Demora uns dois segundos, para eu me dar conta da situação em que estou. Sinto os braços de Josh rodeando minha cintura, me segurando. Minhas mãos estão sobre o peito dele. E nossos rostos estão apenas alguns centímetros de se tocarem. Josh continua rindo de nossa queda.

E diante desta cena, está Peeta, me fuzilando com o olhar. O encaro. Que raios há com este garoto? Quem ele pensa que é? Meu namorado? Vou te dizer um segredinho, Peeta Mellark, você não é meu namorado!

Ele sustenta meu olhar por um segundo. Eu só posso estar imaginando coisas, que sentimento é este em seu olhar? Isso é... tristeza? Não, estou confundido as coisas!

Peeta retira seu olhar sobre mim e caminha até o elevador. Seus passos são rápidos, longos e apresados. Ele some em um dos elevadores.

Peeta o que há de errado com você? Foi você que terminou comigo e não o contrário, então, por que me olha como se eu tivesse o ferido?

– Katniss? – a voz de Josh me chama para a realidade.

Havia me esquecido da situação em que estou – praticamente deitada em cima de Josh.

– Ah, desculpa! – saio imediatamente de cima dele.

Josh me lança um olhar questionador. Evito o olhar dele. Alex, Liam e Sam saem de um dos elevadores. Sorrio para eles. Sei muito bem atuar como uma garota animada (afinal sou uma atriz).

– Este passeio por Paris sai ou não sai? – falo de uma maneira entusiasmada.

Tenho que tirar aquele olhar de Peeta de minha memória. Eu juro que este ser ainda vai me deixar maluca. Deve ser isso o que ele deseja, me enlouquecer.

– Agora que estamos devidamente equipados – diz Alex, mostrando seu guia. – Podemos ir.

– Melhor que este guia funcione – resmunga Liam.

– Para onde vamos? – pergunto.

– Deixa eu ver aqui... – fala Alex abrindo o guia. – Que tal a Ile de Saint Louis?

Ile de Saint Louis, localizada no coração de Paris. Já ouvi muito sobre este lugar. Ou melhor, li. Sempre foi um dos lugares que mais quis conhecer em Paris. É uma pequena ilha que fica perto da famosa Catedral de Notre Dame.

– Vamos para lá! – falo entusiasmada, tomando a frente dos meninos.

Liam alugou um carro para nos locomovermos por Paris. O carro não é muito grande, por isso tenho que me espremer entre Josh e Sam.

Olha só a minha situação, estou praticamente sentada no colo dos dois. Ainda bem que sou pequena, se fosse um pouquinho maior, com certeza, não conseguiríamos andar os cinco neste carro.

Mas, logo chegamos à ilha.

As imagens que vi da Ile de Saint Louis nem chegam perto da beleza que é este lugar. A ilha é rodeada pelo rio Sena, é como se eu estivesse em um lugar separado do mundo, um pequeno país.

– Já sei, vamos percorrer a ilha pela rua principal e encontrarmos um restaurante para almoçarmos. Segundo o guia, há restaurantes muito bons aqui! – sugere Alex, consultando seu inseparável guia. – Esta ilha tem oito ruas – lê o guia. – Sendo cortada pela rua Saint Louis. Sabiam que este lugar antes era um pântano e que foi transformado em um bairro residencial no século XVII? – diz entusiasmado. – Se tivessem um guia saberiam!

– É claro – fala ironicamente Liam. – Porque seu guia é excepcional. O que seriamos de nós sem o guia do Alex?

– Você só está com inveja do meu guia! – provoca Alex.

– Dá para acreditar que estes dois caras serão futuros advogados? – cochicha Sam para mim.

Alex e Liam fazem direito. Os dois inclusive dividem um pequeno apartamento perto da universidade em que estudam. Sam também é um estudante universitário, ele cursa biomedicina.

– É uma pena que não temos o QI de Josh... – lamenta Sam em um tom divertido. – Ele até pulou séries e terminou a faculdade mais cedo que todo mundo.

– Sam, o que você está falando aí? – pergunta Josh.

– Nada, só dizendo como seu charme atrai as mulheres... Se eu fosse você, Katniss, tomaria cuidado com este homem.

Josh olha para ele com uma cara de poucos amigos.

– Só estou dizendo a verdade...

– Sam! – Josh o repreende.

– Katniss, tome cuidado com ele! – Sam ri da expressão aborrecida de Josh. –– Alex, Liam! – Sam vai até onde os dois estão.

