(CONTINUAÇÃO)

Ouvi Percy me chamar, e tudo o que pude fazer foi ir em sua direção.

Ultimamente eu tenho sentido umas coisas esquisitas em relação à ele, como se o meu estômago congelasse e, de repente, tudo ficasse uma bagunça enorme.

Parei em sua frente e o vi vir em minha direção.

Ele vai me beijar. Sim, ele vai me beijar! Eu estou muitíssimo ferrada.

Só que, ao invés de vir em direção aos meus lábios, ele apenas me dá um beijo na bochecha e me abraça apertado, como se estivesse perdendo alguma coisa que eu não faço a mínima ideia do que seja.

— O que eu faço pra essa menina notar que eu existo?

Ri no pescoço cheiroso de Percy, o que eu custava alcançar devido a diferença de tamanho, fazendo que ele me abraçasse pela cintura, encostando sua cabeça na curva do meu pescoço e que eu o segurasse pelo pescoço e respirasse lentamente.

— Todo mundo te nota, Cabeça de Alga. Esqueceu que você é egocêntrico?

Ele sorriu e me apertou mais, o que meio que dificultou ainda mais as coisas, mas de forma que eu não quisesse de nenhuma forma acabar com aquilo.

Passamos muito tempo assim, abraçados, calados e apenas respirando lentamente. Quando olhei pra o relógio e vi que já eram seis e meia, saí do quarto e fui para a cozinha e comecei a falar com o senhor e a senhora Jackson:

— As vezes não acredito que meu filho possa ser tão irresponsável. Ainda bem que temos a sorte de ele ter te achado, porque, além de você dar um jeito nele, ele ainda te ama muito.

Sorri, mas fiquei pensando: como ela tem tanta certeza que ele gosta de mim? Acho que corei, porque rápido a senhora Jackson voltou a se dirigir para mim.

— Não que eu duvide de você, Annabeth, mas o que você sente pelo meu filho? Você é a melhor namorada que ele já teve na vida, então eu gostaria muito que, ao invés das outras, você estivesse com ele só pelo o que ele é.

Sorri e respondi com todo o coração, mesmo perdendo a noção do perigo de Percy chegar e me ouvir falando isso.

— Sabe, eu tenho mil e um motivos para odiar Percy, já que era assim no começo, mas eu simplesmente não consigo. Ele tem essa cara de quem não leva nada a sério, mas isso eu aprendi a gostar nele porque, por mais que as vezes me tire do sério, também me faz rir até nos momentos mais críticos. E ele também tem essa animação toda, o que as vezes me faz querer deixar os livros um pouquinho de lado e me animar também. Digamos que ele é o menino certo, apenas com as companhias erradas, sabe?

Dei um pequeno e tímido sorriso no final da minha frase, o que gerou sorrisos um pouco maiores em Sally e Poseidon. E, também, quando virei para trás, um sorriso lateral de um Cabeça de Alga.

— Vamos? Não posso chegar mais hoje atrasado.

— T-tudo bem. — gaguejei por causa da vergonha e o fato de eu estar extremamente corada.

Nos despedimos dos pais de Percy e vamos de mãos dadas para o carro, onde entramos e, quando paramos em uma esquina um pouco mais afastada que faz parte do caminho da escola, ele para.

— É verdade o que você disse lá em casa?

— A parte de você ser egocêntrico? Acredite, é a mais pura verdade.

— Não, a parte do que você falou de mim pros meus pais.

Olhei pro chão e corei. Não sei o que fazer pra que ele não note nada que eu sinto.

— Esse é o plano, não era? Fingir que estamos namorando e...

— Annabetheugostodevocê. — ele falou rápido demais pra eu entender.

— O que?

— Deixa que eu te explico de outra forma.

Antes mesmo que eu pudesse raciocinar o que é que ele quis dizer, ele já estava com a boca encima da minha.

Não era como há alguns dias atrás. Dessa vez era pra valer.

Ele me encaixava nossas bocas segurando na minha cintura e no meu cabelo, enquanto eu envolvia a minha mão nos seus fios de cabelos da nuca e no seu ombro. Era estranho, vou admitir.

Nenhum beijo é como aqueles que vamos em filmes, novelas, séries e clipes de música. É tudo mais... normal. Parecem ser dois beijos completamente diferentes: rápido e urgente por causa de Percy, mas calmo e tímido por minha causa.

Não sei se o que aconteceu foram muitos beijos juntos, ou um só que durou muito tempo, mas quando fomos ver, já se tinham passado uns quinze minutos e nossas bocas estavam levemente avermelhadas.

— Não quero que isso acabe. — sussurrou Percy.

— Beijos sempre precisam acabar, Percy. As pessoas precisam respirar, sabia?

— Não me refiro a isso. — falou ele subindo os olhos e afastando uma mecha de cabelo que insistia em cair no meu olho. — Eu não quero que os beijos acabem, muito menos que você e eu acabemos.

— O que você quer dizer, Cabeça de Alga?

Cara, isso é impossível. Eu o odiava, não odiava? Ele era meu maior inimigo, não era? Ele também não era meu melhor amigo e tudo mais?

E se, caso um dia nos separemos, a amizade acabe? E se as coisas não derem certo.

Annie, desencana. Ele não vai te pedir nem em namoro nem em nada, acorda.

— Quer deixar essa mentira de lado e ver se dá realmente certo entre nós dois? Não sei, talvez, se a gente tentasse...

Mas eu não o deixei terminar e logo o beijei com uma força que eu não me lembro de já ter testado antes. Era como se eu tivesse arrumado força do meio da adrenalina ou sei lá.

Ele retribuiu, mas logo eu o afastei.

— Quantas horas são? — perguntei.

— Uau, que coisa mais maneira pra se falar quando, depois de muito tempo, começa a namorar o seu ex-maior-inimigo, melhor amigo e ex-namorado-falso. Mas, já que eu sou um cara muito legal, são seis e cinquenta, por quê?

— Corre pra escola! Se eu tomar uma anotação, a culpa vai ser totalmente sua, seu idiota!

— Pelo o que eu me lembro, não foi eu que começou a te agarrar agorinha.

— Idiota insensível!

— Cara, você é muito chata.

— Lá lá lá, mas você gosta de mim lá lá lá. — cantarolei enquanto ele dirigia.

— Se eu não estivesse com as mãos no volante, ia aí te dar um beijo enorme. — indagou me fazendo beijar a sua bochecha. — Bem melhor agora.

— Eu sei que eu sou irresistível.

— Annie, eu acho que eu gosto de você.

— Também gosto de você, lesado.