“Olá velho amigo,

Como vão as coisas por aí? Esqueceu-se de responder minhas últimas oito cartas?

Certo, antes que eu me esqueça e seja azarado. Rose está louca atrás de você, não sabe ao certo se deve ou não mandar-te cartas, já que o senhor não a enviou nenhuma. Poderia por favor, escrever ao menos um bilhete para ela? Agradeço.

A propósito, o que você fez para aquela garota? Agora entendo quando a chamavam de dragão ruivo. Ela está uma fera com você, mesmo preocupada. Sério, antes de desembarcar ela estava calma, e pelas cartas que ela me mandou, parecia meu aturdida em relação à você. Explique-se Malfoy.

Já comprou seus materiais? Estou indo agora comprar os meus, adoro cheiro de pergaminhos novos... Estou andando de mais com a Weasley.

Responda-me.

Luke Z.”

Scorpius soltou o pergaminho sobre a mesa e encostou os dedos nos lábios. Não mandaria carta para Rose, sabia que receberia alguns xingamentos de volta e queria explicar-se pessoalmente. Talvez aquele ano fosse o melhor de sua vida. Puxou um pergaminho da pilha e afundou a ponta fina da pena no tinteiro velho. Deixou que algumas gotas pingassem, antes de começar a escrever.

“Velho amigo?

Onde está o querido? Fiquei magoado, só vou continuar a lhe escrever porque preciso realmente explicar a situação.

Lembra-se que contei que fiquei com Rose em uma cabine até o fim da viagem? Claro que lembra, ficou me importunando por dias. Eu a beijei antes de sairmos. Ela me deu um livro, e eu a beijei e o mais extraordinário, foi que ela não recusou, aceitou o beijo. Foi o melhor da minha vida.

Mas depois da sua carta fiquei apreensivo, será que ela ficou muito brava? Eu devia mandar uma explicação, mas vai ser pior, tenho certeza.

Você como amigo, podia persuadi-la, não? Tente fazer isso por mim.

Ela fica linda irritada, não? Por um momento esqueci que você apenas lê a raiva dela, não a viu.

Já comprei sim, e acredite, ontem me peguei cheirando um livro novo. Qual o nosso problema?

Coloque o querido novamente, Scorpius M.”

Chamou pela coruja empoleirada no canto da janela, e entregou-lhe a carta.

—O chato do Zabini, espere pela resposta! —Acariciou a cabeça da coruja e soltou-a.

Era pôr do sol, jogava uma bolinha de borracha na parede, pegava-a e repetia o processo. Definitivamente suas férias não poderiam estar piores. Distraiu-se por um segundo, levando uma bolada no olho, que logo ficaria arroxeado.

—Mas que droga! —Colocou a mão sobre o ferimento, e com a visão embaçada percebeu que fora o som de sua coruja, bicando a janela que o tirara de seus pensamentos. Pegou a carta e jogou-se em sua cama novamente. Esperou alguns minutos até a visão voltar ao normal. Rasgou o envelope com agressividade e desdobrou o pergaminho.

“Caro Malfoy,

Não acha meio... Estranho eu lhe chamar de querido? Eu acho e não importa sua opinião quanto a isso, não usarei a palavra querido.

Você por acaso é louco? Que morrer, não é? Como beija a garota e lhe deixa sem resposta as férias inteiras? Cara, foi muito legal te conhecer, com certeza estarei no seu funeral depois dessa sua burrice.

Como espera que eu faça algo como persuadi-la, se eu mesmo te bateria no lugar dela. Acho que dessa vez caro amigo, seu nariz não terá conserto.

Sei que você a ama, não acha que já está na hora de simplesmente contar isso a ela? Pois eu acho que sim, mesmo ganhando um pé na bunda, ela merece saber disso. Espero que conte da forma mais agradável possível, e saiba que torço pelos dois, assim como outras pessoas.

Sei que está com saudades da ruiva, então, para lhe alegrar, já que sou um grande amigo. Coloquei uma das cartas que ela me enviou. Aproveite, e não, essa não é reveladora.

Nosso problema se chama Rose Weasley!

Querido está banido do meu vocabulário, Luke Z.”

Vasculhou o envelope amassado e encontrou o pergaminho de Rose. Coçou o olho e lançou a carta de Luke para longe, só interessava a carta da ruiva. Abriu-a cuidadosamente, passou os olhos pela caligrafia fina e detalhada, com certeza era de Rose.

“Caro Zabini,

Como vai? Estou bem na medida do possível. Ontem a noite caí na escada e bem, daqui a alguns dias poderei tirar o gesso do pulso, foi apenas uma torção, mas imagine o desespero da minha mãe quando viu meu nariz ensanguentado. Por alguma razão ela preferiu o hospital trouxa, e cá estou eu, sem poder movimentar o pulso. Meu pai me proibiu de sair até que esse negócio saísse, ou seja, ficarei confinada em meu quarto por alguns dias.

A pior noticia é que estou sem livros novos.

E o meu livro favorito eu dei para o Scorpius, aposto que ele nem pegou para ler.”

Scorpius olhou para o exemplar em cima do malão já quase pronto para o inicio das aulas. Havia lido o livro inteiro pelo menos umas duas vezes, e marcara suas páginas preferidas com fitas adesivas coloridas, juntamente com suas frases sublinhadas. Voltou a ler.

“De qualquer forma, tem tido noticias dele? Se bem que... Quer saber? Não me diga nada a respeito daquele garoto, achei que fossemos amigos, ele ainda me perguntou se poderia escrever e até agora não me enviou nenhuma carta. Argh, que trasgo. Depois ele vai vir conversar com a maior cara lavada, termo trouxa, ignore. Perdão por desabafar no meio da carta, mas creio que ele esteja em divida comigo. E não serei eu quem mandarei a maldita carta.

Esperando ansiosamente para o dia primeiro de setembro, até logo, ou até a plataforma.

Saudades, Rose Weasley”

Scorpius jogou o corpo para trás, deitando a cabeça no travesseiro com o pergaminho colado ao peito, ficou por horas imaginando como seria se aquela carta fosse para ele. Provavelmente perguntaria como ela caiu da escada, e ficaria preocupado por horas esperando a resposta. Aceitaria os xingamentos e sabia que receberia outros quando a visse pessoalmente. Refletiu sobre a carta do amigo. Mostraria para a ruiva o livro, marcado, assinalado e rabiscado, como prova de que realmente foi a única coisa que o aproximou durante todas as férias, de Rose.