Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 50
Guerra


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoal! Esse capítulo ficou um pouquinho grande... Espero que gostem! Ah, é claro: Acho que os próximos capítulos super combinam com a música Roar da Katy Perry (http://www.vagalume.com.br/katy-perry/roar.html) acho que esse música demonstra toda a bravura da Katharine e do Raj ♥
Gostaria de dedicar este capítulo para: A Júlia ♥, a Oboro ♥, a Vicky ♥ e a Mel ♥ obrigada por serem minhas leitoras fiéis ♥
Boa leitura, espero que gostem ♥



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Nos escondemos em uma imensa mangueira oca, onde raízes de outra árvore se entrelaçavam, observando Diana e Jake, ambos ainda em preparação. Diana parecia nervosa. Seus olhos assustados vasculham o lugar, velozmente.

Respirei fundo ao voltar minha atenção para Raj. Seu olhar era alerta a qualquer coisa que passasse a sua frente. Deixei Peter em minha bota e empunhei Fadheela. Talvez ela seria mais útil nesta situação.

Seu brilho roxo estava mais intenso do que antes. Também notei que o anel de Agatus cintilava em um espectro avermelhado. Me assustei um pouco, pois sua cor natural era prateada. Tentei me concentrar em Raj.

– O que vai ser? – perguntei, atrapalhando sua meditação.

– Não se mova -sussurrou ele. Revirei os olhos e suspirei.

Esperamos um longo tempo até Jake e Diana desaparecerem. A espera causou um mal-estar terrível em mim. Passamos parte do dia se escondendo quando ouvíamos algum ruído suspeito. Muitas vezes eram pássaros ou outros animais. A caminhada foi longa e fiquei me perguntando o porquê disso tudo.

– Aonde vamos? - perguntei, exausta.

– Vamos achar um lugar seguro para passar a noite.

– Certamente, Jake e Diana já devem estar bem longe daqui - resmunguei.

Encontramos uma árvore velha e oca por dentro. Ela era gigantesca e daria para passar a noite confortavelmente, sem brigas pelo “espaço pessoal”. Raj e eu dormimos tranquilamente ao longo da noite, alguns mosquitos assustadoramente gigantes nos atacavam, mas isto era de menos. Sonhei com duas crianças lindas, uma com longos cabelos ruivos e outra com lindos olhos azuis.

...

Acordei revigorada para um dia de batalha. Minha náusea havia desaparecido e a dor de cabeça também. Raj já havia se levantado.

– Bom dia – disse ele ao me notar desperta. – Dormiu bem?

Assenti. Raj me beijou de leve e saiu do nosso “esconderijo”. O dia estava lindo. As árvores dançavam com o vento.

O dia passou voando. O sol desabou, deixando espaço para a escuridão. De vez em quando, notávamos a presença das sondas. O céu era negro, com diamantes bordados por todos os lados. Andamos quilômetros até Raj avistar um lugar seguro para passarmos a noite. Acendemos uma fogueira, já que o frio abrangia o local. Tratamos de apagá-la, assim Jake e Diana não teriam como nos localizar.

Estava cansada demais, sem ao menos lutar. Sentei-me ao lado de Raj, vagarosa, enquanto o mesmo retirava as botas sujas.

– Como se sente?

Hum... – resmunguei.

Fiquei alguns minutos em silêncio. Minha cabeça latejava. Minhas pernas doíam.

– Kat? – Raj envolveu-me com seus braços. Agradeci-o, mentalmente.

– Vamos morrer.

– Não estou convicto disso – disse ele.

– E se...

Shh – seus dedos tocaram meus lábios, delicadamente. – Katharine, não deve pensar dessa maneira. Tenha... Fé.

– Acho que Deus não irá me ajudar nesse momento – rebati enquanto me remexia.

Raj olhou para o vazio da noite, e, depois de um longo minuto, respondeu:

– Não é isso que eu quis lhe dizer – sua voz soou tão baixa que duvidei do que tinha ouvido. – Deus não está em seus princípios?

– Nunca esteve.

Gostaria que Raj desistisse do assunto.

– Talvez esteja errada.

Levantei-me para observá-lo, apoiando-me nos cotovelos.

– Por que quer saber? – tentei ser o menos rude possível. – Não acredita em Deus.

– Não... Mas eu tenho fé.

– Acha mesmo que... Que Durga ou Krishna existem?

Seus olhos perderam o brilho negro habitual. Seus lábios se tornaram uma linha reta.

Nunca mais diga isto – as palavras saíram frias e ásperas. Me arrependi friamente.

Ele se afastou, virando para o outro lado. Fiquei sentada ali, observando as cinzas da fogueira sem vida. De vez em quando, analisava sua respiração calma. Gostaria de estar em seus braços, com o calor que seu corpo emanava. Eu necessitava dele. O sono veio depois de um longo pesadelo.

...

Acordei com algo pesado se movendo ao meu lado. Levantei-me instantaneamente, assustada. Pedras e galhos secos giravam em pequenos redemoinhos. Ventava muito.

