Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 10
Despedidas São Imprescindíveis


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Gostaram do último capítulo? Rsrsss ele revelava algumas coisas. Esse capítulo é um pouco triste para a Kat (coitada, estou fazendo ela sofrer). Obrigado por estarem lendo (principalmente a Oboro, você está sendo uma inspiração para mim, AMOO quando você comenta). Beijos!! Aproveitem a história!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/446614/chapter/10

Andei pela estrada cinzenta na escuridão da noite. Ela estava molhada, e latas de lixos enferrujadas, estavam espalhadas pelo local. As árvores eram como monstros contorcidos em meio a fumaça desconhecida. O céu era uma contorção de negro e cinza escuro. O ar era pesado, cheirava a fuligem de papel carbonizado. Uma forte luz invadiu meus olhos, me fazendo cambalear para trás. Desabei no chão encharcado, colidindo meu corpo com a densidão do caminho. Pude sentir meus cotovelos sangrarem.

Passos vagarosos nas poças de água suja, se aproximavam lentamente de mim. Ergui a cabeça. Era uma sombra contorcida e curvada sobre mim. A sombra usou a ponta de uma das botas para ver se eu estava morta ou não. Talvez na escuridão que o local se encontrava, ele ou ela, não me vira erguer a cabeça.

Sua garganta ecoou um som similar a uma risada.

Peter. Reconheceria aquela risada mordaz em qualquer lugar.

– Como está se sentindo, maninha?

Tentei responder, mas a voz que necessitava para fazê-lo sumiu subitamente, enquanto minha garganta queimava. Ele se aproximou mais.

– Estranho – ponderou Peter. – Não é de sua natureza deixar de falar.

Sua voz era ácida, não como sempre, era diferente. Ele prosseguiu.

– Você me matou, maninha – eu estava rolando no chão, meus cabelos estavam ensopados e sujos, podia sentir o gosto de lama em minha boca. – O que pode dizer sobre isso?

Eu queria dizer, eu sei que foi minha culpa, mas me arrependo de tudo que fiz.

Uma ardência banal percorreu por minha garganta seca, me fazendo responder, a voz completamente contorcida.

– Peter – minha voz rouca se misturou com o silêncio pesado do ar. – Desculpe-me.

Uma chama vermelha acendeu em seus olhos. Uma fumaça azul envolveu seu corpo, me fazendo recuar para trás. Não era Peter. Tinha certeza disto.

– Agatus vai fazer você se arrepender de tudo que você fez – sua voz tinha uma aspereza terrível. A estrada deu início a uma tremedeira inesperada, submergindo os latões de lixo, junto às pedras do local. Em meio ao caminho cinza, o mesmo símbolo do anel se emergia, desenhando-se, subitamente.

Podia sentir lágrimas escorrendo em meu rosto.

– Agatus, Agatus, Agatus...

– Katharine! – gritou David. Ele estava sentado ao meu lado no sofá da minha casa. – Terra chamando Katharine Jones. Oi, você está aí?

– David? – olhei para os lados, minha visão estava turva.

– Você está bem?

– Sim – assenti enquanto David me encarava.

– Agatus – disse ele manuseando o controle do vídeo game. – Você está me surpreendendo, Katharine.

Hesitei. Eu deveria contar a ele sobre meus sonhos, apenas retirar a história do anel.

– David, estou tendo pesadelos – ele apenas olhava para a TV. – Eles são frequentes. Tenho-os até quando estou acordada.

– Morra seu desgraçado! – gritou David para a tela da TV. Em seguida o jogo emitiu uma voz completamente robotizada. David praguejou. – Game over? Como assim?

Encarei-o um pouco enfastiada.

– Desculpe – ele se voltou a mim rapidamente. – Percebo isto, Katharine. Você está mal.

Irritei-me.

– Pare com isto, David – gritei com ele, que parecia não me compreender. – Por que está me chamando pelo primeiro nome? Não costumava fazer isto.

Ele me encarou.

– Katharine, não entendo – disse David inerte.

– Eu que não entendo.

Ponderei por um momento. Eu estava parecendo uma criança de 5 anos de idade.

– Não é brincadeira. Não são pesadelos comuns.

Acha que – ele chegou mais perto de mim, como se fosse sussurrar algo, e foi o que ele fez. – é aquela mulher? Vict...

