Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 55
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Oi! Como vão? Então, meus amores. O capítulo ficou grandinho, eu ainda dividi em duas partes - para não ficar muito cansativo de ler. Espero que vocês gostem ♥ Beijoss! Ah, e um Feliz Natal adiantado!



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A floresta de Agatus parecia não ter fim. O horizonte era como uma página em branco. Às vezes, eu oscilava e acabava me desequilibrando de Kendria. Minha cabeça estava girando em pensamentos fúteis. Eu estava nervosa demais. Eu sempre fui excelente nas batalhas, mas eu não estava sozinha. Raj estava lá, Jake e Diana, embora me odiassem. Eu não estava só. Mesmo com Peter, Fadheela e a flor de Lótus, eu me sentia sozinha. Faltava algo em mim.

Lembrei-me do colar de Richard, que Christine me dera. Observei-o por alguns minutos. Enrolei-o em meus dedos e suspirei. Resolvi transformá-lo em uma cópia do meu anel, trocando pelo que usava. Manejei o original e guardei-o no bolço.

Kendria parou, sem que eu percebesse. Desci da fera e contemplei o local familiar. Droga.

– Kendria, me trouxe ao lugar errado.

Estávamos no cemitério de Agatus, próximo de onde encontrei as profecias. As lápides e as cruzes permaneciam como antes. O gigantesco pedestal erguia-se na clareira repleta de neve. Tudo outra vez, igual.

– Por que me trouxe aqui?

Não – a voz baixa e fria me fez saltar. – Você está no lugar certo, Katharine.

Seus cabelos estavam como sempre. Longos, negros e desgrenhados. Seus olhos frios chamejavam em azul celeste. Usava vestes negras, acobertadas por uma imensa capa de veludo negro. Em sua mão esquerda, um lindo cetro dourado, decorado com rubis. Notei que ao fundo, havia um lindo pegasus negro, pacífico.

Richard – sibilei, os lábios tremiam de frio.

– Minha querida filha. Não seria mais apropriado chamar-me de pai?

Acariciei Kendria e o encarei, ríspida.

– Eu não ousaria.

– Garotinha – ele andou em círculo, lentamente. Encarando-me, ele riu. – O que tem aí?

Olhei para Kendria, que observava o pegasus com temor, quietamente.

– Eu quero as profecias – disparei.

– Ora... Por que não vai busca-las? – ele indicou a trilha de lápides, que levava a clareira.

– Sei que estão com você.

– Me dê o anel – ele cravou o cetro na neve. -, e lhe darei as profecias.

– Por que precisa dele? – afastei-me lentamente, alcançando Fadheela. Richard analisava cada movimento meu, sereno.

– Por que isso agora, Kat? – meu apelido soou estranho em seus lábios. Apertei a varinha em meus dedos, sentindo-a queimar. – Nunca precisou dele. Você sempre foi poderosa, com ou sem varinha de luz. É patético permanecer o guardando.

– Você não vai me convencer.

– Ah, não? – ele arqueou as sobrancelhas.

Senti algo me puxar para o chão, mas eu resisti. O cenário mudou. O lago ergueu-se a minha frente. A árvore morta continuava lá. Minha roupa também mudara. Estava vestida com um lindo vestido azul claro, meus ombros expostos. Meu cabelo era preso em um coque, algumas mechas escapavam do penteado. A neve ainda caía. Ouvia vozes ao fundo, familiares. Parecia que eu já tivera vivenciado aquilo, era arrepiante.

Kat, senti saudades – virei-me instantaneamente para vê-lo, assustada.

Peter?

David puxou seu braço. Os dois riram.

– David! – tentei correr para alcança-lo, mas minhas pernas falharam. Desabei de bruços na neve. Arrastei-me. Richard apenas ria do meu sofrimento. – David, por favor. Olhe para mim.

David virou a cabeça, sorrindo. Parecia alucinado.

– Katharine, o jantar está pronto – gritou minha mãe.

Meus olhos rondaram o local em busca dela. Vi sua figura delicada próxima a árvore seca.

– Mãe!

Era tudo tão real, mas eu não conseguia tocá-los. Quando olhei para frente, vi Raj com os braços abertos, como se esperasse um abraço meu.

