The Real Effect escrita por LeoPG


Capítulo 1
Prólogo- Loiro Misterioso


Notas iniciais do capítulo

Heye, postei enfim hahaha espero que gostem, o capítulo não está betado, caso encontrem erros me avisem ok?!



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Pov. Katniss- The Real Effect

–Finn, está pronto?- pergunto enquanto desço as escadas arrumando minha mochila nas costas. Esse troço pesa.

–Claro maninha- meu irmão mais velho respondeu dando uma mordida em uma maçã e pegando sua mochila do sofá e as chaves do carro na mesinha perto da porta- Pronta para o primeiro dia no inferno?

–O primeiro de três anos- respondi fechando a porta atras de mim e fomos para o elevador- Você tem sorte, já está no segundo ano. Eu ainda estou no primeiro.

–Quer um conselho? Faça amigos, é uma boa forma de sobreviver ao primeiro dia de aula no ensino médio- ele diz enquanto a porta do elevador se abre e entramos sentindo o cheiro horrível de peido vir dali- Urgh, que cheiro horrível! Qual é, deixaram um defunto aqui?!

–Deve ser só o velho James do andar de baixo- eu disse vendo as portas se fecharem.

Droga, esse cubículo que é menor do que um ovo já é horrível ai vem e peidam bem aqui. Pô, relaxo isso.

–Pode ser- meu irmão respondeu- Mas enfim, faça um amigo hoje na escola. Mas vê se não arruma uma biruta igual ao ano passado, ainda tenho pesadelos com aquela garota.

–E que tipo de amigo eu deveria fazer? Um igual ao Rudy?

–Olha, eu nunca fui bom em fazer amigos e...

–Não ser bom para fazer amigos é uma coisa, ser amigo de idiota como Rudy é outra- eu respondi revirando os olhos- Mas fica tranquilo, tenho Cato, Clove e tem os outros amigos do Marvel.

–Argh, até quando vai se deixar ser enganada por esse cara, Kat?!- saímos do elevador e andamos até o antigo carro do meu pai- Marvel é um idiota, Katniss.

–Seria pedir demais se ao menos uma vez na vida você deixasse de sentir ciúmes dos meus namorados?- perguntei enquanto passávamos pelo portão do prédio e saímos nas ruas em direção a nossa escola.

–Você sabe que não é ciúmes, Katniss- ele diz e mesmo que eu não esteja olhando para seu rosto tenho certeza que ele revirara os olhos- Marvel é um idiota que só quer se aproveitar de você, escuta o que estou te falando.

–Quer dizer então se eu me magoar você vai virar as costas para mim?- perguntei arqueando as sobrancelhas e ele se limitou a bufar.

–Claro que não! Você é minha irmã, minha função é te proteger- ele diz sorrindo vitorioso- Chegamos no inferno.

Eu e meu irmão estudamos na grande Panem, uma escola normal. Eu tenho tres amigos nessa escola que são o Cato, a Clove e o Marvel. Cato e Clove tem a mesma idade que eu, mas quando estão juntos parecem que ao envés de dezesseis eles tem cinco já que não param de brigar a cada minuto mas eu tenho a certeza de que os dois se amam, só não querem aceitar isso. Marvel é meu namorado, ele tem dezessete anos e é capitão do time de basquete.

Ele é um bom namorado, começamos a namorar no inicio do ano passado e ele sempre foi bom comigo. Seriamos o casal perfeito se não existisse os amigos idiotas dele e aquela vaca da Glimmer que vive dando em cima dele, mas como ele já disse nunca daria bola para ela.

Desci do carro vendo Clove correr em minha direção me dando um abraço apertado.

–Kat! Que saudades!- ela gritou e eu juro que senti meu ouvido doer com isso.

–Não precisa gritar... AAAAHHH- tudo bem, isso foi contraditório.

Mas eu gritei por puro instinto, era só meu amigo me levantando do chão e me rodopiando no ar. Preciso de amigos um pouco mais normais. Cato me botou no chão e bagunçou meus cabelos e depois rodopiou Clove no ar.

