Prim se solta dos braços de Peeta após alguns minutos, porém, ela não se afasta dele. Ela passa a mão pela cintura de Peeta.

– Prim, esta é Katniss, minha namorada – me apresenta a prima.

– Katniss? – só então percebe minha presença.

Prim me olha, parece me analisar, cada fio de cabelo, cada centímetro de meu corpo. Por fim, ela sorri e se aproxima de mim, me dando dois rápidos beijos no rosto, sem o tocar. No entanto, logo se volta para Peeta se esquecendo de completamente de mim.

– Nem te conto, Peeta! Aquele colégio é um tédio! Um bando de garotas chatas!

– E foi por isso que você resolveu fugir do colégio? – diz entre sério e divertido. – Só resolvi, você sabe... animar as coisas. Além disso, aquela chata da minha colega de quarto não falava em outra coisa a não ser estudar – revira os olhos. – Sua mãe está furiosa! – fala Peeta.

– Você contou para ela?

– Mas é claro que contei! Prim, você é uma garotinha muito travessa!

Prim olha para ele.

– Garotinha, eu? Eu acabei de fazer dezesseis anos!

– Falou a senhorita maturidade! – fala a imitando.

Prim ri, se apertando ainda mais contra Peeta. Quem os visse assim juraria que eles são namorados. Entretanto, Peeta está ocupado demais com a prima para se preocupar com qualquer outra coisa.

Os dois começam a caminhar em minha frente. Prim começa a tagarelar sobre como seu colégio é chato e sua mãe ainda ser mais chata.

Vamos até o carro, Prim é a primeira a entrar. Ela senta-se no banco de carona do motorista.

– Katie – ótimo, a garota nem sabe o meu nome direito. – Não vai se importar... Afinal, não vejo meu primo a mais de um ano – enfatiza as palavras “meu primo”. – E ela vê você, todos os dias!

– É, Katniss, Prim – corrige Peeta. – E não, ela não me vê todo dia, embora eu gostaria que visse.

Prim dá os ombros, e continua sentada no banco da frente.

Eu é que não vou brigar por um banco perto de Peeta Mellark. Me sento no banco de trás tranquilamente.

Prim não para de falar nem por um segundo. Faz piadinhas, Peeta adora. Enquanto, eu mando mensagens muito importantes para meu diretor predileto sobre as filmagens de amanhã. Eu só quero gravar minha cena direito. Amanhã, tenho uma cena muito importante. Mia, minha personagem que está atrás de vingança, recebe de Louis (personagem que Gloss interpreta) uma declaração de amor, que a deixará abalada.

É isso, preciso me concentrar na cena de amanhã.

– Peeta! – interrompo bruscamente Prim.

– Sim?

– Pode me deixar em meu apartamento? Eu preciso estudar a cena de amanhã... – digo.

– Katniss, você disse que tinha o resto do dia livre – protesta. – Você não pode estudar lá em casa? – pede.

Olho para Peeta hesitante.

– Por favor, Katniss – insiste. – Eu prometo que ajudo você a estudar. Será melhor do que você estudar sozinha, aprendi algumas novas técnicas de atuação.

Ele pode ser muito persuasivo.

Respiro fundo, espero não me arrepende de minha decisão.

– Está bem... – digo ainda hesitante.

– Que bom que a sua namorada aceitou! – diz Prim e em um segundo começa a falar de um assunto qualquer.

Chegamos à mansão de Peeta.

– Peeta, faz para mim aquela lasanha que só você sabe fazer! – pede Prim saindo do carro. – Por favor, eu quase morri de vontade de comer aquela lasanha.

– Ok – diz saindo do carro.

Prim segue Peeta até a cozinha, enquanto não para de tagarelar sobre o quanto a lasanha dele é a melhor lasanha do mundo. Acho que sei o motivo dele ter este ego maior do que o planeta inteiro. Peeta adora ser elogiado.

Pego meu roteiro e vou estudar no quarto de Peeta.

Fico um bom tempo estudando. Estou um pouco perdida em uma fala.

– Você me ama? – falo em voz alta.

Que tom devo usar aqui? Surpresa? Não, isso também, mas este não deve ser o tom predominante.

Aliás, a onde está meu querido namorado que tanto insistiu para eu vir aqui e ainda prometeu que me ajudaria a estudar?... Ele já deve ter acabado de ter feito a lasanha para Prim. Na verdade, deve ter feito umas duzentas lasanhas. Katniss, no que você está pensando?

A garota é a prima dele! Que drogas de sentimentos são estes? Uma espécie de raiva... Deve ser a falta de sono! A insônia deve estar fazendo efeito agora. Meu mau-humor está voltando.

O melhor é tirar um cochilo, deixo meu roteiro de lado e deito na cama. Fecho minhas pálpebras e imediatamente começo a cair no sono. Porém, não chego a dormir já que meu celular começa a tocar.

– Alô – atendo sem olhar para a tela.

– Katniss! – grita do outro lado da linha.

– Annie?

– É claro que sou eu! – diz animada. – E como vão as coisas?

– Vão bem – respondo. – E você como está?