– Você sente saudades disto tudo, não é mesmo? – indagou Richard.

A nevasca se tornou intensa. As figuras familiares desapareceram e me vi ao lado de Richard, de pé.

– Parece estar com frio – disse ele em meu ouvido.

Não – sussurrei. – Deixe-me em paz.

– Concede-me essa dança? – perguntou, docilmente. Richard postou-se como um cavalheiro para mim. Segurou minha mão e cerrou os olhos. – Não tem ideia de quanto senti sua falta, filha.

Retirei minha mão da sua velozmente, afastando-me.

Você vai se arrepender de tudo que fez, Katharine...

Mirei o horizonte e nada encontrei. Diana punha-se à minha frente. Uma pistola em mãos, mirando-a em mim. Ainda podia ver a cicatriz em sua garganta, que sua própria adaga causara.

– Diana... Qual o motivo da arma? – espantei-me.

Ela não respondeu. Dei um passo para trás, tropeçando nos babados do vestido. O lago estremeceu. A grossa camada de gelo começou a rachar, fazendo Diana se afastar dali. Richard, como se já esperasse aquilo, estava junto de seu pegasus, observando tudo. Eu cairia, se não corresse. Pulei para borda do lago, batendo com os cotovelos na neve. Minhas costelas bateram em algo duro. Rolei com a dor. Quando levantei a cabeça, espantei-me com o que via. Raj estava sentado na neve, na base da árvore sombria. Ele estava diferente, os cabelos estavam maiores e mais bagunçados. Suas roupas eram velhas e sujas. Diana ainda apontava a arma para mim. Agora sabia no que minhas costelas tinham colidido. Eram as botas negras de Raj. Richard deu a volta e ajudou-me a levantar. Quando dei conta, ele havia sumido. Apenas Raj, Diana – que ainda apontava sua pistola em minha direção.

– Diana – levantei as mãos, em sinal de rendição. – Por que está fazendo isso?

Ela não se moveu, muito menos respondeu minha pergunta. Apenas disparou. Meu coração acelerou. Ajoelhei-me na neve e arfei. O sangue pingava no chão alvo, também manchando meu vestido claro. Diana largou a arma, lágrimas escorriam por seu rosto pálido.

– O que você fez, sua tonta? – berrou Raj.

Diana olhou suas mãos e cerrou os olhos, as lágrimas incidiam.

– Já estamos mortos! Não irá adiantar nada!

Raj levantou-se. Rodeou meu corpo e ergueu a bota esquerda, dando impulso. A dor se intensificou no terceiro chute, em meu abdômen. Eu não entendia... O homem que me amou e me protegeu das forças negras deste mundo, estava simplesmente me agredindo.

– Levante-se, sua vadia – rosnou ele.

Diana havia sumido. Apenas Raj estava lá, atacando-me violentamente. Quando ele parou, tentei me sentar. Cuspi sangue e me contorci quando uma leve brisa passara por mim. Eu iria morrer. As batidas do meu coração não se encontravam com a mesma velocidade monótona de sempre.

– Então, vai ser assim? – debochou. – Sabe, filha... Imaginei diferente. Mas, até que assim não é um fim tão ruim. Dê-me o anel e terá uma vida eterna ao meu lado. Seremos pai e filha, unidos e.... Felizes. Entregue o anel para o seu pai, querida. Vamos libertar Agatus e se aliar a ele.

– Como assim Pai?

Ele virou para me encarar.

– Ah.

Sua fisionomia morena tornou-se pálida, os cabelos mais longos. A capa negra voltou a flutuar na nevasca. Era Richard outra vez. Eu estava fraca de mais para dizer algo. Meu corpo estava mole e minha vista turva. Richard ajoelhou-se. Pegou minha mão e beijou-a. Eu parecia estar morta. Richard retirou o anel de meu dedo, sem que eu pudesse contrapor. Ficou de pé e sorriu, afiado.

– Obrigado, meu anjo. Acho que já imaginava isto desde o começo. Não inseri aqueles “sonhos” em sua mente à toa. Eu precisava amolecer seu pensamento. Você é otimista demais. Além disso, precisava que você mudasse de lado, que não ficasse a favor de Agatus. Mas... Quando descobri que era praticamente impossível aproximar-me de você, precisava enfraquece-la. Assim, pegaria o anel e libertaria Agatus, aliando-se a ele.

