Jardim de Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 30
Eu aceito!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Bia Stromberg que presenteou a fic com uma recomendação maravilhosa, que me deixou cheia de animo para escrever este capítulo!!! Muito obrigada, sua linda!!!



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Vou para a sala. Sento no chão, pego os papeis que Haymitch quer que nos assinemos. Junto com os papeis está o roteiro. Sei exatamente qual é o recadinho de Haymitch. Ele quer dizer que estamos fazendo burrada em não aceitarmos participar do filme. Folheio o roteiro ao acaso.

— O roteiro é realmente bom, não? — fala Peeta, sentando-se também não chão, embora bem longe de mim.

— É ótimo... Só não concordo com a atitude de Lory...

— Qual? — pergunta, dando uma mordida na maçã que tem nas mãos.

— Ele abandonou a Nick porque estava doente. Apenas por causa disso, quase destroçou o coração de Nick.

— Uma doença que poderia matá-lo. Lory sabia que tinha muitas poucas chances de sobreviver, na verdade, suas chances eram quase inexistentes. Ele não suportaria ver Nick sofrendo por sua causa — sua expressão é pensativa, diria até que triste. Estou vendo coisas novamente.

— Ele foi idiota isso sim! — falo. — Nick iria sofrer de qualquer jeito. Será que ele não percebeu isso?

— Quando amamos fazemos coisas insensatas... Somos egoístas.

Lanço para ele meu olhar: falou o cara que conhece tudo sobre amor!

— Até pode ser... Mas isso não muda o fato de que Lory foi idiota. Ele deveria ter contado a Nick sobre sua doença, a decisão de permanecer ou não com ele deveria ser dela e não dele.

— Katniss, uma vez eu ouvi uma pessoa dizer, “se eu como pedra, meus filhos também comem”. Sabe o que eu pensei sobre isso? Que a pessoa estava sendo egoísta, se ela estava comendo pedra e poderia fazer os filhos comerem coisas melhores e para isso precisasse manter os filhos longe dela, então por que deixá-los comendo pedra? Isso é egoísmo! É preciso se importar muito mais com o bem estar da pessoa que você ama do que seu próprio bem estar. Lory preferiu manter Nick longe dele porque não queria ser egoísta.

— Acho que a decisão deveria caber os filhos, se eles preferem comer pedra junto com seus pais, ou se preferem uma vida melhor. Acredito que apenas Nick poderia decidir se deseja ou não ficar junto de Lory, quando ele estava doente — rebato Peeta.

Ele solta um suspiro, e brinca com a maçã.

— Você é teimosa igual a Nick — fala. — E um tanto quanto orgulhosa — me olha.

— Nick estava certa! — afirmo. — Depois de Lory dizer todas aquelas coisas para ela, você acha que ela deveria correr para ele? É claro que não! Nick tem muito amor próprio para correr para um homem que a desprezou um dia.

— Mas ele estava doente quando fez isso! — argumenta.

— Isso não justifica sua atitude!

Peeta dá outra mordida na maça.

Nem sei por que estamos discutindo sobre o roteiro.

O filme começa com Nick e Lory se encontrando cinco anos após os acontecimentos do último filme. Os dois estão discutindo, um flash back revela o que aconteceu três anos antes. Nick e Lory estavam felizes juntos, quando Lory descobriu que tinha uma doença, quase incurável, o diagnóstico do médico foi claro, era quase certo que Lory morreria dentro de um ano. Lory não querendo fazer Nick sofrer, decidiu romper com ela. E ele fez isso de uma forma bem cruel, não dizendo o motivo da separação, apenas alegando que não ama mais Nick. Ela ficou com o coração partido, mas resolveu seguir em frente. Lory acabou sobrevivendo. Os dois se reencontram. Lory ainda está perdidamente apaixonado por Nick, porém ela não quer mais saber dele. Ela tem feridas bem profundas em seu coração. O filme é sobre Nick e Lory lidando com estas feridas.

