Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 34
A Floresta de Agatus


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores!! Senti saudades!! Eu demorei demais dessa vez, desculpem-me. Oboro, você voltou!!! Rrsrs, obrigado por todos os favoritamentos e os comentários fofos!! Amo vocês!! Esse capítulo *------* eu adoro... Rrssrs, espero que gostem!! Recomendem, comentem, favoritem... Beijos!



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A floresta de Agatus ergueu-se em uma redoma de névoa e de pesadelos absortos. A neve caía constantemente sobre nós, mas o traje negro deixava-me totalmente aquecida. Aos arredores do lugar frio, pedras e cascalhos brotavam estranhamente do chão, ao lado de raízes envergadas, que submergiam nas árvores nuas. As nuvens eram densas e carregadas de um cinza predominante. O sol tentava se esquivar em alguns pontos, mas a densidade imperecedoura do céu era mais forte.

Raj envolveu os braços em si, seus lábios tremiam.

– Tudo bem, Raj?

Ele assentiu e forçou um sorriso carinhoso, mas seus lábios pareciam congelados. Diana nos olhou por cima do ombro e resmungou.

– Talvez devessem parar - disse ela cessando os passos ao lado de Jake. O mesmo parou e a olhou furtivamente. Respirou.

– Não. Devemos prosseguir, as profecias estão a um passo de nós - reforçou Jake.

Diana bufou, parecendo, também, estar com frio. Virou-se, relutante, ignorando o irmão. Raj prosseguiu sua caminhada, os dedos gélidos ao me tocarem.

– Você não está bem. Acho que...

– Não podemos parar – Jake virou-se com um olhar contemplativo. Diana levantou os olhos para observar a cena. – Não agora.

– Ele não está bem – minha voz era estável, como eu odiava. Alcancei o ombro esquerdo de Jake. Ele ergueu o olhar, finalmente me encarando. – Por favor, Jake.

Diana aproximou-se do irmão, encarando Raj. Jake cerrou os punhos.

– Apenas uma rápida parada – disse ele obstinado. Sorri para mim mesma e o agradeci.

– Obrigado – a palavra escorregou de meus lábios com pouca facilidade.

Raj se assentou em uma rocha coberta pela neve álgida. Suas mãos tremulavam. Sentei-me ao seu lado confortando-o com meus braços. Ele sorriu e retribuiu o meu ato.

– Desculpe lhe fazer parar – ele apenas fitava os pés. – Não foi a minha...

– Tudo bem, Raj. Você não está acostumado com o frio.

Raj sorriu tentando se erguer. Impedi seu ato.

– Não. Você não parece bem.

– Katharine, eu já posso continuar – assegurou. – Confie em mim.

Respirei fundo, de modo que Peter recostasse em minha barriga. Apertei o anel de Agatus para ter mais confiança em mim.

– Sim, Raj. Eu confio em você.

Diana relatava cada palavra com o olhar. Parecia estar deprimida, ou apenas cansada. Jake a puxou, fazendo-a andar alinhadamente com o irmão.

...

– Não gosto desse lugar – resmunguei em meio a caminha pela estrada de neve.

– Afinal, para onde estamos indo? – indagou Raj.

Jake não parou.

– Para onde as profecias apontam – respondeu.

– Mas nós não possuímos as profecias – Diana rebateu baixinho. Os cabelos loiros estavam completamente sem vida.

– Não me interessa – disse Jake indigesto. – Apenas sigam essa trilha.

– Não vejo trilha alguma – Diana parecia ansiar a indignação do irmão. Suas palavras soavam baixas e lentas, ela apenas fitava os pés enquanto caminhava.

Jake bufou, mas não contestou os atos da irmã. Ao longo da trilha inexistente, podiam ouvir-se uivos e sibilos provocantes. À medida que adentrávamos na floresta densa e congelada, meus dedos formigavam e o anel crepitava.

– Parem – advertiu Jake, cessando seus passos no mesmo instante. – Ouviram isso?

Diana ergueu as sobrancelhas, logo tratando de empunhar sua espada. A adaga permanecia cravada em seu cinto, esperando a hora do ataque. Raj me fitou inativo. Um rugido feroz emergiu adentro da floresta. Jake se posicionou com o arco cintilante em mãos enquanto Diana se mantinha atrás do mesmo.

– Tem alguma chance de não serem criaturas de Agatus? – perguntou ela.

– Devo lhe dizer, maninha – Jake riu ambicionando o mento da luta. – Não existe nenhuma.

