The Real Effect escrita por LeoPG


Capítulo 4
Capítulo 4- Como Esquimós


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente me desculpem se não respondi os comentários do segundo capítulo, realmente me perdoem. O farei assim que possível. Bem, quero agradecer aos que comentaram no último capítulo, de verdade isso me incentiva pra caramba. Aos novos leitores eu espero mesmo que gostem das minhas fics em especial essa que é minha favorita no momento... Modéstia, saudades... Brincadeira. Enfim, espero que gostem do capítulo que não ficou lá essas coisas já que escrevi ele praticamente todo por celular então me perdoem mesmo caso encontrem algum erro ou frase construídas de maneira errada ou sem coerência. Enfim, é isso... Boa leitura.



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~notas talvez se serem lidas pode ser legal~

Pov. Katniss

Sentei-me em minha cama e suspirei fundo sentindo seu cheiro impregnar em minhas narinas. Por conta do frio que eu sentia ele havia me emprestado sua jaqueta para que eu usasse e lhe devolvesse no dia seguinte, eu fui contra a idéia alegando que estava tudo bem mas Peeta é insistente o que me levou a permitir que ele ajeitasse sua jaqueta em meus ombros enquanto andávamos no meio de toda aquela multidão no shopping esperando nossos amigos saírem da sala do cinema.

Peeta ficou bem abalado com o que aconteceu, ficamos sentados naquele chão gelado por bastante tempo até que ele se acalmasse. Ele parecia envergonhado quando nos levantamos e saímos dali, ele sente vergonha de ser assim... Eu não posso julga-lo por isso, deve ser difícil ser obrigado a conviver com essas lembranças que o assombram e que parecem querer continuar com ele pelo resto de sua vida.

Falando sobre isso eu nunca havia pensado em como poderia ter sido a vida de Peeta antes de tudo o que aconteceu com ele no final do ano passado, como ele se comportava... Se ele era feliz... Tentei imaginar um Peeta sorridente sem ter o coração partido pela vida... Ou então ele poderia ser um grande chato e mal humorado... Mas isso é impossível de se pensar.

Eu queria descobrir tudo isso mas não posso perguntar a ele sem mais nem menos ou eu posso acabar assustando-o, mas existe uma pessoa que pode me responder tudo isso a mim e que posso confiar que não vai me enrolar. Fiquei pensando sobre isso até o sono e o cansaço me vencer e eu acabar dormindo ainda com sua jaqueta envolta de meu corpo, como se o garoto doce e gentil estivesse deitado ali comigo para uma noite tranquila sem qualquer indício de sonhos, sejam eles bons ou ruins.

Acordei com a luz do sol adentrando pela minha janela e, preguiçosamente me arrastei até o banheiro para fazer minha higiene e trocar de roupa. Sai do banheiro e vi a jaqueta de Peeta sobre minha cama e, mais do que de pressa a vesti novamente e cheirei seu colarinho apenas para sentir seu cheiro inebriante novamente. Eu estava viciada naquele cheiro, estava viciada em Peeta Mellark.

Eu gosto tanto quando Peeta me abraça daquela maneira protetora que só ele sabe, talvez pelo medo de perder mais alguém que signifique muito para ele. Ao menos eu acho que significo alguma coisa para o loiro. Balancei minha cabeça, não era hora para pensar em besteiras, ainda mais quando meu estômago resolveu dar o ar da graça e fazer um barulho chato. Desci as escadas pulando os degraus como eu fazia quando era uma criancinha, talvez eu ainda seja como uma.

Meu irmão já estava sentado na mesa se servindo e minha mãe estava se sentando, ambos ainda de pijama. Como hoje minha mãe não precisa ir trabalhar ela anda pela casa parecendo um zumbi com o cabelo todo desarrumado e meu irmão também não é muito diferente, a única coisa que difere é que meu irmão não precisa estar de folga para fazer isso.

–Bom dia mãe- disse dando um beijo em sua bochecha, fiz o mesmo com meu irmão- Bom dia mano.

–Bom dia- disseram em uníssono, me sentei a cadeira e comecei a devorar tudo o que pude. Pães de queijo da padaria Cresta, café com leite, bacon... Um banquete para meu estômago sem fim.

–Querida, coma mais devagar- disse minha mãe me repreendendo com o olhar, Finnick arrotou e deu risada parecendo um idiota, o encarei com uma sobrancelha arqueada.

–Está rindo do que, anormal?!- indaguei, apesar da minha ótima noite de sono e de meu humor estar lá em cima não estou com a mínima vontade de ouvir as provocações e implicâncias do meu querido irmão.