– Sim – falei em um tom muito mais alto do que o dele, fazendo perder a graça. – Ela... É uma bruxa.

– Como têm certeza disso?

– Apenas tenho – falei me relembrando do dia em que estava em meu quarto e ela apareceu. Nenhuma pessoa normal faria aquilo. Claramente era bruxaria.

Um silêncio arrebatador pousou sobre nós. David foi o primeiro a falar, encerrando o antigo assunto.

– Sobre ontem...

– Eu sei - interrompi-o instintivamente. – Foi estranho.

– Faria outra vez?

Olhei para ele. Sua expressão era dócil e afável. Sentia-me segura para compartilhar qualquer coisa com ele. Lembrei-me de quando eramos apenas duas crianças inocentes, com medo dos raios e trovões que caiam durante a chuva. Ele me abraçava dizendo "Não tenha medo, estou com você", e eu confiava nele, até hoje sendo deste modo. Seus cabos negros estavam brilhando, apesar da pouca luz no local.

– Faria – sorri para ele que retribuiu tal ato com um belo sorriso no rosto. – Claro que faria.

Minha mãe carregava atrapalhadamente, as malas, enquanto Victoria entrava no táxi. Era incrível como ela nunca ajudava em nada. David segurava minha mão firmemente.

– Vou sentir saudades disse ele.

– Não mais que eu ele sorriu logo me abraçando. Senti seu perfume forte, qual eu não me importava mais. Eu nunca mais sentiria o seu cheiro, nunca mais tocaria seu rosto, não fazia ideia de como viveria sem ele. Meus olhos se inundaram de lágrimas como água não contida em uma barreira. As palavras saíram da minha boca sem que eu percebesse. – Eu te amo, David.

Separamos-nos de um longo abraço. Havia lágrimas em seu rosto.

– Não vai se esquecer de mim, não é?

– Claro que não – falei enquanto enxugava as lágrimas na manga da camiseta vermelha.

David entregou um papel manchado em minha mão. Estava delicadamente dobrado, as dobras com manchas coloridas. Espantei-me com o visto. Era um desenho, com traços tortos e bonecos deformados. Lá estava eu e David de mãos dadas, o céu azul com nuvens rabiscadas e a minha casa logo atrás. Lágrimas desciam dos meus olhos.

– Há quanto tempo eu não via isto.

– Nós desenhamos – disse David sorrindo, apesar das lágrimas caindo dos olhos azuis. – Olha. Este sou eu, um pouco magrelo, mas – disse ele desviando os olhos do papel para mim. – Não dá para mudar de ideia?

Balancei a cabeça.

– Não...

O choro piorou, agora, enfatizado com soluços. David me abraçou.

– Kat, estou com você. – disse ele acariciando meus cabelos. Eu estava encharcando sua camisa. – E eu sempre estarei.

Ergui a cabeça emitindo um sorriso no rosto, enquanto David limpava minhas lágrimas. Seus olhos refletiam todo o azul iluminado do céu.

– Katharine, vamos – gritou a minha mãe dentro do táxi.

Ignorei ela com sempre fazia. Quando voltei à realidade, estava nos braços de David, os seus lábios contra os meus. Suas mãos passeavam por meus cabelos. Podia sentir seu corpo rígido contra o meu, como a outra vez, só que agora, ele estava menos tenso, assim como eu. Era magnifico como sua boca era tão macia. Nunca imaginei que estaria beijando meu melhor amigo.

Separamos-nos enquanto minha mãe nos observava abismada, pela janela do carro amarelo. Victoria nos olhava sem expressão alguma no rosto.

– Por que você não vem comigo? – ele sorriu como se eu fosse louca.

– Não tem como, Kat – disse ele. – Você sabe.

Respirei fundo. Sabia que aquele era o momento. O momento de se despedir. Limpei as lágrimas e fiquei ereta.

– Adeus David.

– Adeus, minha querida – disse ele. Suas palavras me gelaram. David nunca me chamou de minha querida. – Nunca irei te esquecer.

Essas foram as últimas palavras que ouvi dele. A última vez em que ouvi a sua voz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Beijão!! Não esqueçam de comentar!!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Agatus - A Descoberta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.