–SHIU! Ela vai ouvir!-eu sussurroberrei.

Antes de você perguntar mas que droga é que eu fumei ou alguma coisa assim, saiba apenas que eu, Nicky, Roxy, Lice e Molly estamos na biblioteca, atrás de uma estante, vigiando Madame Pince atentamente, esperando a hora de ela tomar o suco de abóbora que Nicky levou pra ela há um tempinho atrás, e que contém Amortentia. Essa poção do amor ultra poderosa vai fazer com que essa bibliotecária chata caia aos pés nem tão limpos assim de Argus Filch, aquele zelador doido e que adora resmungar, e que fica levando a gata dele, que é quase mais velha do que ele, com ele a todo lugar que ele vai. Esse cara me assusta mais que o Barão Sangrento, aquele fantasma sonserino sem muito senso de humor. Não é à toa que o Nicky Sem Cabeça não curte muito aquele camarada, o Barão Sangrento é muito mais arrepiante que ele!

–Ela vai tomar, vai tomar!-Roxy saltitou. Alguém aí já deve ter notado que ela evoluiu de cangurus, não?

–Cala a boca!-Molly chiou.

Madame Pince se virou ligeiramente pra cá, mas como é meio míope, ainda de óculos, e como estávamos atrás de estantes cheinhas de livros, ela não nos viu. Então voltou à sua leitura morbidamente interessante, e começou a bebericar o suco.

Não demorou muito pra bebida fazer efeito que ela tinha um olhar meio abobalhado e um sorrisinho estranho no rosto magro e pálido dela. Ela devia estar imaginando como o Filch fica horripilantemente lindo carregando aquela gata pra lá e pra cá no colo (eca!) ou varrendo o corredor, ou simplesmente parado com cara de tacho.

Ela se levantou e saiu da biblioteca discretamente, para que os outros estudantes não a vissem, mas nós a seguimos com cuidado, ficando uns metros longe. Toda a hora que ela virava os corredores, nos escondíamos por um tempo e logo voltávamos à nossa aventura marota.

–Pra onde é que ela vai?-Alice sussurrou do meu lado.

–Não faço ideia, mas acho que pro corredor que leva às masmorras da Sonserina. -sussurrei de volta.

–Scorpius, Alvo e Luke já estão esperando com o Filch por lá, eu acho. -Roxy sorriu marotamente. –Eles iam chamar a atenção dele jogando uma bomba de bosta naquele corredor, e o Filch foi lá ver. Madame Pince deve ter sentido a fragrância do amor dela a longa distância, então aqui estamos nós.

–Lá vai ela! –Nicky tinha um sorriso igualzinho ao de Roxy no rosto. –Estão com as orelhas extensíveis?

–Tem certeza que isso vai pegar aqui?-eu perguntei. –Nem tudo que é da Zonko’s pega aqui.

–Isso é da Gemialidades Weasley, não da Zonko’s.-Molly piscou. –E sim, vai dar certo.

A verdade é que a gente, além de pôr uma poção de amor no suco daquela mulher, também colamos, discretamente, uma pequena orelha extensível nas costas dela, e ficamos com a outra para poder ouvir tudo o que ela declarar para o novo amor da vida dela.

–Pra trás!-Nicky exclamou com urgência.

Paramos, enquanto Madame Pince ia pra o corredor onde o Filch estava.

–Er, olá professora. –fizemos uma careta ao ouvir a voz do Filch. Eu não acredito que, após cem anos de convivência com Madame Pince, ele ainda não sacou que ela não é uma professora! Vê se pode.

–Olá, Argus! Como você está elegante hoje. –eu e as quatro prendemos o riso.

–Obrigado. A senhora também está ótima hoje.

–Senhora não, senhorita. –AI, QUE COISA MAIS DOIDA!

Roxy fez um barulho estranho, Molly engasgou e Alice e Nicky colocaram as mãos na boca pra segurar o riso.

–Tudo bem. Como a senhorita está hoje?

–Bem. Melhor agora que estou falando com você. –AH, AÍ JÁ É DEMAIS! Soltei uma sonora gargalhada, bem como as outras. Roxy se dobrava de tanto rir, mas Lice tapou a boca dela para ouvirmos mais. -Como você e sua gata estão hoje?