– Me divertindo horrores! Estou agora em Paris. Ontem, eu e as meninas demos um passeio por aqui, e conhecemos alguns franceses muito gatos! Tive que praticamente arrastar a Cashmere para o hotel.

Cashmere, a vocalista da banda “As carreiristas”, consegue o incrível mérito de ainda ser mais louca que Annie. Perto dela, Annie é uma garota bem normal.

– E o Josh? – provoco.

– Ele não precisa ficar sabendo – ri. – Pelo bem de nossos filhos, é melhor você não contar para ele!

– Você tem cada uma, Annie! – rio. – Mas falando sério, Annie. Como está aquele assunto do Finnick?

– Nem me fale! – diz soltando um longo suspiro. – Acredita que assim que voltar da turnê, vou precisar reatar minha parceria musical com ele?! Aquele cretino, desqualificado, deve ter mexido seus pauzinhos!

Eu não duvido nada. Deve ser por isso que ele andou quieto.

– E quando você volta?

– Se não tivermos nenhum imprevisto, semana que vem... Mas chega de falar de mim, minha vida está mais dramática que enredo de novela mexicana, só falta aparecer uma irmã gêmea do mal! – diz em um tom dramático. – Onde você está?

– Na casa do Peeta – respondo.

– O quê? Ele voltou? – fala animada. – Já sei, devo ter interrompido algo... – seu tom é malicioso.

– Não, Peeta está ocupado com sua prima Prim...

– Ah, a priminha do Peeta! Ela é uma garotinha muito sapeca.

– Com certeza, ela é sapeca, mas não é uma garotinha – digo mais para mim mesma do que para Annie.

– O quê?

– Nada não, Annie – falo.

– Katniss, você está com ciúmes da Prim?

– O quê? – digo espantada. – Eu com ciúmes da prima do Peeta?

– Katniss... você está com ciúmes da Prim – insiste Annie.

– É claro que não! – nego mais do que depressa.

– Sei...

– Annie, tenho que desligar, preciso estudar para uma cena de amanhã – desligo o celular antes que Annie diga qualquer coisa.

Que ideia da Annie! Eu com ciúmes da prima do Peeta? Não. Óbvio que não!

Começo a reler meu roteiro, porém, por alguma razão, não consigo encontrar o tom adequado. Deve ser a fome que começa a dar sinais em meu estômago.

Decido, ir até a cozinha pegar algo para comer.

Na cozinha, encontro meu querido namorado conversando animadamente com sua querida priminha. Passo por eles, sem dizer nada, e vou até a geladeira. Pego uma fatia de um bolo de chocolate que encontro.

– Kate, vou dar um mergulho, não quer vir? – fala Prim se aproximando de mim.

– É Katniss – digo.

– Desculpa, sempre erro o seu nome – sorri inocentemente.

Mas, se tratando de uma Mellark, sempre acho que é bom desconfiar dos sorrisos inocentes. Peeta, por exemplo, tem um sorriso mega inocente quando quer.

– Tudo bem... – falo.

– Então, quer dar um mergulho na piscina?

– Não, eu não trouxe meu biquíni... além disso, tenho que continuar a estudar... – Como quiser – sorri. Eu até te emprestaria um dos meus biquínis, mas... acho que não serviriam em você...

Sei bem o que ela está dizendo. Perto dela, sou uma tábua de passar roupas.

Prim sai da cozinha, praticamente dando saltinhos. Envio um pedaço enorme do bolo de chocolate em minha boca.

– O que quer para o jantar? – pergunta Peeta se aproximando de mim.

– Não sei... pergunte a Prim – coloco outro pedaço de bolo em minha boca.

Peeta me lança um olhar curioso, ignoro seu olhar e continuo a comer. Ele se aproxima de mim e me dá um beijo furtivo no pescoço.

– Desculpa, por eu não ter ido te ajudar a estudar, é que Prim tem tantas coisas para falar... Ficamos mais de um ano sem nos ver, e quando a vejo não posso deixar de ser um irmão mais velho...

– Tudo bem... eu me viro sozinha – digo saindo de seus braços e indo até a geladeira.

– Peeta! – Prim chama.

Me volto em direção a ela.

– Passa para mim em minhas costas! – estende o protetor solar.

Prim está usando um minúsculo biquíni vermelho, no qual seus enormes seios mal são contidos.

– Se Lembra de quando nós íamos a praia e você sempre passava protetor solar em mim? – diz fazendo beicinho.

– É claro que eu lembro – fala pegando o protetor solar. – E você odiava! Dizia que não gostava de ficar toda melecada.

– E você era o único que conseguia me fazer usar protetor solar. Eu não deixava ninguém passar protetor em mim, apenas você – os dois riem.

Peeta começa a passar o protetor solar nas costas de Prim.

Saio da cozinha. Minha imaginação está muito fértil hoje. Estou vendo coisas a onde não tem. Sabe uma das coisas que mais detesto? Aquelas namoradas que não podem ver o cara falando com outra garota que já fica toda possessa da vida. E agora estou a ponto de agir como uma... O que a falta de sono não faz.

