Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 58
Esquecer


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei tanto que alguns de vocês acharam que eu morri. Estou viva rsrsrs. Tive alguns probleminhas pessoais, mas agora voltei. A fic está concluída, mas apenas no papel. Vou passar para o pc e postar ainda mais dois capítulos. Vocês devem ter reparado que mudei o título da fic. É que vou reeditar e publicar como livro físico ( vocês vão adorar a dedicatória rsrs) e esse será o nome, com essa capa. Espero muito que gostem ♥



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Senti a água morna massagear minhas costas, enquanto o chuveiro fluía calmamente. As feridas eram evidentes, cortes, arranhões e hematomas indesejáveis. O sangue seco ainda estava ali, como uma marca da batalha pela qual passei. Prontamente, o mesmo foi desaparecendo, vagarosamente.

Um suspiro escapou de meu semblante ao relembrar que minha mãe estava de volta, que David estava bem. Richard havia depositado um trauma em minha mente. Porém, tenho certeza que, além de um trauma, recebi conhecimento. Experimentei coisas que, em meu mundo normal, jamais seriam possíveis. Monstros, florestas encantadas, criaturas magníficas e varinhas cintilantes. Às vezes parava e pensava se tudo isso aconteceu realmente comigo, se não foi apenas uma mera ilusão da minha cabeça agitada.

Meu corpo estremeceu quando voltei à realidade. Foi então que percebi que a água parara de fluir. Revirei algumas das roupas novas que minha mãe comprara – não tínhamos absolutamente nada, a não ser alguns móveis embalados que deixamos para trás quando fomos para índia – e acabei achando um suéter azul royal. A calça jeans amarrotava caiu muito bem em minha figura magra e cansada.

Quando desci as escadas, minha mãe remexia algumas coisas que eu desconhecia.

— Mudança? – indaguei, acomodando-me no último degrau.

— Ah, você está aí – sorriu ela, os olhos cintilantes. – Temos muito a fazer. – abriu um embrulho de jornal, como se ali estivesse guardado um Deus.

Fiquei parada por um momento, perdida em pensamentos silenciosos. Hesitei antes de abrir a boca.

— Mãe, quero perguntar – massageei as têmporas. – uma coisa.

— Diga – ela mal retirou os olhos de suas relíquias empacotadas.

— É sobre o anel – fiz uma pausa para notar sua reação. Ela respirou fundo, consternada. – Por que... – gaguejei. – Por que está escrito “filho de Agatus” se o anel pertence a você? E não ao meu pai— balbuciei. – Quer dizer, Jonathan.

Minha mãe tinha a leve mania de ficar em silêncio quando não queria responder as minhas perguntas. Mas, para o meu espanto, sua voz tomou conta da sala, baixa e dócil.

— Sabe Kat... Quero começar uma vida nova, com a casa, com você. – assenti, me perguntando como chegamos naquela conversa. – Pode me fazer um favor?

Abracei meus joelhos e curvei o corpo, respirando fundo. Lá vamos nós.  

— Claro.

— Quero que esqueça essa coisa toda – deixou o embrulho de lado e me encarou, afetada. -, essa coisa toda de magia.

Encarei-a, intrigada com tal possibilidade.

— Mas, já que deseja tanto saber – sorriu, as olheiras a deixavam mais velha. – Pertenceu ao último feiticeiro que possuía os poderes de Agatus, antes de mim. Ele era um homem incrível. A cada 10.000 anos um novo substituto é decretado.

— Se você é Agatus – ponderei por um segundo antes de retomar a fala. – porque desapareceu? Quando Richard nos levou?

— As profecias dizem que a cada 3.000 anos,  Agatus deve retornar a sua floresta, para desta forma protege-la com sua vida. – guardando mais um embrulho, ela me encarou. – Eu precisava voltar. – sua face empalideceu. – Richard e Victoria sabiam a contagem dos milênios, por isso tentaram libertar Agatus na hora certa.

Assenti, compreensivamente.

— Agora, será que podemos esquecer isso de uma vez? – seu olhar emanava ternura, não estavam alterados como pensei ao tocar naquele assunto.

— E como quer que eu faça isso? – engoli seco, com expressão de pedra.

— Apenas – guardando outro objeto embrulhado, suspirou, abaixando a cabeça. – tente esquecer.

— Mãe, eu...

— Kat, escute. – seus olhos, subitamente, tornaram-se nuviosos, estáticos. – Não vamos ter uma vida normal se levarmos isso adiante. – sua voz era firme, mal sabia o que suas palavras significavam. – É bobagem. Olhe... Quero que tenha uma vida normal, Kat.

— Não posso simplesmente apagar tudo o que aprendi. – ergui-me em uma velocidade assustadora.

— Tudo isso faz parte de um mundo que não existe aos olhos humanos, não seremos pessoas normais se continuarmos insistindo...

— Por que quer tanto isso? – encarei-a, séria. Ela não esperava tal atitude. – Por que deseja tanto sumir do mapa? Outra vez!

— Só estou tentando a proteger.

— Esconder-me em uma casa escura e mal arrumada não vai adiantar de nada.

Ela fechou uma caixa, logo a deixando de lado. Suspirou em meio dos pensamentos com os olhos cerrados, sua expressão angelical permanecia intacta.

 – Faça o que achar melhor, querida. – a última palavra soou em seus lábios como veludo.

Seu robe floral dançou no ar quando se dirigiu a cozinha, calmamente pacífica. Vesti minha jaqueta amarrotada e fechei a porta atrás de mim, logo ouvindo repentinamente uma voz abafada pelas paredes.

— Diga que mandei um abraço – gritou ela.

Ajeitei os cabelos em um coque e murmurei baixinho:

— Ótimo.

***

David dormia calmamente ao som sutil dos aparelhos que o cercavam. Sentei-me em uma poltrona cinza ao lado de sua cama, lendo algumas notas de sua ficha médica ali exposta. Dr. Romaric. Ri baixinho com o nome francês, nem eu mesma sei o porquê, mas achei engraçado. David sempre fazia piadinhas sobre nomes franceses.

Sua perna estava suspensa, completamente enfaixada. Haviam alguns arranhões em seu rosto e em boa parte de seus braços. Achei difícil a história de David ter caído de uma árvore tentando alcançar o gato da Srta. Baker do prédio 81, convencer o avô dele. Entretanto, correu tudo muito bem. Ele caiu direitinho.

Seus olhos se abriram quinze minutos depois após ter lido mais de 30 vezes aquela prancheta. Já havia até decorado os nomes estranhos de alguns remédios.

— Pensei que não viria – sorriu ele, maliciosamente.

— É obvio que viria.

Seus cabelos pareciam maiores, a barba por fazer o deixava 5 anos mais velho. Estava lindo.

— Agora, venha aqui – ele indicou o lado esquerdo da cama. Ele parecia cansado, porém disposto a me fazer rir, como sempre. – e me dê um beijo.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥



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