Eu hein, que cantada é essa?

–Ah, eu estou ótimo, e Madame Nora teve um pequeno problema digestivo com uns ratos, mas fora isso está gozando de perfeita saúde. –Ai, não!

–Mas isso é maravilhoso! Agora, que tal uma voltinha pelos campos da escola, hein?

–Claro, peraí, deixa eu só... -não conseguimos ouvir mais nada com o distanciamento deles. As orelhas extensíveis não funcionariam tão longe.

Nicky se virou pra mim com um sorriso gigantesco e as outras começaram a rir novamente.

–Funcionou!-Nicky começou a pular comigo. Isso é um ataque de empolgação conhecido como ARGH, Ataque Repetitivo de Garotas Histéricas, e eu confesso que eu tenho bastante isso.

–Tá, parou, parou!-Molly levantou as mãos. –Agora vamos tomar o resto do café que eu tô morta de fome.

–Ah, sim. -eu falei perversamente. - Agora tá na hora do micão! Minha hora preferida do dia, com certeza!

Elas gemeram em agonia coletivamente. Tava na hora do show!

***

–Tá, e o que é que a gente vai fazer?-Fred disse.

Estávamos todos nós (leia-se eu, meus primos, “Ally” e o amor dela, Huguinho e o meu amor) reunidos em um canto da mesa grifinória. Todos estavam virados pra mim com curiosidade, empolgação e aborrecimento.

–A gente não vai morrer de vergonha, vai?-Lily grunhiu. –Porque, se sim, eu já pulo da Torre de Astronomia para poupar esforço.

–Talvez o seu mico seja esse. -falei seriamente e ele me olhou como se eu fosse louca. Qualé, eu sou a pessoa mais normal dessa mesa! –Não, sério, vocês não vão se envergonhar disso a vida toda, talvez só durante uns cinquenta anos, mas depois passa.

–Hahaha, hilário, Rose. -Nicky revirou os olhos e todos sorriram pra nós duas.

–Okey então. Você começa. -falei pra Loirazeda.

–Isso é tão injusto!-ela me olhou feio. –Eu já tive que juntar o novo casal do ano de Hogwarts!

–Porque me desafiou com aquela máquina de matar voadora. -dei de ombros.

–A “máquina de matar voadora” se chama vassoura e agora ela é a sua melhor amiga, lembra?-ela sorriu.

–É, porque vocês e as outras maravilhosas amigas minhas ficam me desafiando e me colocando em máquinas de matar voadoras.

–Afe, desisto!-ela levantou as mãos em rendimento enquanto todos riam dela.

–Pois bem então. Eu quero que você suba na mesa da Lufa-Lufa e desfile lá.

–O q-quê?-ela engasgou com o suco.

–Ah, perdão. -fiz cara de desentendida. -Você vai lá e andar como você normalmente anda, na mesa inteira, e fazer pose no final dela.

Ela olhou para os lados, enquanto todos a encaravam divertidos. O Salão Principal estava cheio a essa hora, então pode crer que ela pagaria o mico bem pago.

–Mas, Rose, eu...

–Qual é, você já fez coisa pior. –eu sorri angelicalmente. –O que uma pobre vergonhinha pode fazer com você?

Ela rosnou e se levantou brutalmente da mesa, parando na frente da mesa lufana, enquanto algumas pessoas a olhavam curiosos.

–Rinus. -chamei o moreno que tava do lado do James. -Você vai narrar isso.

Ela sorriu como se eu tivesse dado um prêmio pra ele, apontou a varinha pra garganta e murmurou “Sonorus”. Aí o show degringolou de vez:

–Senhoras e senhores, queiram ver esse espetáculo com os próprios olhos porque eu estou usando os meus! Aí vem Dominique Weasley, a garota dourada de Hogwarts, mostrando os dotes dela! –Nicky olhou pra mim apavorada e eu sorri como se fosse um anjinho, novamente. Agora todos tinham os olhos nela, inclusive os professores. –CALMA, POTTER RESPIRA! Vai Dominique!

