No topo de uma colina no hemisfério norte, Jack Frost observava a floresta que se estendia por todo o vale. As grandes e pequenas árvores perdiam suas últimas folhas secas. O outono estava chegando ao fim.

Ele sorriu contente, em breve iria dar seu toque especial aquelas terras.

Sai as folhas amareladas pelo outono, entra a neve branquinha do inverno.

Jack deu uma breve olhada para trás. Aguardava por sua companhia. Curioso é falar isso.

O solitário Jack Frost aguardava por alguém no topo de uma colina. Quem diria?

E a espera não durou muito. Em poucos minutos, voando pelo céu, a rainha das fadas apareceu.

— Jack! Jack! — Toothiana rodopiou no ar em volta de Jack Frost, com suas belas asas coloridas e os olhos brilhando, carregados de animação. — Estou atrasada? Demorei muito? Você já começou?

— Oi! — Eram tantas perguntas que Jack sentiu-se um pouco tonto. — Chegou bem na hora, rainha. — Ele fez uma longa reverência, de propósito, pois a Fada dos Dentes não era dada à esse tipo de tratamento especial. Mas elegantemente ela se curvou também, em agradecimento. Depois os dois trocaram sorrisos cheios de graça pela encenação.

— Que ótimo, eu não queria perder por isso. — Toothiana ajeitou as penas na nuca. Ela aquietou-se da maneira que pode ao lado do espírito do inverno.

— Logo mais, antes do sol se por, vai acontecer... — Com seu cajado, Jack apontou para o horizonte, enquanto explicava para a Fada dos Dentes que o inverno daria inicio naquele ponto.

— Oh! É mesmo lindo. Lindo! — Ela sobrevoou Jack fazendo milhões de perguntas.

— Você é mesmo bastante curiosa, Toothiana.

— Eu? Não, digo, não muito. — Suas asas bateram mais agitadas do que o normal, e a penagem de seu braço eriçou-se quando Jack segurou-a nas mãos.

— Vamos, está na hora. — Eles voaram pelo céu. Toothiana logo atrás de Jack, que parecia esquiar pelos ares. Logo quando chegaram a montanha mais alta do vilarejo, Jack Frost fincou seu cajado no chão e uma camada fina de neve alastrou-se pela terra.

Toothiana fechou os olhos, sentindo os primeiros flocos de neve cair do céu. Ela sorriu docemente ao abrir os olhos, havia neve acumulada no topo de sua cabeça. A fada balançou a cabeça e suas penas ficaram arrepiadas.

— Deixa que eu te ajudo. — Jack deslizou até a guardiã, esticando as mãos sobre sua cabeça e fazendo um carinho nas penas, alisando-as para baixar. — Pronto, rainha.

— Obrigada. — Ela respondeu encabulada. — E agora? O que faremos?

— Agora vamos para a parte mais divertida. — Ele respondeu com um olhar cheio de travessuras.

— Qual?

— Confia em mim. — novamente Jack Frost pegou a rainha das fadas pelas mãos e a levou montanha abaixo.

— Jack!!! — Ela gritou mais por excitação que medo de cair, é claro.

Desceram a montanha e passearam por entre as árvores. A neve transformava toda a paisagem do vilarejo, mais para frente, eles encontraram um grupo de crianças bem agasalhadas por suas mães cuidadosas. Elas corriram com os braços abertos, capturavam os flocos de neve, antes mesmo de caírem no chão.

Jack congelou o lago e patinou com seus pés descalços no gelo. Ele notou que Toothiana ainda estava voando e então a convidou para patinar com ele. Alegando que era divertido.

— Não sei se devo. — Ela deu um sorriso curto, envergonhado, alisando a penagem.

— Vem, eu te ensino. — Jack estendeu sua mão, enquanto na outra, segurava o cajado mágico.

Toothiana aceitou a ajuda e colocou seus pezinhos na grossa camada de gelo formada sobre o lago. Ela arrepiou-se completamente com o toque gelado em seus pés.

— Não! Não! Sou muito melhor voando.

— Mas isso é como voar também.

— Como assim? — A fada perguntou com um olhar curioso, achando que Jack estava apenas enrolando para fazê-la patinar também.

— Ora, é como voar mas com os pés no chão.

— Jack Frost, você é muito espirituoso.

— É, tenho que ser, já que sou um espirito. — Jack a conduziu pelo gelo, segurando sua pequena e delicada mão.

Se a Lua lhe dissesse que um dia ele estaria patinando com uma rainha, Jack zombaria. Se lhe dissesse que essa rainha seria a doce Toothiana, talvez Jack caísse no chão dando risada. Ele jamais acreditaria que uma entidade tão graciosa pudesse gostar dele e em consequencia, serem amigos e divertirem-se juntos.

Mas era muito bom estar errado.

Jack soltou a mão de Toothiana, pemitindo-a deslizar livremente pelo gelo. A rainha abriu os braços rodopiando sobre a ponta dos pés, mantendo suas belas asas cuidadosamente fechadas nas costas.

— Tem razão, Jack! É como voar. — Ela gritou lá de longe, sentindo o ventinho gélido por entre suas penas, causando ligeiros arrepios.

— Eu disse, não disse? — Jack a admirou por alguns segundos, depois foi patinando até ela, que se desequilibrava enquanto tentava parar. Mas antes que Jack a alcançasse, Toothiana abriu suas asas e voou. — Está roubando.

— Não, não. Estou apenas adaptando uma nova modalidade de patinação.

— Certo. — Jack viu as crianças se aproximarem, ele achou melhor deixá-las se divertirem no lago. Subiu uma das árvores bem no alto, onde a Fada dos Dentes estava. — Como combinado, essa noite eu vou fazer uma visitinha às crianças. Até separei uns presentinhos para deixar embaixo dos travesseiros.

— Será divertido. — A fada pousou no galho onde Jack estava e quando menos esperavam, o galho cedeu com o peso dos dois, fazendo-os cair. Ambos acabaram enroscados pelos cipós e galhos secos das árvores.

A neve ainda caía, Jack e Toothiana riam da situação, tentando desenrolar os nós criados em volta de seus braços e pernas.

Jack parou de se mover quando a Fada também desistiu. Ela suspirou, fechando os olhos, derrotada momentaneamente.

— Se a rainha me permitir, eu gostaria de convidá-la para o solstício de inverno no hemisfério Sul. É muito bonito também.

— Quem sabe, se eu não estiver ocupada.

Jack anuiu.

— É claro, eu entendo.

Toothiana adiantou-se e com um pouco de dificuldade, conseguiu desprender seu corpo de alguns cipós, quase caíndo em cima de Jack. Ela o beijou suavemente na testa. Um beijo quentinho e amoroso.

— Eu adoraria acompanhá-lo, Jack Frost.

Jack fechou os olhos, era muito bom não ser mais solitário.