– Raj!

Empurrei seu ombro esquerdo, mas tudo o que recebi foi um resmungo ranzinza.

– Raj! Acorde! – ele não moveu um músculo. – Ande!

– Ora, Katharine... – gemeu ele. – Volte a dormir.

– Não, está acontecendo algo, você precisa ver.

Raj abriu os olhos, demasiadamente. Ofegou ao notar o movimento excessivo dos objetos.

– Droga! – ergueu-se em uma velocidade assustadora, alcançando as botas negras. – Eles nos encontraram.

Arquejei com a notícia. Raj esfregou os olhos, mas não me encarou.

– C-como?

Raj calçou as botas, puxando meu braço. Eu estava dura como uma pedra, os pés cravados no solo.

– Vamos.

Corremos como se nossas vidas dependessem disso, e realmente dependiam. Adentramos na floresta densa sem pensar nas consequências futuras. Galhos me arranhavam e estraçalhavam meu traje. Usei Fadheela para afastar uma árvore velha de nosso caminho. Tudo ao nosso redor voava, rodopiando no ar. Uma pequenina pedra golpeou minha testa. Senti um líquido quente escorrer em minha face. O ambiente que nos cercava, parecia turvo, um borrão verde.

– Como nos encontraram? – gritei em meio aos arquejos.

– Não tenho ideia.

– O que está acontecendo!? – berrei mais alto.

– Cuidado!

Desviei quando um pássaro assustadoramente grande tentou me golpear com seu bico afiado. Raj rolou comigo. Colidimos com uma árvore velha. A ave bateu as azas comensurais e rodopiou. Ele possuía o rosto e o peitoral azulados. Parte de sua cabeça era amarronzada. Sibilou como se houvessem outros o esperando. Desapareceu.

– O que foi isso?

Ele me abraçou, conferindo se estava viva. Meus membros pareciam intactos. Olhei em seus olhos. Pareciam preocupados. Me senti aliviada, pois, talvez, Raj tivesse esquecido a noite passada. Isso facilitaria muito as coisas. Ele beijou minha testa, pronunciando algo em híndi.

– Você está bem?

– O que era aquilo?

– Um cordonbleu. Em tamanho gigante.

– Quero ir embora deste lugar. Por que tudo está flutuando?

– Jake e Diana.

– Vamos morrer.

Ele me ignorou, levantando-se para encarar o céu cinza.

– Isso não é bom.

– Por que eles nunca...?

– Precisam de muita energia para efetuá-lo, não é tão simples como imagina. Jake é poderoso, mas precisa de Diana para completar sua força.

Ótimo.

...

Eles demoraram. Mas chegaram. Os objetos cessaram a agitação célere. Oscilei quando notei um certo movimento entre as árvores. Uma flecha dourada atingiu uma seringueira, cravando-se em seu caule fino. A risada escarninha fez-me estremecer.

– Olhe o que encontramos – riu Jake.

Notei que os punhos de Diana estavam cerrados, e suas veias nos pulsos estavam estranhamente azuis, cintilantes. Ela parecia fraca. Os olhos cansados, as olheiras evidentes. Estava mais branca do que nunca. Diana estava evidentemente esgotada. Usara seu poder o dia inteiro.

– O jogo acabou – zombou ele.

Apertei Fadheela nos dedos e o encarei.

– E sua energia também.

Lancei um raio roxo em uma árvore robusta, fazendo-a despencar. Ela oscilou, caindo propositalmente próxima aos irmãos feiticeiros. Diana caiu ao chão, fraca. Meu truque não fez Jake ruir, mas certamente não deixaria sua irmã para trás, sabendo que ainda estava viva. Raj puxou-me pelo braço e corremos sem rumo. Senti algo pontudo e brilhante passar por cima de meu ombro. Gritei ao ver a flecha dourada no braço de Raj.

Ele ofegou observando a flecha. Com cuidado, retirou-a.

Raj...

– Estou bem – acalmou-me. As lágrimas escorriam em meu rosto.

Um brilho dourado se alastrou por seu braço esquerdo, passando para o antebraço.

– Isso é normal?

– Não conheço as propriedades mágicas desta arma – jogou a flecha no chão. Sua ponta afiada possuía sangue. Raj fez uma careta. – Está doendo.

– Talvez devêssemos parar...

Jake berrou algo enquanto Diana gritava estridentemente. Não sei se estava louca, mas juro que ouvi um rugido ensurdecedor.

– Corre!

Não pensei duas vezes, ao menos olhei para trás.

...

Um frio percorreu minhas veias enquanto corria na escuridão. Os olhos mortíferos da fera me fulminavam. Acelerei os passos, tornando a corrida mais intensa. Raj estava ao meu lado, fazendo-me sentir aliviada, apesar de que um monstro de 10 metros de altura estava em nossa cola. Jake o atirava flechas douradas e Diana apenas corria, ainda pálida. Notei a presença de uma das sondas em meio às árvores. Elas não eram mais a minha preocupação.