A loira revirou os olhos antes de subir na ponta de um banco, e de lá subir pra mesa dos texugos, tomando todo o cuidado pra não pisar no prato do McLaggen, colocou as mãos na cintura, e daí começou a andar normalmente (pra ela é normal andar rebolando, eu aqui que sou normal chamo isso de desfilar) na mesa, enquanto todos os lufanos a encaravam incrédulos, bem como o resto do Salão Principal. Ela parou na ponta da outra mesa, piscou para os professores que tinham as caras mais engraçadas do mundo, e voltou pra o final da mesa, de onde desceu com classe e voltou pra a nossa mesa, sentando-se bem na minha frente.

–E AÍ, FESSORES? Ela merece um dez aí, vocês não acham?-Thomas piscou para Nicky e James deu um soco no braço dele. –AI, POTTER! TÁ BOM!

Mas James olhava meio abobalhado pra Dominique, e murmurou um “Quer casar comigo?”, ao passo que ela apenas mandou beijinho pra ele.

–Isso foi lindo!-Fred bateu palminha e Molly e James o fuzilaram com o olhar.

–É isso aê, mana!-Louis fez coro.

Quem ia agora? Deixa eu ver, deixa eu ver... Ah, já sei!

–Freddie lindo do meu coração ruivo, eu quero que você vai lá e faça uma declaração de amor para a Welson. –eu disse docemente e todas as cabeças se voltaram na minha direção.

Fred abriu a boca mas logo tornou a fechá-la, daí o maluco sorriu maroto.

–Você que manda, prima. -ele se levantou da mesa e fez uma reverência pra mim. Todos no Salão Principal ainda olhavam para o nosso canto da mesa, provavelmente tentando adivinhar o que é que tinha de errado no nosso suco.

Fred Weasley caminhou calmamente até a mesa dos professores, enquanto todo o Salão prendia a respiração, e se dirigiu a uma bruxa gordinha, baixinha e de cabelo crespo toda vestida de verde. É a professora Tilda Welson, de Estudo dos Trouxas. Ela fica engraçada até quando respira, mas é autoritária estilo tia Minnie e não tolera gracinhas. Isso vai ser engraçado.

Fred se ajoelhou na frente dela, enquanto todos os outros professores o encaravam como se ele tivesse ingerido um rato, e abriu o coração:

–Professora linda, eu cansei de esperar por tanto tempo pra poder fazer isso, então vou botar tudo o que sinto pra fora. Te amo com todo o meu humilde coração e não tô nem aí por você ser uns mil anos mais velha que a gostosura aqui, quero dizer que sei que você também me ama e que, se o destino for legal e a tia Minnie também, poderemos ficar juntos para sempre. E só. –ela se levantou e ficou de frente para a Welson, que tinha o rosto vermelho e um olhar assassino.

Aí eu já não agüentei mais. Soltei uma gargalhada alta, e aí todo o Salão começou a gargalhar também, incluindo os professores (a tia Minnie tava se dobrando de rir, e o Neville não estava muito diferente).

–WEASLEY!-Welson ia matar o pobre do meu primo. É, e eu aqui ia ter que levar a culpa pro resto da vida. Já até imagino como será a lápide dele: “Aqui jaz Fred Weasley, que foi assassinado por culpa de uma prima extremamente ruiva. Fred manda lembranças do além e diz pra Molly que esqueceu o Puff dele no freezer da cozinha de Hogwarts.”

–ELA ME DISPENSOU!-Fred colocou as mãos no rosto e saiu correndo até a nossa mesa, enquanto todo o Salão ainda gargalhava e o aplaudia.

–Isso foi... -Lily tinha lágrimas nos olhos.

–LINDO!-eu, Roxy, Alice e Nicky piscamos apaixonadamente, só pra depois cair na gargalhada.

–Ai, ai, assim vocês me matam!-Fred fez uma careta. -Ela vai me matar. Eu sei que vai.

–Ela que entre na fila!-Molly disse irritada. Todos riram mais ainda.

–Então, quem é o próximo?-Roxy se virou pra mim.