Já anoiteceu e nem sinal de Haymitch. Sabe aquela história do filme, mãe abandona filhos a sua própria sorte, que Peeta me contou? Acredito que nosso querido diretor está sendo ainda mais cruel do que a mãe do filme.

Peeta prepara nosso jantar, sopa. Nós comemos silenciosamente.

Começo a lavar a louça. Peeta se coloca do meu lado, secando a louça.

— Sua febre já passou? — pergunto, interrompendo o silêncio.

— Estou bem, obrigado pelas aspirinas — ele ainda tem certa palidez, o que me faz questionar se sua febre realmente passou. Porém, decido falar de outra coisa.

— Será que Haymitch vai aparecer aqui hoje?

— Provavelmente não, ele deve aparecer amanhã. Haymitch com certeza calculou tudo. Deve ter pensando que nós ficaríamos desesperados se não aparecesse hoje, o que tornaria seu trabalho mais fácil amanhã. Aquele cara sabe como manipular as pessoas...

Peeta e eu discutimos nossas possiblidades de fuga e elas não são nada animadoras. Ao menos que alguém nós empreste uma arma letal, para cuidar de Haymitch, não vemos nenhuma possiblidade de sair daqui.

Cansada de tudo isso — sei que Haymitch não vai dar as caras por aqui hoje, aquele homem desprezível — resolvo tomar um belo banho.

Saio com meus cabelos molhados do banheiro.

— Está frio, melhor secar este cabelo antes que pegue um resfriado — fala Peeta, que está sentado na cama.

— Olha só quem fala! Você pegou um belo de um resfriado por ficar debaixo da chuva e não se cuidar direito!

Peeta dá os ombros.

— Acontece que não tem secador aqui... — falo, secando meu cabelo com uma toalha.

Peeta se levanta da cama e vem até mim. Ele pega a toalha de minha mão e começa a secar o meu cabelo.

— E você nunca consegue secar este cabelo direito! — seu tom é divertido.

Nossos olhos se encontram. Peeta desvia seu olhar primeiro.

— Vou tomar um banho — diz, me entregando a toalha.

Termino de secar meu cabelo na sala.

Já são quase onze horas da noite. Isso me lembra de que está na hora de dormir, temos claramente um problema aqui. Só há um quarto aqui. Está muito frio, e agora eu percebo que somente há aquecedor no quarto. Resumindo, temos um grande problema aqui.

— Aqui está gelado! — fala Peeta, entrando na sala.

Olho para ele, sua palidez parece ter aumentado.

— Sua febre voltou?

Ele coloca a mão na testa.

— Talvez... um pouco.

Me aproximo de Peeta e coloco a minha mão em sua testa. Toco em sua pele morna. Não está tão quente como ontem, mas claramente, sua febre voltou.

— Melhor tomar outra aspirina — retiro minha mão de sua testa. — Você dorme no quarto, tem aquecedor lá.

Peeta salvou minha vida uma vez, tenho que retribuir o favor. Se ele dormir aqui, sua febre pode aumentar.

— E você?

— Durmo aqui, no sofá.

— Mas aqui está gelado!

— Não tem problema, eu não estou doente, você está!

— Você vai acabar congelando aqui!

Quero dizer que não. No entanto, ele tem razão, a sala está cada vez mais fria. Até parece que um pedacinho do polo do norte.

— Vamos fazer o seguinte, nós dois dormimos no quarto. Já fizemos isso antes, não? — sugere.

— Mas...

— Qual é o problema? Tem medo de me atacar? — diz com um sorriso provocante nos lábios.

Isso me lembra da noite passada...

— É claro que não! — me apresso em lhe contestar.

Peeta me olha, com um olhar desafiante.

Cruzo os meus braços e vou para o quarto. Me deito do lado direto, praticamente na borda da cama. Não é que eu esteja com medo de atacar Peeta, não é nada disso, não entendam errado!

