Jardim de Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 35
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês e algumas respostas! Já estamos chegando aos 1500 reviews, o capítulo em comemoração, narrado pelo Peeta, já está pronto. O capítulo ficou enorme! Mais de 30 páginas!



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— Como ele está? — pergunto a Josh, assim que sai do camarim de Peeta.

— Ele está dormindo agora... — responde Josh.

— O que ele teve?

— Ele... vamos dizer que Peeta teve uma espécie de choque emocional... ele forçou seu corpo a fazer algo que sua mente não queria, e o resultado foi este — explica Josh. — Não se preocupe, ele vai ficar bem, só precisa descansar um pouco.

Josh sorri para mim.

Haymitch, que está ao meu lado, se encontra bastante impaciente.

— Vou cancelar as gravações de Peeta por uma semana — informa Haymitch.

— Isso seria bom — diz Josh. — Ele precisa descansar. Logo ele estará totalmente recuperado.

— As gravações estão canceladas por hoje — anuncia Haymitch para as pessoas que estão ao nosso redor. — Já avisei Gale, ele está vindo para levar Peeta para sua casa.

As pessoas começam a sair. Ficamos apenas eu, Haymitch e Josh.

— Obrigada por vir tão rapidamente — agradeço a Josh.

— Não foi nada, Katniss.

— Me diga uma coisa... — Haymitch começa a conversar com Josh. Não escuto a conversa deles.

Olho para a porta do camarim de Peeta. Como ele estará? Lembro de sua palidez, das gotículas de suor escorrendo por seu belo rosto... Tudo foi tão rápido, em um momento ele havia desmaiado.

O que aconteceu com você, Peeta?

Lentamente meus pés vão até a porta, giro a maçaneta e com passos pequeninos entro no recinto.

Há uma suave iluminação, meus olhos imediatamente vão até onde ele está.

Peeta está deitado no divã, dorme tranquilamente. O tom de sua pele está normal agora. Caminho até ele. Removo uma mecha de cabelo de sua testa. Peeta abre os olhos, piscando lentamente, como se seus olhos estivem se acostumando com a luz. Noto a confusão em seus olhos.

— Oh, desculpa! Não queria te acordar. Eu vou sair agora... ― retiro rapidamente minha mão, que havia esquecido distraidamente em cima de sua testa.

Ele retém meu pulso.

— Fique — pede com uma voz fraca.

Peeta semicerra os olhos. Coloca a mão direita sobre sua testa. Sua camisa está entreaberta, dá para ver seu peito subindo e descendo fracamente.

—Tudo bem — me sento no divã ao seu lado.

Ele ainda detém meu pulso. Seus dedos grandes e frios enlaçam meu pulso com firmeza.

— Você está melhor?

Ele confirma com a cabeça. Ficamos por um tempo em silêncio.

A imagem de Peeta desmaiando ainda é tão nítida em minha mente, as pessoas correndo, eu tentando acordar Peeta. Haymitch gritando para alguém chamar um médico. Eu ligando para Josh com meus dedos trêmulos.

Eu posso odiar Peeta, mas... eu não quero que ele morra. Olho para ele, o que você está pensando, Katniss? Imediatamente tento espantar estes pensamentos da minha mente.

— Gale já está vindo para te levar para casa — informo, apenas para quebrar o silêncio.

No rosto de Peeta surge uma expressão de tristeza.

— Preferia que não tivessem chamado Gale... ― abre os olhos totalmente.

— Por quê?

— Porque ele vai me fazer lembrar de algo que eu preferia não lembrar... Deveria não ter dado férias a Delly por esta semana...

— Eu posso te levar para a casa, se você quiser... — ofereço, o rosto de Peeta tem uma expressão tão triste, vulnerável.

— Isso seria melhor... ― olha diretamente em meus olhos.

— Certo, vamos então ― digo, desviando meus olhos rapidamente dele.

Eu e Peeta saímos do camarim. Aviso a Haymitch que irei levar Peeta até sua casa, e ligo para Gale avisando que ele não precisa vir buscar seu irmão. Gale concorda. Estranhamente, percebo um certo alivio em sua voz, quando informo que levarei Peeta para casa. Será que ele não quer ver Peeta agora tanto quanto este não quer vê-lo?

Peeta dorme durante todo o trajeto até sua casa.

— Chegamos — aviso.

Ele abre os olhos. Olha por um instante para a casa.

— Você poderia... ficar um pouco aqui?... Eu não queria... ficar sozinho agora ― diz olhando para a bela mansão que temos em nossa frente.

Ele fala isso com tanta tristeza, como um garotinho assustado, não dá para recusar seu pedido.

