Se você encontrasse seu ex-namorado depois de seis meses sem vê-lo pessoalmente como você reagiria? Vamos reformular esta pergunta, se você encontrasse seu ex-namorado, que terminou com você – por telefone – alegando que você é um obstáculo para sua carreira, como você reagiria?

Esta é uma daquelas situações, que você, por mais que deseje que nunca aconteça, sabe que irá acontecer um dia.

Meio ano, sem ver Peeta Mellark (pelo menos pessoalmente) e agora o tenho diante de mim.

O que ele está fazendo em Paris? E o mais importante, por que ele está, justamente, no hotel em que estou hospedada?

Olho para ele. Por uma fração de segundo, tenho a vaga impressão que vejo em seus olhos espanto, e algo que não consigo identificar. No entanto, o momento é tão rápido que logo se dissipa, apenas me resta a impressão que imaginei ver em seus olhos estes sentimentos.

Mas, o que devo fazer aqui? Nada de pânico, mantenha a calma, respire, ordeno para mim mesma. Eu sou uma atriz, eu vou conseguir fingir que a presença de Peeta não me abala de modo algum!

Respondo o cumprimento de Peeta com um aceno de cabeça. Ele continua andando, passa por mim e Josh, como se acabasse de ver um conhecido. Minto, como se tivesse visto uma pessoa qualquer, que mal se lembra do nome, e apenas cumprimenta por educação.

Realmente, devo ter sido um grande obstáculo em sua vida, Peeta Mellark, seu cretino.

E por que eu ligaria para este cara? Ele já saiu da minha vida, não significa mais nada para mim, mais nada!

Olho para Josh e sorrio.

– Josh – digo em um tom bem audível. – Será que deveríamos procurar outro hotel?

Ele me analisa por um segundo.

– Deveríamos? – fala em um tom divertido, pois já percebeu qual é a situação.

– Sei lá, este hotel é bonito, elegante demais, e coisas bonitas assim, ultimamente me dão a impressão que sempre fazem promessas e nunca cumprem – meu tom é divertido, porém, tem um toque de sarcasmo, que só alguém que me conhecesse muito bem, iria captar.

– Será que este hotel está nos engando com sua beleza?

– Quem sabe? – dou os ombros.

Vejo com o canto dos olhos que Peeta está conversando com o recepcionista, e pelas palavras que chegam até mim, descubro que ele tem uma ótima fluência em francês. Mais uma coisa que devo anotar na lista de coisas que não sabia sobre Peeta Mellark: ele sabe falar francês. Com certeza, ele é uma caixinha de surpresas, o que mais irie descobrir sobre ele?

Katniss, por que você está perdendo seu tempo pensando neste ser?

– Josh, estou morrendo de fome, será que poderíamos ir para nossos e quartos e depois nos reunimos com os outros para comermos algo? Eles já devem estar chegando.

Sam, Liam e Alex precisaram pegar outro táxi para vir até o hotel. Josh e eu chegamos primeiro que eles.

– Ok, vamos fazer isso, então – concorda.

Um dos empregados do hotel nos leva até os nossos quartos. Josh fica em uma das suítes do hotel no terceiro andar, já minha suíte fica no quarto. E que suíte! Sinsajo não economizou com as despesas. Isso sim é um hotel cinco estrelas.

A suíte é composta por uma sala enorme e um quarto. A sala é dividida em dois ambientes, uma sala de estar com TV (última geração) sofás grandes e confortáveis, o tecido sofá é extremamente macio, são uns tentadores convites para um cochilo; a outra parte da sala, é uma espécie de bar, com um balcão enorme (igual ao dos bares de verdade) e cadeiras o rodeando. Tudo isso é decorado em um estilo elegante, as cores claras e pasteis predominam, apenas alguns detalhes, como uma flor vermelha em um vaso na mesinha de centro, dão um pouco de cor ao ambiente.

Vou até o quarto, onde está minha bagagem. Ele mantém o mesmo estilo de decoração da sala. Abro as cortinas e tenho uma surpresa maravilhosa ao descobrir que posso ver a Torre Eiffel. Posso ficar apreciando esta paisagem por horas. Porém, preciso me encontrar com os garotos.

