Jardim de Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 40
Eu nunca


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Bárbara Mello que com sua bela recomendação me deu muito animo para escrever este capítulo. Obrigada, obrigada, obrigada, sua linda!!!



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Começo a me questionar, após Finnick começar a dançar no meio da sala, afirmando que irá fazer um strip-tease, se esta festa foi uma boa ideia. Não quero nem ver o estado do meu apartamento amanhã...

Jenny vem em minha direção, toda animada.

— Katniss! — grita. — Por que esta cara? Está triste porque vou embora? Eu já disse que você não vai se livrar de mim tão facilmente. Eu vou vim visitar você sempre! — exclama me dando um abraço que faz meus ossos parecerem estar sendo triturados.

É a festa de despedida de Jenny. Ela irá gravar um filme em Londres. Além disso, acabou a reforma em sua casa. Acho que não há mais desculpas para ela ficar em meu apartamento. Vou sentir saudades de minha amiga pirada. Este apartamento sem Jenny vai ficar bem silencioso.

— Jenny, você andou bebendo demais? — falo, indicando seu copo de vodca vazio.

— Não! — grita. — É... talvez, só um pouquinho... Vamos dançar!

— Não, melhor não!

— Katniss, você está muito chata hoje! Já sei, vamos jogar um jogo! — Jenny começa a gritar para todos a escutarem. — Vamos jogar o jogo dos segredos.

Oh, não! Isso não é uma boa ideia. Mas acredito que não é isso que pensam os outros convidados.

Sam, Liam e Alex pegam várias garrafas de bebidas e colocam imediatamente em cima da mesinha de centro da sala. Annie me puxa para o sofá da sala. Jenny se encarregada de trazer Josh e Peeta para o jogo. E Finnick vem por conta própria, e senta-se no chão, perto da mesinha de centro.

Após Finnick aparecer inúmeras vezes para chorar as pitangas em meu apartamento. Jenny acabou por se aproximar dele. Os dois às vezes ficam até tarde da noite maldizendo sua vida sentimental (a vida sentimental de Jenny é uma das mais complicadas que já vi, acredite!).

— Quem começa? — pergunta Jenny toda entusiasmada, olhando para nós. — Ok, eu começo! Eu nunca... — ela olha para nós. — Eu nunca... nadei pelada em uma fonte.

Liam, Sam, Alex e Josh se entreolham e entornam seus copos de bebidas. O quê? Josh nadou pelado em uma fonte?

— Mas foi você que nos obrigou! — protesta Alex.

Jenny apenas dá os ombros.

— Gosto de apreciar belos bumbuns!

— Eu nunca foi proibida de contracenar em Brad Bret porque sua esposa Angelina Jules acha que sou uma ameaça — fala Annie.

Jenny de um só sorvo toma seu copo de vodca.

— Angelina é ciumenta! — fala em sua defesa.

— Minha vez! — diz Finnick, que há muito tempo deixou a sobriedade. — Eu nunca... nunca... tentei me vingar de alguém, tentando se tornar mais famoso que a pessoa.

Bufo e dou um grande trago em meu copo de tequila, que Jenny trata de encher novamente.

— Ok, minha vez! — falo. — Eu nunca corri seminua pelo quintal de alguém...

Finnick ri e bebe.

— Eu nunca... — Peeta fala repentinamente. — Eu nunca fiz algo pensando que iria proteger alguém, mas na verdade causei ainda mais dor... — ele entorna o copo de tequila e bebe de um só trago.

Finnick também bebe a sua bebida em um só trago.

Peeta me olha. Nós não conversarmos direito sobre isso até agora. Tudo foi uma verdadeira loucura após o incidente com Delly. Já decorreu um mês desde então. A imprensa descobriu que Peeta havia sido sequestrado pela sua assistente. Gale conseguiu omitir grande parte da história. Não sei como fez isso, mas ele fez. Porém, houve fatos que nem mesmo Gale com toda a sua habilidade pode esconder. Todos sabem que eu estava com ele naquele dia, que Delly perseguiu Peeta e eu por meses. Até hoje ainda recebo ofertas de entrevista para falar sobre este assunto (obviamente, elas são recusadas).

Delly foi presa. O advogado dela está alegando insanidade. De fato, Delly foi diagnóstica como uma pessoa fora de suas faculdades mentais. Peeta ainda se pune muito por ter a abandonado quando ela mais precisava dele. Certa vez, tivemos uma conversa sobre isso.