–Me solta seu imbecil!- a delicada da minha amiga gritou e assim ele fez.

–Sentiram saudades da minha pessoa?- ele perguntou sorrindo.

–Muita Catito, você nem imagina o quanto difícil foi difícil essas férias na casa da minha avó sem você- diz Clove com uma ironia na voz- Nunca Cato, nunca.

–Desculpa, mas eu estava falando com a minha chatinha aqui- ele apontou para mim- E não com você, Couve. E então, chatinha, sentiu saudades desse seu loiro seduzente?- perguntou olhando para o nada fazendo uma pose e bagunçando os cabelos para traz.

–Muita, foi muito chato passar as férias inteiras nessa merda desse lugar sem vocês- bufei- Como foi as férias na casa do seu pai?

–Horrível, quanto mais tempo eu passo com ele mais eu o odeio- ele respondeu e começamos a caminhar em direção a entrada da escola- Ainda não acredito que ele trocou minha mãe por aquela vaca da minha madrasta.

–Eu sei como se sente- resmunguei- Eu e Finn tivemos sorte em meu pai ter viajado com Coin.

–E como vai sua mãe? Trabalhando muito?

–Sim, vai ter plantão hoje e vou ter que dar uma passada lá depois da aula- respondi.

Minha mãe é psicóloga e vive tratando de grandes casos de pessoas que tem algum trauma.

