Começar a namorar Annabeth foi uma das melhores coisas que já me aconteceu.

É bom chegar perto dela e poder beijá-la sem nenhuma desculpa descente, e poder andar com ela por aí de forma em que os caras veem suas mãos entrelaçadas com as minhas e já caem fora. E também poder chegar na minha casa e não ter que fingir nada porque ela é realmente minha namorada.

Ela tem o cheiro das melhores flores do mundo, com mais alguma coisa que me faz ficar mais louco por ela toda vez que a mesma me dá um "chega pra lá" pra poder estudar e depois de terminar me beija até a hora de que a loira da minha vida precisa ir embora em que eu a levo para casa pra aproveitarmos mais alguns minutos juntos.

Mas ter ela, do meu lado, na minha casa, sem nada pra fazer como hoje, era a melhor parte de ter uma namorada. Principalmente porque está nevando levemente.

Sua mão direita está no meu tórax enquanto sua cabela repousava no meu peitoral e a esquerda ela mantinha de baixo da cabeça. Graças ao frio, nos enrolamos em um edredom enorme na minha cama pra assistirmos "Premonição", um dos filmes prediletos dela e, de bônus, um de horror que fazia com que, a cada morte, ela me abraçasse mais forte e escondesse a cara na minha camiseta azul escura.

A respiração dela é lenta mas profunda, de forma com que eu conseguia sentir.

De repente ela tira os olhos da TV e se apoia pelos cotovelos na cama colocando a cabeça por cima das mãos enquanto balançava as pernas em um gesto meio infantil.

— Percy...?

— Oi, Annie.

— Sabe, eu estava pensando em uma coisa e queria saber o que você acha. — falou me beijando rapidamente.

— O que era, querida?

— Quando a Drew te traiu, eu queria quebrar aquela cara de piranha dela. Mas acho que foi ela que perdeu, né? Agora eu tenho um namorado gato... sensível... inteligente... e que beija super bem. — falou me dando beijos no intervalo das palavras.

— E o Luke perdeu uma menina gata... nerd... legal, mesmo que as vezes me encha o saco pra caramba... e que, claro, beija super bem. — fiz o mesmo.

Hoje os meus pais tinham ido em um casamento, então eu e Annie tivemos que ficar aqui em casa pra esperar o Tyson chegar do que ele me disse ser o seu primeiro encontro. Aos treze anos eu nunca tinha ido em um encontro, apenas escolhido com quem eu ia querer ficar no dia. Pra falar a verdade, a Chase foi a primeira menina que eu realmente levei pra sair.

Annie se curvou, pegou papel e caneta e começou a escrever sentada do meu lado.

— Fazendo o que?

— Tarefa de química.

— E desde quando o professor velho de biologia é mais importante que eu?

— Desde que ele decide o meu destino com um "A+" enorme estampado nas minhas provas.

— Vem cá pra eu te ajudar com a tarefa.

Ela apertou as sobrancelhas, mas me entregou o dever de casa que eu coloquei no criado-mudo e disse:

— Terminamos de ver o filme e eu te ajudo com o que for. Pode ser?

Ela revirou os olhos e se ajeitou de volta no meu tórax. O filme é uma merda, mas estar com Annabeth faz que as coisas meio que valham a pena.

Minha melhor amiga, minha melhor confidente e a pessoa que eu mais confio no mundo. Não sei desde quando, mas uma das únicas coisas que eu tenho certeza nesse momento é que eu estou pleno e completamente apaixonado por essa loira de olhos tempestuosos.

Mecho levemente nos seus cabelos, o que provavelmente a deixou com sono porque dez minutos depois ela já estava no último sono.

— Mano, eu tô entrando, tá?

Cara, eu nem notei que tinha dormido! Com o susto bati com força a minha cabeça na cabeceira da cama, o que provavelmente deve ter deixado um galo enorme.