— Fui visitar Fantiny, hoje... — disse entrando em meu camarim.

— Foi? — me voltei para ele.

Peeta estava com um aspecto cansado. Envolta de seus olhos havia marcas profundamente negras, um sinal óbvio de que ele estava tendo problemas com o sono.

Ele caminhou até mim e se sentou na cadeira em minha frente.

— Fui... É a primeira visita que faço a ela... depois de você sabe... do sequestro.

— E como ela está?

— Ela não queria me ver... — lançou um sorriso triste para mim.

Pousei minha mão em cima da sua.

— Mas no fim, concordou em me ver... — sua outra mão foi parar em cima da minha, fazendo uma leve carícia em minha mão.

— Peeta... você sabe que a culpa do incêndio não foi sua, e nem Gale tem culpa...

— Eu sei... — seus olhos azuis me fitavam com tristeza. — Mas eu ainda tenho culpa. Eu nunca deveria ter abandonado Fantiny. Eu deveria ter ficado ao seu lado. Se eu tivesse ficado, nada disso teria acontecido. Fantiny talvez não teria enlouquecido.

Tudo o que pude fazer foi lhe dar uma abraço. Seu sofrimento era palpável.

— Vocês conversaram? — perguntei, sem sair dos braços de Peeta.

— Mais ou menos, se você considera trocar um “oi” e um “tchau” uma conversa...

— Isso é um grande avanço!

— É, nossa conversa foi até eloquente! Depois do “tchau” disse que iria a ver na próxima semana e ela concordou.

Sorri.

— Sei que Fantiny está doente. Ela não está em seu juízo perfeito. Ela tentou te envenenar duas vezes... mas eu também sei que tenho grande culpa nisso tudo...

Acariciei seus cabelos e o apertei ainda mais em meus braços.

— Katniss... — ele sussurrou em meu ouvido.

— Tudo vai ficar bem...

Senti a respiração de Peeta em meu pescoço. Ele já estava mais tranquilo.

— Ah!

O grito de Haymitch fez com que nos separássemos.

— Vocês ainda não querem que aqueles rumores se espalhem... — disse maliciosamente nos olhando.

— Não é nada disso que você está pensando! — protestei.

— É uma pena... Isso geraria muita publicidade grátis!

Aquele velho sempre pensando em publicidade para seus filmes.

— E, Katniss, dessa vez você está grávida de gêmeos! — disse saindo do meu camarim dando uma gargalhada.

Dá para acreditar que há até rumores de que eu estou grávida? Fala sério, essas pessoas tem muita criatividade. O fato que é depois de tudo o que aconteceu, os rumores de que eu e Peeta estávamos namorando adquiriram ainda mais força. Há até teorias de Delly tenha me sequestrado para atrair Peeta até o local e matá-lo. Quem não ama uma história de amor cheia de tragédia?

— Eu nunca quis ferir esta pessoa — fala Finnick olhando para Annie. — Eu... me arrependo muito. Fui egoísta, não pensei nos danos que lhe causaria... — ele está completamente bêbado. — Mas eu vou respeitar sua decisão de não quer mais nada comigo, mesmo que a ame tanto que chega a doer.

Finnick olha para seu copo e o deixa no chão. Ele se deita no chão, em um segundo ele começa a roncar.

— Pelo menos não teremos mais problemas em fazer Finnick não tirar a roupa... não que isso fosse exatamente um problema — diz Jenny olhando para Finnick em tom brincalhão. — Quem é o próximo?

O clima ficou tenso depois das palavras de Peeta e de Finnick, ainda bem que Jenny é ótima para quebrar o gelo em estas situações.

— Eu sou o próximo! — se candidata Alex. — Eu nunca fiquei entre o top 3 homens mais quentes da estação na revista Star.

Peeta e Josh bebem.

— Eu nunca disse em uma revista que meu maior sonho era nadar pelado entre golfinhos — fala Josh.

Sam bebe.

— Ei, aquela jornalista anotou errado! Eu disse que queria surfar! Não nadar pelado com golfinhos!

Isso provoca muitas risadas, principalmente pela expressão desolada de Sam.

— Eu nunca atendi um paciente que disse que estava tendo um ataque cardíaco e quando fiz respiração boca a boca, ela colocou a língua em minha boca — diz Sam.

Josh bufa e bebe.