Entramos na escola e fomos direto para a sala. Que a tortura comece.

~~~~ X ~~~~

Eu e Finn chegamos no hospital e nos dirigimos até a recepção onde a mulher sinistra de olhos verdes nos disse para esperar porque minha mãe estava ocupada, então eu e Finn fomos para sala de espera. Haviam poucas pessoas ali, uma mulher idosa com uma garotinha espirrando sem parar, um homem e uma mulher que devem ser casados já que vi as alianças. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma garoto loiro sentado isolado de todos ali.

Ele usa uma roupa normal e seu olhar é distante, sua expressão é triste. Ele encara o chão, de forma que não posso ver seu rosto direito. Haviam algumas marcas em seus braços, como cicatrizes de queimaduras. Olhei para meu irmão que se sentou ao lado direito do garoto, andei e me sentei ao lado esquerdo do loiro. Ele levantou o rosto e olhou para mim. Foi quando meu mundo parou.

Quando foi que comecei a tremer?! Eu não sei, mas ao encarar aquelas orbes azuis é como se milhares de sensações e sentimentos passassem por meu corpo. O mais estranho é que nunca vi esse garoto em toda minha vida e ele me olha assim... Curioso. Sua expressão era diferente, de forma que não consigo saber o que ele está pensando.

–O-oi- eu disse gaguejando. Droga! O que é isso?!

Normalmente quando alguém te da oi, você responde ou então faz um aceno com a cabeça. Mas não era essa reação que eu esperava. Ele simplesmente voltou a encarar o chão o que me deixou intrigada. Olhei para Finn mas ele parecia estar distraído demais em seu celular para ver o que estava acontecendo a sua volta. Voltei a encarar o garoto, lindo por sinal, mas isso não vem ao caso.

–T-tudo bem?- dessa vez ele apenas balançou a cabeça, um gesto que foi quase imperceptível- Qual seu nome?- silencio, de novo. Ele apenas me olhou como se eu fosse louca, acho que não sou eu a louca aqui- Só estava tentando ser gentil, uh?!- murmurei voltando o olhar para meus dedos que pareciam mais interessantes.

–Pode pegar água para mim, Kat?- meu irmão me tirou dos meus devaneios- Estou com sede.

–Você tem pernas, elas estão em perfeito estado então acho que você pode usa-las e ir andando até lá- eu bufei impaciente, esse loiro misterioso está me deixando estressada.

–As vezes eu acho que você é o homem da casa, e não eu- ele diz se fazendo de ofendido e revirei os olhos e lhe dei a língua. Tudo bem, eu sou um pouco infantil. Tudo bem, eu sou infantil, mas quem se importa?!- Por favor, Katniss.

–Nossa como você enche garoto!- eu finalmente cedi e andei até o outro lado da sala pegando um copo de água e voltei na direção do meu irmão e lhe entreguei a água- Pronto, cidadão.

–Está de TPM hoje, maninha?- merda!

Mas que porra, Finn! Praguejei mentalmente quando vi o loiro dar indícios de um sorriso, legal agora até quem não me conhece quer zoar com minha cara. Encarei meu irmão tentando fazer uma expressão assassina, o que não consegui. O que foi?! É difícil tentar ser do mal quando se está corada!

–Finnick Everdeen Odair- ralhei com ele vendo seu sorriso se desfazer ao chama-lo pelo nome completo, incluindo o sobrenome que ele herdou do meu pai.

Passou um tempo e nada de minha mãe aparecer, podia até ouvir o joguinho no celular de Finn fazendo toda hora um "game over" com uma voz robótica que me da medo. Comecei a querer chamar a atenção do loiro ao meu lado fazendo nossos braços se encostarem, senti seu corpo se retesar quando minha mão tocou "sem querer" seu braço e um arrepio passou por ambos os corpos.

–Não vai me falar seu nome?- perguntei irritada desistindo de puxar assunto com o loirinho gato. Ele parecia querer responder mas as palavras pareciam ter parado em sua garganta e ele desistiu de falar voltando a olhar para baixo. Ele me surpreendeu quando olhou para mim e abriu a boca para falar, mas foi cortado por minha mãe que entrava na sala chamando por um nome.

–Peeta Mellark- ela chamou e o loiro olhou para mim e se levantou com um breve aceno de cabeça- Filhos, ninguém me avisou que estavam aqui.

–Estamos aqui a um tempo, mamãe- respondi me levantando e dando um abraço nela. O loiro observava toda a cena atentamente.

–Queríamos saber se a senhora pode nos deixa ir no District 12 hoje a noite- Finn pediu e minha mãe pensou por um tempo.

–Tudo bem, mas voltem logo porque amanhã vocês dois tem aula!- ela disse e concordamos com a cabeça- Bom, eu tenho que ir. Vamos Peeta?- o loiro sorriu e acenou com a cabeça seguindo minha mãe pelo corredor.

Eu e Finn fomos para casa e nos arrumamos para ir ao District 12, é um lugar onde sempre uma banda toca músicas alternativas e só vai as pessoas mais excluídas e poucos populares vão lá. Isso acaba tornando o ambiente um pouco mais confortável, já que onde tem popular tem encrenca. Mas é um bom lugar para se divertir com os amigos. Quando deu nove horas da noite fomos até o District 12 onde uma música alta tocava, entramos e logo avistei Clove e Cato sentados em uma mesa acompanhados de uma garota ruiva que não tirava os olhos do meu irmão.

–Oi gente- eu disse e Cato sorriu afetado, ele está bêbado.

–Oi... Katz...- diz todo enrolado e Clove revira os olhos.

–Mal chegamos e esse ser já está bêbado- ela diz irritada- E o pior é que eu tenho que levar esse imbecil embora.

–Ai Clove, aproveita e deixa de drama!- eu disse me sentando ao seu lado- Oi- disse para a garota.

Ela era bonita, tinha olhos verdes e seus cabelos eram lisos e seu rosto era angelical. Percebi Finnick olha-la com cara de bobo e dei uma discreta cotovelada em sua barriga e ele soltou um grunhido.

–Oi, sou Annie- ela disse estendendo a mão e a apertei- Prazer.

–O prazer é meu, sou Katniss- eu disse, quando ia conversar mais com a garota o idiota do meu irmão tomou a mão dela e beijou a mesma.

–Sou Finnick- ele diz sorrindo galanteador e Annie cora, coitada- Muito prazer.

–O-o pra-pra... zer... É todo m-meu- coitada! Ela ficou desconcertada. E Finnick Everdeen ataca novamente, rolo os olhos e começo a conversar com Clove sobre banalidades.

Conversávamos animadamente sobre bandas de rock alternativo, a minha favorita é o The Pretty Reckless e da Clove é Paramore. Depois Marvel chegou acompanhado de seus amigos, eles inconvenientemente se sentaram na mesma mesa que nós e começaram a bagunçar. Nessa altura Cato já havia "melhorado" pois Clove jogou um copo de água na cara dele e ele parou de beber e comeu um lanche junto com Clove.

Depois de um tempo Marvel já estava bêbado assim como seus amigos idiotas, Annie estava completamente envergonhada e Finn fazia de tudo para deixa-la confortável. Depois de um tempo resolvemos ir embora, e assim fizemos. Quando cheguei em casa não tardei em me jogar na cama e dormir.

