O sol brilhava lá fora. Logo se começaria a pôr, deixando todo o ambiente em tons de laranja, o seu tom de laranja preferido. Eu não sabia como tudo começara, tão pouco como acabara. Peeta era o rapaz perfeito: lindo, carinhoso, sociável. E eu simplesmente o deixei desaparecer da minha vida. Melhor, é como se eu o tivesse literalmente o colocado para fora do meu mundo. E agora eu estava vivendo por viver, eu não saia de casa sem ser para ir á universidade. Não convivia com os meus amigos que sempre me tentavam ajudar em vão. Meus pais me ligavam todos os dias mesmo sabendo que eu não atenderia. Ia falar o quê? Que arruinei minha vida por livre e espontanea vontade, que deixei de ter sentido na vida porque não aguentei pequenas duvidas que se formavam em minha cabeça e deixei elas tomarem controle? Não, era demasiado humilhante. Ouvi minha companheira de casa chegar, tirando-me dos meus desvaneios

.- Oi Katniss! Já estás em casa? - Johana pareceu pensar um pouco e continuou - Ah, não! Tampouco saiste, não é verdade? Kat, estás a ser muito dura contigo mesmo. Tens de seguir em frente.

– Eu não quero seguir em frente! A culpa é toda minha... - lagrimas começaram a cair pelo meu rosto, enquanto Johana não sabia o que fazer - Eu mereço esta dor que sinto. Eu mereço isso por tê-lo magoado.

– Tu o amas? - ela perguntou sentando-se ao meu lado e olhando em meus olhos.

– incondicionalmente!

– Então só tens duas hipóteses Ou vais atrás dele ou esqueces de vez essa historia -afirmou ela como se fosse a coisa mais obvia do mundo.Eu gostaria que tudo fosse assim tão simples. Como eu podia ir atrás dele e pedir uma segunda oportunidade depois de tudo o que aconteceu?

FLASHBACK ON

– Oi meu amor? Ainda trabalhando? - Peeta sorria á porta do escritório. Eu estudava administração na universidade e consegui um estágio na empresa "H&EM" do senhor Haymitch e sua Effie Mellark. Eles eram encantadores, óptimos patrões e sempre dispostos a ajudar quem assim o necessitasse. Eu pensava sempre em como eu queria trabalhar ali depois de terminar a faculdade, a tempo inteiro, mas essa decisão não era eu que a tomava. Peeta era filho dos dois e também ele estagiava na empresa do seu pai, mas não na administração. Ele estava no curso de Direito na mesma universidade que eu. Os olhos dele e seu sorriso me chamaram a atenção mas apenas quando comecei a trabalhar com ele é que vi o cara bondoso e divertido que ele era. Começamos com umas saidas após o trabalho e quando demos conta já estávamos namorando. O único problema é que eu gostava dele mas não sabia se o amava. Ele sabia disso mas ainda assim foi compreensivo e sorria dizendo que seria uma questão de tempo.

– Ah, oi Peeta! Desculpa, eu me perdi nas horas. - me levantei da cadeira e me diriji a ele o beijando, um beijo suave. - Vou só buscar o casaco e a bolsa e podemos ir. Já agora, poderia dizer-me onde vamos e qual é a srpresa?

– Pára de fazer beicinho que não adianta - ele acariciou meu rosto e eu me arrepiei com o seu toque. Beijou meus labios e gargalhou - Não vou estragar a surpresa.

– E seus pais estão metidos nessa não é? - ele gargalhou ainda mais e abraçou minha cintura. - Todo o mundo a conspirar contra mim! Isso é tão injusto!

– Não te preocupes, eu vou estar do teu lado. Para sempre - e então me deu um beijo apaixonado e saímos.Seus pais, minha mãe e minha irmã, Prim, já estavam á nossa espera num elegante mas acolhedor restaurante. Foi bastante adorável ver as duas familias convivendo juntas. Peeta, vez ou outra me dava selinhos, acariciava minha mão e me olhava de uma maneira orgulhosa eu acho. E então após o jantar ele coloca-se de pe, fazendo seus dois pais sorrirem e cochicharem com minha mãe que abriu um sorriso enorme. Que estava a contecer?

– Bem como sabem, eu vos convidei hoje para termos um momento bom, acolhedor e para as duas familias socializarem um pouco. E, para minha grande felicidade e para felicidade de Katniss com certeza, tudo correu maravilhosamente. - eu acenei concordando com ele e Peeta enlaçou sua mão na minha - Isso ainda me dá mais coragem, coragem para fazer algo que eu nunca pensei a fazer até conhecer Katniss. Meus pais sabem que eu nunca coloquei a hipotese de me casar, não era algo com que eu ansiava. Após conhecer melhor Katniss, percebi que eu apenas nunca tinha encontrado alguém que me desejasse fazer isso. Katniss, tu foste a única mulher que me fez desejar casar ter filhos, uma vida a dois. Por isso, por te amar e por te querer para sempre a meu lado eu te peço: Queres casar comigo?

– Peeta... - eu estava sem palavras. Peeta havia me dito que casar não entrava nos seus planos e eu sempre concordara com isso. E agora estava me pedindo em casamento. abri um sorriso enorme -É claro que eu aceito! Peeta me pegou em seus braço me girou nos seus braços enquanto que me beijava. Aquele momento foi um dos mais felizes da minha vida. Eu chorava, ria, abraçava minha mãe, minha irmã, meus sogros. Eu soube naquele momento que amava Peeta Mellark.

FLASHBACK OFF

Acordei com lágrimas nos olhos. Era bastante doloroso pensar nos momentos que tive com ele. Por uns momentos pude sentir o seu toque na minha pele, o sabor dos seus lábios e as lágrimas intensificaram-se. Eu não coseguia viver com as lembranças, com a vergonha. Tanto que desisti do estágio. Haymitch apesar de magoado comigo insistiu que não precisava de fazer isso. Mas eu tinha que o fazer. Saí de casa de minha mãe, transferi-me de universidade, mudei para outra cidade e aluguei um apartamento, que partilhava. Mesmo assim os demónios não desapareciam e a revolta, a fúria e a culpa cada vez tomavam mais conta de mim. A campainha toca, interrompendo os meus desvaneios mais uma vez. Olho para o espelho. Meu cabelo está uma confusão, meus olhos vermelhos e inchados pelo choro e visto apenas uma camisola que me cobre até aos joelhos. Estou péssima mas quem liga? Me dirijo á porta e a abro, quando me deparo com Peeta á porta, o ar desaparece dos meus pulmões e o meu coração começa a bombear desesperadamente. Ele olha para mim como se não me reconhecesse.

– Katniss? - Então o excesso de lembranças e emoções me fazem apagar, indo de encontro ao chão.