Alcançamos um entrelaçado de árvores e musgo. Cipós pendiam das mesmas. Ouvi ruídos e silvos estridentes, assim como risadas escarninhas. Eram vários e corriam em diversas direções, como se estivessem perdidos. Pareciam micos-leões-dourados, mas tinham olhos vermelhos e eram grandes demais para serem micos.

Notei que abaixo da árvore de cipós, havia uma abertura repleta de musgo, separando a clareira, no lado oposto. Jake corria para a mesma. Os cipós se moviam, como se possuíssem vida.

– Jake! - o alertei. - Os cipós! Vão prendê-lo!

Jake me lançou um olhar fulminante, retornando a sua corrida. Diana cambaleou quando um mico-dourado pulou em suas costas. Raj lançava raios laranjas, em proporções pequenas, nos primatas que se aproximavam. Jake se pendurou em um cipó para atravessar o buraco que separava a clareira de nós. Tentei gritar e alertá-lo, mas o mesmo não me deu ouvidos. Diana ainda lutava contra as criaturas. Uma delas, pendurava-se em seu cabelo. Olhei para trás. A fera ainda nos perseguia. Raj berrou algo que não compreendi.

– O que disse? - berrei de volta.

– Fadheela... Fera... Alaris... - as palavras saíam distorcidas de sua boca, os rugidos agudos da fera não me permitiam ouvir o que Raj propunha. - Agora!

Fadheela, fera, Alaris?

Uma luz repentina iluminou minha mente em um ato súbito. Empunhei a varinha púrpura, lançando um raio avermelhado e lilás, na orelha esquerda da criatura.

– Droga! - cambaleei quando um mico se entrelaçou em minhas pernas. Chutei-o para longe.

Assustei-me com Fadheela. Talvez sua cor mudasse de acordo com o meu humor.

– Tente outra vez, Kat! - gritou, Raj, como se sua vida dependesse disto.

Usei Fadheela para criar uma barreira de qualquer coisa, com tanto que nos protegesse da fera. Um muro alto e translúcido se ergueu diante de nós, emitindo um som ensurdecedor de cristais se fragmentando. A fera freou, erguendo-se nas patas traseiras para espiar. A barreira brilhava, cintilante e transparente. Era gelo de verdade! Raj pareceu boquiaberto. A criatura arranhava a camada grossa de gelo, o que fez a mesma estalar . Pensei que a barreira iria se romper.

Mas não foi isso o que aconteceu.

– Jake! - o berro de Diana fez meus ouvidos zumbirem.

Jake estava sendo atacado. Não por micos e muito menos por alguma fera de Alaris. Os cipós o agarravam e o chicoteavam. Eram grossos e espessos, de uma estatura irrompível. Haviam milhares, uns se agarravam ao seu pescoço e outros envolviam seu tronco. Jake se debatia, loucamente. Diana tentou pular para salvá-lo, mas haviam cipós, feito sentinelas que a chicoteavam. Manejou habilmente sua espada, dando um golpe rápido e feroz nos cipós. Nada. Eram impermeáveis. Olhei para fera. Sua cabeça descansava nas patas dianteiras. Então, corri para a cratera de musgo. Alguns cipós me chicotearam, mas tentei resistir.

Diana me empurrou quando notou minha aproximação.

– O que está fazendo? - sua voz era áspera e ríspida. - Já não atrapalhou o bastante?

Olhei fixamente em seus olhos azuis. Eram piscinas repletas de mágoas, cansados, sofridos. Eu sabia do que estava se referindo. Ela ainda amava Raj. Era uma feiticeira do bem por dentro. A raiva tomava seus olhos. Encarei Jake, que lutava para sobreviver. Não iria o ajudar. Ele não merecia.

Já fiz o suficiente– murmurei.

Me concentrei nos micos-leões-dourados. Estavam frenéticos, interessados na grande barreira de gelo. Se eu podia controlar a mente de Raj, por que não a de simples primatas?

Eles se voltaram a mim. Os olhos vermelhos cintilavam. Não queria ver a morte de Jake. Seria horrível morrer daquela maneira. Os micos se jogaram em Diana, mordendo-a e arranhando-a. Jake estava vermelho, os cabelos loiros desgrenhados. Suplicou por algo que não compreendi e se contorceu ao dar o último suspiro. Diana gritou. Gritou o mais alto que já a ouvi gritar. O nome do irmão lhe veio falho, em meio aos silvos das criaturinhas. Diana certamente se sentiu culpada por não poder ajudar o irmão. Eu o matei. Sem piedade.

Katharine– sussurrou Raj.

– Vamos.

Segurei sua mão quando fomos transportados para o outro lado. Não senti emoção alguma ao ver sua morte. Eu tentei ajudá-los, mas Diana foi ingrata demais e isso não me agradava. Antes, eu considerava Diana como uma amiga, mesmo sabendo que lutava em um lado oposto. Porém, sabia que era uma boa pessoa. Jake a fazia má.

– Você está bem? - Raj não me encarou ao fazer a pergunta.

– Tolerável.


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Notas finais do capítulo

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