– Acha mesmo que – tentei tossir, rouca. – iria dar certo?

– E deu – ele riu. – Eu apenas precisava do seu ponto fraco, Katharine. O que você mais amava.

Ele subiu no pegasus e passou os dedos pelos cabelos negros. Seu sorriso era ameaçador, os olhos densos. Sua capa negra velejava no ar, o pegasus sibilava.

– Agatus ajoelhará diante de...

Cerrei os olhos. Os sons tornaram-se turvos, de repente. Agarrei a barra do vestido, ao sentir uma forte dor em meu peito. Era como se uma flecha o rasgasse. A nevasca parara de repente, em um sopro. Ouvi um grito longo e frio se propagar no local. Era Richard, tinha certeza. O silêncio tomou o local.

Abri os olhos com receio. Meus pulmões não colaboravam, minha respiração era fraca e pausada. Olhei em linha reta. Oscilei. A cabeça de Richard jazia no chão. O mais estranho é que não havia rastros de sangue. Seu pegasus levantou as patas dianteiras e rinchou, saindo em disparada. O corpo de Richard permanecia ao chão. O cenário havia alterado outra vez. Agora, estávamos no mesmo lugar de antes, o cemitério. O vestido havia sido trocado pelo traje e o coque pelo rabo de cavalo. Kendria havia desaparecido.

Victoria me observava, a espada em punho. Rodeou o corpo decapitado de Richard e se ajoelhou para pegar algo. O anel. Retirou a luva direita e, sem titubear, colocou-o em seu dedo.

–Finalmente – sussurrou. O anel não cintilou após seu ato, seguiu com sua mesma cor, cinza chumbo. – Depois de tantos anos...

– Por que nunca arriscou apanhá-lo? – protestei, inerme. Mesmo que não quisesse, eu estava assustada. Poderia pegar minha varinha e me curar, mas não possuía forças naquele momento. – Ele sempre esteve lá comigo. Você certamente teve milhares de chances.

Ela riu, retirando a outra luva. Seu vestido rubro balançava com a leve brisa gelada.

– Você mais poderosa do que imagina, ratinha. Você se auto protege, sozinha.

Uma fumaça rubra surgiu em suas mãos. O livro de Agatus formou-se em meio a névoa vermelha. Victoria o abriu, folheando-o.

– Agatus, revele-se!

O livro brilhou. Folheou as profecias, até parar em uma única página.

– Aqui está.

Ela observou o local, dirigindo-se à enorme cruz. Meu ferimento estava se curando aos poucos, mas a dor – na região onde o “suposto Raj” me atingira – prosseguia. Eu precisava ser forte, precisava detê-la. Então, rastejei. Victoria ignorou-me. Parou ao lado da gigantesca cruz, observou-a. Leu algumas estrofes do livro, atenciosamente. Cravei as unhas na neve e, sentando-me, busquei Fadheela na bota. Ela brilhou para mim.

– Isso será fácil – sorriu ela, malignamente. Olhou-me pelo canto do olho, analisando-me.

Então, prosseguiu. Iniciou um feitiço que eu desconhecia. Parecia-me latim. Victoria largou o livro, que pairou no ar, ao alcance de seu olhar. Eu sabia que não iria dar certo, aliás, o anel era falso.

Agatus, venit ad me. Erige brachium tuum, et veni – abriu os braços e gritou. – Libera te. Nunc!

Nada. O silêncio prosseguiu. Ela releu a página anterior. Folheou o livro e fechou-o, fazendo-o desaparecer. Investigou o anel. Tirou-o do dedo e analisou-o.

Sua... Ratinha! – Victoria arremessou o objeto para longe de meus olhos.

Caminhou lentamente até mim. Recuei, escorando-me em uma lápide próxima. Algo misterioso me puxou. De repente, me vi a frente de Victoria. Meus pés estavam alguns centímetros do chão.

– Pensa que pode me enganar, ratinha? – seus olhos azuis ferviam. As mangas, do vestido rubro, repletas de neve. – Acha que vim até aqui para nada?