~~~~X~~~~

–Eu quero que vocês usem toda a criatividade de vocês nesse desenho, ok?!- meu professor de artes perguntou enquanto eu procurava o material perdido em meu estojo- Eu quero que vocês expressem todos seus sentimentos nesses desenhos, o sentimento que quiserem. Mas por favor, não vão me fazer corações e flores, em?! Isso vale para você Glimmer- ele diz e dou risada da cara que a loira fez.

–Professor Cinna, podemos fazer várias formas para significar confusão?- uma garota perguntou.

–Podem sim, e caso queiram...- sua fala foi interrompida com alguém batendo na porta.

Que droga! Onde esse lápis se enfiou?!

–Professor Cinna- a voz do diretor soa em meus ouvidos ao mesmo tempo que deixo meu estojo cair no chão fazendo as canetas se espalharem, me agachei e comecei a recolher tudo- Classe, temos um novo aluno digamos bem... Especial. Espero que vocês o respeitem, pode entrar, garoto- me levanto e me sento de volta a cadeira.

Finalmente encontrei essa porra! Acho que meu estojo é um tipo de portal para Nárnia, não é possível! Tudo que entra aqui parece sair em outro lugar e só aparecer nas piores horas, resolvi olhar quem era o novato e tive que segurar na mesa para não virar com a cadeira para trás.

Ele estava... Lindo. Seus cabelos loiros estavam bagunçados e alguns fios caiam em sua testa quase em seus olhos. Sua boca carregava um sorriso tímido e seus olhos azuis pareciam com um certo receio, ele varreu a toda a sala com os olhos mas pareceu travar ao me ver ali.

Talvez ele se lembre de mim como a "garota louca filha da psicóloga".

–Qual seu nome, garoto?- Cinna perguntou simpático.

Cinna na minha opinião é o melhor professor de artes que alguém pode ter, ele se preocupa com os alunos e as vezes serve até de psicólogo. Ele me da aula desde que entrei na escola na quinta série, sempre foi muito legal comigo e com meu irmão. Principalmente quando meu pai deixou minha mãe para se casar com a "megera", ou como sou obrigada a chama-la de madrasta.

Enfim, é claro que Cinna faria de tudo para que todos os alunos se sentissem bem aqui. É lógico que com ele não seria diferente. Falando nele, ele abriu a boca para falar mas travou o que fez com que a maioria da sala risse de sua cara, mas eu não o fiz.

–O nome dele é Peeta- o diretor Albernarth respondeu por ele- Pode se sentar, garoto. Cinna... Posso ter umas palavrinhas com você lá fora?

–Claro, podem começar pessoal- ele responde mas antes de sair se vira para mim- Explica para ele o que teremos que fazer, Katniss.

–Hm... Claro- respondi.

–Eu posso ensina-lo- Glimmer diz retirando o fichário da cadeira disponível ao seu lado.

–Tudo bem- o professor disse e fechou a porta.

Peeta encarou a sala tímido, segurei a risada ao ver sua expressão assustada ao encarar uma Glimmer excessivamente sorridente. Ele começou a andar e passou reto por Glimmer, o que fez o sorriso murchar. Ele se dirigiu a última carteira, a que estava logo ao meu lado, e se sentou me mandando um breve aceno com a cabeça. Sorri com sua atitude, ele me reconheceu. Isso é bom.