Peter foi retirado de seu esconderijo rapidamente quando as criaturas peludas emergiram em meio aos galhos secos. Eram as mesmas feras do deserto de Era. Raj me puxou para o seu lado, Ramech em mãos. Diana pereceu se enfurecer, empurrando Raj do meu lado.

– Não deixe que as criaturas de Agatus lhe toquem – disse ela ignorando o garoto estonteado ao seu lado. – Elas são letais.

Diana cambaleou para o lado mirando as criaturas que se aproximavam. Com um grito, seus pés avançaram na neve fofa. Eu podia ouvir os uivos das feras ao serem cortadas pela espada da garota selvagem.

– Você está bem? – perguntei a Raj, que tentava recuperar-se do empurrão de Diana.

– Cuidado! – tropecei caindo na neve, a fera peluda atacava Raj, mas o mesmo venceu a batalha. Ele estendeu a mão para mim, oferecendo apoio para levantar-me. – Tome mais cuidado, Katharine.

– Claro... Eu... Você... O que?

Raj riu e me ergueu precisamente.

– Acalme-se, Katharine. Você consegue.

As feras saltavam espantosamente no ar como se possuíssem azas. Lancei Peter no ar, atingindo uma das criaturas. Este surgiu em minha mão momentaneamente, sucinto. Raj empunhava Ramech e o manejava loucamente. As criaturas urravam e sibilavam ao seu toque. Elas não paravam.

Diana recuou quando notou a presença indesejável de uma das criaturas. Jake estava ocupado o bastante para esquecer da irmã. Ela gritava à medida que a fera se achegava, entretanto, ela não mantinha o olhar na garota de cabelos dourados. Ela me fitava incisivamente, feroz. O olhar cinza penetrava minha mente, como se desejasse arrancar minhas vísceras. Raj segurou meu pulso, notando a minha inquietação descontrolada. A criatura se aproximava em passos vagarosos e ociosos. O anel em meu dedo esbraseava minha pele. O mesmo brilhava crepitante, rubro.

Olhei para a criatura. Era como se não houvesse respiração naquele ser.

– Raj – arquejei um pouco inerte. – Ajude Diana. Eu cuido deste aqui.

– Katharine. Não.

– Raj! – gritei sem o fitar. Meus pés permaneciam cravados na neve macia, temendo deslizar. – Vá.

Ele assentiu. Correu ao encontro de Diana, que o abraçou ansiosamente pasma. Virei-me para a criatura alva. Os olhos cinza vagavam em minha direção. Jake atirava flechas e Diana e Raj, enfrentavam um esquadrão, juntos. Era o que eu temia. Meus olhos voltaram-se para a fera. O anel brilhava cintilante, exalando o rubro.

– O que você quer? – indaguei, rudemente. A criatura permaneceu inerte. – O que você quer de mim?

Seu olhar cinza pairou em minha mão que cintilava junto do anel.

– Por que ele está brilhando? O que... – eu parecia estar alucinada conversando com uma criatura de Agatus. Ela esfregou o pelo branco em uma árvore seca, voltando-se a mim. Olhou para trás, aonde se encontrava o início da floresta densa e escura, repleta de galhos e folhas secas. – Você quer que eu vá até lá?

Ela não respondeu, o que era de se esperar de um animal irracional. Apenas girou o corpo e se dirigiu a floresta negra. A segui, embora uma fisgada de hesitação tomasse conta da minha mente. O anel ainda cintilava. Adentrei no local feito de neve e galhos secos, sombrios e esguios. A minha visão dos feiticeiros se desvaneceu. A fera conduzia-me a um terreno plano e claro, repleto de neve nas bordas. Uma gigantesca árvore sombria e esguia permanecia-se inerte, na extremidade do local. Um lago. Completamente congelado.

– Eu já... Por que me trouxe até aqui?

A criatura bufou e desabou sobre a árvore seca, acolhendo a cabeça sob as patas alvas. Olhei ao meu redor congelado. O lago difundia-se em uma fina camada de gelo álgido. A neve caía sem pressa em meus ombros. Eu tinha certeza que...

– Eu já estive aqui – sussurrei. Virei-me para a fera, que descansava na neve. – Qual é o motivo de eu estar aqui?

A criatura se ergueu sobre as patas. Agitou o pelo, retirando a neve, e prosseguiu sua caminhada. Não tive outra escolha, a segui. Afinal, não teria como voltar ao meu ponto inicial. Eu estava, literalmente, perdida.

– Para onde está me levando? – ela não respondeu. Continuou com seu sigilo ardiloso que me remoía por dentro. Ela era uma criatura de Agatus, não haveria como...

As profecias lhe esperam, Katharine – a voz doce ecoou em minha mente como uma aura leve. Olhei para a fera. Ela continuava a caminhar sem cessar. Não poderia ser.