Começo a rir da careta irritada de Josh, enquanto ele resmunga algo.

– Se continuar com esta careta vai atrair ainda mais mulheres! – provoco. – Você fica bonitinho irritado.

Josh bufa, porém acaba rindo.

– Sam só está exagerando.

– Aham... como se eu não soubesse do monte de mulheres que andam atrás de você!

– Estou vendo que você e Sam são dois exagerados!

– Não sou não! – ergo uma de minhas sobrancelhas. – Você é que não está falando a verdade. Aliás, acho que devo seguir o conselho de Sam – brinco.

– Exagerada! – retruca.

– Ei, vocês dois! – chama Alex. – Sei que estamos na cidade do amor, mas vamos deixar o namoro para depois e irmos comer, estou morrendo de fome!

– Pelo menos o casalzinho parou de brigar! – retribui Josh a provocação de Alex.

– Todos os casais têm suas brigas! – diz Alex.

Liam lança um olhar reprovador para Alex, enquanto, este dá tapinhas em suas costas.

– Liam, não se entristeça, eu compro um guia para você! – fala Alex.

– Eu mereço! – resmunga Liam. – Agora preciso conviver com a Dora, a aventureira.

Sam, Josh e eu caímos na gargalhada.

Vamos até um pequeno restaurante. Josh e Sam sabem um pouco de francês, por isso não temos muita dificuldade em pedir os pratos. Opto pela tradicional sopa de cebola, que segundo Alex, é indispensável para quem vem a Paris. Alex fala tanto nesta sopa que não resisto. E ratatouille.

– Aposto que você só pediu isso – Alex faz referência ao ratatouille. – Por causa do filme!

– Espero que não tenha um rato se passando por cozinheiro por aqui – falo em voz baixa.

– Eu também espero – diz Alex no mesmo tom.

Quando os pratos chegam, não me contento apenas com meu prato. Aliás, meu lema é: comida hoje, comida amanhã, comida sempre. Os garotos precisam dar um pouco de seus pratos para mim, antes que eu comece a babar igual a aqueles cachorrinhos que ficam perto das mesas.

– Toma! – diz Josh, me passando alguns pedaços de frango do seu prato. – Isso é cop aun vin.

Quase vou ao céu ao provocar o frango que Josh me passou e olho mais uma vez com cara de cachorrinho pidão. Pobre Josh, ele não sabe que se deixar eu vou acabar com sua refeição e o deixar sem comer nada.

– Você gostou mesmo disso, não?

Balanço a cabeça energeticamente. Ele sorri e me passa mais alguns pedaços de frango.

– Katniss, você supera o Alex! – diz Sam. – Quem vê você pequeninha assim, nem imagina o quanto você come!

Rio.

– Vocês não viram nada! – digo me deliciando com minha sopa de cebola.

Josh sorri da expressão que faço ao tomar a sopa de cebola.

– O que foi? – pergunto.

– Nada, te ver comendo é divertido – continua sorrindo.

No final, acabo comendo a sopa de cebola, o ratatouille, e mais da metade do prato de Josh. Já que Josh não se importa com este fato.

Depois de almoçamos, resolvemos seguir a sugestão de Alex, percorremos a rua principal da ilha. Ela é cheia de restaurantes e cafés. Um paraíso para mim. Fico encantada com as vitrines das padarias, cheia de doces que parecem verdadeiras obras de arte. Em uma vitrine, vejo alguns docinhos pequenos e coloridos, os macarons, e fico praticamente hipnotizada.

– Aqui! – olho surpresa para o braço estendido de Josh, em sua mão está uma pequena caixinha. – Você está tão entretida com os macarons que nem me viu indo lá comprar alguns – explica sorrindo diante de minha expressão interrogativa.

Ao ouvir a palavra macaron praticamente voo na mão de Josh. Apanho um macaron e o levo imediatamente a boca. Realmente, a beleza dos macarons faz justiça ao seu sabor, são simplesmente deliciosos. Não há outra palavra para descrevê-los.

Após comer mais alguns macarons, me dou conta que tudo está bem silencioso ao nosso redor.

– Cadê os outros? – pergunto após verificar que Liam, Alex e Sam não estão por perto.

– Se encantaram com uma loja de souvenir, que vende caixinhas de músicas personalizadas... Depois, nos encontramos com eles. Que tal um sorvete? Segundo o guia de Alex, aquela sorveteria, Berthillon – aponta para um lugar que tem uma fila enorme. – É melhor sorveteria do planeta, dizem que o melhor sorvete é feito lá.