– Roubou o livro para nada? Matou meu pai para nada? – deixei escapulir a palavra pai. Victoria levantou os olhos, zombadora.

– Ora – disse debochadamente. – Desde quando Richard Mayer é seu pai? Desde quando raciocina dessa forma?

– Quando tomou coragem para mata-lo? – tentei me impor.

Victoria engoliu seco. Assustei-me quando meus pés retornaram ao chão. Notando o desalento que minhas palavras lhe causaram, prossegui.

– Christine contou-me. Você sempre sentiu inveja de minha mãe...

– Isso não vem ao caso agora! – rosnou ela. – Lucinda está bem longe, mais longe que possa imaginar. É por isso que sempre digo: Não brinque com magia negra, quando não sabe manejá-la.

– Minha mãe é uma feiticeira maior! E não uma bruxa. Ela não é como você. E, certamente, deu graças a Deus por ter se livrado de Richard.

– Você não me conhece, ratinha – ela rodeou a cruz. – Não diga o que não sabe.

– Você o ajudou a saquear o templo, você colocou fogo na corte, você incendiou minha casa e a de Raj, em mandato de Richard, você me manipulou para quase matar Raj!

– Eu nunca faria isso! – berrou ela. – Por que manipularia uma pessoa para matar meu próprio filho?!

– Raj não era seu filho! Você queria me incriminar! Queria que Alanis desse um jeito em mim, mas ela não conseguiu. Queria que ela me prendesse, assim conseguiria o anel, se meus poderes fossem retidos. Quando Raj matou Yann você não deu a mínima, porque sabia que Alanis não faria nada! Porque você a conhece muito, são amigas! E mesmo Richard estando preso naquela fronteira, você podia sair. Acha que nunca notei a sua ausência? Para que precisava de Raj se poderia abrir um portal?

Victoria não respondeu. Apenas aquietou-se, ereta.

– Você apenas queria a sua aproximação.

– Acha mesmo que Raj era importante para mim? – ela franziu o cenho, caminhando lentamente. – Yann? Menos ainda.

– Acha que não sei nada sobre Ramech?

Seus lábios se enrijeceram rapidamente. Cerrou os punhos e sussurrou.

– Não há nada ao seu respeito que me interesse.

– Ramech era o pai de Yann e Raj. Teve um romance com ele, o que quase acabou com o casamento do mesmo, se Alisha soubesse. Com o incêndio – que provavelmente você provocara – Ramech morrera, você, arrependeu-se friamente do que fez. Adotou o garoto com sua mãe, por pena? Você só estava esperando o momento certo para atacar minha mãe. Mas... Por quê?

– Você não sabe pelo o que passei, ratinha.

– Por que colocou tantas vidas em risco? Tudo isso por causa de um ciúme idiota?

– Eu não tive escolhas!

– Sua escolha foi arriscar todos ao seu redor, apenas para ficar com Richard? Enganá-lo para ter sua confiança? Ele sabia que você poderia sair?

– Ele nunca olhou para mim como olhava para sua mãe! Eu nunca mudaria isso. Ele queria dominar o mundo dos feiticeiros, queria por Agatus aos seus pés. Eu achava tudo isso uma grande besteira, ele nunca iria sair daquela mansão. Ele precisava de dois elementos, o livro e o anel. Então, como sabia de sua existência, procurei sua mãe. Ela me entregou o livro sem hesitação, o que foi fácil. Levei-a para minha casa, e a testei. Você se achou rápido, o que eu menos me preocupei. Eu precisava do anel, precisava desse mérito, para que Richard me reconhecesse. Então vasculhei a casa. E nada. Você tinha o escondido. Tentei roubá-lo de você, mas era impossível tocá-la. Quando a levei para mansão de Richard, sua mãe desapareceu misteriosamente. Sem sua mãe, a busca se tornaria mais difícil. – ela se deteve para respirar. – Recebi um chamado de Alanis. Ela sabia das profecias. Então fui até a corte. Ela me ofereceu uma proposta: Mais poderes, pelo livro. Não hesitei. Fiquei mais poderosa em um estalar de dedos. Richard não sabia que o livro estava em minhas mãos. Quando recebi a notícia: a corte pegara fogo subitamente. O livro fora perdido, obvio. Então, para reencontrar a segunda réplica, necessitava de um grupo. Eu não me meteria em lugar nenhum em busca de um livro. Vocês caíram direitinho – riu ela. – Richard inventou um jogo idiota, em busca de um novo sucessor.

