Jardim de Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 18
Holà, Paris


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Bridget Black que me presenteou uma recomendação muito linda. Fiquei a semana inteira mega feliz por sua causa, Bridget, e estou falando sério. Muito, muito, muito obrigada, sua linda!!!!



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Enfio um enorme gole de café garganta abaixo, constatando que me esqueci de colocar o açúcar. Porém, isso não faz muita diferença, com o sono que estou meu paladar está completamente adormecido. Preciso acordar de uma vez! Meus olhos nem se abrem direito. Também o que se espera ao acordar às cinco da manhã?

Estou com tanto sono que posso dormir em pé.

– Ah, meu Deus, Katniss! – ouço o grito de alguém e leva alguns segundos para eu processar que a pessoa que está diante de mim, me olhando assustada, é Madge. – Você quer me matar do coração, garota? Por que não acendeu a luz?

Olho para ela um tanto confusa. Meu raciocínio está muito lento.

– Ah... esqueci – digo bocejando.

– A que horas você chegou ontem?

– Acho que às duas da manhã...

– Está até parecendo que eu moro sozinha, você nem para mais aqui, já faz quase duas semanas que não te vejo.

– Tenho andado muito ocupada... – falo abrindo a geladeira e pegando qualquer coisa para comer.

– Sério, Katniss, você precisa tirar uma folga está parecendo até um zumbi ambulante.

– Não estou não – mastigo com presa um bolinho que encontrei na geladeira.

– Quando foi a última fez que você teve um dia de folga? – indaga.

Evito encarar Madge, ela vai querer tocar naquele assunto... Resmungo.

– Nem faz tanto tempo assim que eu não tenho um dia de folga, esses dias mesmo... – contesto Madge.

– Quando? – insiste.

– Foi... – droga, não consigo lembrar quando tirei um dia para fazer absolutamente nada que tenha a ver com trabalho. – Foi...

– Viu, você nem consegue lembrar! Katniss – ela cruza os braços, sei que vai querer falar sobre aquilo. – Já tem mais de seis meses que você tem trabalhado feito uma louca, dia e noite, sem descanso, e quando tem um descanso até parece que você procura algo em que trabalhar. Katniss, eu sei que...

– Madge, eu estou atrasada! – a interrompo, ela vai começar a falar sobre aquele assunto.

– Ei, não vai tomar seu café da manhã?

Pego um pãozinho.

– Como no caminho – falo sem dar chance para Madge dizer qualquer coisa.

Passo mentalmente minha agenda para o dia de hoje, enquanto espero pelo elevador. Pela manhã, tenho que gravar um programa de TV; depois tenho um almoço de negócios em Panem, para discutir algumas propostas para filmes que recebi; à tarde, uma sessão fotográfica para a revista Star; à noite, uma entrevista junto com o pessoal do filme de Haymitch. Aliás, temos trabalhado bastante na divulgação do filme que vai estrear no próximo mês.

Minha carreira parece estar crescendo cada dia mais, estou recebendo um número cada vez maior de proposta para filmes, campanhas publicitárias, sem contar, que pelo menos umas duas vezes na semana Panem me liga para avisar que alguma revista quer fazer uma entrevista comigo. Já dei até entrevista para uma revista internacional! Sem falar nas ótimas criticas que venho recebendo por minha atuação. Realmente, eu estou em uma das melhores fases de minha carreira. Mas também tenho trabalho incansavelmente para conseguir isso. Tenho aperfeiçoado minha atuação, estudado muito. Estou me entregando de corpo e alma para meu trabalho, dando meu melhor.

O elevador chega finalmente. Entro rapidamente, não posso chegar atrasada para as filmagens do programa de TV. Respiro fundo, este será um longo, longo dia.

No entanto, as horas passam tão rapidamente que quando percebo estou me despedindo de meus colegas de gravação do filme, após a entrevista que acabamos de dar para um programa de TV. E Haymitch está ao meu lado, me pujando.

– O que foi? – questiono.

– Effie me ligou, ela queria falar com você, mas não conseguiu.

– Meu celular está sem bateria – descubro pegando meu celular na bolsa e constatando que está desligado. – O que ela queria?

– Algo sobre a companha da Sinsajo.

– Obrigado por avisar! Pode deixar que ligo para ela.

Effie tem me deixado maluca, nestes últimos dias, com a campanha da Sinsajo. Amanhã vamos viajar para Berlim (mesmo na vida de uma sem sorte como eu, coisas boas, às vezes, acontecem, como esta viagem com tudo pago para a Alemanha). Por falar nisso, ainda tenho uma mala por fazer. Melhor eu correr para a casa, já que são quase onze horas da noite. Preciso de uma boa noite de sono, estou exausta.

