As batidas na porta cessam. Ainda estou nos braços de Peeta. Sem que dê tempo para que nos separemos a porta de abre.

– Eu sabia! – diz com um olhar malicioso, entrando na sala.

– Cato, seu idiota! – fala Peeta, controlando-se para não esmurrar o amigo. – Você quer nos matar do coração? É isso?

– Peeta, se eu tivesse o poder de matar alguém do coração, eu já tinha matado certas primas...

Olho para Cato que anda pela sala calmamente.

– Então, vocês dois, hein? Um pouco óbvio, não? Quando vocês anunciaram que haviam se separado, eu sabia que vocês não poderiam ficar longe por muito tempo. Eu ainda me lembro dos bastidores do filme... O pobre Darius quase tinha que jogar água em vocês para apagarem o fogo.

– Ah, cala boca, Cato! – digo farta com as asneiras de Cato.

– Eu só estou falando a verdade – dá os ombros.

– Mas o que você está fazendo aqui? – questiona Peeta.

– Procurando um lugar calmo em que duas primas não queiram me assassinar com os olhares...

– Elas deveriam te assassinar – resmungo.

– Cato, Cato... você está precisando de algumas aulas de como fugir em situações como essa. Eu sou especialista nisso! Que tal se eu te ajudar, e você, digamos que... tem uma leve amnesia sobre o que viu nesta sala.

– Amnesia? Eu? Mas por que eu teria uma amnesia?

– Cato... – Peeta fala com sua voz persuasiva. – Vamos lá, eu te ajudo com a Glimmer e a Foxface – vai até a porta e pega na maçaneta.

Cato parece um pouco em dúvida, porém acaba por aceitar o convite. Um convite bem tentador, diga-se. Ele vai até a porta.

– Ah, Katniss, acho melhor você dar um jeito na Annie... ela está bem animadinha – diz saindo da sala.

Sabia que Annie e bebida não fazem uma boa combinação. O que será que minha amiga maluquinha andou aprontando? Seja lá o que for o melhor é ir conferir, antes que alguém saia ferido – e não estou dizendo isso metaforicamente.

Volto para a festa. Procuro atentamente por Annie. Meus olhos vão até o buffet, fazendo meu estômago me lembrar que não como a mais de oito horas. A equipe de preparação ainda me paga, quem deixa uma garota quase morrer de fome só para entrar em um vestido? Concentre-se, Katniss, você precisa salvar a Annie. Foco! O que é difícil, já que meu estômago insiste em me levar até o buffet. Não, não pense em comida.

Meus olhos saem do tentador buffet e voltam para a missão: encontrar Annie.

Finalmente, a encontro, ela está perto da sacada. Pelo menos não tem muitas pessoas por perto neste lugar. Ela está com um copo de bebida na mão e conversar com... uma planta. Sério, uma planta? E a onde está o Finnick? Quer saber, deixa para lá, melhor resgatar a Annie disso, antes que ela ganhe fama de garota das plantas.

– Eu sei, eu sei – ri.

– Annie! – tento chamar sua atenção. Porém, ela parece estar muita concentrada em sua conversa com a samambaia. – Annie! – pego em seu braço.

– Ah, Katniss! – finalmente ganho sua atenção. – A Samam estava me contando um segredo.

– Samam?

Annie sorri para a planta.

– Annie, quanto você bebeu?

– Só um pouquinho... – ri.

– Um pouquinho? É claro! Me dá este copo! – falo pegando o copo de bebida da mão de Annie.

– Katniss, sua má!

– É, eu sou uma pessoa muito má, tão má que devo ter incendiado uma cidade na vida passada para ter que aguentar você bêbada.

Olho ao meu redor, como vou tirar Annie daqui sem chamar muito a atenção?

– Katniss! – olho para Delly que se aproxima de nós. – Ela está bem?

– Só está bêbada – respondo. – Preciso levá-la para casa.

– Quer ajuda?

– Você pode me ajudar a tirar ela daqui?

– É claro.

– Não podemos chamar muito a atenção... Lá fora tem um batalhão de jornalistas e paparazzi prontos para atacar... – olho para Annie que parece alheia a todos e a tudo, apenas concentrada em sua filosófica conversa com a planta.

– Você sabe o segredo do universo? Jura? Me conta! – diz Annie para sua nova amiga Samam.

– Precisamos sair daqui o mais rápido possível – falo.

Delly me ajuda com Annie, graças a sua ajuda podemos sair da festa sem que ninguém nos note.

– Obrigada, Delly – digo após colocar Annie no carro.

– Não foi nada, Katniss – sorri. – Já trabalhei com celebridades que Annie perto delas seria uma garota ingênua, estou acostumada com isso.

– Eu realmente não sei o que teria feito sem você!

Entro no carro. Peço para o motorista de Annie nos levar até sua casa.

Annie acaba dormindo no carro. Eu e o motorista de Annie a levamos até seu quarto.

Olho para Annie. Ela parece uma garotinha travessa dormindo, quando dormimos parecemos tão jovens.

Com Annie a salvo, posso ir embora, eu estou precisando tirar este vestido e estes sapatos que estão fazendo purê de meus pobres pés.