Peeta demora ainda um tempinho para vir até o quarto. Fecho meus olhos, tentando chamar o sono. E quem disse que este safado vem? Desta vez, ele resolveu me deixar a ver navios. Talvez, contar carneirinhos ajude um pouco. Porém, como eu previ, isso também não ajuda.

Ouço o som dos pés de Peeta. Mesmo com os olhos cerrados, consigo saber tudo o que ele está fazendo. Ele entra no quarto e lentamente se aproxima da cama. Sinto ele puxando o cobertor.

Katniss, esse é o momento de você mostrar que aquilo de ontem não significou nada! Melhor recomeçar a contar estes benditos carneirinhos.

Passo boa parte da noite sem conseguir dormir. Ontem eu dormi nos braços de Peeta, é verdade. No entanto, havia algumas diferenças:

1) Ontem: estava sob o efeito do álcool, sem raciocinar direito. Hoje: estou totalmente sóbria.

2) Ontem: Peeta estava com febre, delirando, praticamente em outro mundo. Hoje: ele ainda está com febre, mas ela nem se compara com a de ontem.

Vai dizer que a situação não é difícil?

Não sei quando, mas acabo dormindo. Apenas por algumas horas, é verdade.

Peeta não está na cama quando acordo. Agradeço por isso, seria uma situação estranha encontrá-lo aqui. Ainda estou morrendo de sono, não paro de bocejar. Posso dormir mais um pouco.

Entretanto, meus planos fracassam, neste momento, Peeta sai do banheiro. Apenas uma minúscula toalha o cobre, a água ainda escorre pelo seu peitoral. Ele enxuga seus cabelos lentamente. Sabe aqueles comerciais em que os homens saem do banho e enxugam seus cabelos em câmera lenta? Pois é, Peeta está igualzinho a um desses modelos... Por quê? Por quê? A vida é cruel. Ainda que odeie Peeta, eu ainda tenho olhos!

— Esqueci minhas roupas... Pensei que estivesse ainda dormindo — fala, pegando suas roupas no armário.

— Acabei de acordar — desvio meus olhos teimosos de Peeta (que ódio desses olhos que teimam em olhar em certo lugar). — Sua febre passou?

— Sem sinal de febre.

— Isso é bom... — seria bem mais fácil falar se Peeta Mellark não estivesse seminu em minha frente.

Peeta pega suas roupas e vai em direção ao banheiro. Ele poderia caminhar mais depressa, não?

Depois, desse acordar, um tanto quanto... inusitado, tomo o café da manhã, que consiste em panquecas feitas por Peeta.

— Aqui — fala Peeta, sinalizando com seu polegar um lugar perto dos lábios.

— O quê?

— Está sujo de molho — explica.

Tento limpar a sujeira.

— Ainda está sujo — informa.

Tento limpar outra vez, Peeta faz sinal negativo. Ele aproxima seu polegar de meu rosto e limpa a sujeira.

Seus olhos vão parar nos meus, e seus dedos quase tocam os meus lábios. Céus, o que está acontecendo aqui?

— Peeta! Katniss! — a voz de Haymitch chega até nós.

Peeta retira sua mão de meu rosto rapidamente.

— Sabia que ele iria aparecer hoje! — afirma, se levantando da mesa.

Vamos até a sala.

— Haymitch, apareça! — eu e Peeta gritamos.

— Vocês já assinaram aqueles papeis? — sua voz é divertida.

— Eu não vou assinar aquilo! — protesto.

— Vocês que sabem — diz a voz de Haymitch atrás da porta trancada. Ele começa a assoviar uma canção. — Tenho muito tempo. Posso deixar vocês aí por dias... quem sabe meses... ou até anos! Isso foi uma pequena amostra de que posso fazer.

— O que você pensa que está fazendo, Haymitch? — questiona Peeta.

— Eu? Estou apenas ajudando a crescerem em suas carreiras. Vocês leram o roteiro não leram? Portanto, sabem o potencial desse filme! Estou apenas impedindo que vocês tenham arrependimentos futuros, que joguem tudo isso no lixo por uma briguinha a toa de namorados. Ou vocês pensam que eu não sei o motivo de vocês se recusarem a trabalhar neste filme? Somos profissionais aqui! Pensei que estava trabalhando com atores de verdade, e não com amadores, com crianças. É isso que vocês são, amadores! — afirma Haymitch.