–Estava pensando... Espero que Peeta nunca a veja comendo assim parecendo um leão que não come por meses... Vai acabar assustando meu cunhadinho- disse e ele mesmo explodiu em uma gargalhada, o olhei feio e ele riu ainda mais.

–Espero que Annie também não escute essa sua risada, se não vai pedir para o namorado proteger ela- cutuquei-lhe e ele parou de rir de supetão me encarando incrédulo.

–Annie tem namorado?- perguntou pigarreando tentando disfarçar seu ciúmes eminente, assenti e ele fingiu não ligar mas se bem o conheço sei que ele está se corroendo por dentro.

–Vejo que acabou a graça, uh- eu disse e ele revirou os olhos, sua mão coçou sua barriga desnuda em uma irritante mania, ele sabe do ódio que eu tenho do som que isso faz.

–Vejo que acabou a graça, uh- disse inutilmente tentando imitar minha voz.

–Está mesmo me imitando?!

–Está mesmo me imitando?!- repetiu, minha mãe encarava toda a cena sorrindo e revirando os olhos.

–Eu amo Annie Cresta- eu disse lhe mandando um sorriso vitorioso, o mesmo vacilou o sorriso.

–Dormiu bem, maninha?- perguntou mudando de assunto, mostrei-lhe a língua.

–Crianças... Eu preciso contar algo a vocês, duas coisas na verdade....- minha mãe disse mordendo o lábio inferior- Os tios de Peeta me ligaram e parece que ele teve um flash durante a noite.

–Ele está bem?- perguntei e ela assentiu.

–Coitado- murmurou Finnick, ele e Peeta adquiriram uma linda amizade. Com Cato a mesma coisa- Mas ele está melhor?

–Um pouco, as memórias dele devem estar voltando aos poucos- ela disse suspirando.

–Qual era a outra coisa?- perguntei e ela parecia se animar um pouco mais- Hm... Vejo que é bom isso, já ficou toda sorrisos...

–Katniss!- me repreendeu- Vocês conhecem o John, não é mesmo?- concordamos e ela continuou- Ele me convidou para sair essa noite e...

–Nome completo, endereço, telefone, CPF, intenções...- Finnick começou a dizer fazendo com que eu e minha mãe gargalhássemos- Não riam, estou falando sério!

–Deixa de besteiras, Finnick!- disse mamãe- Só queria avisa-los de que irei demorar um pouco essa noite e, bem, se quiserem convidar seus amigos para virem ver um filme... Só não coloquem o prédio para baixo, por favor!- dei risada- É sério, o síndico está de olho na gente desde aquela vez do último aniversário que tivemos aqui.

–Está falando da festa surpresa que fizemos para a senhora?- perguntou Finnick rindo, o acompanhei me lembrando da cena da minha mãe vomitando em cima do síndico do nosso prédio, Seneca Crane nunca mais quis ver minha mãe nem se estivesse pintada de ouro após aquela cena.

–Enfim, Finnick, não entraremos em detalhes- ela disse envergonhada, digamos que minha mãe seja um pouco fraca para bebidas- Chamem Peeta, Clove, Cato e até Annie. Peçam uma pizza... Eles podem dormir aqui se quiserem, podem espalhar os colchões na sala.

–Claro- eu disse- Mãe, posso usar o telefone? Quero falar com Peeta.

–Não precisa nem pedir, querida- ela disse.

Quem atendeu foi Annie, perguntei a ela se estava tudo bem com o loiro e ela me contou tudo sobre seu surto durante a madrugada. Desviei um pouco o assunto até chegar onde eu queria, o passado de Peeta.

