Aprendendo a Ser Uma Família escrita por WaalPomps


Capítulo 8
Conversa de amiga


Notas iniciais do capítulo

Olá xuxus. Porque não estão comentando? NÃO TO GOSTANDO DISSO, OK?
Vou começar a colocar comentários mínimos, que nem em "E Se?" u.u
Enfim, aproveitem o capítulo ;@



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Rafael Campana Vasquez nasceu na madrugada de 16 de janeiro, nove semanas antes do previsto. Malu e Maurício sequer puderam ver o filho antes que ele fosse levado para a UTI Neonatal, após quase entrar em sofrimento enrolado ao cordão umbilical.

Quando Fabinho chegou ao hospital, a família já estava no quarto de Malu, ainda não totalmente recuperada da cesárea de emergência, mas se recusando a adormecer até ter notícias do filho.

_ Bom, como vocês podem imaginar, o Rafael está bem prematuro. Não mais de dois meses antes do previsto. – a médica tentou explicar de uma maneira que não assustasse os pais, mas passasse a gravidade da situação – Os pulmões dele ainda não estão totalmente formados, e ele ainda é bem fraco.

_ Isso quer dizer que ele vai ficar na incubadora? - perguntou Maurício, tentando conter a esposa. A médica assentiu.

_ As primeiras 72 horas são sempre críticas para prematuros. – explicou a mulher – Geralmente são nelas que detectamos os problemas que o bebê prematuro tem e...

O choro alto de Malu cortou o quarto, impedindo a médica de continuar. Maurício tentou confortá-la, mas ele mesmo não estava se aguentando. Fabinho e Natan se aproximaram, o segundo puxando o filho para um abraço, enquanto o rapaz aninhava a irmã no colo, fazendo sinal para a enfermeira medicá-la. A mulher injetou o remédio no soro da pedagoga, e Fabinho a segurou até que ela adormecesse soluçando.

Uma semana

_ Como a Malu está? – perguntou Giane, durante o café da manhã.

_ Minha mãe disse que mal, bem mal. – suspirou Fabinho, encarando a xícara de café – Ela não sai do hospital, alugou um quarto lá. Ela passa cada segundo possível sentada do lado do Rafael, e quando não está lá, está trancada no quarto, tirando leite ou chorando. E ela não deixa nem o Maurício, nem ninguém, falar com ela.

_ O Rafa já está conseguindo mamar? – Fabinho negou – Respirar? – ele negou também, dando um suspiro.

_ Ela mandou uma foto. Ainda parece aquelas cenas de filme de terror, todo cheio de fios, com os olhinhos cobertos... Dá até um negócio de ver.

_ Giane, a febre do Miguel aumentou. – avisou Emília, entrando na cozinha com o bebê no colo – Está com 38,5ºC.

_ É melhor levarmos ele pra Samantha. – comentou Fabinho – E a Belle também. Não queremos os dois doentes.

_ Droga, eu queria tentar ver a Malu hoje. – resmungou Giane, coçando os olhos – Mas é melhor vermos isso. Emília, arrumar a bolsa deles, por favor. Eu vou ligar para a Samantha. Fabinho, você vai trocando eles?

Duas semanas

_ A infecção passou? – perguntou Plínio, com Miguel aninhado nos braços.

_ Graças a Deus. – suspirou Fabinho – Não durmo faz uma semana, nem a Giane. Quase transformamos o termômetro em uma extensão do corpo dele.

_ Mas a Belle não teve nenhum sintoma? – o publicitário negou.

_ A Samantha explicou que como era infecção no ouvido, ela dificilmente pegaria também. Se fosse gripe ou algo assim, era mais arriscado. – explicou Fabinho, coçando os olhos – Que coisa horrível é ver seu filho doente assim, molenga de febre.

_ Por falar nisso, seu sobrinho ainda está na mesma. – Fabinho sentiu a alfinetada, mas não estava em condições de se sentir culpado.

_ Pai, com todo o respeito, eu me preocupo com o Rafael. Mas o meu filho estava doente. Você queria que eu fizesse o que?

_ Ligasse para saber dele, da sua irmã... – cobrou Plínio, e Fabinho sentiu o sangue queimar.