Tomo um banho rápido, para tirar um pouco do cansaço. E depois desço até o saguão do hotel. Sam e Josh já estão esperando por mim.

– Vocês não acreditam o que eu posso ver da janela do meu quarto? – falo animada. – A Torre Eiffel! – digo sem dar tempo de eles responderem a pergunta.

Josh e Sam se entreolham.

– E nós que pensamos que havíamos sido privilegiados – fala Josh em um tom divertido.

– Podemos ver de nosso quarto uma construção que parece um castelo – explica Sam.

– Quando fui para Londres fiquei em um hotel perto do palácio de Kensington... – me calo. Droga, por que precisava me lembrar de Londres justamente agora?

Esse dia tem me trazido muitas lembranças, e ele mal começou. Acho que é um daqueles dias em que as coisas não saem exatamente certas. Encontrar Peeta, me lembrar de Londres, o que falta acontecer para meu dia ficar completo? (estou sendo irônica aqui).

Não, eu não vou deixar aquele idiota perturbar a minha viagem! Não vou deixar.

– Alex e Liam estão descendo? – pergunto. – Estou morrendo de fome!

– Estamos aqui – diz a voz de Alex atrás de mim.

Me volto e os vejo caminhando até nós.

– Vamos comer! – falo eufórica. – Sempre quis experimentar a culinária francesa.

Vamos até o restaurante do hotel, onde está sendo servido o café da manhã. Tenho que me controlar para não pedir todos os pães que vejo pela frente, pois a variedade de pães é enorme. Acabo me contentando com um croissant de chocolate e outro de creme, uma salada de frutas, mais alguns docinhos com uma decoração bonitinha, e alguns pães que não sei o nome.

Enquanto eu me delicio com meu café da manhã, as hospedes do hotel se encantam com os quatro rapazes da minha mesa, posso até ouvir os suspiros daqui. E não estou exagerando.

Aqui estou eu, apreciando meu belo café da manhã, ao lado de belos rapazes... Mas, aquele idiota tinha que estragar isso também!

Peeta Mellark acaba de passar pela porta da recepção do restaurante. Ajo como se não houvesse notado sua presença, é isso que aquele cretino irá ganhar de mim, indiferença. Provarei que sou imune a sua presença, que ela não me afeta em nada.

– Depois do café da manhã, vamos falar com Effie, não? – falo apenas para dizer alguma coisa.

– Sim, Effie quer uma reunião para discutimos alguns detalhes sobre o comercial – fala Sam.

– Será que vamos começar a gravar este comercial, hoje? – Alex pergunta. – Estamos em Paris, bem que poderíamos ter uma folguinha.

– E você era um dos mais relutantes em aceitar fazer este comercial – diz Liam olhando para Alex, com certa ironia.

– Já que estamos aqui, Liam, é melhor aproveitar – dá os ombros como senão se importasse com o comentário do amigo.

Liam faz outro comentário. No entanto, eu não presto atenção, já que tenho a nítida impressão que Peeta Mellark acabou de lançar um olhar para mim. Ele está sentado perto de uma das janelas, há algumas mesas de nós. E para minha infelicidade, eu posso vê-lo perfeitamente do lugar em que estou. Olho para ele, porém, não posso confirmar se ele estava ou não olhando para mim, já que neste momento está olhando em outra direção. Este cara ainda vai me deixar maluca.

– Pessoal, acho melhor nos irmos encontrar Effie – falo. – Ela é maluca por horário. Se chegarmos atrasados é capaz de ter um ataque cardíaco.

– Eu não quero ver aquela mulher ter um ataque! – diz Alex, comendo um pãozinho.

– Então, larga deste pão e vamos encontrar a Effie – sugere Sam.

– Ok – diz, deixando o pãozinho de lado. – O que eu não faço por esta banda? Até não tomo café da manha direito – reclama.

Saímos do restaurante do hotel, me esforço ao máximo para não lançar um olhar sequer em direção a certa pessoa.