Ela me disse para esperar um momento em que eu e ela pudéssemos ficar sozinhas para me explicar tudo e concordei em conversarmos no dia seguinte. Depois disso ela desligou pedindo para que eu fosse tentar convencer Peeta a sair do quarto e assim o fiz.

~~~X~~~
–-(Pov. Peeta)--

Fotos e mais fotos espalhadas pelo tapete branco ao meu redor enquanto eu afundava em minhas lágrimas particulares, o copo de água que meu tio trouxe para mim estava estraçalhado e partido em cacos de vidro perto do meu guarda roupa. A camiseta que eu vestia estava rasgada e molhada de suor grudada ao meu corpo.

Aquela cena se repetia milhares de vezes em minha mente, cada uma de uma maneira diferente como se fosse algo com a intenção de me deixar mais confuso do que já sinto que estou. O quarto parece rodar entre as quatro paredes claras enquanto eu sentia que meu estômago fazia o mesmo me fazendo correr até o banheiro e colocar para fora tudo aquilo que comi na noite passada.

Voltei para minha cama e afundei meu rosto no travesseiro, ouvi alguns passos vindos do corredor e apenas esperei que ouvisse a voz da minha tia me perguntando se estava tudo bem, se eu já estava me sentindo melhor... Mas essa voz não veio, muito pelo contrario.

–Peeta- me levantei correndo e comecei a arrumar tudo da melhor maneira que eu consegui, joguei as fotos de volta para a caixa e a afundei em meu guarda roupa cortando meu pé descalço no processo- Peeta, abre aqui... Por favor...- tirei a camisa rasgada e cheirando a suor e a joguei em um canto qualquer e coloquei uma limpa e finalmente abri a porta.

–Peeta...

–Olá, Katniss- eu disse ofegante, novamente senti meu estômago embrulhar e corri de volta para o banheiro.

–Peeta- ouvi sua voz pronunciar meu nome docemente enquanto se abaixava ao meu lado no chão gelado do banheiro- Se acalma...

–Foi minha culpa- não reconheci minha própria voz, ela estava rouca e minha garganta doía.

–Não diga besteiras, Peeta- ela disse, senti suas mãos agarrarem meu braço e me ajudou a levantar- Vamos...

Passei meu braço por seus ombros e me apoiei ali, seus braços circularam minha cintura me puxando para ela. Em um paço em falso escorreguei fazendo um ruído irritante ecoar pelo banheiro enquanto Katniss tentava nos equilibrar, me soltei dela para que não me acompanhasse na queda.

–Não ria de mim, pelo amor...- eu disse encarando a pia.

–Você está bem?-perguntou, encarei seu rosto e ela estava mordendo o lábio inferior segurando talvez a vontade de dar risada.

–Estou- eu disse, ela me encarou divertida e um grunhido escapou pelos seus lábios- Pode rir vai...

O som de sua gargalhada preencheu todo o banheiro e sorri ao vê-la rir da situação que me encontrava. Seus cabelos escuros caiam em ondas ao redor do seu rosto até um pouco abaixo de seus ombros, ela sorria mostrando seus dentes incrivelmente brancos e em seus olhos haviam um brilho puro e foi impossível não acompanhar sua risada.

Eu poderia passar o tempo que fosse no chão gelado daquele banheiro só para vê-la daquela forma espontânea, sem as pessoas ao redor de nós... Sem toda essa história do meu trauma... Ali estava apenas Peeta e Katniss, sendo eles mesmos. Quando percebi sua mão estava estendida em minha direção.

–Vem, eu te ajudo seu desastrado- disse ainda se recuperando da risada, segurei sua mão e em um puxão Katniss estava sobre meu corpo e voltamos a rir como bobos- Seu bobo! Você me paga, Mellark!

–Uma vingança por ter dado risada da minha cara- eu disse e lhe dei um abraço apertado- Vejo que gostou mesmo da minha jaqueta- eu disse e ela corou ainda sorrindo, ela vestia a jaqueta que eu havia lhe emprestado noite passada.

–Ela é bem quenteinha... E eu gosto do seu cheiro- disse baixinho como se fosse um segredo, seus olhos encararam os meus... Nossos rostos a centímetros de se tocarem... Nossa respiração se misturavam- Peeta...

–Gosta uh?- perguntei inebriado com seu cheiro, meu olhar caiu em sua boca e antes que eu pudesse raciocinar nossos lábios quase se encostaram até que um barulho se fez presente e Annie surgiu na porta do banheiro.

–Está tudo... Oh, acho que eu atrapalhei algo, não é mesmo?!- indagou sorrindo maliciosa, Katniss se levantou em um rompante e me ajudou a fazer o mesmo.

–Não é o que estava pensando- disse Katniss rápido, parei para encarar seu rosto que mantinha uma expressão tímida e suas bochechas estavam vermelhas- Nós só... Eu... Ér... Caímos...