–Hm... O professor pediu para fazermos um desenho expressando nossos sentimentos- eu disse e ele me olhou agradecido- De nada.

–Hm... Pessoal... Ér... Katniss- o professor Cinna voltou para sala e parecia um pouco... Chocado?!- Depois da aula eu preciso falar com você.

–Tudo bem- respondi intrigada.

Olhei para o garoto ao meu lado que já havia começado seu desenho, ele estava tão concentrado que podia notar a ruga entre suas sobrancelhas. Resolvi assim começar o meu também, como não sabia muito o que fazer comecei a desenhar um risco, e mais um, mais outro até que formou uma espécie de gaiola. Sorri, até que não ficou feio. Resolvi fazer um pássaro também, desenhei uma espécie de porta e o pássaro fugindo pela mesma.

–Pessoal, todos acabaram seus desenhos?- professor Cinna nos perguntou assim que assinei meu nome logo abaixo do desenho.

–Sim- respondemos em uníssono, exceto pelo loiro ao meu lado que apenas assentiu.

–Bom... Que tal mostrarem para toda sala? Eu quero que expliquem o sentimento que escolheram, ok?!- ele disse a assentimos- Pode começar... Glimmer.

A loira caminhou rebolando - tanto que eu pensei que sua bunda iria sair voando a qualquer momento- até estar em frente a toda sala. Revirei os olhos com seus sorriso falso, ninguém merece. Ela virou sua folha e mostrou um coração.

–Glimmer, eu disse que não era para fazer corações- disse o professor passando a mão no rosto.

–LIBERDADE DE EXPRESSÃO!- a loira gritou e voltou ao lugar.

–Hm... Clove- ele chamou e minha amiga se levantou e foi até ficar lá na frente, ela estava com um sorriso malvado. Aí vem...

–Bom, todos sabem que eu sou cheia de ódio- ela começa- Mas tem uma pessoa que eu mais odeio em toda minha vida- ela virou a folha mostrando o desenho de uma garota loira, que reconheci sendo Glimmer, ela estava com a garganta cortada. Eu até ficaria com medo, mas já esperava isso vindo da minha amiga.

–Clove... O desenho está incrível mas isso foi ofensivo, mesmo assim parabéns pelo desenho- Cinna disse sorrindo de leve-Hm... Cato.

–Bom professor, eu fiz isso- Cato mostra a folha em branco- Estou sentindo nada.

–Okay... Katniss- ele chamou e fui até lá a passos largos.

–Bom... Eu fiz sobre liberdade- digo e todos encaram meu desenho, inclusive um par de olhos incrivelmente azuis.

–Muito bom, Katniss- diz e o professor e volto a me sentar.

Os outros alunos mostraram seus desenhos, alguns estavam incríveis enquanto outros eu não sabia se chorava ou se dava risada com a capacidade que essas pessoas tem de não conseguir fazer nada direito. Notei o olhar de Peeta sobre mim, isso me incomodou. Mas o mais estranho foi quando eu me virei para encara-lo de volta, ele desviou o olhar corado o que me fez rir internamente.

Mas eu me surpreendi mesmo foi quando o professor chamou Peeta para mostrar seu desenho.

–Peeta, mostra para sala o que você está sentindo- Peeta virou a folha com uma expressão tímida e parecia hesitar quando o professor lhe olhava de modo estranho. Me surpreendi com o desenho- Isso é...- Cinna parecia chocado.

–O que isso significa?

–Tenho certeza que é medo- e assim todos começaram a querer adivinhar o que o garoto misterioso sentia.

–Eu acho que é dor- disse Glimmer.

–Não, é medo- afirmou a garota a minha frente- Não é?- ela se dirigiu a Peeta que balançou a cabeça negativamente, mas seu gesto foi tão rápido que quase não percebi. Então me dei conta do que poderia significar.

–Saudade- eu disse alto fazendo todos os olhares se virarem para mim, inclusive o do loiro que permanecia lá na frente- Saudade, estou certa?- com um aceno com a cabeça ele confirmou o que eu disse.

