O casamento de Teddy e Vicky era hoje. O que explicava toda essa frenética agitação, todos os berros nasalados e quase ininteligíveis da tia Fleur, as poses carrancudas do tio Gui, a arrumação demasiado exagerada da vovó, a correria das primas em se arrumar, minha ansiedade.

Para quem ainda não sacou, eu, juntamente com todas as outras primas e primos, somos todos padrinhos tanto de Vicky quanto de Teddy, e estamos todos em pares, namoradas com namorados, para infelicidades dos futuros sogrões presentes.

É isso mesmo. Eu vou ser madrinha e serei acompanhada pelo Scorpius, o que me deixa ansiosa e super contente (tô louca pra ver meu gato de smoking), não é preciso nem comentar que estou vivendo meu conto de fadas com meu príncipe, e meu vestido até que é estilo meio princesa.

Meu vestido é azul claro, vai até o chão, é tomara-que-caia com detalhes na cintura, que é onde o vestido fica mais solto, incorporando um verdadeiro vestido de princesa. Meu cabelo, que foi arrumado pessoalmente pela tia Audrey, que é maravilhosamente boa com cabelos, está preso em um coque meio solto, e há enfeites nele, que combinam com os detalhes do vestido. Já a maquiagem foi tia Gina quem fez, e meu rosto não está (graças a Merlin! Ou melhor, à tia Gina!) no estilo Coringa, tem apenas um pouco de sombra lilás nos olhos, rímel e lápis, e, na boca, batom de um vermelho meio parecido com a cor dos meus cabelos. Mesma coisa nas unhas. E eu tenho que usar esses instrumentos de tortura medieval (mais conhecidos como saltos), que são dourados e têm pelo menos quinze centímetros de comprimento.

Quanto a jóias, eu não costumo usar, mas, como é uma ocasião super ultra mega importante, hoje vou usar um colar prateado com um pingente azul e brincos com o mesmo pingente. Mas é só. As outras “Rainhas da Beleza” estão meio que exagerando na bijuteria, e estavam meio que querendo exagerar na make, mas eu dei um toque pra elas (correção: disse a elas que ficariam parecendo travestis) e elas acordaram pra vida.

Estou pronta há alguns minutos, e o casamento começa daqui a meia-hora, e estou sentada calmamente em um banquinho no quarto que divido com as primas, enquanto as loucas correm pra lá e pra cá histéricas. Tia Audrey e tia Gina, que já estão prontas há um tempão, estão cuidando da make e dos cabelos das outras.

–CADÊ A DROGA DO MEU VESTIDO?-Roxy berrou, histericamente. Ela estava com maquiagem e cabelos prontos, mas estava apenas de calcinha e sutiã, já que o vestido dela provavelmente fugiu dela.

–Quanta delicadeza. –Lily, que também estava pronta e sentada do meu lado, revirou os olhos.

–LÁ NA COZINHA, DE CERTO, SUA ANTA!-Nicky berrou para Roxy. Como os hormônios dessas aí tão exaltados hoje! Só pode ser TPM (Temporada Pra Matança), ou o clima dessa comemoração tá acabando com essas divas.

–EU NÃO FALEI COM VOCÊ, DOMINIQUE!-Roxy berrou de volta, entrando no banheiro onde Nicky terminava de se perfumar.

–CALEM A BOCA AS DUAS AÍ!-tia Gina berrou. Ela também não tem paciência com as futuras noras. –E, ROXANNE, SEU VESTIDO TÁ AQUI EM CIMA DA SUA CAMA!

–Além de anta, ainda é cega. –Lily cochichou pra mim e eu dei um risinho afetado. Lily estava com um vestido de modelo igual ao meu, só que roxo (na verdade, era para os vestidos serem todos da mesma cor, mas Victoire mudou de ideia e achou que seria mais legal os vestidos serem iguais apenas em modelo, mas de cores diferentes), mas o cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo perfeito e alto, e ela também usava os enfeites no cabelo.

–Concordo com vocês. –Lucy suspirou. Tia Audrey ainda estava arrumando o cabelo dela, enquanto tia Gina fazia a maquiagem da Molly. As duas já estavam com os vestidos, o de Lucy era lilás e o de Molly vermelho.