Praticamente me arrasto até o carro. Abro as janelas para deixar o vento entrar (e despertar um pouco de minha vontade de dormir). Ligo o rádio em uma estação qualquer, imediatamente reconheço a música de Finnick e Annie.

O mundo tolo não sabe quem é você.
Ele não te ver pois você está escondido em arrependimento.
Eu sei, eu te vejo.
Suas asas esplêndidas
.

A doce voz de Annie inicia a canção.

Não tenha medo, você consegue.
Se esforce um pouco, abra suas asas e voe para cima.

Finnick segue a música. Os dois tem um entrosamento perfeito.

Você brilha como o sol.
Apesar desse mundo cruel à sua frente.
Oh, tão brilhante...
Eu te amo.
Voe alto para que o mundo possa te ver.

Butterfly é um completo sucesso, assim como foi Lucy, a primeira música que os dois compuseram juntos.

Mesmo quando está doendo como uma flor murchando.
Mesmo quando você se sente deprimido, como uma árvore caída.
Eu acredito em você, você acredita em mim.
Nós acreditamos uns nos outros.

Ainda me lembro do dia que eles mostraram a música para mim.

Havia tido um longo dia de gravações, estava gravando uma participação especial em uma série de TV. Quando cheguei em casa (já passava da meia noite), levei um belo susto com Annie e Finnick, em frente a porta do meu apartamento, me esperando.

– O que vocês fazem aqui? E juntos? – será que eles tinham voltado?

Annie sorriu para mim.

– Terminamos de compor nossa música! – anunciou efusiva, agora, eu entendia a felicidade dela (já que havia estranhado ela estar feliz perto de Finnick), havia finalmente se livrado de trabalhar com a pessoa que ela mais detestava.

Mas, sei lá, eles aparecem na minha porta juntos, ainda era bem estranho e suspeito...

– Parabéns! – disse, tentando parecer animada. Não que eu não estava genuinamente feliz por eles, acontecia que estava tão cansada que era quase impossível ficar animada.

– Pensei que você ficaria mais animada! – disse Finnick.

– Mas, eu estou! Apenas estou cansada demais e morrendo de sono – bocejei.

– Tenho certeza que você vai ficar bem mais animada após ouvir nossa música!

Pensei até em pedir que eles voltassem no outro dia (realmente estava preste a desmaiar de sono). Contudo, se aqueles dois vieram juntos até meu apartamento (sabia do esforço de Annie para suportar Finnick), o mínimo que eu poderia fazer era atendê-los.

Os dois entraram no apartamento e mostraram a música para mim. A única coisa que eu conseguia pensar, enquanto eles cantavam era: essas são exatamente as palavras que eu precisava ouvir agora!

– Então? – perguntou Annie.

– Incrível! – respondi, quase sem palavras.

– Você gostou, então? – indagou Finnick, me olhando.

– Se eu gostei, eu simplesmente amei! É como se a música estivesse falando comigo!

Finnick soltou um suspiro de alívio e Annie deu um pequeno gritinho de felicidade.

– Acho que conseguimos, Annie! – comemorou Finnick.

– Sim, conseguimos! – disse Annie sorrindo para Finnick, pela primeira vez em meses, ela não estava brigando com Finnick ou usando um tom de indiferença, ela estava falando de uma maneira bem gentil com ele.

Olhei interrogativa para eles. Será que eles tinham voltado? De repente aquela ideia não me parecia tão absurda assim. Os dois não estavam brigando, e Annie estava tratando Finnick super bem, aquilo realmente era uma coisa rara.

– Katniss, você foi nossa inspiração para compor Butterfly – revelou Annie.

– Eu, o quê?

– Eu e Finnick estávamos procurando algo em comum, que nós dois gostássemos, então chegamos a você! Você é uma pessoa muito especial em nossas vidas, Katniss. E você é nossa borboleta, que precisa abrir suas asas e voar.

Olhei para Finnick e Annie, foi a primeira vez, em meses, que me permiti chorar livremente.

A música continua a tocar no rádio do carro.

Pegue o seu coração...
Abra as asas que você achou tão difícil fechar e voe para cima.

Você é tão bonito, é quase insuportável.
Embora o mundo vire as costas friamente pra você.
Oh tão deslumbrante...
Eu te amo.
Voe alto para que o mundo possa te ver.

Esse é o recado que Annie e Finnick deram para mim, não me deixar me abater e voar.