Annie acordou sobressaltada e com a respiração extremamente ofegante. Tinha até pena dela, pois sei que ela deve ter passado a última noite em claro estudando para a atividade avaliativa que tivemos hoje mais cedo, o que eu apenas tinha me dado bem porque já cansei de ouvir ela me mandando estudar e acabei por fazer isso.

— Entra, pirralho.

— Essa é Ella, a minha namorada há... sete minutos, eu acho. Ella, esses são o meu irmão Percy e a namorada dele, Annabeth.

— A que você disse pra Ella que era "muita areia pro caminhãozinho dele"?

Sorri de lado, um sorriso meio perverso, diria eu. Aquele pirralho me paga por isso.

— Pelo o que eu notei, irmãozinho, você não pode nem falar nada. Essa menina é tão bonitinha, imagina se ela descobre que você ainda assiste Discovery Kids...

— Ah, seu nojento...!

E, quando eu fui ver, ele pulou encima de mim e estava tentando me dar um soco. Eu sei que, se eu realmente quisesse, podia quebrar a cara dele com um soco só. Por mais que eu tenha dezesseis e ele treze (com uma mentalidade tão infantil que parece ter apenas uns seis) e seja mais alto, eu não podia fazer com que ele passasse a vergonha de apanhar na frente da primeira namorada dele. É melhor eu ser muito bem recompensado por isso.

— Tudo bem, tudo bem. Não me bate, pelo amor de Deus. Pode ficar com o meu quarto pra vocês assistirem TV, e eu vou levar a Annie pra outro lugar, mas não me bate, por favor.

Vi ele sussurrar um "obrigada" pra mim, e eu me levantei puxando a Annabeth para a sala, onde poderíamos ser felizes sem a companhia de duas pessoas com, aproximadamente, treze anos.

Sentamos um ao lado do outro e ligamos a TV em um canal qualquer. Cara, eu nunca tinha percebido como é um pé no saco ficar assistindo filmes, quando tudo o que se passa na sua cabeça é: "Que merda, eu estou apaixonado!"

— Percy, o que foi? Eu sei muito bem que você está preocupado com alguma coisa, só não sei com o que.

Ela vai terminar comigo, mas eu acho melhor que ela se afaste de mim e fique feliz, e mais segura, do que comigo pensando que eu sou um louco que a stalkeia ou coisa do tipo. Mas o problema é que, com as outras, eu já tinha feito isso bem antes.

— Você vai terminar comigo?

— O que?

— Nada

— Cara, deixa de ser idiota. Eu sei que tem que ter alguma coisa dentro da sua cabeça de alga.

— Você pode me dar um resumo da matéria amanhã? — improvisei.

— Pode ser, mas eu quero o meu lugar na fila garantido.

— Kkkkk. Idiota.

Beijei-a com carinho. Nada intenso, rápido ou urgente, porque tudo que eu quero é que ela fique do meu lado feliz e vida boa. Simplesmente, eu quero só ficar com ela, pois isso é fácil e confortável pra mim. Agora, de minha ex-maior animiga/melhor amiga/namorada falsa, ela passou pra minha namorada, e agora é minha vida.

E eu preciso falar isso antes que seja tarde demais.

— Annie, eu t... — falava sobre os seus lábios até que fui interrompido.

— Filho, chegamos! Acredita que ela disse "não"? Sempre soube que ela tinha sérios problemas, mas... Ai, meu Deus, desculpa!

— Não foi nada, mãe. — falei corando, porque duvido muito que a Annabeth ia conseguir falar com essa vergonha toda. — E, falando nisso, vamos ir dar uma olhada na nova ficante do meu irmão?

Acho que eu não devia ter falado isso, porque ganhei um tapa fraco das duas mulheres que estavam do meu lado.

— Se diz namorada, Percy! — corrigiu-me minha namorada.

— Tá, que seja.

Subimos as escadas e quando chegamos na porta vemos a cena mais fofinha do mundo. Sim, Tyson beijava Ella, com dificuldade, mas beijava. E na idade dele eu já completava o meu décimo álbum de meninas que eu peguei. Não sei se eu fico orgulhoso por ele, ou triste porque a primeira namorada dele vai ser a primeira menina que ele beijou.