– O que? – minha voz falhou. – Então aquela encenação toda era para... Por que ele fez isso?

– Ainda vou chegar lá. Eu precisava provar para ele quem eu era. Ele estava ficando velho, já não alcançava certos feitiços. Foi então que teve a brilhante ideia. Jake e Diana foram apenas meros coadjuvantes, não serviam para nada. Richard insistiu em Raj, disse que era um forte concorrente. Eu não permiti, pois sabia que ele não iria sobreviver. Como o grupo já estava formado, Richard ordenou que buscassem o livro. E você o encontrou.

– Sim, não foi nada fácil.

– Christine, aquela vadia miserável, escondeu-o. Eu deveria matá-la no primeiro dia. Eu não o encontrava, nem com todos os meus poderes. Então, hoje, forcei-a. Não foi fácil, ela era complicada. Então toquei em sua ferida mais profunda – seus lábios se curvaram em um sorriso afiado. – Richard desejava o livro, mas eu fugi. Ele, obviamente, torturou Christine para saber onde eu estava.

– Não entendo. Fez tudo isso para conquistar seu amor e, no final de tudo, matou-o.

– A ganância supera todos os objetivos – murmurou, o olhar perdido no horizonte. – Alanis entregou-me os poderes e, a partir daquele momento, eu compreendi que almejava mais. Meu corpo ambicionava-os, mais uma vez. Decidi que iria roubar as profecias e o anel, libertando Agatus.

– O que vai ganhar com isso? Libertar Agatus apenas irá destruí-la.

– Venha comigo, então – ela estendeu a mão para tocar meu braço. Recuei velozmente, mirando Fadheela em seu rosto. – Por favor, Katharine. Abaixe essa varinha. Não irei machuca-la.

– Não acredito em você.

– Confie em minha palavra. Dê-me o anel e seremos unidas, dominando todo o mundo dos feiticeiros.

– Eu não estou com o anel – menti. Victoria enfureceu-se, espreitando os olhos.

– O que disse?

– Eu não sei onde ele está....

Não deu tempo de completar a frase. Victoria pegou-me pelo pescoço e jogou-me no chão. Fadheela foi lançada para fora da clareira. A nevasca aumentara subitamente. Espero que eu saiba o que eu estou fazendo.

– Mentirosa! – rosnou. – Ele está com você.

– Disse que não iria me machucar. Onde está sua palavra?

– Acha que cheguei até aqui sendo educada? Ser boazinha não me levará a lugar algum.

Ela retirou os saltos rubros, lentamente. Jogou-os na neve e espreitou o olhar.

– Você é idêntica a ele. Os olhos, a boca, a personalidade... Seu pai deve estar orgulhoso por você – riu ela. – No inferno!

– Me atacar não irá adiantar, Victoria. Tenho mais cartas na manga do que você imagina.

– Hum... Está se vangloriando antes da hora, ratinha. Agora, dê-me o anel.

– Jamais – rebati, os dentes cerrados.

Victoria virou-se. A nevasca tornou-se mais intensa, dificultando minha visão. Uma fumaça rubra surgiu ao seu redor, um corpo debilitado caiu à minha frente. A fumaça se foi, apenas a nevasca tomava a clareira. Victoria deu três passos delicados, encarando-me.

– Vamos jogar limpo – disse ela. O corpo levantou a cabeça. Usava vestes brancas e imundas. Havia sangue por parte de seu corpo. Quando olhei em seus olhos, reconheci o brilho. O olhar azul, como o oceano. Os cabelos negros estavam bagunçados, repletos de neve. Suas pernas e seus pulsos estavam amarrados com uma espécie de corda prata, a mesma cintilava intensamente.

Minha garganta seca esforçou-se para gritar aquele nome, que saiu completamente falhado.

David!