– Oh, droga, esqueci minha carteira no quarto! – lembro quando já estamos do lado de fora do hotel. – Vou voltar para buscar. Podem ir, encontro vocês depois.

O encontro com Effie será no hotel em que ela está hospedada. Os garotos da banda pediram por privacidade – toda esta história deles não quererem revelar a sua identidade e coisa e tal – por isso, nós ficamos em um hotel diferente do resto da produção.

– Tem certeza? – pergunta Josh.

– Não se preocupem comigo, de qualquer maneira, iremos ter que chegar separados.

Os garotos riem.

– É claro, você não faz a mínima ideia de quem são os intrigantes da Mockingjay – diz Sam, de maneira, divertida.

– Com certeza, eu não faço a mínima ideia de quem são os intrigantes desta banda – digo.

– Com certeza, você não sabe – Josh pisca o olho para mim.

Rio, e devolvo a piscadela de Josh.

Ninguém sabe, nem mesmo Effie, que eu conheço a identidade dos intrigantes da Mockingjay.

Volto praticamente correndo para o hotel, estamos quase atrasados. Ainda bem que um dos elevadores está aberto, corro para ele, antes que se feche.

Imediatamente me arrependo do meu ato. Dentro do elevador, me olhando, está Peeta. Não vou negar, por um segundo, penso em sair correndo. Porém, eu não quero ser fraca, quero mostrar para Peeta, que ele não tem o menor efeito sobre mim, que está no passado, que sua presença não me abala de maneira nenhuma.

Entro no elevador. Com toda a calma que consigo. Essa será uma longa subida.

Peeta parece nem notar minha presença. É como se estivesse no mesmo elevador que um desconhecido. Eu realmente era seu grande obstáculo. Imbecil, por que escondeu sua verdadeira face? Por que me fez promessas que nunca cumpriria? E o mais importante, por que me fez amar novamente? Todas estas perguntas estão entaladas em minha garganta, sinto um bolo se formar.

– Você é mesmo muito estranho, quem iria seguir seu grande obstáculo? – falo de maneira fria e sarcástica.

Peeta me olha, com o canto dos olhos.

– E você acha que eu gostaria de estar neste hotel com você? – rebate no mesmo tom.

Babaca, idiota... quero dizer todos os nomes impróprios que eu sei para ele, e mais alguns que acabo de inventar.

– E por que você não sai do hotel, então? – indago, sem olhar para ele.

– Você acha que eu não tentei?

– Deveria ter tentado mais – meu tom segue sendo frio e sarcástico. – E o que você está fazendo em Paris?

– O que você está fazendo em Paris? – contesta a minha pergunta com outra questão.

– Não te interessa, é assunto meu.

– Josh está envolvido também neste assunto?

– Talvez. Mas isso não interessa a você.

As portas do elevador se abrem, saio, e ele também sai.

– Vai continuar me seguindo?

– Eu não estou te seguindo. Você é que está me seguindo. Este é o andar em que está minha suíte.

Ótimo, era tudo o que eu precisava neste momento. Não bastava eu estar no mesmo hotel que ele. Não. Era preciso eu estar no mesmo hotel e no mesmo andar que ele.

Peeta vai até uma das portas, abre-a e entra.

Perfeito, estou a duas portas da suíte dele. Somos vizinhos.

Porém, não é hora de eu me preocupar com este idiota. Tenho trabalho a fazer. Pego minha carteira no quarto e saio do hotel.

O hotel, em que Effie e o pessoal da produção estão hospedados, não fica muito longe do hotel em que estou. Um dos assistentes de Effie me espera no saguão do hotel para me conduzir até a suíte de Effie, onde será a reunião.

Juro que levaria um susto, se eu não soubesse do que se trata, já que encontro quatro rapazes com capuzes, que caem sobre boa parte de seus rostos, óculos escuros enormes, e máscaras cirúrgicas, sentados ao redor de uma mesa improvisada para se tornar uma mesa de reunião.

– Oh, Katniss, querida! – Effie vem me cumprimentar.

Hoje ela usa uma peruca laranja curta. O que seria de Effie sem suas perucas?

