Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 29
A Corte de Agatus


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, tudo bem? O carnaval chegou, e quem foi viajar? E quem não? Peço desculpas pela demora. Eu estou sem o Word e tenho que digitar pelo celular, mas ele chegou! Um capítulo novinho em folha para vocês desfrutarem!! Ficou um "pouquinho" grande, mas o que vale é ler. Queria mandar um beijão para a Júlia (ahahaha, seus comentários são uma graça s2) e para a Oboro (você me abandonou por quê? Rsrsrs). Enfim, espero que tenham um bom carnaval, (não exagerem, por favor, hein! ) beijos e abraços. Aproveitem a história.



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Christine nos esperava inquieta. Eu não podia ver quase nada. Meus olhos ainda ardiam e meu corpo doía por completo.

– Você ficou louca? - gritou Christine se voltando a mim. - Você poderia ter o matado! Levem-os para a sala de cura - ordenou ela.

– Eu não...

– Sabe o que a corte irá dizer? - seu tom era rígido e alterado, diferente da Christine que eu conhecia.

– Que um filho de Agatus tentou matar, propositalmente, um feiticeiro menor - respondeu Jake, que ainda estava abalado com o ocorrido.

–Exatamente - disse ela. - E isso ao mesmo tempo quer dizer que teremos que ir à corte de Agatus para um julgamento.

– Mas não foi a culpa dela - retrucou Jake parecendo me defender.

– Não interessa - disse Christine com os dentes cerrados. - Do mesmo modo eles irão descobrir.

– Talvez Richard esteja errado nisso tudo - falei, a raiva subindo do estômago para a garganta. - Eu não sabia o que estava fazendo. Solaris me controlou.

Christine franziu o cenho.

– Solaris não tem esse poder - ponderou ela em um momento de desentendimento.

– Minha irmã está ferida - disse Jake. - E não é apenas um feitiço qualquer que vai curá-la.

– Jake, estou pensando - Christine se irritou enquanto Jake cerrava os punhos, tremendo de ira. - Não. Victoria...

– O que tem ela? - perguntou Jake relaxando os punhos, que, a essa altura, já estariam completamente doloridos.

– Vicky estava a manipulando - disse ela quase que em um sibilo.

Jake gracejou.

– E por que ela iria fazer isso?

– Parece que só você e Diana acreditam que ela é do bem.

Os olhos de Christine pareceram concordar com a minha opinião. O canto de seus lábios se contraíram.

– Jake, vá - disse ela suspirando longamente, desejando que tudo aquilo não fosse real. - Sua irmã necessita de você.

Jake se ausentou. Christine cerrou os olhos por um longo tempo.

– Raj irá lhe perdoar - disse ela abrindo os olhos, revelando um oceano claro. - Tome mais cuidado com os seus poderes. Eles são perigosos.

– Mas não fui eu quem fez aquilo, e sim, Solaris.

– Em nenhum tempo e em nenhuma outra vida, Solaris poderá fazer o que fez - disse ela, os olhos fixos em mim. - Victoria está tramando algo. Isso eu não posso negar, e tenho certeza que você também pensa isso, desde quando chegou aqui. Acha que David lhe traiu?

– Do que está...

– Raj nunca fora tão arrogante, não é mesmo? Ela não consegue lhe manipular, pois você é poderosa demais para ela. Por isso ela controla outras pessoas para chegar até você.

– Mas como ela conseguiu manipular a minha mãe? - perguntei com um pouco de receio. - Pensei que ela... Também fosse poderosa.

– E é. Mas sua mãe não é tão poderosa quanto você. Victoria não pode competir com isso. Eu estou do seu lado - murmurou ela. - Apenas não conte a ninguém.

...

O ombro de Diana parecia lutar para não melhorar. Apenas não tinha notícias de Raj, porém sabia que ele estava muito ferido.

Jake estava inquieto. Percorria a sala inteira em círculos.

– Não devíamos ter ido - disse ele. A voz permanecia rígida. - Diana não é tão boa como eu.

– Ela disse que você é um filho de Agatus - falei ignorando sua frase anterior. - Isso é verdade?

Ele hesitou. Sabia que não era, fora apenas um teste, pois senti uma mentira crescer em sua boca. Mas Jake resolveu não fazê-lo.

– Não - admitiu ele. - Nem eu e nem Diana. Apenas o treinamento de anos nos faz bons o bastante - Jake parecia estranho, e não se conformava com o fato de contar a verdade a mim. - Mesmo desse modo, Diana não é uma das melhores, não como você.