Ele voltou a se sentar e Cinna nos liberou, não antes de me fazer esperar todos saírem da sala.

–Katniss... Vou ser bem direto- professor Cinna diz se sentando na mesa de mogno enquanto eu estava sentada na cadeira a sua frente- O garoto novo, Peeta, tem alguns... Problemas comuns.

–Como assim?

–Se lembra de um incêndio que aconteceu no último Natal?- acenei afirmando- Uma família morreu, a mulher, o marido, uma garotinha e dois gêmeos mas só que houve um sobrevivente.

–Ta e o que isso tem a ver com Peeta?

–Katniss... Peeta é esse sobrevivente, os pais dele morreram na frente dele sem que ele pudesse fazer nada- ele parou de falar para que eu pudesse assimilar tudo, mas estava chocada demais para isso, então continuou- Peeta tem uma espécie de trauma psicológico, acontece quando ele fica em um ambiente muito fechado ou com muitas pessoas. Ele não conversa com ninguém desde o acidente, ele praticamente virou um mudo que sabe falar mas não quer.

–Cinna... O que eu tenho a ver com isso?

–O diretor pediu para que eu escolhesse minha melhor aluna para fazer amizade com ele- ele diz e então começo a entender onde ele quer chegar- Quero que se torne amiga dele, Katniss.

–Não sou boa em fazer amigos- eu disse.

–Claro que é, esqueceu de Clove? Cato?

–É diferente, eles que quiseram ser meus amigos- eu disse fitando meus pés.

–Pense sobre isso, Kat- ele se levanta e abre a porta, sigo até ela e ele diz- Mas não se sinta obrigada a fazer isso e caso queira, tenha paciência.

–Tudo bem- eu disse- Até mais, Cinna.