Que noite maluca! Precisei atuar como ex-namorada de meu namorado (isso ainda vai me dar um nó no meu cérebro), ganhei o prêmio de melhor casal junto com meu namorado/ex (meu primeiro prêmio! Ainda não estou acreditando que ganhei um prêmio), salvei Annie de mais um escândalo.

Mereço uma boa noite de sono.

Com muita dificuldade, quase durmo no elevador mesmo (só não durmo porque no outro dia os vizinhos iriam fazer um protesto), chego em meu apartamento.

Vou me livrando dos meus sapatos, do meu vestido pelo caminho até a minha cama e praticamente desmaio na cama. Estou cansada demais para fazer qualquer movimento. Durmo.

Acordo com o sol batendo em minha cama. Olho para o relógio em cima do criado mudo: 11:32. Praticamente hibernei.

Haymitch nos deu o dia de folga. Pelo menos ele sabe que os atores após um grande evento estão praticamente incapacitados no dia seguinte. Vou passar meu dia debaixo das cobertas em meu confortável sofá, assistindo a algum filme. Não quero fazer nada. Foi Annie que bebeu, porém, acho que fui eu que fiquei com ressaca em seu lugar. Preciso ligar para ela, mas acredito que ela não queira qualquer telefonema uma hora destas, deve estar com uma ressaca daquelas.

Resolvo olhar as notícias, enquanto tomo meu café da manhã. Madge não está, deve estar gravando. Será que temos um grande escândalo para hoje? Acho que não. Pelo menos as notícias não são tão alarmantes. Alguns sites colocam meu quase tombo como um dos destaques da noite. Outros enfatizam o prêmio de melhor casal que eu e Peeta ganhamos.

Peeta Mellark e Katniss Everdeen podem ter se separados na vida real, mas ainda continuam tendo uma química perfeita. Prova deste fato foi a premiação de melhor casal. Diz um site.

Amigos? Depois da ruptura parece que o ex-casal resolveu seguir suas vidas. Os dois subiram juntos para receber o prêmio de melhor casal. Especula outro site.

Caindo nos braços do príncipe da nação. Anuncia com letras enormes a notícia um site de fofocas com tendência ao exagero. Um modo de associar minha queda com meu ex-namorado.

Parece que desta vez, resolveram me dar um pouco de folga. Ou Gale e Seneca devem ter mexido seus pauzinhos e evitado que coisas mais absurdas fossem publicadas.

Sem nenhum grande escândalo, posso aproveitar meu dia de folga. Querido sofá, prepara-se porque aí vou eu. Vamos construir lembranças memoráveis!

No entanto, o som do meu celular me separa de meu querido sofá. Me sinto como a Rose de Titanic sendo separada do Jack. O celular insiste em tocar. Adeus, meu querido sofá. Eu vou mais eu volto, não serei como a Rose que deixou o Jack morrer porque não deixou que ele ir na prancha de madeira (tinha espaço suficiente para duas pessoas ali, eu vi o que você fez, Rose!). Ninguém vai me separar de meu amado sofá.

Pego meu celular.

– Katniss! – a voz de Peeta soa um tanto quanto ansiosa.

– Peeta? Pensei que estava trabalhando uma hora destas...

– É... – ele ri. – Não, tenho o dia de folga, assim como você. O que acha de nós almoçamos juntos?

– Sem paparazzi por perto?

– Sim, sem paparazzi. Só você e eu. Eles abandonaram o seu posto de observação. Não estão mais acampados na frente da minha casa – diz divertido.

– Hum...

– Agora não precisamos mais nos esconder em armários – murmura. – Não vai aproveitar esta oportunidade, hein? Sem paparazzi, só você e eu... Tem ensopado de carneiro com ameixas secas...

– Peeta Mellark, não me tente com ensopado de carneiro!

– E tem bolo de chocolate de sobremesa.

– Droga, você me ganhou no ensopado de carneiro! Me espere aí, estou indo para sua casa! E nada de me enganar e não fazer o ensopado de carneiro, estou de olho em você, Peeta Mellark!

Peeta ri.

– Mas na verdade, eu não estou em casa...

– Não? – digo enquanto pego alguns envelopes que estão jogados no chão. O porteiro deve ter trazido quando eu estava dormindo. – Então, a onde você está?

– Hum... – solta uma pequena risadinha. – Advinha?

– Deixa eu ver... Pode me dar uma dica?

Começo a ver os envelopes, a maioria são contas. Um deles me chama a atenção. É um envelope vermelho, que não possui remetente, apenas está escrito meu nome. Isso é estranho. Muito estranho.

Começo a abrir o envelope...

– Katniss?

Olho atônita para as letras que foram retiradas de recortes de revistas. Apenas uma frase:

Morra, Katniss Everdeen.

– Katniss? – a voz de Peeta soa preocupada. – Aconteceu alguma coisa? Katniss?

Estou completamente atordoada para dizer qualquer coisa. Uma foto minha cai do envelope, nela meu rosto está todo riscado com tinta vermelha.

– Katniss? Responde! – pede.

A campainha começa a soar.