Tossi, engasguei, tossi de novo, caí da cama, me levantei do chão e engasguei de novo. Não necessariamente nessa ordem.

Lice me observava um tanto divertida.

–O QUÊ?-esse o castelo inteiro ouviu.

Alice caiu teatralmente para trás na cama e fechou os olhos com força.

–VOCÊ PIROU?-berrei.

Lice se levantou como um raio e tapou minha boca com as mãos.

–Cala a boca, Rose, pelo amor de Deus!-ela suplicou.

Acho que nem se o Tio Voldy voltasse eu ia ficar tão surpresa como fiquei com o que ela disse. Não a parte do “Cala a boca, Rose, pelo amor de Deus”, mas a parte em que ela disse que gostava do Alvo. O Alvo Potter. Aquele meu primo sonserino, de olhos verdes e cabelos arrepiados como o pai, a cópia do tio Harry, tirando os óculos, claro. O Alvito, o cara lindo de viver, quase tão bonito quanto o irmão e o Malfoy. O Alvo Severo Potter, cuja dona era a diva Roxanne Weasley, nossa BFF.

É nessas horas que a gente pensa: ”PUTZ, A COISA TÁ FEIA!”

–Lice, me diga que eu ouvi errado, ou que você estava brincando, ou até mesmo que o Alvo tem um clone, mas, por favor, por favor mesmo, fala que você não gosta do Alvo Potter!-supliquei.

Ela só deu de ombros tristemente. Essa não.

–E AÍ, VADIETES?!-tanto eu quanto a Lice pulamos de susto.

É, a Roxy sabe mesmo fazer grandes entradas.

A morena loucona entrou saltitante no dormitório, parando apenas para gargalhar de nossas expressões mortificadas.

–Ei, eu juro que ouvi a palavra Potter por aqui!-ela arqueou as sobrancelhas negras.

–Impressão sua!-comecei. -Você tecnicamente não tem ouvidos e olhos para outra coisa que não seja Alvo Potter.

Ela deu de ombros, e logo se sentou ao lado de Alice na minha cama. Lice ostentava uma expressão um tanto incomodada, mas Roxy não percebeu.

–E então... -a fabulosa começou. Lá vem... –Como o Scorpius tá gato, hein, Rose?

É, a noite seria looooooonga.

***

Surpreendentemente, dormi bem, coisa que geralmente não acontecia no primeiro dia de volta a Hogwarts. Me levantei rapidamente, com um aparente bom humor. Coloquei as vestes de Hogwarts, o símbolo do leão grifinório se destacando no lado esquerdo do uniforme, sobre o coração. Penteei minha juba ruiva, alcançando uma aparência decente. Me virei para minhas amigas Poterríacas. Roxy babava no travesseiro, o cabelo jogado na cara. Já Alice dormia mais tranquila, o cabelo espalhado pelo travesseiro.

Ri internamente. Hora de uma pequena brincadeira.

Apontei minha varinha para Roxy.

–Levitacorpus.–sussurrei.

Roxy flutuava em cima da cama, ainda dormindo. Bufei.

Apontei minha varinha para Roxy novamente. Agora ela flutuava em cima de Alice.

Me preparei para correr. As duas iriam me matar.

–Liberacorpus.–Roxy caiu com tudo em cima de Alice.

Vazei dali mais rápido do que Rony Weasley correndo atrás de comida. Mas ainda consegui ouvir os gritos e palavrões das duas, bem como o berro de Roxy:

–ROSE WEASLEY! VOCÊ MORRE HOJE!

No Salão Comunal, quase trombei com James e Fred, que se matavam de rir da minha futura desgraça. É, Roxy com raiva mataria um basilisco de susto com apenas um olhar.

O Salão Principal não estava cheio ainda. Me sentei na mesa da Grifinória e praticamente engoli a comida. Queria mesmo era dar um fora antes que as harpias furiosas que eram as minhas melhores amigas dessem as caras.

Infelizmente, Alvo Potter e seus dois amiguinhos se aproximaram de mim bem enquanto eu escapulia dali.

–Ei, Rose, tá fugindo de quem dessa vez?-Alvo perguntou.

Malfoy sorria pra mim e Zabini procurava por alguém com o olhar.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, duas garotas extremamente irritadas entraram no salão. Roxy, que tinha o rosto tingido de vermelho, caminhava com os punhos cerrados. Alice vinha atrás dela, o rosto um pouco mais relaxado, mas mesmo assim raivoso.

–Aí está a sua resposta. -gemi baixinho.

–ROSALIE JANE GRANGER WEASLEY!-com esse eu me arrepiei.