_ Desculpa não estar vivendo em função disso pai, mas eu tenho meus próprios filhos para se preocupar. E você também, tem o Pedro. Ou você acha que ficar sentado na frente do quarto da Malu, esperando algo acontecer, está sendo o melhor a fazer? – rosnou o rapaz, tirando Miguel do colo do avô – O Miguel passou uma semana doente, e só hoje você veio ter notícias dele, porque a mãe te obrigou a sair um pouco do hospital. E eu vi o meu irmão ontem, e ele está meio irritadiço sabia? Porque não está recebendo muita atenção. Então antes de falar um A para mim, arrume você suas atitudes.

Plínio ficou chocado, enquanto o filho lhe dava as costas e saia do quarto de Miguel. Cruzou com a mãe, Giane e Belle no corredor, mas estava irritado demais para conversar. Desceu as escadas, indo para os fundos da casa e deitando na espreguiçadeira, com o filho bocejando nos seus braços.

_ Você não precisava ter sido tão grosso. – repreendeu Irene, sentando ao lado do filho.

_ Você teria agido diferente? – perguntou Fabinho, encarando o rostinho do filho – Mãe, o Miguel bateu quase 40 de febre. Nós passamos muito perto de ir pro hospital, a senhora sabe disso. E ainda tínhamos que dar atenção e cuidado para a Belle. E ele vem me repreender porque eu não liguei para saber do Rafael ou da Malu?

_ Meu filho, você sabe que ainda é difícil para o seu pai lidar com a ideia de que tem mais um filho. Por 23 anos, a Malu foi a única coisa da vida dele.

_ Tá, mas já tem mais de quatro que as coisas mudaram. E ele não percebe isso. – retrucou Fabinho – Mãe, o Pedro já tem dois anos, dois anos que ele tem um filho convivendo com ele diariamente, e ele agora fica todo pilhado? Ele tem que ser pai antes de avô, e eu digo isso em relação ao Miguel e a Belle também. Eu to preocupado com a Malu, claro que estou, assim como você. Mas eu não me desliguei do meu papel de pai e nem você do seu de mãe.

Irene suspirou, sabendo que não adiantaria discutir com o filho. Beijou a cabeça dele e de Miguel, levantando e voltando para o interior da casa.

Terceira semana

_ Nenhuma mudança no quadro do Rafael. – suspirou Maurício, sentado na sala do cunhado com ele e Caio – Ele conseguiu atingir 1,300kg, mas ainda não consegue sugar. Eu nunca vi os olhos do meu filho, vocês acreditam nisso?

_ É que a luz da incubadora é muito forte, você sabe disso. – Fabinho tentou consolar Maurício – Calma cara, eu sei que está sendo muito lento, mas você tem que comemorar cada pequena melhora.

_ Eu comemoro, juro que comemoro. – garantiu o promoter – É só que... Está difícil lidar com a Malu. Três semanas e eu não ouvi a voz dela, nem falando com o médico. Ela fica sentada encarando o Rafa, levanta, volta para o quarto, e fica lá, muda, até a próxima visita.

_ E a psicóloga? – perguntou Caio, e Maurício suspirou.

_ Entrou e ficou falando com a parede. A Malu deitou, virou para o lado e dormiu, ignorando totalmente a mulher. – o playbou massageou as têmporas – E a Giane? Como está? A Irene falou que ela pegou uma virose?

_ Pois é, muita coisa de uma vez. – suspirou Fabinho – Mais um item para o meu pai jogar na minha cara depois.

_ Vocês ainda não estão se falando? – o rapaz negou – Eu sinto muito cara. Mas eu entendo o que está acontecendo, de verdade. E não acho que você esteja errado. Uma infecção de ouvido, seguido de uma virose...

_ O pior é que a pivete fica puta, porque não é bom ela ficar perto dos bebês. O médico não sabe se é bacteriana ou por vírus, então é melhor não corrermos o risco dos bebês ficarem doentes. Ela está bem azeda, se quer saber. – Fabinho contou, se recostando no sofá.

_ E como você está dando conta de tudo?

_ As minhas mães e a Camila estão ajudando, então o Caio já virou de casa. – brincou Fabinho, e os três riram – Aí a mulherada saiu com os bebês e a Giane está apagada, então resolvemos te tirar um pouco do hospital, para esfriar a cabeça.