–Jaysito lindo, é você!-pisquei pra ele, que colocou as palmas das mãos juntas e as levantou para o alto, como uma prece. -E não adianta rezar, isso não cola. Você vai lá na mesa das víboras e declarar seu amor pela Casa da Sonserina!

Alvo, Luke e Scorpius me olharam agradecidos, enquanto todos os outros faziam uma careta. É, isso era uma vingancinha pra eles, já que James fez os três se declararem para a Grifinória.

–Rose, você falou que eu ia ficar uns cinquenta anos envergonhado, não a vida toda!-ele arregalou os olhos e todos prenderam gargalhadas.

–Você merece isso, irmão, pode crer. -Alvo falou “inocentemente” e James lhe lançou um olhar fulminante.

–Vai lá, Jay!-as meninas bateram palmas.

Meu primo Potter maior se levantou e caminhou para a mesa verde como se estivesse andando pra a própria forca, subiu na mesa, pisou na mão do Parkinson (acho que foi de propósito, só acho), respirou fundo e soltou a franga:

–Eu estou aqui para, bem, declarar o meu amor pela... -tossida. -... Pela honorável Casa... -ele fez uma careta muito engraçada. -... Casa da Sonserina. Essa Casa é a mais... Mais forte de todas e a mais rastejante, quer dizer, desejante, porque é a Casa dos Bravos e dos Fortes... -juro que nossa parte eu ouvi ele dizer “Só que não”-... E ganha fácil da Grifinória, e eu estou aqui pra dizer que, bem... Que eu AMO A SONSERINA!-os sonserinos ovacionaram e aplaudiram, mas James deu um sorrisinho sarcástico. Aí vem. –SÓ QUE É MENTIRA!

O sorrisinho de todos os sonserinos morreu na hora, e todos os outros da outras Casas aplaudiram James.

O dito cujo voltou para a nossa mesa confiante e se jogou sem cerimônias nela, ao lado de Nicky.

–Ah, isso não vale!-Alvo protestou e Zabini e Scorpius acenaram em concordância.

–Nem vem, Alvinho!-James riu. –Fui lá e mandei ver, não era o que a Rose pediu?

–Era, era!-eu revirei os olhos. –Tá, agora eu quero que Hugo se declare para o Louis!-olhei para os dois sorridentes enquanto eles cuspiam o suco.

Lily e Lucy olharam pra mim como se eu tivesse uma melancia na cabeça e os dois grifinórios começaram a protestar, mas eu dei de ombros.

–Vão lá!-eu disse, simplesmente.

Eles caminharam para o meio do Salão Principal como se cada passo doesse, e aí Hugo se ajoelhou na frente do loiro com uma cara de vergonha que eu quase morri internamente de rir, e abriu o coração do mesmo modo que Fred.

–Louisinho, eu queria... Eu queria aproveitar para... Para... Eu te mato Rose... Para declarar o meu amor por você e... Tô falando sério quando digo que nada vai nos separar. Fim. –a cara dele estava idêntica a uma pimenta, e o Louis não estava muito diferente.

Todos aplaudiram o feliz casal e se ouviam muitas gargalhadas das quatro mesas, mas o nosso canto era o que mais se parecia com um bando de hienas.

–Isso foi adorável!-Nicky suspirou.

–Só que não. -Lily fez uma cara... TPM, só pode.

–Eu sempre soube que eles eram meio viadinhos!-James piscou pros dois, que quase pularam no pescoço dele.

–Bom, por hoje é só!-eu disse. –Depois Lucy, Lily, Molly, Alice, Roxy, Alice, Luke, Alvo e Scorpius pagam os micos deles. Ainda tenho que bolar algo bem vergonhoso, vocês merecem.

Os referidos acima gemeram em agonia e eu apenas olhei pra eles com minha melhor cara de anjinha.

Scorpius balançou a cabeça e deu uma risadinha, e não pude deixar de sorrir também.

O que eu faço com esse cara? Não no sentido figurado, no mico.

Vai ser difícil achar um jeito de deixar ele com vergonha. É, vai mesmo.

Mas eu vou conseguir.