Victoria sorriu, grata. Ela sabia como isso me afetaria. Ela era esperta de mais, o que me preocupava. David estendeu a mão, como se pedisse minha ajuda.

– Entregue-me o anel – gritou ela, apontando sua varinha para o corpo fraco David. – Ou o garoto morre.

Não – gemi. Minhas pernas não funcionavam, o que era preocupante. Notei que meu traje estava rasgado em algumas regiões do meu corpo. – Por favor.

Peguei o anel em meu bolso, pressionando-o em minha palma.

Katharine – sussurrou David. – Não faça isso.

Victoria, ainda de pé, apontava a varinha brilhante para o garoto. Não pude deixar de notar o sorriso malicioso em seus lábios vermelhos.

Escorei-me na lápide mais próxima, erguendo-me. Entorpecida, apanhei Peter em meu bolso. O mesmo brilhou, prateado.

– Lhe darei o anel – rendi-me. – Mas – apontei para David. – Ele primeiro.

– Como quiser.

A corda misteriosa desamarrou-se de seus pulsos, depois, de suas pernas. A mesma caiu ao chão, remexendo-se. Logo, as partes separadas, transformaram-se em duas sondas metálicas. As mesmas rodearam David, que permaneceu olhando para seus pulsos. Victoria estendeu a mão aberta, esperando por algo.

– Vamos, Katharine – induziu-me ela. Era impressionante a maneira como ela manipulava as pessoas. – Você sabe que, em um estalar de dedos, minhas queridinhas podem matar ele.

Olhei de relance para David. As sondas o rodeavam, deixando-o intimidado. Apertei o anel antes de entrega-lo ao mau. Victoria sorriu, afastando-se, as sondas acompanharam-na.

Corri ao seu encontro, ajoelhando-me para abraça-lo. David sorriu, apertando minha cintura.

– Por que foi para tão longe, menininha? – brincou ele.

Enxuguei algumas lágrimas e afaguei seu rosto pálido.

– Eu ficava me preguntando a mesma coisa.

– O que aconteceu aqui? Que lugar é esse?

– Eu sei que está com muitas perguntas em mente. Mas, agora, não poderei responde-las – seu rosto cansado entristeceu. Passei meus dedos por seus lindos cabelos. – Temos que salvar esse mundo. O anel está nas mãos de Victoria, então nada a impedirá.

– Só você – ele segurou meu queixo, fazendo-me olhar em seus olhos. – Eu não faço a mínima ideia do que esteja acontecendo aqui mas, sei que você é capaz de vencer. Diga o que precisa, irei te ajudar. Eu estou com você, Kat.

Beijei seus lábios rapidamente, o que pareceu inusitado para ele.

– Obrigado – sussurrei. – por tudo.

– Agora, o que temos que fazer? – ele fez uma careta, colocando as mãos na lateral de sua perna direita.

Observei-a. Era um rasgo enorme em sua carne. Um pedaço de seu osso sobressaía pela roupa, parecia estar quebrado. O sangue ainda escorria da ferida.

– David! – pasmei-me completamente, tentando o tocar. Ele afastou minha mão e me encarou.

– Estou bem, sério.

– O que aconteceu?!

– Eu caí, só isso – ele parecia mais interessado em me ajudar.

Posicionei Peter, mas o mesmo estava fosco.

– O que... Não, não! – analisei a varinha milimétricamente.

– O que foi, Kat?

– A varinha – choraminguei, sabendo que Peter era a última chance de curar David e de impedir Victoria. – Não funciona.

– Kat.

– Eu não sei o que houve – enxuguei as lágrimas, fungando.

– KATHARINE!

Olhei-o, em meio aos soluços.

– Vá – disse ele, bravo.

– Não, eu tenho que te curar.

– Que se dane a minha perna. Você tem ir até Victoria.

– Mas, e você?

– Eu vou ficar bem, aqui. Vou te esperar.

Ele beijou a minha testa e sorriu.

– Eu confio em você.

Assenti, erguendo-me. Guardei Peter na bota e respirei fundo. Era agora. Eu tinha apenas uma chance de salvar todos. Uma oportunidade que não poderia ser perdida.


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Notas finais do capítulo

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