–Até... Ah, adorei o desenho.

~~~~X~~~~

Peguei o lanche com a mulher mal humorada da cantina e me dirijo até a mesa onde estão sentados meus amigos. Me sentei entre Cato e Finnick cujo tem o mesmo horário de lanche que o nosso, de forma que sempre senta comigo. Encaro a mesa circular a minha frente enquanto meus amigos e meu irmão conversam sobre a megera da minha professora de Matemática, acho que perdi a fome.

Empurrei a bandeja para longe do meu corpo, meus amigos parecem notar meu humor terrível.

–Tudo bem, Kat?- pergunta Finnick.

–Tudo- minto mas ele nem parece perceber já que continua sua conversa animada com meus amigos.

Desde que Cinna me contou sobre Peeta eu não consigo parar de pensar nisso, perdi a conta de quantas vezes me peguei encarando-o durante as aulas e o pior é que as vezes ele retribuía o olhar. Passo a procura-lo entre os outros alunos mas não o vejo, continuo procurando até encontra-lo em uma mesa bem mais afastada do que a dos outros.

É claro, me lembro de Cinna ter dito que ele não consegue ficar em um lugar com muitas pessoas. Talvez ele esteja tentando evitar também de que alguém tente debochar dele apesar de eu não ter visto nenhum motivo para isso até agora, tirando o fato de que ele está lendo enquanto come enquanto o resto do povo faz a bagunça em sua volta.

Espera! Por que diabos eu estou tão preocupada com esse garoto?! Fala sério, ele não é nada meu! E ainda fica flertando comigo com olhares sugestivos. Quem esse garoto pensa que ele é?! Balanço a cabeça decidida a afastar esses pensamentos quando vejo Marvel andar em minha direção e se sentar ao meu lado.

–Oi moreninha- ele diz me roubando um beijo.

–Oi Marvel- respondi sem interesse, meu humor só parece estar piorando.

–O que foi? Nem tocou em seu lanche.

–Nada de especial- só tem um garoto estranho que fica me mandando olhares e que é uma espécie de louco e os pais morreram em um incêndio que ninguém sabe como aconteceu. Completei mentalmente.

–Por que aquele garoto está te olhando toda hora? É algum dos seus amigos novos?- ele me perguntou.

Procurei a pessoa a qual ele estava se referindo e encontrei quem eu já esperava que iria encontrar, ele olhava para mim com uma expressão indecifrável.

–Não, ele é um aluno novo e...

–Vou ver o que ele quer- Marvel se levantou e começou a andar em direção a Peeta.

–Marvel! Volta aqui!- gritei mas ele se limitou a chamar um de seus amigos e eles foram andando até a mesa de Peeta.

–Merda!- praguejei alto fazendo com que meus amigos me encarassem e depois seguissem meu olhar.

–Vish...- comentou Clove.

–Pessoal, vem me ajudem a manter Marvel longe desse garoto- eu disse me levantando e eles me seguiram.

–Por que?- indagou Cato.

–Apenas me ajudem- respondi andando o mais rápido possível até a mesa de Peeta.

Marvel estava de pé e de braços cruzados ao lado do loiro que parecia assustado, já o amigo dele estava na mesma pose que ele do outro lado de Peeta que parecia aliviado ao me ver chegando. Alguns olhares já pairavam sobre nós.

–Olha aqui, vou dizer mais uma vez e espero que você me responda- diz Marvel- O que estava fazendo olhando daquele jeito para minha namorada?- silêncio- Em?! Responde seu bosta!

–Marvel! Para com isso!- eu disse- Deixa ele em paz!

–Fica quieta aí Katniss- ele diz autoritário- Anda, fala logo moleque! Quer conhecer minha força ou vai falar por vontade própria?!

–Marvel, vem- comecei a tentar puxa-lo mas ele me empurrou me fazendo cair no chão.

–Seu desgraçado- Finnick disse indo em direção a Marvel mas foi impedido pelo amigo do mesmo.

Clove me ajudou a levantar e Cato começou a andar em direção a Marvel mas segurei sua camisa impedindo-o de prosseguir. Eu conheço Marvel, sei que com ele força bruta não vai adiantar, tenho que convence-lo antes que ele faça alguma besteira maior.

–Marvel, deixa ele quieto por favor- eu disse- Ele não fez nada demais, vamos por favor.

–Vai continuar me ignorando?- Marvel interrogou o loiro que tinha uma expressão assustada- Quer saber, cansei!- Marvel deu um soco no cara de Peeta que caiu no chão.

Instintivamente soltei Cato que começou uma briga com Marvel enquanto Finn se soltou do amigo dele e assim começou uma briga. Peeta permanecia jogado no chão com os olhos fechados e um corte nos lábios.

–Clove! Me ajuda aqui- pedi a minha amiga que estava totalmente perdida, sem saber o que fazer em meio ao caos. Ela me ajudou a colocar Peeta meio sentado, sua expressão era de dor e pavor. Mas duvido que seja por causa do soco, ele deve estar tento alguma visão, alguma coisa relacionada ao seu trauma. Ele fecha as mãos em punhos e trinca o maxilar, começo a alisar sua mão e aos poucos sinto que ele vai relaxando.