– Obrigada, Finnick e Annie – sussurro. – Vou abrir minhas assas e continuar voando.

Você brilha como o sol.
Apesar desse mundo cruel à sua frente.
Oh, tão brilhante...
Eu te amo.
Voe alto para que o mundo possa te ver
.

Quando chego em meu apartamento, ainda a voz de Finnick e Annie estão em meus ouvidos, adormeço com a imagem de borboletas voando sobre minha cabeça.

Como dormi demais, acordo bem atrasada, quase fico maluca tentando arrumar minha mala (nunca, nunca deixe para arrumar sua mala de última hora, você sempre vai esquecer alguma coisa e precisará constantemente desfazer a mala para colocar aquilo que esqueceu e refazer tudo de novo). Fazer mala deveria ser uma modalidade olímpica, porque é um verdadeiro esporte. Entretanto, eu consigo, isso até merece uma comemoração. Porém, isso fica para depois, já que preciso ir para o aeroporto. Para minha sorte, Effie já deve estar em Berlim a estas horas, já que ela e a produção viajaram um pouco antes. Senão fosse isso, Effie me daria uma bronca pelo atraso, ela é completamente obcecada por horário – agora entendo o porquê de ela e Haymitch se casarem.

Graças a um bom motorista de táxi e um pouco de sorte (milagrosamente não atravessamos nenhum congestionamento), chego na hora certa no aeroporto. Caminho apressadamente pelo aeroporto, tentando não chamar a atenção. No entanto, acredito que ninguém iria me reconhecer por aqui, estou com um óculos de sol enorme que cobre grande parte de meu rosto, um capuz que quase tampa todo meu rosto e o mais importante sem maquiagem alguma, assim fica difícil me reconhecerem. Pelo menos não sou a única com pressa por aqui, uma garotinha passa correndo e tromba em mim.

– Desculpa, moça – pedi a menininha recolhendo a revista que deixou cair no chão com a trombada.

– Não foi nada – falo ajudando a garotinha a se levantar.

A menina começa a correr novamente, porém ela demora tempo suficiente, antes de reiniciar seu caminho, para eu ver a capa da revista que tem nas mãos.

Lá está ele, com a camisa entreaberta, o cabelo desarrumado caindo de maneira sensual sobre o olho direito. Ele olha para a câmera e sorri entre o desafiador, sedutor e sarcástico. Extremamente sexy.

Droga, eu tinha que ver sua cara justo hoje! Isso deve ser um mau presságio! Por que raios meu ex-namorado é a super celebridade Peeta Mellark! Seria tão mais fácil esquecer sua existência, se eu não topasse com sua cara a cada meio segundo, nos jornais, na revista, nos sites, na TV, isso é praticamente uma praga, a praga Mellark.

Eu queria ser madura suficiente para reagir a tudo isso de uma maneira melhor. Porém, ainda não cheguei neste estágio. Faço um esforço supremo para não me lembrar da existência de Peeta (o que não adianta muita coisa, já que seu rosto está por todos os lugares). Tudo o que mais desejo é me esquecer de Peeta, da dor, da magoa. Mesmo depois de seis meses, ainda é difícil para mim, por isso evito falar com Madge sobre o assunto, ou qualquer outra pessoa. Não quero pensar nisso, porque se eu pensar sei que será como colocar mais sal nestas feridas.

Odeio ainda mais Peeta, por ele ter me feito acreditar no amor novamente, não ter medo de amar. Por isso, nunca mais abrirei meu coração, deixarei alguém se instalar nele, como Peeta se instalou. Eu já abri meu coração duas vezes, e nas duas, sai completamente machucada. Para mim chega dessa história de amor ou relacionamentos. Isso é complicado demais para uma pessoa como eu. Tudo o que quero agora é me focar exclusivamente em minha carreira e em mim. Chega dessa coisa chamada amor em minha vida. O que isso me trouxe? Dor.

– Katniss! – uma voz animada interrompe meus pensamentos.

– Sam! – sorrio para ele. – Onde estão os outros?

– Foram comprar algo para comer – responde. – Ah, ali estão eles – aponta para os outros três rapazes, que se aproximam de nós.

Liam, Alex e Josh acenam para mim.

Effie e sua incrível capacidade de convencimento (ou devo dizer persistência?). Ela simplesmente cismou que tinha que ter a banda mais misteriosa da atualidade em seu comercial. E fez de tudo para convencer os garotos a participarem do comercial de perfume da Sinsajo. Eles resistiram o quanto puderam, mas Effie é Effie, no final, acabaram vencidos pelo cansaço, e aceitaram fazer parte da campanha da Sinsajo. Com algumas condições, óbvio, como não revelarem seu rosto em momento algum, nem mesmo para o pessoal da produção ou para Effie.