– Olá? – minha voz difundiu-se em meio dos galhos e árvores secas.

Siga Kendria – disse a voz. – Ela irá lhe mostrar.

O sussurro interrompeu-se. Admirei pasmada ao meu redor. Nada encontrava. A fera se recostou ao meu lado, como se esperasse um carinho. Meus dedos pousaram em seu pelo macio, acariciando-a lentamente. Senti uma pequena vibração percorrer seu corpo. Ri.

– Kendria. Esse é o seu nome? – murmurei, apesar de estar falando com alguém que não poderia me corresponder.

A fera bufou e eu considerei isto como um sim. Ela andou alguns metros e olhou para trás.

– Estou indo – adverti.

Quanto mais adentrávamos na floresta, mais clara e absorta ela ficava. Uma trilha de cruzes e lápides cinza, simbolizavam um caminho inexistente, ambos cravados na neve. Árvores negras formavam uma redoma em torno de escadas enraizadas, recobertas pela neve. A trilha levava a um pequeno portal de maneira medieval, que induzia a uma clareira, repleta de neve. Uma imensa estrutura de cimento gasto, que caía aos pedaços, erguia-se em arcos cinza, como uma versão maior do primeiro portal. Era lindo e assustador ao mesmo tempo.

Kendria parou no portal a minha espera. O anel ardia em meu dedo. Adentrei o portal repleto de raízes esguias. Uma imensa cruz negra pendia no centro da clareira, fazendo-me ter arrepios terríveis. Um pedestal prateado edificava-se aos fundos do local. O símbolo de Agatus desenhava-se, delicadamente, na gigantesca coluna.

Retirei o anel, que crepitava, do meu dedo. Senti a ardência abrandar, mas o aro prateado ainda cintilava na cor vermelha.

As profecias – a voz ressurgiu, causando-me um leve espanto. – Elas permanecem onde seus olhos não vêem, mas seu coração sente.

– Quem está aí?

Katharine, encontre as profecias – a voz era impossível de ser distinguida. Era como um sopro meloso em minha mente. Parecia até minha...

Mãe? É você?

Não houve uma resposta. A aura cessou, fazendo-me prender lágrimas na garganta.

Escute. Leve a referência ao seu devido lugar. Assim, achará as profecias.

Referência? Devido lugar?

– O anel – murmurei para mim mesma. – É isso? É do que eu preciso?

Kendria seguiu a minha frente, parando no gigantesco pedestal. Aproximei-me da coluna prateada. O anel realçava-se em um rubro cintilante, à media em que eu me aproximava. Recoloquei o anel no dedo, embora temesse que a ardência retornasse. Toquei parte do símbolo de Agatus. Este, instantaneamente, cintilou no mesmo rubro do anel. O chão da clareira tremeu. Kendria recuou ao ver a vala formando-se aos seus pés. A neve alva se submergia enquanto a cratera aumentava. Uma pequena estrutura de pedra, tomada pelas raízes, emergiu da cratera inusitada. Aproximei-me do pequeno monumento enraizado. Um gigantesco livro, de capa dourada, pendia na base da estrutura. Suas extremidades estavam envolvidas pelas raízes secas. O símbolo de Agatus cintilava sobre a capa dourada.

Kendria bufou, o que deduzi como um suspiro de contentamento. Sorri com o visto.

– Obrigado – agradeci em um sussurro. – Mãe...

Retirei as profecias das raízes. O chão vibrou em um sinal de que eu deveria sair dali. Mas... Como?

Corri pela floresta adentro, as profecias nos braços. Olhei para trás e vi Kendria me fitando. Seus olhos cinza eram como chumbo, densos e escuros. Os galhos lanhavam-me, rasgavam meu traje e puxavam meu cabelo solto. O anel de Agatus enfraqueceu-se, deixando de lado o brilho e a queimação. Eu estava completamente perdida.

– Raj! Jake! Diana! – meu grito soou rouco. Podia sentir as lágrimas achegando-se a mim.

Não desisti. Continuei de pé, marchando pela neve, esquivando-me dos galhos afiados.

Katharine! – o berro difundiu-se em meio das árvores. Raj clamava meu nome, isso era um alívio.

– Raj! Estou aqui!

Não suportei. Minhas pernas traíram minha mente, ambas estavam fracas e esgotadas. Desabei no chão. Minha queda fora amortecida pela neve macia. As profecias permaneciam grudadas ao meu corpo. Eu poderia apenas contar com um pensamento: a caçada acabou.


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Notas finais do capítulo

Eheheeh, gostaram?? Comentem!!!



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