–Tudo bem, calma- disse Annie sorrindo- Está melhor, Peeta?

–Um pouco- eu disse e ela sorriu.

Saímos do pequeno banheiro que fazia parte do meu quarto e me sentei na cama, Annie se sentou a minha frente e segurou meus braços pegando a pomada que estava sobre meu criado e espalhou pelo meu braço que ainda tinham algumas cicatrizes de queimaduras.

Katniss andava pelo quarto observando cada detalhe, observando os quadros pintados por mim antes mesmo do acidente acontecer. Ela parou em um em especial a qual era o desenho de um tordo, um pássaro raro de se ver a qual o mesmo repetia sons que ouvia.

–Nossa... Foi você quem pintou?- perguntou sem desgrudar os olhos da tela, murmurei que sim e ela suspirou- É lindo... Eu amo tordos, acho eles pássaros incríveis.

–Prim gostava de admira-los, mas como era bem raro de se ver ela vivia pesquisando na internet fotos e eu acabei pintando esse quadro para ela de Natal- eu disse- Foi um dos quadros que não foram queimados por um... Milagre.

–Entendo e sinto muito- disse me olhando com pesar, sussurrei-lhe um tudo bem enquanto Annie me deu um beijo na bochecha e saiu pela porta deixando-nos sozinhos- Meu padrasto, o Darios, amava esses pássaros.

–São realmente lindos- eu disse- Bem, sem querer ser rude nem nada mas... O que faz aqui?

–Vim te chamar para um passeio no parque, que tal?- perguntou sorri com sua proposta e ela se sentou a minha frente- Eu deixo você pagar um cachorro quente e um delicioso sorvete para mim.

–Apesar de ser uma proposta tentadora não estou muito afim de sair hoje- eu disse desviando o olhar para o lençol que estava sobre a cama- Eu não quero ter um flashback no meio da rua e adicionar mais pessoas a lista de quem me acha estranho- senti seus dedos macios segurarem meu rosto com firmeza me fazendo encara-la.

–Não pense assim, Peeta- disse com a voz doce- Qualquer eu estarei lá, e eu sei que você não é louco, o que os outros pensam não importa.

–Tem razão- eu disse suspirando- Só você me importa- eu disse lhe mandando um breve sorriso.

Katniss corou bastante com o que eu disse e desviei o olhar novamente para o lençol em minha cama, senti seus pequenos braços me envolverem e aos poucos deixei que as lágrimas rolassem por meu rosto molhando sua camisa. Afundei meu rosto em seus cabelos e ela fez carinho em minha nuca.

Katniss deixou que eu chorasse em seu ombro por longos minutos até que os soluços se dissipassem, eu estava trêmulo e nem havia percebido o momento em que agarrara as costas de Katniss tentando traze-la para mais perto do meu corpo. Eu precisava desabafar, e sei que poderia confiar minha vida a morena. Suspirei antes de dizer o que a meses estava entalado em minha garganta.

–Eu sinto falta deles- sussurrei ciente de que ela havia ouvido, suas mãos alisaram minhas costas- Eu queria ter ido no lugar deles.

–Não diga besteiras, Pee- disse se afastando para me encarar no fundo dos olhos.

Eu adorava fazer isso, encarar aquela tempestade cinza me acalmava e fazia me sentir seguro. Katniss possuía um jeito de tentar mascarar o que está pensando mas era só olhar bem no fundo de seus olhos que podia descobrir.

–É sério, Kat- eu disse após alguns segundos em silêncio- Eles iriam superar minha morte. Meus irmãos cresceriam fortes, meus pais passariam o resto da vida cuidando deles e minha patinha se tornaria uma excelente veterinária.

–Mas e você, Peeta?!- indagou parecendo um pouco desesperada.

–Ninguém precisa de mim, Katniss.

Seus olhos fitaram os meus em um misto de preocupação e emoção, uma pequena lágrima escorreu por sua bochecha e sequei com os dedos.

–Eu...- ela balbuciou após alguns minutos em completo silêncio- Eu preciso... Eu preciso de você, Peeta! Eu preciso... Eu...- Katniss começou a chorar e a puxei para meu colo afogando seus cabelos até que seu choro se esvaísse aos poucos.

–Nunca mais diga isso- disse sem me encarar- Eu te proíbo de dizer algo assim novamente.

–Tudo bem, me desculpe- eu disse- Ainda quer aquele cachorro quente?- seus olhos brilharam esquecendo de segundos atrás.

–Sério?

–Claro- ela me deu um sorriso lindo e distribuiu milhares de beijos por meu rosto.

–-------

Ficamos sentados abaixo de uma árvore no maravilhoso parque onde meus pais me traziam antigamente. Uma nostalgia me atingiu mas logo tratei de afastar esses pensamentos antes que acabasse chorando de novo. Comemos um cachorro quente, quer dizer, Katniss comeu nosso cachorro quente.

