos que nunca te tínhamos feito uma festa de aniversário – afirmou Rose.

– Então resolvemos fazer-te uma – disse Lily.

Olhei em redor. Todos me olhavam com sorrisos na cara.

– Obrigada, eu acho – disse e sorri.

– Ouve, eu sei que tu não gostas de celebrar o teu aniversário, mas nós adoramos festas – disse Hermione. Levantei uma sobrancelha. – Oh por merlin, tu não disseste a ninguém que era o teu aniversário, eu acho que isso quer dizer que o querias deixar passar em branco.

– E como é que vocês entraram? – Perguntei aos adultos.

– A Minerva deu-nos autorização – afirmou Harry.

– Além disso, eu não podia perder a oportunidade de fazer um bolo – anunciou Molly.

– Obrigada – agradeci a todos. – Não era preciso!

– Ora essa ruivinha, és nossa amiga. – James colocou um braço sobre os meus ombros ficando extremamente próximo.

Aquilo irritou-me.

– Potter, tens 5 segundos para tirar a tua mão de cima de mim, ou vais ficar sem ela – ameacei.

James retirou a mão rapidamente, e todos se riram da cena.

– Vamos cantar os parabéns – disse Fred a saltitar. Só agora reparara em Ivy que me sorria, ao lado de Fred.

Acenei-lhe.

Celebrar o meu aniversário depois do tempo era estranho, mas divertido. O bolo de chocolate com recheio de morango está divinal, Molly tinha realmente jeito para a cozinha.

Todos me deram presentes, embora eu não quisesse. Harry e Ginny deram-me um colar com um pingente de uma flor. Hermione e Ronald, um par de brincos que condizia com o colar. Angelina e George, ofereceram-me um par de sapatos de salto alto azuis. Astónia e Draco deram-me um vestido azul de renda. E, Molly e Arthur ofereceram-me um perfume.

Todas essas prendas formavam um conjunto. E eu adorei-as a todas. Para além de que condiziam com o anel azul que eu tinha recebido no meu aniversário. Anel que me fora enviado pelos meus pais biológicos desconhecidos. Anel que andava sempre comigo.

Depois foi a vez dos adolescentes.

Rose e Scorpius ofereceram-me um livro sobre maldições, talvez Rose ainda se lembra-se do poema que lhe mostrei. Roxanne e Fred ofereceram-me um conjunto de partidas das Genealidades Weasley. Albus, Lily e Hugo deram-me um conjunto de penas. E James ofereceu-me uma pulseira prateada com as letras JSP gravadas.

Agradeci a todos. Realmente tinha adorado as prendas.

E, mesmo depois de discutir com James por me dar uma prenda com o nome dele, eu aceitei-a e dei-lhe um beijo na cara, agradecendo-lhe.

Já era tarde quando todos saímos da Sala Precisa. Os adultos foram se embora depois de se despedirem dos filhos. Scorpius, Al, Ivy e Hugo foram para os seus dormitórios, e os restantes seguiram para Gryffindor.

Quando lá chegamos todos subiram para os quartos, mas eu segurei James.

Ele olhou-me curioso.

– Porque me deste uma pulseira com o teu nome?

Ele sorriu e eu esperei alguma coisa idiota.

– Porque assim podes usá-la sempre! – Ele sorriu. – E quando precisares de ajuda, vais te lembrar de mim – disse ele. Abri a boca com o espanto. Por esta não esperava. – Boa noite, Andie. – Inclinou-se e beijou-me a testa antes de começar a subir as escadas.

– Boa noite James – desejei, e soube que ele ouviu, porque logo a seguir chegou-me uma gargalhada dele.

Sorri e fui dormir.