Prey escrita por monachopsis


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu podia ouvir seus batimentos a 200 metros de distância. Estavam fracos, mas à medida que ele se aproximava eles aumentavam. E ele o fazia lentamente e modo que as batidas pareciam uma canção chegando ao seu crescendo, cada vez mais aumentando a tensão até ele chegar perto o suficiente para alcançar o ápice. Nenhum barulho era mais agradável do que o de um coração batendo – de preferência humano.

Era fácil ignorar o barulho de uma TV ligada no segundo andar do prédio atrás de mim, a discussão de um casal no apartamento abaixo – e o barulho de um deles mexendo em uma arma -, e outras coisas banais. O coração era sim uma música para os meus ouvidos sensíveis e eu apenas me concentrei em escutá-la com atenção.

O vento me trazia delicadamente o cheiro dele, algo que parecia uma mistura de xampu de hortelã, sabonete e um odor de cigarro de menta. Ele era refrescante, sorri com a idéia. Se prestasse mais atenção poderia ignorar também o cheiro dos latões de lixo ou da maconha que fora fumada no beco ali perto. Ou também o de suor e sexo do motel da esquina. A noite, apesar de tudo, era mais agradável do que o dia, e tudo ganhava uma intensidade maravilhosa. Sem contar que era perfeita para o cenário. Obscura na medida certa.

E, ah, como poderia esquecer ou simplesmente não perceber? Vinha algo leve e adocicado unto ao vento, algo que seria sim imperceptível até para mim em uma noite mais agitada. Mas a noite estava calma e parada demais. Nada muito grave, afinal, eu sempre conseguia minha presa, não importava como. Aspirei novamente, deliciada. Havia um corte de leve em sua boca, no lábio inferior. Provavelmente se metera em uma briga ou alguém o mordera radicalmente ali. Ainda sangrava um pouquinho, mas era o bastante para entrar no meu olfato e me embriagar. Com o canto dos olhos percebi-o passando a língua sobre o machucado e a vontade de fazer o mesmo me atingiu. Desejo.

Observei-o melhor. Usava uma jaqueta de couro e jeans surrado, uma camiseta preta e coturnos, bem simples e comum, mas ele se destacaria em qualquer lugar: era muito bonito. Nada como um cara bonito e com um cheiro melhor ainda. De repente o desejo abrangeu mais partes do meu corpo. Além da boca salivando, podia sentir o ventre estremecer. Agora não era apenas para satisfazer minha fome, mas também uma fome sexual. Uma barba por fazer contornava seus lábios perfeitamente desenhados, o inferior ainda não começara a inchar. Olhos castanhos e profundos, nariz reto e afilado, sobrancelhas levemente arqueadas e pele morena. Parecia ter ascendência em algum lugar do Oriente Médio, mas ao invés dos traços em seu rosto parecerem grossos e sem simetria, eram harmônicos e contrastantes. O cabelo curto com um topete bagunçado completavam o conjunto. Minha imaginação era bem fértil para imaginá-lo perfeitamente nu. Gemi baixinho só com o pensamento fazendo minha excitação em minha calcinha chegar em níveis bem interessantes.

Ele estava perto o suficiente para fazer meu corpo ficar alerta. Arqueei as costas, melhorando a postura.

- Tem cigarro? – perguntei, Ele parou de andar e me observou, como se só me reparasse ali agora.

- Sim. – a voz dele me fez arrepiar. Ele tirou um maço do bolso e peguei um. Logo ele trocou a caixinha por um isqueiro, acendendo-o para mim.

Traguei levemente e ofereci a ele. O mesmo sorriu e aceitou.

- Está aqui sozinha? – ele perguntou, com um quê de curiosidade em sua voz.

- Bem... – dei de ombros.

- Isso é óbvio, não? – ele sorriu, vendo o quão óbvio era mesmo.

- Oh, sim. – dei uma risada.

- Esperando alguém? – o olhei de forma intensa e ele apenas retribuiu o olhar.

- Não, ninguém em especial. Gostaria de me fazer companhia? – falei.

Ele ficou pensativo, apenas me observando. Seu olhar percorreu o meu corpo inteiro e percebi o relance de algo ali.

Fui andando em direção ao beco com cheiro de maconha impregnado ainda, ouvindo os saltos das minhas botas baterem no concreto, o único som audível para alguém naquela região. A TV fora desligada, o casal parara de brigar. Estava tudo um completo silêncio, algo estranho para aquele bairro, mesmo àquela hora da madrugada. Mas não importava, ser silenciosa era minha especialidade. Contei seis passos meus até ouvir os dele, atrás de mim. Sorri de forma lenta e calculada.


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