Quando acabamos, coloquei os papeis e as latinhas de lado e me deitei na grama e Katniss apoiou a cabeça em minha barriga e fiquei fazendo carinho em seus cabelos e aos poucos o sono foi me levando... Tentei lutar mas minhas pálpebras pesavam e cedi deixando a escuridão me levar...

"-Peet! Você não me pega!- minha pequena irmã gritou enquanto eu corria atrás dela- Você é muito lerdo!

–Peetinha não pega ninguém- cantarolou meu irmão mais novo correndo ao lado de sua "cópia" idêntica.

–Eu vou pegar vocês, suas pestes!- gritei indo na direção do meu irmão, Zyan, que se escondia atrás de uma árvore junto ao meu outro irmão, Peter- Vem aqui Zyan!- gritei pegando-lhe de surpresa e o joguei sobre meus ombros fazendo com que ele gargalhasse.

–Crianças!- ouvi minha mãe gritar- Venham comer!"

–Peeta...- ouvi uma voz me chamar ao longe, abri meus olhos e me deparei com Katniss sorrindo para mim- Cochilou legal, em?!

–Me desculpa- eu disse coçando meus olhos, me encostei na árvore sentado e Katniss apoiou a cabeça em meu ombro fazendo com que um sorriso involuntário tomasse conta do meu rosto.

–Está tudo bem- ela disse- Ei! Olha aquilo!- apontou para uma árvore próxima.

–O que?

–Um casal de tordos!- forcei minha visão e finalmente os vi sobre o galho- Meu Deus! Faz tanto tempo que não vejo um!

–Prim iria adorar- eu disse sentindo meu peito se apertar ao lembrar da minha patinha- Ela provavelmente assobiaria alguma coisa pra eles cantar de volta.

–Vou tentar- Katniss desencostou a cabeça do meu ombro e soltou um assobio, antes mesmo que ela pudesse acabar eles começaram a reproduzir aquele agradável som- Eu não acredito!

Observei a linda garota ao meu lado que sorria abertamente em direção aos pássaros, ela parecia tão tranquila e feliz que eu gostaria de congelar aquele momento que estávamos passando juntos. Katniss parecia uma criança, vagamente a imagem de Prim sorrindo invadiu minha mente e tudo o que pude fazer foi sorrir também com a breve lembrança.

Eu vivia tendo lembranças do passado mas raramente elas eram boas como as que tive hoje, geralmente elas envolviam fogo, brigas e até gritos desconexos. Sai de meus devaneios quando senti algo macio tocar minhas bochechas, Katniss havia deixado um simples beijo ali.

–O que...

–Obrigada por vir comigo aqui hoje- ela disse- Adoro sua companhia. Promete estar sempre comigo?- perguntou olhando no fundo dos meus olhos, o azul se misturou com os cinzas tempestuosos e lhe mandei um sorriso verdadeiro que foi retribuído.

–Prometo sim- eu disse e lhe dei um beijo em sua testa- Também adoro sua companhia, KitKat.

–KitKat?!- indagou divertida- Vou levar isso como um elogio, Peetinha de Queijo.

–Espera! Você reclamou do KitKat mas me chama de "Peetinha de Queijo"?!- eu disse e ela gargalhou.

–Vingança, querido- disse- O que vai fazer essa noite?- perguntou brincando com os dedos de minhas mãos.

–Ainda não sei... Annie vai sair com o namorado e meus tios estavam planejando ir para uma festa ou algo assim... Eles não me disseram nada, claro- eu respondi- Mas eu ouvi eles conversando, me sinto meio mal por ter que segurar eles em casa. Eu me sinto um fardo na vida deles.

–Claro que não, Peeta- disse com a voz doce- Eles amam você como um filho, tenho certeza disso.

Não disse nada, apenas observei o céu azul entre as folhas grudadas nos galhos no topo da árvore sobre nossas cabeças. Estava me sentindo bem melhor do que estava antes de sair de casa, devo agradecer a Katniss por isso.

Eu não falei de boca pra' fora quando disse que eu adorava sua companhia, de alguma forma estar ao lado daquela garota me deixava tranquilo e relaxado e me fazia esquecer do acidente na maior parte do tempo. Katniss Everdeen me cativou aos poucos, não gosto de pensar em um futuro onde ela não estivesse envolvida. Só de pensar em um dia perder sua companhia meu coração se aperta.

Decidi me afastar dos pensamentos que não me levariam a lugar algum e perguntei a ela qual o motivo de querer saber o que faria hoje.

–Bem, minha mãe vai sair com um amigo dela essa noite e deixou eu e Finn chamarmos alguns amigos para ir lá- disse ela me olhando ansiosa- Podemos assistir algum filme ficção, terror ou...- Katniss parou sua fala ao notar que eu a encarava divertido por sua ansiedade e animação- Desculpe, me empolguei um pouco.