— Tudo bem ― assinto.

Entramos na casa. Peeta se joga no sofá da sala de estar, ele fecha os olhos e coloca sua cabeça no encosto.

— Quer um chá? — ofereço. — Isso é bom para acalmar os nervos... ― Toda esta situação é tão estranha, não quero ficar em silêncio, porque se ficarmos em silêncio, talvez possamos ouvir coisas que eu não quero e nem estou preparada para enfrentar.

— Não... Apenas fique aqui — ele abre os olhos e me fita, estende sua mão para mim.

Pego em sua mão e me sento ao seu lado. Ele coloca sua cabeça em meu colo.

— Peeta...

— Vamos ficar assim por um momento apenas — fecha os olhos.

Automaticamente, minha mão vai parar em sua cabeça e começa massagear sua têmpora. Ele parece tão indefeso. O que foi que aconteceu? Por que ele teve isso quando estávamos gravando aquela cena?

― Fantiny... ― pronuncia com uma voz débil.

― O quê?

— Eu tive uma amiga... Fantiny — Ele mantém seus olhos cerrados. — Tínhamos treze anos, quando nos conhecemos. Fantiny era uma atriz infantil que começou sua carreira aos dois anos de idade. Fantiny amava ser atriz, para ela atuar era tudo... Eu e Fantiny nos dávamos muito bem, ela era minha melhor amiga. Estava sempre sorrindo para tudo, nunca se cansava de nada. Quando todos estavam cansados e abatidos devido ao trabalho, lá estava ela distribuindo sorrisos, dando ânimo a todos...

— Eu acho que me lembro dela — falo.

Fantiny... esse nome não me é estranho. Me lembro, vagamente, de uma garotinha longos cachos ruivos, cheia de sardas. Ela era realmente adorável. Fantiny sabia cantar e dançar como ninguém, foi por algum tempo uma criança bem famosa.

— Sabe também que com o tempo Fantiny passou a não aparecer tanto na tv? — pergunta Peeta.

— Sim...

— Atores infantis nem sempre conseguem fazer uma boa transição para uma fase adulta. Fantiny era muito amada com suas sardas, e seus cachos, mas à medida que ela foi crescendo foi perdendo os papeis, a tal ponto que seus raros papeis se constituíam em pequenas pontas... — diz Peeta. — Conheci Fantiny, quando ela fez uma pequena ponta em um filme em que eu estava atuando. Nos tornamos muito amigos. Melhores amigos para ser exato.

Peeta faz uma pausa, sinto sua mão apertar a minha com força. Ele continua com os olhos cerrados.

— Fantiny era uma verdadeira irmã para mim — continua a falar após a pausa. — Éramos inseparáveis. Fantiny me ajudava até a ensaiar as falas. Um dia, ela veio até minha casa toda feliz, dizendo que havia conseguido o papel da sua vida! Era um papel de destaque em um filme. Era o primeiro grande papel que Fantiny iria interpretar em três anos, sua grande chance de retomar sua carreira. Naquele dia...

Peeta fica em silêncio novamente, e dá outro apertão em minha mão. Sua expressão é tão lamentável, minha mão, que está em sua cabeça, começa a percorrê-la.

— Naquele dia, eu fiz um bolo especial para ela, enchi de velhas... — solta um suspiro. — Acabamos adormecendo na cozinha... eu não sei o que aconteceu — sua voz é tão fraca. — Sei que quando acordei, estava sendo carregando por Gale e a casa ardia em chamas...

Peeta finalmente abre seus olhos e se vira para mim.

— Eu queria voltar, queria salvar Fantiny! Eu juro que queria! Mas Gale não deixou! Ele falou que não podia voltar para lá, se um de nós voltássemos, iria morrer... Gale não permitiu que eu voltasse.

Uma solitária lágrima cai pela face de Peeta. Limpo-a com meu polegar.

— O que aconteceu?

— Fantiny ficou gravemente ferida, setenta por cento do seu corpo foi queimado. Os médicos disseram que foi um milagre ela ter sobrevivido. Eu culpei Gale, e a partir daquele momento o odiei profundamente. Gale deixou de ser meu ídolo, foi quando descobri que ídolos são também humanos, não super-heróis.

Então, foi por isso que Peeta e Gale se afastaram... Essa é a origem de todos estes anos de desafeto. Antes, Peeta considerava Gale seu ídolo, adorava o irmão. Me surpreendi muito quando descobri isso. Naquela época, Peeta não me disse o motivo de tanto desentendimento...