– Josh, você falou as palavras mágicas! Vamos para esta sorveteria – digo determinada. – Se Katniss Everdeen está no lugar que faz o melhor sorvete do mundo, ela tem que provar – digo de forma teatral.

Isso faz com que Josh ria.

– Enfrentaremos corajosamente esta fila – falo, quando chegamos à fila.

Às vezes, é necessário esperar para ter-se uma grande recompensa no final. Com certeza, cada minuto nesta fila vale a espera, constato ao saborear o sorvete que é vendido neste local.

Josh sorri com meu entusiasmo.

– Deveria ter te apresentado este local mais cedo, se soubesse que você ficaria tão feliz assim!

– Josh, hoje você está fazendo uma garota feliz! Comprou para mim macaron, sorvete! – digo imitando um tom solene. – A garota que for sua namorada será uma garota feliz.

Josh apenas ri do meu comentário.

Depois de eu me deliciar com meu sorvete, resolvemos contornar a ilha e admirarmos o Sena.

Fazer este passeio me dá a sensação de paz, estou próxima às margens do Sena que me transmitem tranquilidade e serenidade.

– Olha, aquele prédio! – diz apontando para um edifício. – Ali morou uma famosa escultura, Camille Claudel.

– Uau, Josh! Você sabe de cada coisa! – digo me aproximando do prédio.

– Apenas consultei o guia de Alex mais cedo. Não diga para ele que aquele guia é bem útil, caso o contrário ele ficará se achando por semanas! – ri.

– Você é mesmo um gênio de QI elevado – digo olhando para o edifício. – Consegue se recordar das coisas com uma facilidade tremenda!

Josh sorri timidamente.

– Não é bem assim... Eu nem lembro quem são as celebridades!

Isso é verdade, Josh é péssimo para reconhecer as pessoas famosas. Quando nos vimos pela primeira vez, ele não fazia a mínima ideia de quem eu era.

Noto que Josh está olhando para uma placa antiga do prédio.

– Il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente – Josh lê um trecho da placa.

– O que significa?

– Tem sempre alguma coisa ausente que me atormenta... – traduz a citação. – É uma frase de Camille – explica.

Josh olha para mim.

– Katniss... Tem algo ausente te atormentando, não?

Desvio meu olha de Josh e começo a andar lentamente.

– Pensei que seria um pouco mais fácil... – digo após um momento.

Josh acompanha meus passos.

– Que conseguiria esquecê-lo... Mas... Me odeio, por ainda pensar nele. Ele me causou muita dor.

– Katniss, nossos corações são de carne, e não de pedra, por isso eles sagram, não é uma maquina que podemos controlar.

– Se fosse uma máquina, seria bem melhor! – tento sorrir. – Josh... eu realmente não gosto de falar sobre isso. Podemos mudar de assunto, sim? – peço.

Josh me olha indeciso.

– Eu estou bem, não se preocupe. Um dia, eu teria que enfrentá-lo, não? Mesmo tentando adiar ao máximo esse dia, eu sabia que um dia chegaria.

Meu celular começa a tocar. Sinto certo alívio, realmente não quero continuar com esta conversa. Me apresso em atender o celular.

– Katniss! – a voz animada de Annie quase me deixa surda. – Como está Berlim?

– Não estou em Berlim, estou em Paris e agradeceria se você não me deixasse surda!

– Me conta tudo! – ela resolveu ignorar meu pedido. – Como você foi parar em Paris?

– Effie mudou os planos de última hora... – explico.

– E a onde você está?

– Estou na Ile Saint Louis.

– Já provou o sorvete daí?

– Acabei de provar! Aquilo sim que é sorvete! Mas e você, o que está fazendo?

– Me preparando para me apresentar em um programa musical com Finnick – as últimas palavras ela pronuncia em um tom desanimado.

– Ainda está brigada com ele? Pensei que depois de meses andando juntos vocês estariam mais amistosos.

– Você sabe muito bem como é! – retruca.

Sim, eu compreendo exatamente Annie. Sei o que ela está passando. Se já é um tormento Peeta estar por perto, imagina então ter que conviver com ele quase todos os dias, fingindo que tudo está bem diante das câmeras, quando na verdade não está.

– Eu sei, Annie... E como está seu namorado?