–Um pouco?- perguntei para irrita-la fazendo com que recebesse um dedo do meio apontado para minha cara- Nossa que grossa, você.

–Vai aceitar o convite ou vou ter que ir até sua casa e te arrastar fazendo questão de deixar sua cara em contato com asfalto?!- indagou fazendo uma expressão séria.

–Eu não, você é muito grossa- eu disse, sorri ao me lembrar da provocação que Finnick havia feito a ela no primeiro dia que a vi- Está de TPM, KitKat?!

–Oh meu Deus!- exclamou e gargalhei- Merlin! Você ainda lembra disso?!

–Nunca vou esquecer da primeira pessoa que tentou ser simpática com o "garoto estranho"- eu disse e ela corou escondendo o rosto em meu peito- Estou falando sério.

–Para!- repreendeu-me dando um tapa estalado em meu braço esquerdo- Agora falando sério, vai ou não?

–Só se for ter maratona de Harry Potter- eu disse e ela me encarou, sua animação parecia ter voltado. Eu sabia que ela amava a saga e se empolgava sempre que alguém tocara no assunto.

–Ótima idéia!- disse sorrindo abertamente- Tenho a coleção de todos os livros, filmes... Oh! Você precisa assistir As Relíquias da Morte e...

Fiquei escutando Katniss falar sem deixar de notar sua empolgação, gostava de vê-la sorrindo dessa maneira. Um sorriso espontâneo e verdadeiro, um sorriso que te faz querer sorrir de volta e congelar o momento apenas para revive-lo sem medo daquilo acabar.

Seu sorriso mostrava-lhe os dentes brancos e seus olhos transmitiam toda aquela felicidade através de um brilho incrível. Ela não olhava diretamente para mim e sim para o céu enquanto falava mas eu mantinha meus vidrados nela, ela mordia os lábios inferiores no final de cada frase e parecia estar em um outro mundo.

Pelas barbas de Merlin! Não é possível, será que eu estaria me apaixonando por Katniss Everdeen?! É possível já que se não fosse por ela eu poderia estar em um nível de depressão bem pior do que estava antes e, provavelmente, acabaria em alguma clínica após alguma tentativa falha de tirar minha própria vida. Era fato que eu estava apegado demais a ela, mas apaixonado?! Bem, só o tempo vai me dar essa resposta.

–... Eu queria tanto experimentar aquela cerveja amanteigada, um dia eu ainda vou visitar o parque e...- Katniss me encarava curiosa- Está me ouvindo?

–Claro que estou- eu respondi saindo do meu "transe"- Eu também tenho vontade de experimentar essa cerveja amanteigada- eu disse dando continuidade ao assunto apenas para manter aquele sorriso sincero em seu rosto e consegui- Podíamos fazer uma viagem até lá.

–Está falando sério?- assenti sorrindo- Faria mesmo isso por mim?! Meu Deus, Peeta! Você é a melhor pessoa do mundo inteiro- levei um beijo estalado em minha testa.

Katniss se afastou de mim gargalhando e eu a acompanhei até nossos olhares se cruzarem e ficarmos nos encarando feito bobos por segundos que pareceram longas horas. Aproximei nossos rostos e, por instinto, minha mão foi parar no lado esquerdo de seu rosto fazendo um leve carinho em sua bochecha com o dedão.

Ela era tão linda... Tinha medo de que a qualquer minutos ela se quebrasse em minhas mãos e tudo isso não passasse de um sonho bom a qual acordamos e logo temos vontade de voltar a dormir.

Sua respiração estava entrecortada e batendo contra a pele sensível de meus lábios, rocei nossos narizes em uma espécie de "beijo de esquimó" e fechei meus olhos sentindo a pele macia de seu rosto em minhas mãos. Katniss soltou um longo e prorrogado suspiro para minha total perda de sanidade. Nossos lábios estavam a milímetros de se tocarem quando ouvi um chorinho de criança e uma mão pequenina cutucar meus ombros.

Me afastei de Katniss e observei o garotinho que nos encarava choroso, seus cabelos eram de um castanho escuro e bem bagunçados, seus olhos molhados de um verde vivo e penetrante. Ele parecia ter por volta de quatro ou cinco anos de idade e me encarava tímido e amedrontado.

–Hey... O que foi pequenino?- perguntei sorrindo para o pequeno que me mandou um olhar manhoso, Katniss encarava a cena em silencio esperando que o garotinho se pronunciasse- Está tudo bem?

–É que... Eu- disse baixinho soando meio enrolado devido aos seus soluços, tentou limpar as lágrimas de seus olhos usando as costas das mãos- Você viu minha mamãe? Eu não sei onde ela está...

–E como ela é?- perguntei.

–É bem bonita- disse e ri divertido com a sinceridade do pequeno.

–Bem bonita, é?!- eu disse encarando Katniss que parecia meio perdida.