– E ai, garotos, animados para conhecerem Berlim?

Os quatro se entreolham.

– Effie não te contou, Katniss? – indaga Josh.

– Contou o quê?

– Mudança de planos, vamos para Paris – responde Alex.

Sinto um escalafrio, Paris? Eu ouvi corretamente? Ele disse Paris?

– Paris? – olho interrogativa para os quatro rapazes que estão na minha frente. – Por que Effie vai nos mandar para Paris?

– Ela disse que esta sempre foi a primeira opção dela, só iria gravar o comercial em Berlim porque algo não havia dado certo. Mas, agora a questão se resolveu e ela pode seguir com o primeiro plano – explica Josh.

Tento processar esta nova informação. Eu vou para Paris. Isso é muito estranho, por um lado eu sempre quis ir para Paris, por outro, certa pessoa me prometeu que iria ser minha Paris... Não, Katniss, não deixe o idiota do Peeta Mellark estragar sua viagem! Você sempre quis ir para Paris, não vai estragar isso por causa de um babaca como ele, não mesmo!

Sorrio para os garotos.

– Ótimo, então, vamos para Paris! – falo em um tom animado.

– Esse é o espírito, Katniss! – fala Sam, mostrando suas encantadoras covinhas.

Algumas mulheres passam por nós, daqui a pouco irie me afogar nesse rio de baba que está se formando aqui.

– Vamos, estamos quase atrasados – diz Liam.

E lá vamos nós. Dane-se Peeta, vou aproveitar Paris. E ainda ao lado destes quatro verdadeiros deuses do Olimpo. Quem se importa com Peeta? Eu que não.

Logo um dos assistentes de Effie aparece com as passagens para Paris, e as instruções sobre o hotel em que irei ficar.

Temos uma longa viagem. Onze horas dentro de um avião é para deixar qualquer um exausto, sem falar no fuso horário!

Chegamos em Paris de manhã. As ruas da cidade ainda estão sem movimento. E só colocar os pés em Paris que sou remetida a outra realidade. Porém, não dá para ver muito da cidade, já que o taxista nos leva imediatamente para o hotel. E que hotel! Ele é simplesmente incrível, parece que estamos em outro século, ao vê-lo por fora, imponente, com detalhes que parece mais uma obra de arte do que apenas uma construção. Já por dentro, ele tem um ar elegante, sofisticado e diria até moderno.

– Uau, Josh! – exclamo admirando o saguão do hotel. – Aquele não é um quadro famoso, Josh? – aponto para uma pintura que me é familiar.

Josh se vira para olhar na direção que eu aponto.

– Ah, aquele quadro é o...

Não ouço o que Josh diz, porque neste momento desejo imensamente que isso seja um sonho e que eu ainda esteja no avião.

Peeta Mellark acaba de sair de um dos elevadores.

Não, deve ser alguém parecido com ele. Quais são as possibilidades dele estar em Paris e no mesmo hotel que eu? Tipo uma em um bilhão! Não, o fuso horário deve estar fazendo efeito em mim. É claro, que é isso! É tudo culpa do fuso horário, maldito fuso horário.

O rapaz que é incrivelmente parecido com Peeta se aproxima de nós.

– Peeta? – diz Josh surpreendido.

Por favor, que Josh também esteja tendo o mesmo problema de fuso horário que eu!

– Josh, Katniss – cumprimenta ele.

Droga, droga, droga... Por que comigo? Por quê? Mundo o que foi que eu te fiz? Isso é castigo por eu ter sido uma pessoa má em minha vida passada? Só pode ser isso.

Ótimo, tudo o que mais precisava neste momento era encontrar o cretino do meu ex-namorado.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do capítulo? Quem diria que a Katniss iria para Paris e iria encontrar Peeta? O que será que ele está fazendo em Paris e no mesmo hotel que ela? E a Katniss não foi sozinha , foi acompanhada da banda de super gatos misteriosos, isso sim é que ir a Paris em grande estilo! O que será que os aguarda em Paris?
A música que a Annie e o Finnick fizeram para a Katniss (é claro que eles não fizeram de verdade, mas vamos fingir que eles escreveram rsrsrsrs) se chama Butterfly, é do grupo Loveholics. Link para ouvir a música:
http://www.youtube.com/watch?v=WCH8lSKBCm0