A identidade dos intrigantes da Mockingjay foi revelada. Josh cumpriu seu trato com Marissa. Isso trouxe alguns problemas para eles, como o fato de serem perseguidos constantemente por paparazzi, serem reconhecidos a onde forem... Josh ainda tenta conciliar sua vida como médico e como músico. É claro que o hospital onde ele trabalha aumentou em cem por cento a procura. Seu pai não aprovou muito a ideia de Josh ser uma celebridade. Mas no fim, ele conseguiu apaziguar os ânimos. Quem ganhou mais fama foi Sam, já que ele está namorando com Annie. O pobre não pode sair da rua antes de certificar umas mil vezes que não tem ninguém o perseguindo, principalmente quando sai com Annie.

— Eu nunca devorei toda a pizza a coloquei a culpa no gato — diz Liam.

Jenny dá os ombros e dá um grande trago em sua bebida.

O jogo prossegue. No final, não há ninguém sóbrio. O jogo termina quando Sam, Liam e Josh começam a querer tirar a roupa no meio da sala. O que há com estes caras? Por que todo mundo cismou em tirar as roupas hoje? Jenny e Josh se encarregam deles.

Annie está bêbada demais, dormindo no sofá. Eu também estou um tantinho bêbada. E Peeta... onde está ele? Ah, achei! Está sentado no chão de um modo desleixado, sinalizando que está bêbado.

— Boy on fire! — digo. As coisas estão começando a girar ao meu redor, por isso tenho que ir praticamente me arrastando até onde ele está.

Peeta me olha e ri.

— Girl on fire!

Ele me estende a mão para me ajudar a chegar até ele.

— Por que você está tão longe? — indago, pegando em sua mão.

Ele ri e me puxa. Caio em seu colo. Me sento em suas pernas.

— Hum... — cheiro seu pescoço. — Você está com um cheiro ótimo. Está calor aqui, não?

Começo a desabotoar sua camisa.

Peeta passa a mão por meus cabelos.

— Girl on fire... senti sua falta!

Sorrio para ele e aproximo meus lábios dos seus.

— Boy on fire... — seguro sua cabeça em minhas mãos. — Sinto que o mundo incendeia quando estou próxima a você.

Ele ri. Sua risada é tão linda. Eu quero senti-la, por isso atiro meus lábios sobre os seus. Minha língua rapidamente passa por seus lábios entreabertos e encontra sua língua muito disposta a brincar.

Peeta coloca sua mão direita em minha nuca, enquanto sua mão esquerda aperta a minha cintura, fazendo com que meu corpo se aproxime ainda mais do seu. Já minhas mãos passeiam por diversos lugares. Quero percorrer minhas mãos por cada centímetro de seu corpo. Senti-lo totalmente.

Me levanto do seu colo.

— Girl on fire, aonde você vai?

Rio.

— Vem me pegar!

Tento correr. Porém, o mundo está todo rodando, como eu posso correr?

Os braços de Peeta me cercam.

— Te peguei!

Ele me vira contra ele, me dando um beijo daqueles que é quase impossível respirar. Após alguns minutos solta meus lábios. Pego em sua mão e o puxo até meu quarto.

Empurro-o em cima da minha cama e salto sobre ele. Nossos olhos se encontram. Ele me puxa contra si me envolvendo com seus lábios.

Sinto que o mundo não existe mais.

Acordo lentamente. Minha cabeça dói horrores. Parece que alguém passou a noite com uma britadeira ligada em minha cabeça. Meu estômago nem se fala. Só quero voltar a dormir. No entanto, sinto algo quente em minhas costas. O que será isso?

Abro os olhos, não foi uma boa ideia fazer isso, constato após meus olhos praticamente queimarem como se eu fosse uma vampira de mil anos abrindo os olhos perante o sol. Apesar de meu desconforto permaneço com meus olhos abertos e me viro lentamente.

Peeta está dormindo ao meu lado completamente nu. E eu estou usando apenas sua camisa. Por que isso não me surpreende?

Vagamente começo a me lembrar da noite passada. Droga, eu entrei em estado “girl on fire” e dormi com Peeta.

Volto a fechar meus olhos. O que eu faço? Não consigo pensar direito. Resolvo tomar um banho. Um belo de um demorado banho. A água me ajuda a voltar a mim. Deixo-a escorrer por minha cabeça por um longo tempo. Quando finalmente me dou conta que preciso voltar para o mundo real saio debaixo da ducha.