Minha garganta ardente lutou para respondê-lo. Porém, ele prosseguiu.

– Me diga, Katharine - disse ele, o olhar era um oceano azul iluminado, brilhava com a luminosidade do local, o rosto pálido fazia com que se corasse facilmente. - Qual é o seu segredo?

– Eu sou uma feiticeira maior - respondi.

– Não - disse ele, agora me encarando. - É outra coisa. Yann, com seus poderes todos, não é tão poderoso quanto você. Como rompeu uma...

– Por que todos me perguntam isso? Eu apenas a rompi.

– Como matou as feras de Alaris com uma varinha de proteção?

– Eu não sei! - minha voz ecoou alta e rígida, para o meu espanto. Jake se sentou ao meu lado. Os olhos fixos em mim. Ele me observou, ponderou, hesitou, e depois de minutos, tornou a falar.

– Você usa magia negra?– fora apenas uma pergunta rápida com uma pontada de perplexidade. Franzi o cenho. Podia sentir meus dedos dormentes e congelados, apesar de que eu não sabia qual a temperatura que o tempo mantinha lá fora, ao menos mal sabia onde eu estava. A resposta subiu junto à náusea e a secura, inseparáveis.

– Não - isso fora tudo. Jake me fitou, depois olhou para o chão, assentiu e levantou.

Entendo.

...

Raj estava inconsciente em seu quarto. Diana estava melhorando ao poucos, porém Jake ainda estava preocupado.

Não havia cortinas, mas a luz refletia em todas as pareres do local. Raj parecia bem, apesar das inúmeras queimaduras em seu corpo. Eu queria abraçá-lo e confortá-lo como ele fazia em meus momentos de angústia. Sentei ao seu lado, podia sentir sua respiração calma e vagarosa. Queria lhe contar tudo o que eu sentia, tudo o que aconteceu, pois não havia ninguém com quem eu pudesse contar, nada era seguro naquele momento. Apenas Raj poderia me ouvir. Segurei sua mão. Esta estava quente e repleta de machucados. Sua pulsação era leve e vaga.

– Desculpe - sussurrei. Talvez não fosse possível ele me escutar, mas não tinha outra escolha. - Não queria fazer isso com você. Não era... Não era eu quem estava comandando o meu corpo. É difícil de explicar - podia ouvir a agonia em minha própria voz, as lágrimas ardiam em meus olhos. - Eu não devia ter dito aquelas coisas, eu estava com raiva de David e... Raj, por favor, não me deixe. Eu amo... Amo o seu jeito estranho de dizer o meu nome. Eu amo quando você... Eu prometo que vou te tirar deste lugar. Vou vencer Richard e Victoria. Eu prometo, Raj.

Os soluços subiam pela minha garganta. Limpava as lágrimas com uma das mãos e, com a outra, segurava a mão ferida de Raj.

Katharine– um murmúrio rouco ecoou de seus lábios. Os olhos, ainda cerrados, lutavam em uma batalha banal para se abrirem, podia sentir o seu esforço para segurar a minha mão.

Raj?– mas ele não respondia. Sua respiração passou para ofegante. - Tudo bem?

– Deixe-o descansar - disse uma voz nebulosa.

– Não, eu vou ficar aqui com ele.

– Não enxerga isso, Katharine? - perguntou Victoria. - Você só ocasiona o mal para ele.

– A culpa não foi minha - levantei-me rapidamente, a encarando rispidamente. - E por que você o mantém sempre em segurança? Por que Raj é mais importante que Yann - Victoria parecia não querer escutar as minhas palavras. - Por que acudiu ele e Alisha?

Victoria engoliu seco. Os olhos tremiam de ira ao me fitar.

– Por que não me diz?

Ela me empurrou para trás, lançando-me contra a parede. Sacou sua adaga em minha direção, a cravando em meu lado. Fiquei completamente encurralada.

– Isso é um assunto meu, ratinha– disse ela lentamente em seu instinto amargo. - Não se meta onde não foi convidada - podia sentir a sua respiração em meu rosto. Ela sibilava empunhando a adaga cravada na parede. - As consequências serão terríveis - ela olhou para Raj, tranquilamente deitado na cama. Meus nervos tremeram ao ver a sua indicação. - Sei que você não faria isso. Ele é importante para você, sei disso.