Ela é a prima dele. Além disso, já vi Peeta fazendo muito mais do que passar protetor solar nas costas de uma garota no cinema. É claro que aquilo era uma atuação.

Volto para o quarto de Peeta. Pego meu roteiro e tento me concentrar nele. Tarefa que consigo até certo ponto.

Quando percebo já é noite

Prim vem me avisar que o jantar está pronto.

Ela monopoliza toda a conversa durante o jantar, é claro que meu humor (que está péssimo) não ajuda muito.

Prim arrasta Peeta para a sala de TV. Volto para o quarto e tento continuar estudando. Aquele cretino do Peeta promete as coisas e não cumpre! Ele não disse que iria me ajudar a estudar o roteiro?

Meu mau-humor está cada vez pior.

Tive um dia cheio, e uma noite de insônia, é óbvio, portanto, que meu humor iria ficar cada vez pior. Preciso dormir, quem sabe ele não melhora. Me deito na cama, mas o sono não vem.

Olho para o relógio em cima do criado mudo, 1:45... Mas já?

Resolvo tomar um copo de água.

Passo em frente da sala de TV. Qual é o problema? Ela está no caminho para a cozinha... Ok, talvez, eu tenha me desviado um pouquinho do caminho da cozinha...

Olho para a sala de TV.

Sinto um nó na garganta, uma vontade horrível de bater em Peeta. Prim está com a cabeça encostada no ombro dele, enquanto os dois assistem a um filme. Prim lança um olhar furtivo para Peeta.

Como estou sendo idiota? Isso não era óbvio. A maneira que ela olha para ele... Prim está apaixonada pelo primo. Será que o idiota não percebe isso? Será que ele não percebe que com estes gestos ele só está incentivando ainda mais este amor?

Neste momento, sinto uma profunda raiva de Peeta.

– Katniss? – ele percebe a minha presença.

– Eu já estou indo... – digo.

– Mas já passa da meia-noite!

– Não importa... preciso ir... vou pegar minha bolsa – digo saindo da porta da sala de TV.

Vou para o quarto de Peeta pegar minha bolsa.

– Katniss, o que aconteceu? – indaga entrando em seu quarto.

O encaro.

– Peeta, você é cego?

– O quê? – diz surpreso.

– Será que não percebeu que a Prim está apaixonada por você?!

– Katniss, você está louca? – diz com uma expressão incrédula no rosto. – Prim é minha irmãzinha! Ela me vê como seu irmão mais velho.

– Não, ela te vê como um homem! – rebato.

– Mas que ideia é esta sem pé nem cabeça? Prim é uma garotinha!

– Uma garotinha? – minha raiva só aumenta e meu tom está cada vez mais exaltado. – Ela é uma mulher! E está apaixonada por você! E você só instiga esta paixão.

Peeta ainda me olha incrédulo, como se eu tivesse perdido completamente o juízo.

– Você está louca, Katniss! Prim nunca me veria assim.

Estou tão irritada com Peeta que acabo soltando uma gargalhada nervosa.

– Isso é o que você pensa! Você é que não quer ver a verdade! Prim te vê como um homem – estou muito exaltada, estou furiosa pela cegueira de Peeta.

Antes que eu diga coisas das quais me arrependa depois, saio do quarto dele quase correndo.

Quando dou por mim, estou andando na rua.

Droga, droga! Estou com muita raiva de Peeta.

Aos poucos consigo me acalmar um pouco e perceber que estou sozinha em uma rua, e sem minha bolsa. Não posso voltar para a casa de Peeta, se eu voltasse, tenho certeza que faria coisas das quais me arrependeria depois. Estou com muita raiva para ágil racionalmente.

O que eu faço? Não posso pegar um taxi sem minha bolsa... Até poderia, mas sou uma celebridade, e se eu pego um taxi com um daqueles motoristas que tem contrato com os jornalistas. Sim, há muitos jornalistas que tem contrato com os taxistas para saberem sobre a onde as celebridades estavam indo e com quem. E se Katniss Everdeen for vista pegando um taxi sem dinheiro para a corrida no meio da noite nas proximidades da casa de Peeta, isso seria motivo suficiente para inúmeras fofocas.

Além disso, estou totalmente sem disfarce algum, todo mundo me reconheceria...

Pelo menos estou com meu celular, mas para quem eu ligo?

Esta não é uma ideia muito brilhante, porém, não me resta outra solução.

– Alô – atende.

– É... Você pode me ajudar? – pergunto.

– O quê aconteceu?

– Nada... – digo relutante. – Eu estou sem minha bolsa... e sem meu carro e não tenho como chegar em meu apartamento – torço para que ele não me faça mais perguntas.

– Onde você está?

Passo o endereço para ele. Em menos de dez minutos, seu carro surge na rua.

Vou correndo para lá.

– Obrigada! – agradeço entrando no carro.

– Esta situação é um pouco inusitada... – diz me olhando.

– Eu sei...

– O que aconteceu, Katniss?

Solto um suspiro.

– Você sabe que pode contar comigo sempre, não sabe?

Balanço a cabeça em sinal afirmativo. Uma música suave começa a tocar no rádio do carro.