Nicky saiu do banheiro, fez uma espécie de entrada triunfal e eu tive que segurar minha língua para não chamá-la de exibida. Ela usava um vestido verde claro, que combinava com os cabelos loiros, que estavam em um penteado meio trançado, meio solto. Ela, assim como o resto de nós, estava divonicamente linda.

–Nossa, Rose, Lily, vocês estão um arraso!-ela deu um sorriso de batom rosa. –E Lucy e Molly... Quase. –as outras duas fizeram caretas.

–Você também está um arraso, Dominique, mas é desnecessário dizer isso, não é?-Lily ergueu uma sobrancelha. Nicky deu um aceno de cabeça e se sentou no outro banquinho, do meu outro lado. Roxy saiu do banheiro, ainda sem vestido e pegou o vestido rosa que estava em cima da cama dela, e voltou para o banheiro.

–Você já está pronta. –Audrey soltou a filha e Lucy sorriu para nós três que estávamos no banquinho. Lucy tinha duas mechas, uma de cada lado da cabeça, unidas em uma trança no meio da cabeça, e o resto do cabelo liso estava solto. O batom era da mesma cor do vestido dela, lilás.

–Bem vinda ao clube das fabulosas! –Nicky deu um pulo no banquinho. –Agora só faltam Roxy e Molly.

–Eu não. –Roxy saiu do banheiro, já de vestido. O cabelo dela, que era super preto, combinava maravilhosamente com o rosa do vestido, e estava arrumado em um coque no alto da cabeça, mas com algumas mechas soltas em baixo, lisas e compridas.

–Tá, então só falta a Molly. –Nicky deu de ombros enquanto Roxy se juntava ao “Clube das Fabulosas”.

–Eu já estou acabando aqui. –tia Gina disse, enquanto passava um batom vermelho claro em Molly. Gina usava um vestido meio púrpura, de um ombro só e preso na cintura. Audrey usava um modelo meio parecido, só que dourado. As duas estavam com os cabelos soltos.

Teddy e Victoire têm, ao todo, doze pares de padrinhos, sendo que eles dividem os padrinhos em seis pares pra cada, e não tem muita importância quem é padrinho de quem, já que Teddy é da nossa família. Mas ficou assim: Teddy tem como padrinhos eu e Scorpius, Molly e Fred, tio Harry e tia Gina, meu pai e minha mãe, tia Audrey e tio Percy, e tio Carlinhos e Andrômedra Tonks (eles não são um casal, é claro, só que Carlinhos é praticamente tio do Teddy, e é solteiro, e Andrômedra a avó de Teddy, é viúva, então formaram um par). Victoire ficou com: tio Gui e tia Fleur, Nicky e James, Louis e Lucy, tio George e tia Angelina, Roxy e Alvo, e Lily e Hugo.

–Pronto. –tia Gina liberou Molly, que estava com o cabelo ondulado e preso com o da sua irmã. Molly também se aproximou do “Clube da Beleza”, que agora estava completo. –Nossa, vocês estão incríveis! –ela sorriu largamente. –Não é, Audrey?

Tia Audrey sorriu para todas nós e assentiu levemente.

–Nós já podemos descer?-Roxy perguntou.

–Ainda não. –tia Gina respondeu. –Os garotos estão esperando vocês lá em baixo, mas ainda não está na hora deles babarem. Vocês seis ficam aqui e eu e Audrey vamos lá conferir a produção de Victoire. Fleur, Gabrielle e a avó de vocês precisam de ajuda com a noiva.

Minhas duas tias se levantaram das cadeiras onde estavam sentadas e saíram do quarto, fechando a porta silenciosamente. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, ouvi tia Gina berrando para alguém, possivelmente para os meninos: “ELAS NÃO VÃO DESCER AGORA, NÃO DÁ PARA ESPERAR ALGUNS MINUTOS AÍ, NÃO? Não é como se elas estivessem morrendo ou parindo, elas só estão se aprontando! Cruzes, vocês, hein! VAZEM DAQUI AGORA!”. Ai, ai. Tia Gina e toda aquela delicadeza dela. Tô com muita dó do meu querido irmão. Muita mesmo (ah, e vou dizer o que você achou mesmo que eu ia dizer nessa situação), SÓ QUE NÃO!