– Os rapazes acabaram de chegar. Venha, sente-se – fala me conduzindo, até um lugar vago na mesa.

Cumprimento os “desconhecidos” com um aceno de cabeça, e eles também fazem o mesmo.

– Vamos começar a reunião. Primeiro, quero falar sobre o conceito da campanha publicitária, mistério – enfatiza a palavra mistério. – Iremos filmar o comercial em vários lugares de Paris. Katniss – aponta para mim. – Você é uma garota em uma viagem por Paris e encontra em seu caminho quatro rapazes misteriosos – aponta para os garotos. – Eles te fascinam, te intrigam, te seduzem – ela diz tudo isso de uma maneira teatral. – E você vai encontrar os quatro rapazes misteriosos em vários lugares diferentes.

Quando Effie começa a falar, ela dificilmente para. Temos uma longa reunião pela frente.

Effie discute sobre vários detalhes da campanha conosco.

E, finalmente, dá por encerrada a reunião, nos dando o resto dia livre. Pelo menos poderei explorar um pouco de Paris.

– Aproveitem o dia de folga! Ah, esta cidade belíssima – fala Effie se despedindo de nós. – Eu sempre quis gravar o comercial aqui. Quase não consegui. Mas graças, ao Chaff, que está gravando o filme dele, Winter sleep, aqui em Paris, conseguimos solucionar os problemas que apareceram.

Chaff, renomado diretor, grande amigo de Haymitch, diretor de Winter sleep. Winter sleep, um dos filmes mais esperado do ano, estrelado por Jennifer (ou melhor, Jenny como ela prefere ser chamada), a estrela do momento, com uma tonelada de prêmios em seu armário. E estrelado por Peeta Mellark.

Como eu não juntei os pontos antes? Eu já tinha ouvido que uma parte das gravações de Winter sleep aconteceria na Europa. É óbvio, que Peeta está em Paris por causa do filme.

Voltamos para o hotel. Como temos o resto do dia livre, resolvemos passá-lo explorando Paris. Alex comprou até um guia para ocasião, como ele insistiu muito, afirmando que havia marcado no guia todos os lugares mais interessantes de Paris para se conhecer, e não iria visitar Paris sem seu guia, resolvemos voltar para o hotel para pegar este bendito guia. Antes que Alex nos deixasse loucos.

Alex vai atrás de seu guia, Liam e Sam vão buscar algumas coisas em seus quartos, Josh e eu ficamos no saguão esperando por eles.

Josh anota alguma coisa em um pequeno bloco de notas. Tenho notado que ele está escrevendo no bloco desde que saímos da reunião com Effie.

– Hum... – sento-me ao lado de Josh em um dos confortáveis sofás do saguão. – O que será isso? – falo de uma maneira divertida. – Será alguma carta de amor? Ou então...

Josh me olha sorrindo.

– Ou então? – me encara.

Estamos bem próximos um do outro, quase nos tocando. Encaro Josh por um longo minuto.

– O que você está escondendo? – aponto meu dedo indicador para ele.

Ele apenas me encara de uma maneira brincalhona.

– Já sei! É a letra de uma música. Acertei, não acertei?

– É, você acertou – finge decepção.

– Posso ver? – peço.

Josh me olha provocativo, levanta a mão direita com o bloco de notas.

– Se você conseguir pegar – provoca, divertido.

– Isso é um desafio, Josh? Saiba que sempre ganho desafios!

Me lanço sobre a mão de Josh. No entanto, ele é mais alto que eu e mais forte. Ele levanta-se e mantém o bloco de notas erguido.

– Quero ver você pegar? – brinca.

– Você mexeu com a pessoa errada!

Josh balança seu bloco de notas em minha frente. Porém, não consigo apanhá-lo. Quando percebo, já estou me lançando sobre Josh com todo o meu peso. Isso provoca uma queda.

Josh cai em cima do sofá, e me leva junto, como consequência caio em cima dele. Nos olhamos e caímos na gargalhada.

Em meio a minha gargalhada, meus olhos vão parar em determinado ponto.

Há alguns passos de nós, Peeta está parado, nos encarando.