Scorpius observava a chama da lareira, havia desistido logo cedo de fazer os últimos trabalhos. Sem saber onde Rose estava não conseguia se concentrar e aquilo lhe deixava aflito. Com sua pena de faisão, já riscara em todo seu braço, alguns símbolos rabiscados com a tinta preta. O som do quadro se movimentando era inconfundível, sua atenção virou-se para a ruiva que entrava abraçada em um livro, com a visão distraída entre um pergaminho imenso em suas mãos. Nem sequer levantou-se, apenas, afundou ainda mais o corpo na poltrona.

—Onde estava? —Perguntou controlando o máximo de ciúmes em sua voz.

—Estudando! —Sentou-se no sofá, amassando o pergaminho e jogando-o para longe, acertando em cheio a lixeira.

—Para quê? Você não vai repetir esse ano. —Falou ainda encarando as chamas.

Rose encarou-o, levantando a sobrancelha como mais ninguém fazia. Scorpius conhecia aquele olhar, estava começando a se irritar com todo aquele questionamento, preparando, articulando minuciosamente os argumentos que usaria para bombardeá-lo.

—Se você não quer estudar, tudo bem, mas não me obrigue a ficar sentada de frente para a lareira sem ter alguma atividade! —Pôs-se de pé, colando os punhos fechados na cintura.

—Sem alguma atividade? E seu namorado por acaso é o que? Algo entediante? —Levantou-se igualmente a Rose, diferenciou, cruzando os braços sobre o peito estufado.

—Agora estamos namorando? —Usou seu tom de incredulidade. —E para a sua informação, não é como se estudar fosse algo muito divertido.

—Achei que estivéssemos juntos! —Abaixou o tom da voz, porém, manteve o timbre firme. —Achei que seu amiguinho deixaria tudo mais “divertido”.

Rose riu sem humor.

—Ah, entendi. —Revirou os olhos. —A questão não é o que eu estava fazendo e sim com quem eu estava!

Scorpius abriu a boca duas vezes, mas fechou-a novamente. Reuniu forças e os melhores argumentos que conseguiu.

—Claro! —Empinou o nariz pontudo. —Desde o almoço você desapareceu, podia ter dado noticias!

Dessa vez a ruiva abriu um largo sorriso. Soltou os braços tensionados e se aproximou lentamente do loiro. Poucos centímetros lhe separavam. Ficou na ponta dos pés e beijou brevemente o rapaz.

—Boa noite, Sr. Ciúmes. —Esquivou-se pela lateral do loiro e subiu as escadas, desaparecendo em seu quarto.

E ainda nervoso Scorpius gritou. —Amanhã vou estudar com a Scoults!

Não demorou para que Rose abrisse a porta do quarto e colocasse a cabeça para fora. Scorpius abriu um sorriso vencedor.

—Devo esperar acordada? —O sorriso no rosto do Sonserino desapareceu. Dando para Rose, a chance perfeita de piscar e sorrir.

Na manhã seguinte.

Scorpius observava Rose da mesa da Sonserina. Desde que se sentara ali, ficara observando cada movimento da garota, desde o seu folhear o livro até o momento em que enrolava o cabelo no dedo indicador. Sobressaltou-se quando Lorcan aproximou-se da ruiva, tocou seu ombro e a mesma pôs-se de pé. No instante em que a garota colocou a mochila no ombro e saiu ao lado do garoto, Scorpius espetou o garfo que segurava na mesa de madeira, marcando-a com as pontas afiadas do objeto de metal.

—O que ela tem de tão encantador? —Um garoto ao seu lado perguntou.

Em seu ímpeto de orgulho e egoísmo, guardou para si aquela informação, apreensivo com a ideia de que outros descobrissem e caíssem perdidamente apaixonados aos pés da ruiva, assim como ele estava.

Naquela noite, ficou na biblioteca, estudando como disse que faria. Apenas quando o horário do toque de recolher já havia passado, levantou-se e voltou para o salão. Entrou com a cabeça em pé, jogou um livro e a capa em cima da mesa de reuniões desorganizada. Por cima do encosto do sofá, enxergou Rose afundada na poltrona, com um fino cobertor cobrindo-lhe o colo enquanto lia. Sentou-se no sofá, jogando as pernas para cima do apoio.

—Como foi o estudo? —Perguntou sem tirar os olhos das páginas.

—Ótimo.

—Estudaram o quê? —Levantou a sobrancelha, Scorpius apenas não entendeu se foi para ele ou para o livro.

—Er, runas. —Respondeu rapidamente.

—Você é bom em Runas! —Sibilou, molhando a ponta dos dedos antes de virar a página.

—É, mas ela não é, achei que poderia ajudá-la. —Colocou um sorriso nervoso no rosto.

Rose riu.

—O que foi? —Perguntou encarando-a.

—Ela não faz aula de Runas. —Rose sorriu, olhando-o.

Scorpius bufou.

—Você estava sozinho, não é? —Lançou um olhar para o loiro.

—Estava. —Jogou a cabeça para trás, soltando o ar preso em seu pulmão. —Passei a tarde inteira lendo um livro sobre Runas.

Rose riu ainda mais.

—Certo, não é motivo para você rir desse jeito! —Resmungou olhando-a.

—Na verdade é sim. —Rose ajeitou-se de maneira que pudesse olhá-lo com precisão. —Algumas aulas já terminaram, e Runas, foi uma delas. Ou seja, você estudou Runas: Avançada, apenas por estudar!

—O que? —Exclamou irritadiço.

Rose ainda ria.

—A propósito, teremos um ultimo trabalho de poções, então, terá que passar mais uma tarde na biblioteca. —A ruiva levantou-se com o livro em mãos, passando pelo loiro. —Até amanhã!

—Hey ruiva? —Chamou-a e aguardou resposta.

—Fale doninha.

—Preparada para o jogo de quadribol? Sábado veremos quem é o melhor. —Rose sabia que o rapaz sorria ironicamente.

—Adoro clássicos do Quadribol! —Falou sugestiva e subiu, enterrando-se no escuro do seu quarto.

—Lumus! —Rose sacudiu a varinha e a luz na ponta fez com que os pergaminhos em seu colo se iluminassem. —Vamos lá Rose, você precisa terminar isso até amanhã!

Após analisar o que tinha escrito, ajeitou a pena auto corretora nos lábios e continuou a anotar as táticas para o próximo jogo. Como o Sonserino no andar de baixo comentara, seria o ultimo jogo, ou seja, um belo e emocionante clássico entre as casas. Não contara ao loiro, pois assim como todos os integrantes da equipe, guardaria segredo sobre os treinos. Aparentemente, a equipe da Sonserina estava contando com aquela vitória, muitos se formariam, então, seria um excelente ano para vencerem. Porém, a Grifinória estava mais bem preparada. Treinos às escuras, em horários diferentes, quando nenhum outro aluno veria as jogados praticadas por Rose e Tiago.