Ri comigo mesma ao imaginar Scorpius nervoso, andando pra lá e para cá esperando a diva aqui descer sem pressa nenhuma, como se o amanhã não existisse. Bom, para mim ele ainda não existe, tô mais ansiosa com o mega casório que vai rolar daqui a menos de... 20 MINUTOS!

–Molly, Molly!-chamei a futura esposa do Fredereca. –São vinte para as oito da noite ou eu que viajei no vira-tempo?

Ela parou de falar alguma coisa para Lucy e franziu o cenho ao olhar para o relógio dela, que estava em cima da cama dela. Foi só ela acenar com a cabeça que o caos começou. Roxy tremeu toda e ameaçou roer as unhas, mas Lilica ficou puxando as mãos dela para baixo, uma cena meio (totalmente) esquisita, e Nicky ficou olhando paras as duas como se não conhecesse nenhuma delas (o que eu sempre faço com alguém que eu conheço e que passa vergonha publicamente, eu finjo que nunca vi a pessoa mais gorda na vida), Molly correu para retocar a make no banheiro e Lucy correu atrás, batendo desesperadamente na porta que a irmã bateu na cara dela.

E eu? Eu fiquei é meio catatônica, desesperada, ansiosa e com um frio na barriga. Tá, eu sei que um casamento que nem é meu não deveria me deixar maricas assim, mas é que eu vou ser madrinha e eu...Bem, eu estou nervosa para ver o que Scorpius achará de mim assim. Quer dizer, ele me acha bonita (é claro, se eu mesma me acho. Não que eu seja a pessoa mais vaidosa do mundo ou diva, eu... Tá, esquece), eu desconfio, mas mesmo assim sempre fico tentando imaginar o que Scorpius pensa ou sente quando me vê. Me pergunto se é da mesma maneira que eu me sinto perto dele, arrebatada. Provavelmente é sim, mas não dá pra comparar.

–Ai, meu Merlin!-Roxy, que se soltou de Lily, agora corria desesperada em círculos. –Vai começar, vai começar!

–Pare de correr, Roxy! Você vai ficar suada!-eu disse. E essas eram as palavrinhas mágicas. Roxy estacou e arregalou os olhos. Lily bufou e se sentou na cama mais próxima.

–Você, hein?-ela disse, olhando para Roxanne. –Que energético foi que você tomou?

–Ah, cale a boca. –Roxy revirou os olhos. –Rose, só você mesmo para manter a calma numa hora dessas!

Ah, Roxy, isso é o que você pensa.

–Só que não. –Nicky surgiu e se sentou do meu lado, na cama defronte a cama onde Lily e Roxy estavam sentadas.

–Você se chama Rose? –Roxy grunhiu. –Porque, se você se chamar, eu vou me atirar de algum lugar. Se já basta uma Rose, magina duas. É de enlouquecer.

–Ei!-eu exclamei.

–Isso dá nos nervos, não dá?-Nicky gemeu. –Hoje eu me torno, oficialmente, cunhada no Teddy e daqui a um tempo já serei tia. Isso me deixa ultra feliz, é claro, mas não consigo deixar de ficar um pouco nervosa.

Eu, Lily e Roxy nos viramos para encará-la. Nicky parecia mesmo meio nervosa. Ela torcia a barra do vestido, olhando para ele, divagando.

–Se você está assim, imagina a Victoire. –Lily falou.

–Você que pensa. Vicky é a pessoa mais calma que eu conheço, eu acho que até no próprio casamento ela não vai desmaiar ou chorar ou nada parecido. –Nicky respondeu.

–Duvido. –eu balancei a cabeça. –Do jeito que ela ama o Teddy, e com toda aquela personalidade dela, o fato de ela sempre se preocupar com cada minúsculo detalhe de alguma coisa, só me faz pensar que ela vai se emocionar de verdade.

–Talvez. –Nicky deu um sorriso. –Ela, eu e mamãe já meio que estamos vendo uns nomes para meu sobrinho ou minha sobrinha.

–Sério?!-Lily bateu palminhas e correu para o nosso lado, junto com Roxy. –Vai falando.