Mas, acho que na hora que Tyson se desesperou na hora que viu o rosto de Annabeth pela fresta, porque jogou um controle nela. Péssima hora.

Só sei que rápido ela caiu de costas no chão com um pedaço de plástico do controle grudado no meu ombro e manchas de sangue, lugar onde estava desnudo por causa das mangas finas, ou, melhor explicando, a clavícula.

Minha mãe começou a me gritar para levar a Annabeth pra cozinha, para Tyson pegar a caixa de Primeiros-Socorros e pra Ella buscar um pano em qualquer lugar.

Peguei minha namorada no estilo noiva enquanto beijava freneticamente a sua bochecha e ela me falava que estava tudo bem. Só que a quantidade de sangue saindo não cooperava nada com o argumento dela.

Minha mãe me pediu pra sentá-la no balcão e mandou que ficassem apenas eu, ela e Annie na cozinha e que os meninos podiam ir tomar sorvete, porque tudo ia ficar bem.

Só que aconteceu uma coisa que eu não esperava. Depois da minha mãe fechar o machucado, ela disse:

— O que aconteceu na sua cabeça, filho? — ela indagou me olhando.

— Bati a cabeça.

Olhei meio corado pra ela, que fez ela me mandar um olhar de "a gente conversa mais tarde" por trás da minha namorada. É, ela descobriu e eu estou ferrado. Adeus, baby.

— Annie, querida, acho que é melhor você ir pra sua casa, porque se não seu pai vai ficar preocupado com esse machucado. O meu marido está lá na portaria ainda, é só pedir pra ele te levar, okay?

— Tudo bem, senhora Jackson. Tchau Sally, tchau Percy.

Cara, eu não ia deixar ela ir embora com o risco da minha mãe não me deixar mais ver ela. Segurei-a na frente da porta e fiz uma coisa que jamais me atreveria a fazer em outra ocasião. Selei os nossos lábios carinhosamente e me despedi.

Quando ela fechou a porta, minha mãe já disse:

— Precisamos conversar, Percy.

— Mãe, eu juro que não fiz nada de errado. É que eu não conseguia parar de pensar...

— Calma, filho. Eu não estou brava com você. Eu só queria te falar pra você tomar cuidado. A Annie não é como as suas antigas namoradas, não se esqueça disso...

— Mãe, não tem nada haver, é que...

— Que...

— Eu amo ela.

— E já disse isso pra ela?

— Eu tentei, mas eu não consegui.

— Então fale antes que seja tarde. — falou me entregando as chaves do carro, coisa que eu não podia fazer depois das nove sem a Annabeth, mas não importava.

Entrei no carro e corri para a casa de Annabeth tão rápido que, por mais que não tenha passado nem quinze minutos, eu senti como se tivesse sido a minha vida toda.

Mas, quando eu cheguei, desejei nem ter ido.

Annabeth estava em uma sessão de agarramento com Luke, o cara que esnobou ela na frente de todo o clube.

A única coisa que senti foi como se estivessem quebrando as minhas costelas e pulando em cima de mim. Meu coração não existia mais.

E eu apenas chorei.

Chorei pra caramba, de forma em que eu manchei a minha camisa mais rápido do que nunca na minha vida.

Porém, quando a Annabeth me viu, tudo o que ela fez foi socar o Luke, coisa que eu ia ter adoardo ver em outra situação, e vir na minha direção também chorando.

— Percy, eu posso explicar!

— Explicar o que?! Que me fez acreditar em você?! Pior ainda, que você é só mais uma das piranhas que eu encontro nas festas?! Que hoje cedo eu tive que me controlar pra não te agarrar porque, cara, eu era completamente apaixonado por você! Eu te amava, merda! Amava pra caramba, mais do que era possível! Mas agora eu te odeio, sua falsa!

Não queria ouvir nada, então tudo o que fiz foi entrar em um carro e correr para casa.

Eu não conseguia mais respirar.