–Cato! Finnick!- os dois estavam brigando ainda com os outros- Me ajudem! Por favor!- eles finalmente pararam e se agacharam ao meu lado- Tirem Peeta daqui- os dois o levantarem e o levaram para a enfermaria seguidos de Clove que levava seu material- Qual o seu problema?!

–Estava te defendendo!- se defende Marvel, vejo que Cato e Finnick fizeram um bom trabalho.

–Chega Marvel! Estou cansada desse seu ciúmes doentio!- saio dali empurrando as pessoas que formaram uma rodinha para assistirem a briga.

Andei a passos largos até a enfermaria, Finnick e Cato estavam encostados na parede com cara de preocupados ao mesmo tempo que recebiam cuidados de Clove. A enfermeira cuidava de Peeta que tinha o olhar distante, me aproximei dele quando a enfermeira saiu e sorri para ele que retribuiu de forma fraca. Então ele fez uma coisa que achei que ele não faria.

–O-obrigado- ele gaguejou ao falar. Sua voz era baixa e suave ao mesmo tempo.

–Não foi nada, me desculpe por eles- ele sacudiu a cabeça assentindo ao mesmo tempo que Clove se aproximava.

–Katniss, nós vamos falar com o diretor- ela me chamou- Não saia daqui, não sabemos se Marvel pode voltar.

–Tudo bem- eles saíram e me sentei no espaço perto de sua perna na maca- Eu sei... Sobre seus pais- ele me olhou com dor nos olhos- Eu sinto muito- eu disse e uma lágrima rolou de seus olhos e logo ele tratou de limpa-la- Me desculpe, não deveria ter tocado nesse assunto.

–Está tudo... Bem- sua voz saiu meio trêmula, ficamos em silencio até ser quebrado por ele- Quem te contou?

–Cinna- eu respondi- O professor de artes. A propósito eu amei o desenho- ele sorriu. Um sorriso doce e sincero, um sorriso capaz de fazer todos sorrirem de volta.

–O seu também estava lindo- ele disse e ficamos novamente em um silencio constrangedor.

Seus cabelos caiam em sua testa quase tocando em seus lindos olhos azuis, fiquei encarando aquela imensidão azul a minha frente.

–Como está sendo o primeiro dia?- pergunto.

–Bem... Tirando o fato que acabou de acontecer- ele respondeu- Me desculpa se causei alguma coisa entre você e seu namorado, não foi minha intenção.

–Tudo bem- eu disse- Mas por que estava me olhando?

–Você me lembra o jeito da minha mãe- ele respondeu. Minha cara deve estar a mais confusa possível já que ele sorri antes de explicar- Você parece durona, tem um gênio forte. Meu pai disse uma vez que foi um dos motivos dele ter se apaixonado pela minha mãe- novamente silêncio até que resolvo quebra-lo.

–Sua mãe ela era... Bonita?

–Sim, era linda para falar a verdade- ele disse.

–Hm... Por que não falou com ninguém depois do acidente?- e o Oscar de pessoa mais delicada vai para... Não, não sou eu.

–Eu... Me senti culpado, só isso- ele respondeu- Não queria que as pessoas ficassem dizendo "sinto muito" toda vez que falassem comigo. Mas eu converso com algumas pessoas sim. Sua mãe, por exemplo.

–Minha mãe...

–Clara, ela é minha psicóloga- ele respondeu- Ela é gentil, foi fácil conversar com ela. Converso também com meus tios e com minha prima, Annie.

–Annie? Annie Cresta?!

–Sim, essa- ele respondeu- De onde a conhece?

–Ela é amiga do Cato- respondi- O loiro alto de olhos azuis.

–Ah... Sim- ele respondeu.

–Por que falou comigo? Digo... Eu não sou parente sua nem psicóloga...

–Porque você me parece confiável- ele disse.

–Mas você nem me conhece...

–Sua mãe... Quando ela soube que eu estudaria aqui com você ela disse que eu poderia confiar em você e no seu irmão se eu precisasse de algo.

–Ah...- foi tudo o que eu disse.

Ficamos em silêncio novamente, mas dessa vez ele foi interrompido com o diretor entrando na enfermaria.

–Peeta... Está tudo bem?- Peeta apenas assentiu, talvez ele não confie inteiramente em Haymitch para falar com ele- Vou ligar para sua tia vir buscar você- ele assentiu enquanto Haymitch saiu da sala.

–Vou ficar aqui até sua tia chegar, okay?- eu digo e ele sorri.

–Okay- ele respondeu olhando para mim- Obrigado.

–De nada- respondi.

Ficamos em silêncio novamente até a tia dele chegar, ela era bonita. Seu nome era Marye, ela perguntou o que eu era de Peeta e me apresentei como amiga. Peeta sorriu e retribuí. Ele foi embora e fui até a próxima aula que já começara. O restante do dia eu fiquei pensando no garoto de olhos azuis e como ele consegue mexer comigo de uma forma que não consigo explicar.


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Notas finais do capítulo

E então... Gostaram? Odiaram? Deixem nos reviews, até o próximo.