Escuto um barulho vindo do meu quarto. Sei que é Peeta que acabou de acordar. Respiro fundo. Ainda bem que trouxe alguma roupa comigo para o banheiro. Visto uma calça jeans e uma camiseta um tanto velha. Não seco meu cabelo, o deixo solto.

Sem nenhuma pressa volto para meu quarto.

Peeta está sentado na cama. Ele não está mais nu, usa as suas calças. Porém, ainda está com seu torso desnudo. Acontece que sem querer levei sua camisa para o banheiro.

Sento na cama (com uma distância prudente dele) e estendo sua camisa.

— Obrigado... — diz pegando a camisa.

Olho com o canto dos olhos para ele. Ficamos em silêncio, enquanto ele coloca sua camisa e calmamente (diria que bem lentamente) abotoa os botões.

— Katniss, sobre ontem... — ele começa.

— Nós estávamos bêbados. Já deveríamos saber que isso iria acontecer — tento dar um tom brincalhão a minha voz. — Girl on fire e boy on fire sempre nos metem em problemas.

Ele ri.

— Eu não me arrependo de ontem — fala parando de rir subitamente e me olhando. — Você se arrepende?

Olho em seus belos olhos azuis que esperam ansiosamente por uma resposta.

— Não, eu não me arrependo ― admito sem hesitar.

Ele sorri, noto um certo alívio em seu sorriso.

— Não foi certo, mas eu não me arrependo.

Peeta coloca sua mão sobre a minha que descansa na cama. Ela está tão quente. Não retiro minha mão debaixo da dele. Olho fixamente para seus olhos. Chegou o momento. Precisamos ter esta conversa.

— Você sabe que me magoou muito, não?

— É uma verdade com a qual tenho que conviver todo dia — diz tristemente.

— Sabe também que não fiquei nada feliz com o fato de você ter escondido tudo aquilo... Você tomou decisões por mim, não me deu o direito de escolha. Você sabe quanto eu aprecio fazer minhas próprias escolhas!

— Eu sei... — abaixa sua mirada.

— Você também sabe como foi difícil ver a pessoa que eu mais confiava destruir meu coração daquela maneira cruel. Era como se meu passado se repetisse novamente, como se eu estivesse presa em um ciclo sem fim.

— Katniss, você sabe que sofri muito fazendo tudo aquilo. Eu preferia mil vezes ter me ferido do que ferir você...

Ficamos por um longo segundo nos olhando. Eu sinto um leve aperto em minha mão.

— Eu ainda estou tentando entender tudo isso, tudo o que aconteceu. Meus pensamentos e sentimentos estão um caos... — desvio meus olhos dele. ― Preciso de um tempo para pensar em tudo o que aconteceu. Preciso de um tempo só para mim.

— Entendo, Katniss. Eu não vou te forçar a tomar uma decisão agora...

Ele retira a sua mão de cima da minha e se aproxima de mim. Faz uma leve carícia em meu rosto.

— Eu te amo, Katniss. Te amo de uma forma que nunca pensarei que amaria. Você é a pessoa mais importante para mim. Mas eu não serei egoísta por causa disso. O que mais importa é os seus sentimentos.

― Você também precisa de um tempo só para você... o que você enfrentou nestes últimos tempos não foi nada fácil.

― Você tem razão, Katniss. As coisas que eu vive não foram nada fáceis...

Ele roça seus lábios nos meus.

— Vou esperar sua decisão e seja qual for vou respeitar.

Nos beijamos lentamente.

— Obrigada... — falo retirando meus lábios dos seus.

Peeta sorri e se levanta da cama. Ele calmamente sai do quarto.

Realmente, eu e Peeta precisamos de um tempo sozinhos. Acredito que, às vezes, a melhor coisa que temos fazer é dançar sozinhos. E chegou o meu tempo de dançar sozinha.

Fecho meus olhos e me deito na cama. Ainda posso sentir o cheiro da colônia de Peeta em meus lençóis. Sei que este cheiro não saíra tão cedo daqui. Porque não está apenas em meus lençóis, está impregnado em meu corpo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? O que será que o futuro reserva para estes dois? Katniss decidiu que precisa de um tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu... qual será a decisão de Katniss?
Escrevi minha primeira one-shot (que emoção!). Ela se passa durante "A esperança", adoraria que vocês dessem uma passadinha por lá:
http://fanfiction.com.br/historia/571894/Sempre/
Nos vemos no último capítulo, até lá ;)