– Quem? O Jack? Nós não estamos mais juntos... Katniss, você está desatualizada!

Jack é um ator novato, com quem Annie andou tendo alguns encontros. Deixando certo alguém (entenda-se Finnick quase louco de ciúmes).

– Você desistiu mesmo do Josh, hein?! – falo após me certificar que ele está longe o suficiente para não ouvir a conversa.

– Josh é tão inalcançável quanto alguém do monte Olimpo... É perfeição demais para uma pessoa... E como alguém não fez seu trabalho direito como cúpido – enfatiza as últimas palavras. Annie está se referindo a ideia maluca de me colocar como cúpido.

– Ninguém disse que eu seria um bom cúpido... – me defendo.

– Definitivamente, Josh não é para mim – ri. – Acho até que ele tem alguém em seu coração... Mas vai logo visitar Paris! Não faça nada que eu não faria.

Rio desta última frase e me despeço de Annie.

Volto até onde Josh está. Ele está tirando algumas fotos da paisagem.

– Sorria, Katniss! – diz apontando a máquina fotográfica para mim.

Faço uma pose engraçada, o que desperta uma crise de riso em Josh.

– Ótimo! – fala tentado conter o riso, enquanto tenta tirar uma foto de minha pose estranha.

– Não sabia que tinha trazido sua câmera fotográfica! Eu esqueci a minha no hotel – lamento. – Este lugar é tão lindo, poderia tirar ótimas fotos daqui.

– Não se preocupe, eu te empresto a minha – diz me entregando a câmera.

Aceito a oferta de Josh e pego sua câmera. Tiro várias fotos.

– Esta última foto do Sena ficou muito boa – diz Josh atrás de mim, olhando no visor da câmera.

Olho para o visor.

– Eu também gostei dela.

Josh pega na câmera. Percebo que praticamente estou sendo abraçada por trás por Josh.

– Vamos tirar uma foto – diz levantando a câmera a cima de nossas cabeças.

Josh apoia sua cabeça em meu ombro e sorri para a câmera, ele passa o braço livre envolta de meus ombros, me abraçando. Também sorrio para a câmera.

Estávamos tão entretidos em tirar fotos que nem percebemos certo tumulto se formando atrás de nós.

Há vários carros e pessoas. Observo que estão arrumando filmadoras... O que será que vão filmar aqui?

– Será que estão gravando algum filme? – pergunta Josh, que continua na posição da foto, abaixando a câmera.

– Não sei... – minha frase fica incompleta.

De um dos carros sai, adivinha quem? O destino me ama! Não basta estar no mesmo hotel que ele, no mesmo andar que ele. Não. É preciso que eu esteja também no local em que ele vai trabalhar. Isso só pode ser brincadeira! Quais são as chances de que encontrá-lo em todos os lugares em que vou?

Acho que sou o tipo de pessoa que atrairia um raio duas vezes. Ou melhor, três vezes. Porque com a sorte que tenho (entenda-se falta de sorte), um raio cairia sobre mim bem mais do que duas vezes.

Tento ignorar sua presença e desviar meu olhar. Meus olhos caem sobre uma moça que está perto de nós, olhando para o Sena. Ela usa um chapéu fedora preto e óculos escuros. A moça tem um porte elegante, é alta, da altura de Josh.

Imediatamente, sei quem é ela. Quem não saberia quem é ela? Afinal, seu rosto está em toda parte. Ela é a queridinha do mundo das celebridades.

– Jenny! – Josh completa o meu pensamento.

Olho interrogativa para ele (ainda estamos naquela mesma posição da foto, Josh ainda continua me abraçando por trás, tudo isso se passou em questão de segundos). Josh entende quase nada de celebridades. Será que ele é um fã de Jenny? Essa eu não sabia.

– Jenny! – a voz de Peeta, que eu poderia diferenciar no meio de uma multidão, ressoa no ar.

Jenny olha para ele.

– Peeta! – ela chama, acenando.

Peeta começa a caminhar em direção a Jenny. No entanto, ele se detém no meio do caminho.

Oh, não, ele me viu!

Peeta me olha. Jenny segue o olhar de Peeta e também olha na mesma direção. Ela retira os óculos escuros, surpresa. Seu olhar cai sobre Josh.

E assim, um estranho quadro se forma. Peeta me olhando, Jenny olhando para Josh, este sustentando o olhar dela, e eu (como sempre) me perguntando, o que está acontecendo aqui?