–O que você fez dessa vez, ruiva?-Malfoy estava claramente se divertindo.

Todo o povo que passava por ali nos encarava. Devíamos parecer um bando de loucos ali, parados na porta do salão, aos gritos.

–EU VOU TE MATAR, SUA...Ah, oi, Alvo.-Roxy sorriu amarelo.

–Alvo.-Lice não parecia muito feliz.

Eu me virei devagar, andando cuidadosamente, para escapulir rapidamente do local. Infelizmente, eu passei perto do Malfoy, e ele me segurou pela cintura, de modo que eu não tivesse como escapar.

Então, Rose, como é ficar tão perto do Malfoy?

Eu diria que é confuso, uma vez que a respiração dele estava em meu pescoço, me desconcentrando totalmente. O queixo dele acariciava meus cabelos e, mesmo de costas, eu sentia o sorriso dele. Meu corpo estava tomado de arrepios e, quando as mãos dele tocaram as minhas, senti uma corrente elétrica pelo meu corpo todo. Aquilo me deixou ainda mais confusa, se é que isso era possível.

–Ãnh, Rose?-Alice chamou.

Quando percebi que Alvo, Zabini, Alice e Roxy nos observavam atentamente, corei até a raiz dos cabelos e me afastei dele. Ele suspirou antes de soltar meus pulsos.

–Será que dá pra deixar a pegação pra depois? Eu quero ainda poder comer hoje. -Roxy, Roxy, a sempre adorável Roxy.

Mostrei a língua para ela. Ela apenas revirou os olhos.

–Maturidade, a gente se vê por aí!

–Falou a pessoa mais madura do mundo. E aí, me diz: como é ser acordada por uma diva?-sorri.

–É... interessante. Mas, me diz: como é ficar com o cabelo rosa Pink um mês inteiro?

–É melhor do que ficar com a boca preta por um mês inteiro. –retruquei.

Ela cerrou os dentes.

–Você ainda corre risco de vida. Não se esqueça disso, Tomatinho.

–Pode deixar que eu não vou, Berinjelinha.

Berinjelinha era o apelido que eu e Lice demos a Roxanne no nosso 4°ano em Hogwarts. Isso tudo foi porque, uns dias antes, eu descobri que ela gostava do Alvo, e, quando a confrontamos, ela corou tanto que ficou até roxa. Sério mesmo, deixaria até o Barney Dinossauro orgulhoso.

Roxy bufou. Ela odiava o apelido carinhossíssimo. E eu adorava isso.

Mas espera aí! Eu estava tão concentrada em mim, Malfoy, Alvo e Roxy que nem percebi o clima estranho que rolava entre Zabini e...Alice?!

Isso mesmo. Ele olhava de um jeito esquisito pra ela, mas acho que já vi esse olhar antes. Só que em outra pessoa. Em quem mesmo?

Ah! É desse jeito que Alvo olha para Roxy, James para Nicky, Lily para Hugo, Louis para Lucy, Fred para Molly. Caramba, achei que o Zabini era gay.

Nada contra, mas é que, tipo, o Zabini nunca desgruda do Alvo nem do Malfoy, nunca vi ele com uma garota nem nada, e ele não faz nada para chamar a atenção de uma garota, não que ele precise fazer isso.

Ele também é um dos mais gatos dessa escola. Olhos escuros, cabelos também, pele bronzeada, porte atlético. Tudo o que um garoto quer ter e uma menina quer ver.

Sei não hein...Do jeito que ele tá olhando para Alice, tô achando que ele tirou (ou nunca pôs) o pé do arco-íris.

Mas enfim...

Todos nos tocamos que estava na hora da aula nos encaminhamos em direção à saída do Salão Principal e, como era aula de Poções, teríamos um horário com a Sonserina. Que ótimo! Eu estava super ansiosa para passar um tempo com a doninha (meu sarcasmo anda bem presente ultimamente). Acho que ele percebeu a minha irritação, pois passou um braço pelos meus ombros e deu um de seus sorrisos brilhantes para mim.

Ok, o garoto perdeu o medo de ser castrado.

–Perdeu o medo de morrer, Malfoy?-perguntei, ligeiramente irritada.

Ele duplicou o sorriso.

–Nunca o tive, na verdade.-ele me encarou.

–Vai pro inferno, doninha.-rosnei.

–Só se você estiver me esperando lá.

OK, AGORA CHEGA!

Empurrei o imbecil com toda a força que eu não tinha, e ele cambaleou um pouco, mas nem assim deixou de sorrir. Vagabundo.

Bufei irritada para ele, me virando e entrando na sala de aula.