–Ahanm... Eu tava' com ela mas minha bolinha caiu e eu corri atais' pra' pega e quando voltei não achei mais minha mamãe e nem meu papai- explicou na sua linguagem de criança.

–E como ela chama?- perguntou Katniss se pronunciando pela primeira vez desde que o menino chegara.

–Luna, mas o papai chama ela só de Luh- disse.

–E seu nome?

–James- respondeu.

–Vem, James- o chamei me levantando, Katniss fez o mesmo parecendo meio confusa- Vamos achar sua mamãe, tá' bem?

–Isso é sério?!- Katniss perguntou baixinho enquanto o garotinho me guiava segurando minha mão, ela me olhava incrédula.

–Por que não?- eu disse dando de ombros, Katniss se virou para James.

–Onde está nos levando?

Andamos por uns quinze minutos ouvindo o garotinho queixar-se de que era para mãe estar exatamente ali, sob uma árvore não muito longe de onde estávamos antes. Me sentei e fiquei conversando com James enquanto Katniss procurava pela tal Luna andando pelas pessoas entre nós, ela voltou com um olhar perdido e preocupado.

–James!- ouvi uma garota gritar seu nome- Noah! Ele está aqui!

A mulher de aparência jovial agachou-se ao lado de James e o abraçou, logo um homem parou ao nosso lado. Os dois não aparentavam possuir mais de vinte e cinco anos. Noah, como a mulher o chamou, usava óculos redondos e seus olhos verdes lembravam o de James e julguei que aquela seria Luna, sua mãe, e Noah seu pai.

–Como ele encontrou vocês?- perguntou Noah parecendo aliviado, me coloquei de pé e Katniss explicou tudo o que aconteceu para os dois que sorriram agradecidos em nossa direção, Harry estendeu a mão para mim- Sou Noah Fletcher e essa é minha noiva, Luna- apertei sua mão e Katniss fez o mesmo- Não podemos descuidar um minuto desse garoto que ele já some de nossas vistas.

Conversamos bastante, descobri que James era filho dos dois que namoravam até ela receber a noticia que estava esperando um filho e ficaram noivos logo após o nascimento de James mas ainda não se casaram mesmo após de cinco anos. Ambos tinham vinte e cinco anos e eram bem simpáticos.

Eles não cansavam de nos agradecer e só paramos de conversar quando já estava anoitecendo. Nos despedimos e seguimos em direção a minha casa em silêncio total, era fato que depois do que aconteceu hoje mais cedo no parque um clima estranho entre nós predominou e, tenho que agradecer a James por isso porque talvez se o garoto não aparecesse poderia estar pior agora. Por mais que minha vontade era tocar-lhe os lábios com os meus.

–Peeta!- exclamou minha tia preocupada quando chegamos, encontramos ela na sala assim como Annie e o namorado, Yonan- Fiquei preocupada, vocês sumiram e...- enquanto minha tia tagarelava sem parar senti um olhar sobre mim e encarei Annie de volta que sorria maliciosa para mim, minhas bochechas esquentaram e desviei o olhar para o chão.

–Me desculpe, tia- eu disse ainda sem encarar ninguém, apenas meus pés.

–Estávamos no parque, tinha um garotinho perdido e ajudamos ele a achar os pais e depois ficamos conversando com eles...- disse Katniss.

–Espera! Peeta conversou com eles?- indagou me encarando parecendo feliz, assenti ainda constrangido pelo olhar de Annie que ela mantinha sobre mim- Meu Deus! Isso é ótimo!

Enquanto minha tia me abraçava e dizia coisas como estar feliz por eu estar ficando "normal" de novo meu tio desceu as escadas vestido com roupas devidamente formais, eles iriam sair pelo que pude notar. Depois de muita conversa da minha tia eles saíram e enfim pude encarar Annie que mantinha aquele sorrisinho nos lábios, Yonan não estava diferente com seu jeito folgado de ser completamente jogado no sofá.

–Pode tirar esse sorriso da cara- eu disse ao passar por ela bem baixinho só para que ela ouvisse e continuei rumo ao meu quarto para tomar um banho e pegar uma roupa para poder dormir na casa de Katniss, a mesma ficou no andar de baixo explicando para ela o que faríamos essa noite.

Enquanto tomava um banho gelado deixei meus pensamentos vagarem para a sensação de ter Katniss tão próxima e ao mesmo tempo parecer que estamos tão distantes um do outro, e para melhorar agora depois do nosso quase-beijo estamos mais afastados do que nunca tivemos. Querendo ou não, voltei a estaca zero novamente.

Ouvi um barulho vindo do meu quarto e terminei meu banho o mais rápido possível e saí vestindo apenas minhas calças jeans escuras, Annie estava sentada na ponta da minha cama com os braços cruzados abaixo dos seios.