–Unh, deixa eu lembrar. Ah, é. Pode ser William, Gregory ou Remus para garoto, e Mackayla, Éris ou Ísis para menina. Sabe como é, né? Victoire pode ser francesa, mas a criatividade dela fala mais alto que o sangue.

–Tomara que seja menino então. –Roxy riu e ganhou uma cotovelada de Lily.

–Eu, por exemplo... –Nicky ignorou Roxy. -... Sou menos francesa que ela, mas gostaria que meus filhos tivessem nomes franceses e tal. Talvez Gabrielle ou Apolline para menina, Jean ou Claude para menino.

–Coitado do James. –Roxy chiou e, dessa vez, Lily concordou com um sorriso.

–Vão à merda vocês duas. Mas Rosie gostou desses, né, Rosie?-ela me olhou esperançosa.

–Lógico que não!-fiz uma careta e ela fez cara de ofendida. –Mas, como estamos falando do futuro filho de Victoire e não seu, acho que devemos considerar que as opções de Vicky para meninas não funcionam muito, só Éris que dá.

–Só porque você gosta de nomes de constelações, estrelas ou sei lá o quê!-Nicky levantou os braços.

–É isso mesmo. –eu sorri.

–Não é à toa que você demorou pra admitir que amaaaava o Scorpius de paixão, como aquele nome dele, né?-Lily disse.

–O que há de errado se chamar Scorpius?-eu cruzei os braços. –Esse nome é lindo!

–Para você, meu bem. –Roxy falou. –Mas, se o amor da minha vida se chamasse Scorpius, eu faria ele mudar de nome!-eu grunhi e me contive para não tacar uma almofada nela. Só não o fiz porque o penteado dela iria pro brejo e ela iria, sem brincadeira, me esfolar viva. E eu posso ser meio lelé da cuca, mas não sou suicida.

–Só que, tadinha de você, vai estar ocupada demais tentando fazer o ALVO mudar de nome. –Nicky, minha defensora predileta, ataca novamente.

–Vão se ferrar todas vocês. -Roxy fez bico.

A porta do banheiro se abriu com um estrondo e Lucy e Molly saíram de lá praticamente correndo, entrando no quarto com a aparência intacta, mas com caras apavoradas.

–5 MINUTOS!-Lucy sussurrogritou (coisa de família, já deu pra notar).

–O QUÊ? MAS A GENTE FICOU CONVERSANDO POR 2 MINUTOS!-Nicky se levantou apressada, batendo a cabeça na cama de cima, e eu quase ri. Mentira, eu ri sim, e ela olhou feio pra mim, massageando a cabeça com uma mão.

–Bom, Victoire vai entrar daqui a uns dez minutos, mas nós vamos antes, então temos que estar com nossos pares lá embaixo, que a Astória vai guiando um par por um.

–O QUÊ?-agora eu é quem estava apavoravelmente surpresa. –A MÃE DO SCORPIUS TÁ AQUI?

–É, ué!-Molly me olhou como se eu fosse louca. –O Sr.Malfoy é meio que parente do Teddy, então a esposa dele arrastou ele pra cá. E ela se ofereceu para ser uma espécie de organizadora do evento.

Maldições Imperdoáveis, Malfoy! Ainda mato você por não ter me contado. De tão burra que sou, esqueci completamente que os outros Malfoy são da família original do Teddy, portanto esqueci que eles viriam. Quer dizer, eu nem sabia que eles viriam. Que ótimo, Scorpius! Agora meu pai e o Sr.Malfoy vão tentar se assassinar em pleno casamento, que coisa linda! Se eu pego aquele loiro gostoso, idiota, sem noção que é o Scorpius e...

–Anda, cachorrada!-Lily bateu o pé, empurrando eu e Nicky para a porta.

Nós seis atravessamos o corredor (leia-se: Lily nos arrastou) e paramos rapidamente no topo da escada, nos entreolhando. Os nossos futuros maridos estão lá em baixo, e vai ser engraçado e meio constrangedor vê-los babar.

E tudo já está saindo do controle. Meu pai vai matar alguém, ou o Malfoy maior vai, e tudo vai explodir quando os aurores tentarem separar os dois e tudo e tal. Já tô tremendo internamente de pensar em como esse casório vai ser emocionante. No modo bom ou ruim, ainda não descobri.

Esse casamento vai, talvez literalmente, bombar.