— Eu tinha quinze anos, quando isso aconteceu. Não queria mais ver Gale em minha frente, fui morar sozinho, e a partir daquele momento sempre me rebelava quando podia. Hoje... eu sei que Gale não tem culpa de nada. Ele estava apenas tentando me salvar. Mas eu não entendi isso na época. Nosso relacionamento se tornou muito conturbado, odiava que Gale controlasse minha vida, me sentia sufocado... Porém, no fundo, eu culpava a mim mesmo. Se eu não tivesse feito aquele bolo, se tivesse desafiado Gale e entrado na casa em chamas...

Outra lágrima começa a escorrer por sua face.

— Eu não suportava ver Fantiny naquela cama, toda coberta de ataduras. Seu rosto estava completamente desfigurado. Fantiny caiu em uma profunda depressão... Quando eu ia vê-la, ela apenas ficava me olhando sem pronunciar uma única palavra, com um olhar triste e perdido. Ela não me via, eu estava lá, mas ela não me via. Eu odiava ver aquilo, odiava ver o estado de Fantiny, seu silêncio acusador... Minhas visitas ficaram cada vez mais esparsas... até que cessaram completamente. Tudo porque eu era um covarde, que não conseguia encarar sua própria culpa.

Ele está com o olhar perdido, como se revivesse tudo novamente.

― Gale conseguiu abafar o caso. Ninguém soube desse incêndio. Fantiny também não queria a mídia soubesse disso. Ela simplesmente desapareceu. Não soube dela por um bom tempo, alguém disse que ela havia ido morar na Alemanha. Se eu quisesse, sei que eu poderia saber onde e como ela está. Mas eu nunca quis. Com o tempo, consegui apagar estas lembranças da minha mente. Elas se tornaram cada vez mais tênues, até se extinguirem completamente. Mas hoje, quando precisamos gravar aquela cena, tudo voltou ainda mais intenso, era como se estivesse revivendo tudo novamente.

Peeta retira sua cabeça de meu colo e se senta do sofá, mas ainda mantém sua mão na minha.

— Sou um grande covarde, Katniss. Um ser egoísta e mesquinho, que sempre se colocou em primeiro lugar... — seu olhar é tão distante. — Fiz aquilo com Fantiny, com Annie e com... — seus olhos vão parar nos meus. — Você.

Isso é tão estranho, eu realmente odeio Peeta, por toda a dor que ele me causou. Mas agora, nesse exato instante, tudo o que sinto é pena.

Meus braços envolvem Peeta. Ele apoia sua cabeça em meu ombro. Ficamos assim, por um longo tempo. Tanta coisa passa por minha mente, porém, não consigo chegar a nenhuma conclusão. Sei apenas que Peeta sofre.

Peeta retira sua cabeça de meu ombro. No entanto, ele não afasta seu corpo do meu. Nossos rostos estão muito próximos, consigo sentir a respiração morna dele perto de minha face.

Nossos lábios se aproximam e... nos beijamos. É um beijo delicado e ao mesmo tempo intenso. É o primeiro beijo que damos, sem que estejamos doente, bêbado ou atuando. Embora eu não tenha certeza sobre a parte do doente, Peeta me parece ainda um pouco abalado...

Mantemos nossos lábios colados por um longo tempo. Até que por falta de oxigênio, precisamos nos separar. No entanto, não nos soltamos. Peeta deita comigo em seus braços no sofá.

— Dorme aqui comigo hoje... — fala com os lábios roçando em meu pescoço. Seu tom tem um que de suplica.

— Tudo bem... ― não consigo negar, seus olhos me dizem que se eu negar, verei Peeta desmoronar em minha frente como um castelo de areia.

Fecho meus olhos. Não demora muito para eu adormecer. Estou cansada demais, confusa demais. Tudo o que desejo é me perder no mundo dos sonhos e não pensar em nada, nem mesmo no corpo quente que está colado no meu neste exato momento, que me segura como se estivesse com medo que eu escape.

Amanhã eu pensarei nisso, amanhã odiarei Peeta novamente, amanhã tentarei encontrar uma explicação racional para todos os sentimentos conflitantes que se mesclam em meu interior. Amanhã tentarei borrar da minha mente a sensação de seus lábios nos meus. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Hoje não, hoje quero apenas dormir e mais nada.

Não sei se estava sonhando, se foi apenas uma impressão minha, ou se realmente aconteceu. Sinto uma suave carícia em meus cabelos e um beijo leve em meu rosto, tão suave como a batida de asas de uma borboleta.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E este passado do Peeta? Triste, não? Peeta e seu passado cada vez mais nos surpreendendo. Vejo vocês no capítulo especial!
E entrem no grupo:
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