Revirei os olhos e ignorei sua presença andando até meu guarda roupas destinado a encontrar uma blusa confortável e quente, o olhar de Annie permanecia em cima de mim mas não me importei muito. Ela iria conseguir tirar as informações de hoje mais cedo de mim de um jeito ou outro, acredite, Cresta consegue ser bem insistente quando quer.

–Vai mesmo me ignorar ou vai me dizer qual o motivo dessa sua cara de quem comeu e não gostou?- perguntou sarcástica cortando o prazer do silêncio.

–Não sei do que está falando- respondi mantendo o tom de voz neutro vestindo uma blusa de moletom cinza da Hard Rock Coffee que minha tia me deu quando viajou para Orlando.

–Está pensando que não notei o clima estranho entre você e a sua queridíssima Kat?!- me virei para encara-la, Annie possuía agora uma expressão preocupada- Você teve outro fleshback ou ela disse alguma coisa que...

–Não aconteceu nada, Cresta!- gritei assustando-a, Annie se levantou- Que droga! Essa é a questão, não aconteceu definitivamente nada- eu disse e ela me encarou parecendo chateada, percebi que fui duro demais com ela quando a mesma bateu a porta do meu quarto ignorando meu chamado por ela- Merda.

Encarei-me no espelho pendurado na porta do meu guarda roupa, minha expressão era fria e severa, minhas sobrancelhas estavam franzidas e meu olhar transmitia magoa e decepção comigo mesmo. Minha imagem refletida no espelho me lembrou aquele garoto de alguns meses atrás, que acabara de perder a família e a vontade de viver. Senti meu pulso formigar.

Fazia um certo tempo que eu não fazia aquilo e não seria agora que eu cederia novamente, principalmente depois que as marcas finalmente foram embora e Annie parou de me encher o saco por isso.

"Você não deveria fazer isso, Peeta! Está machucando a si mesmo".

As palavras da doutora Everdeen vieram em minha cabeça e tentei de qualquer forma esquecer daquela vontade que estava se apossando novamente de mim, vesti meu calçado e desci passando pela sala sem ao menos dirigir o olhar para o sofá onde Annie conversava com Yonan e Katniss sobre alguma amiga dela.

Tomei meu remédio contra minha depressão e fui para a sala dirigindo meu olhar apenas para Katniss que entendeu o recado e seguimos para a sua casa, dessa vez sem que eu menos percebesse entrelacei nossas mãos e só notei tal ato quando a sua apertou levemente a minha como se dissesse "está tudo bem". Katniss me conhecia, só não sabia o quanto.

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–Será que você pode parar com essa palhaçada, Cato?!- Clove resmungou mais uma vez ao meu lado.

–Calada, Clove- disse voltando a repetir os feitiços junto com Hermione enquanto o filme passava.

Para minha total falta de sorte me sentei entre Cato e Clove e a cada feitiço que passava no filme o loiro ao meu lado insistia em falar o feitiço junto apenas para mostrar que decorou todos os feitiços, e eu ainda pensava que Katniss era a fanática por Harry Potter acabei me surpreendendo com o total fanatismo de Cato.

Não que eu queira soar chato ou até mesmo rude mas não estou no meu melhor momento e acho que todos, exceto por Cato, perceberam isso e não ficam me "perturbando". Por mais que eu me esforçasse para prestar atenção no filme eu não conseguia de maneira nenhuma, minha mente se dividia em culpa e algo que não conseguia explicar me corroía por dentro.

Culpa por ter quase beijado Katniss estragando tudo, culpa por ter gritado e ter sido rude com Annie e... Ao mesmo tempo em que eu não deveria pensar em Katniss daquela maneira tão próxima a mim eu me pego imaginando como seria a sensação de ter seus lábios carnudos e tão convidativos grudados contra os meus.

Seriam eles macios como sua pele ou ásperos? Seriam quentes como todo seu corpo ou seria frio como as pontas dos dedos de suas mãos?

Eu preciso descobrir, e farei de tudo para conseguir.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado de verdade... Pretendo voltar quando a fanfic tiver, ao menos, setenta comentários... Vamos, estamos com sessenta sei que conseguem chegar lá, confio em vocês, okay?! Não vou xingar meus fantasminhas até porque as vezes faço parte deles mas espero realmente que também estejam gostando. Se alguma alma boa e lindosa querer me dar mais uma recomendação eu poderia dar um capítulo bônus... Quem sabe?!
Enfim, se você é menino, sinta-se abraçado
Se você é menina... TCHAU