A adaga foi tirada em um movimento banal e veloz.

Sei que o ama– disse ela com frieza. - E não o deixaria sofrer.

– Você é uma bruxa. Quem pode garantir que você não está o manipulando?

Victoria me deixou livre, saindo pela porta com uma expressão de feroz. Olhei para Raj. Ele ainda dormia em um sono profundo. Deixei um beijo em sua testa, limpei as lágrimas e ausentei-me.

...

– Raj está melhorando - disse Christine alegremente. - Mas a corte quer nos ver em uma semana.

– Eu vou ser presa? - perguntei. Jake me observava mordazmente.

– Talvez sim - disse ele. - Mas não em uma prisão para humanos normais.

– Richard está preso, em sua própria mansão. Mas apenas irão suspender seus poderes por algum tempo.

– Mas não fui eu.

– Sabemos disso, Katharine - disse Christine entorpecida. - mas nós não temos provas concretas e...

– Provas de que? - perguntou Victoria surgindo misteriosamente. - A corte apenas vai a julgar, mais nada.

– Victoria - suspirou Christine. - Isso não é uma boa coisa.

– Culpe a menina - disse ela apontando o dedo indicador para mim. - A responsabilidade é dela.

– Sabe que Richard não mantém uma reputação boa com a corte de Agatus - Christine cuspia as palavras, como se elas fossem ácido. - Eles podem descobrir todo o seu plano.

– Não me importo com isso - disse Victoria com uma auto confiança imensa. - Não é isso que vai o parar.

– Se a corte descobrir, terão uma penitência dolorosa. Não é isso que você quer, Vicky.

Victoria bufou, parecendo desejar que Christine desaparecesse de sua frente.

– Apenas vim dizer que o menino acordou - disse ela, fazendo-me dar um salto de exultação. - Jake, Diana está em seu quarto, ela quer o ver.

Christine olhou para mim com um sorriso brando, fazendo-me lembrar da minha mãe.

...

– Raj! - gritei enquanto Raj sorria deitado na cama de lençóis brancos. - Eu senti tanta saudade.

– Calma, Katharine - disse ele rindo da minha reação. - Eu estou bem.

Corri para um abraço, mesmo sabendo que ele estava completamente ferido, mas ele não o negou. Talvez ele estivesse sentindo dor, contudo não reclamou nem um minuto enquanto eu o agarrava fortemente sentindo o perfume de seu cabelo.

– Eu também... - sussurrou ele em meu ouvido. - Senti saudades.

– Raj, desculpe-me por...

– Não, eu não preciso ouvir nada de você meu amor - disse ele. As palavras 'meu amor' fizeram meu coração palpitar. Lembrei-me da última vez que vi David. O abraço, o beijo... - Sei que não foi a sua intenção.

As ataduras brancas encobriam parte de seus ombros, as mãos cobertas de queimaduras horrendas.

– Obrigado - falei tentando segurar as lágrimas. - Obrigado por me perdoar.

– Você é...

– Ora, por favor - bufou Victoria um pouco exaltada. Raj me soltou rapidamente a encarando. - Essa conversa melosa não vai levar em nada. Deixe-me adivinhar - disse. Ela se posicionou com os braços cruzados. - Vocês irão se beijar agora?

Christine se aborreceu de vez.

– Saia daqui, Victoria - gritou ela. - Deixe-os sozinhos. Será que não compreende?

Como sempre, Victoria praguejou e se retirou. Christine respirou fundo.

– Ela não é uma boa pessoa.

– Isso foi patético - disse Raj, agora rindo.

– Não acho graça alguma - falei.

– Vou os deixar sozinhos - disse ela se ausentando.

Raj me olhou. Os olhos negros cintilavam.

– Você vai me beijar? - perguntou ele com o cenho franzido.

– Não - falei lentamente, sentando-me ao seu lado. - Você... Você ouviu o que eu falei?

– Agora? Sim.

– Não. Há dias, quando estava inconsciente.

Katharine– começou ele. - Eu não sei o que você disse, mas compreendo que não pretendia me machucar.

– Mas não fui eu. Solaris controlou-me.

– Não estou falando da ilha - disse ele desfazendo o sorriso. - Estou falando de...

– Eu juro que não foi por querer. Eu estava nervosa.

– Entendo - disse Raj.

Tenho certeza que ele não queria dizer aquilo, e sim, outra coisa.

– Como está Diana?

– Bem. Ela é forte.

– Eu espero que você também seja.