— E você, Haymitch? Você chama isso de ser profissional, nos manter aqui presos? Eu chamo isso de outra coisa! — retruca Peeta.

— Vocês dois são dois teimosos! Precisava encontrar uma maneira de fazê-los pensar direito. Me digam uma coisa, vocês por acaso mataram um ao outro por passarem um tempo juntos? Estão vivos, não? E inteiros! Portanto, podem muito bem trabalhar juntos novamente.

Esses dias trancados aqui devem ter levado um pouco meu juízo embora, porque só assim para explicar o fato das palavras de Haymitch me parecem um tanto certas. Devo estar louca, fato.

— Tenho ou não tenho razão?

— Já disse que não vou assinar aqueles papeis! — reitero.

— Ok. Estou vendo que vou ter que deixar vocês aqui trancados por um longo tempo — enfatiza as palavras “longo tempo”. — Só desse jeito para vocês criarem juízo nestas cabecinhas. Vou contar até 5. Se não assinarem aqueles papeis eu vou embora... e não sei quando volto — ameaça.

Olho para Peeta. Sei que Haymitch não está brincando.

— Um.

O que eu faço? As palavras de Haymitch são até certo ponto verdadeiras. Eu não matei Peeta... pelo menos até agora. Além disso, eu sei que ele tem razão, esse filme é uma grande chance.

— Dois.

Por outro lado, se eu aceitar isso, vou precisar conviver com Peeta por um longo tempo.

— Três.

Se eu ficar aqui... Vou acabar enlouquecendo. Ainda não consigo esquecer os fatos desta manhã. Não, eu não posso ficar vendo Peeta sair seminu do banho todo dia, muito menos dormir na mesma cama que ele.

— Quatro. Estou vendo que vocês estão querendo continuar juntinhos nesse chalé... Última chance! Cinco.

— Eu assino! Eu aceito fazer parte do filme! — grito.

— Ótimo, Katniss. Você fez uma boa escolha! E você, Peeta?

— Eu não vou participar disso! — afirma Peeta.

— Está bem, vou deixar vocês dois trancados aqui. Eu só libero vocês, se os dois aceitarem!

Só faltava essa!

Ouvimos os passos de Haymitch que começam a se afastar do chalé.

— Peeta, assina isso logo! Eu não quero mais ficar aqui! — praticamente grito.

Ele me olha, está tenso.

— Anda logo, Peeta! Não podemos ficar aqui! Não podemos!

Peeta olha para os papeis, indeciso. Vai até eles e os pega, noto que está com muita raiva.

— Você venceu, Haymitch! — grita furioso, após alguns segundos de silêncio.

Ouço uma pequena gargalhada vindo de fora.

Peeta pega os papeis e assina de maneira raivosa. Também assino os papeis.

— Passem os papeis para mim! — ordena Haymitch.

Peeta pega os papeis e passa por debaixo da porta.

— Perfeito.

Ouço o barulho da chave na fechadura e finalmente a porta se abre.

Lá está Haymitch nos observando.

— Essa foi uma sabia escolha! — tem um sorriso triunfante no rosto.

Já Peeta tem bastante fúria em seu rosto.

Em instantes, Haymitch está caído no chão. Peeta acabou de dar um soco nele.

— Você ainda vai me agradecer por isso — diz Haymitch, que parece nem se importar com o soco.

Peeta sai resmungando. Olho para Haymitch. Espero não me arrepender dessa decisão.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Tio Hay conseguiu o que queria e agora seu filme, finalmente, vai sair do papel! O que será que aguarda estes dois nos sets de filmagens? O próximo capítulo se chama "Roommate", Katniss ganhou um novo companheiro de quarto, ou melhor, uma companheira... quem será? Acho que vocês já sabem...