...

A corte era uma fortaleza gigantesca repleta de mármore cinza. As paredes eram do mesmo material, assim como o chão. Bandeiras, com o símbolo de Agatus, pendiam em hastes cravadas nas paredes brilhantes. Diversos feiticeiros passeavam com uma divertida pressa pelo hall de entrada. Muitos deles passavam por nós com adagas, espadas, lâminas e varinhas coloridas. Jake permanecia ao lado de Diana, que estava com o ombro enfaixado. Raj lutava para ficar de pé, porém não se desprendia de mim.

Chegamos a um enorme salão iluminado, as inúmeras janelas, eram detalhadas com cortinas vermelhas e pesadas. Uma mulher baixa, com olhos delicados, de um tom alaranjado, permanecia sentada em uma enorme poltrona vermelha, ao alto do salão. Seus cabelos ruivos brilhavam com a luminosidade vinda das janelas arredondadas. Feiticeiros empunhavam suas varinhas ao redor do local, em uma posição ereta.

– Por favor - começou a mulher. Os cabelos cintilando o laranja vivo. - Sentem-se.

Christine nos olhou assentindo. Sentamos nas poltronas rubras posicionadas lado a lado. Raj se assentou em meu lado, com um pouco de dificuldade.

– Eu estou bem - sussurrou. Dei de ombros.

– Muito bem - a voz da mulher ecoou nas paredes de mármore se tornando mais alta e rígida. - Katharine Mayer, você está sendo acusada de tentar matar um feiticeiro menor. O que tens a dizer, em sua defesa?

– Eu... Eu...

– Ela não é culpada - gritou Raj, tentando se levantar da cadeira. Mas ele não o fez.

– E quem é você, meu jovem? - perguntou ela a Raj. Uma áurea parecia sobrevoar em sua cabeça.

Raj engoliu e respondeu.

– Raj, senhora. Meu nome é Raj.

A mulher de cabelos laranja sorriu.

– Raj. Katharine Mayer– ela se arqueou lentamente. - tentou lhe matar?

Raj balançou a cabeça.

– Não, senhora - disse ele. - Ela é minha amiga. Nunca faria isso.

– E onde arrumou essas queimaduras, Raj?

Ele olhou para o próprio corpo. As ataduras encobriam parte de seu antebraço.

– Foi.... Eu fiz isso.

Christine o fitou em uma expressão de alarme. Por pouco não saltou de seu assento. A mulher o encarou com a mesma expressão de antes.

– E como fez isso?

– Solaris nos lançou a sua tropa - começou ele, inventando uma enorme mentira. - Diana foi encurralada por um esquadrão, por isso o ombro ferido. Eles me deixaram sem saída também - mentiu ele. Christine se segurava na poltrona. - E acabei perdendo o equilíbrio e caindo em uma poça de lava.

A mulher pareceu se convencer.

– Katharine Mayer, você concorda com o seu argumento?

Raj me fitou. Sabia o que devia falar, mas uma hesitação pairou em mim.

– Sim. Concordo.

Christine suspirou com olhos cerrado, relaxando em seu assento.

– Então a questão do julgamento está encerrada - disse ela se levantando do majestoso assento rubro. - Ainda tens tempo de mudar de opinião.

– Não - disse Raj, para a surpresa de todos. - Ela está certa. Eu contei a verdade.

– Alanis. Peço que nos envie...

– Acabamos por aqui? - perguntou Alanis em um tom divertido. Christine a encarou, mas não demonstrava irritação, apenas estava cansada. - Vocês já podem se retirar - disse Alanis descendo as escadas de mármore.

E fora isso que fizemos.

...

– Você ficou louco? - perguntei a Raj.

– Não. Apenas salvei você - disse ele encarando o teto.

Foi incrível– ele parou. Desviou o olhar do teto para mim. Sorriu.

– Acho que estamos...

– Certos? - ele assentiu.

– Não lhe devo nada. Seu olhar negro era fixo em mim. Eu poderia fitá-lo o dia todo. Ele riu e, em seguida, beijou minha testa.

Obrigado– disse ele, depois se ausentando.

Não era amor. Não poderia dizer que o amava. Ainda tinha severas dúvidas sobre o que sentia por David. Mesmo tentando o esquecer, ele atormentava o meu pensamento. Era apenas uma questão de... Esquecimento.

– Eu que agradeço - sussurrei para mim mesma.


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Notas finais do capítulo

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