_ Acho que eu devia ter repassado as correntes do Orkut. – suspirou Maurício, fazendo os três rirem novamente.

Um mês

_ A médica disse que o Rafael vai poder começar o método canguru hoje. – contou Irene, enquanto todos almoçavam na Mansão Campana no domingo.

_ Que legal. A Malu deve estar animada, não é? – perguntou Dorothy, e os adultos trocaram olhares – Gente, a Malu tá bem, não tá?

_ Dorothy, você já ouviu falar de uma coisa chamada depressão pós-parto? – começou a explicar Irene, e a menina concordou – Então querida... A Malu ficou bem chateada com esse negócio do Rafa estar doente, e acabou ficando deprimida.

_ Mas o Rafa já está melhor, não é? – apesar dos dezesseis anos e da maturidade, quando se tratava de Malu, Dorothy ainda era uma criança.

_ Sim, e logo a Malu também. Mas ela precisa de um tempo para se acostumar. – explicou Fabinho sorrindo – Bom, eu e a Giane vamos ao hospital hoje. Agora que a pivete está livre da virose, é seguro.

_ E a Isabelle e o Miguel não precisam de atenção? – debochou Plínio. Giane segurou Fabinho na cadeira, enquanto Irene olhava o marido com reprovação – Desculpem, é só que...

_ Com licença, eu já terminei. – Fabinho jogou o guardanapo no prato – Eu vou cuidar dos meus filhos, porque eu ainda lembro que tenho mais que um.

_ Plínio já chega dessa história. Ou então, além da Maria Luiza, você vai ter mais um filho longe de você. – bronqueou Madá.

_ Eu vou falar com ele. – Plínio começou a levantar, mas Giane impediu.

_ Melhor não Plínio, do jeito que é esquentado, vai acabar sendo pior. – garantiu Giane – Bom, eu já terminei também. Vou lá chamar ele e vamos para o hospital.

~*~

Encontraram Maurício, Verônica e Natan no corredor, encarando a porta de Malu.

_ Alguma novidade? – perguntou Fabinho, e Maurício suspirou.

_ Ela se recusa a sair do quarto e ir pegar o Rafa. – contou o rapaz, e o casal se chocou – Os médicos estão preocupados. Depressão pós-parto é...

_ Ah, mas eu vou mostrar a depressão para ela. – Giane se exaltou – Me dá a chave do quarto. Agora. E não quero ninguém lá atrás de mim.

Maurício passou a chave do hospital e ela abriu a porta, batendo-a atrás de si. Encarou Malu deitada na cama, de costas para ela, e caminhou a passos largos, dando a volta no móvel.

_ Levanta. Agora. – mandou, observando os olhos vidrados da cunhada – Anda Maria Luiza, ou eu te levanto na porrada.

Quando Malu não se mexeu, Giane jogou a chave na cômoda, se aproximando e puxando a cunhada pelos ombros, fazendo-a se sentar. Malu piscou algumas vezes, tentando se soltar.

_ Escuta aqui Malu, eu sei o que você está se sentindo. Eu também me senti péssima quando me disseram que a Isabelle teria que ficar no hospital, e por isso o Miguel também. Eu deixei meus dois filhos aqui, sem saber por quanto tempo. E eu me senti podre, pelo fato de que eu não tinha conseguido segurar eles na minha barriga tempo o bastante para que eles saíssem de lá prontos para viver. Eu tinha que ver eles passando por baterias de exames, tinha tempo contado para ficar com eles. Mas eu usava isso, eu dava todo meu amor e carinho para eles quando eu podia estar com eles, eu tentava participar, eu...

_ Giane. – a voz de Malu saiu rouca, cortando a cunhada – Você sabe como é a sensação de não poder segurar o seu filho no momento em que ele nasce? De não poder vê-lo? De não poder tocá-lo? De não saber sequer a cor dos olhos dele? De ver o esforço que é para ele conseguir respirar?

_ Não, eu não sei. Mas você também não vai saber como é deixar dois bebês para trás. – garantiu Giane – Não importa Malu, ninguém vai saber exatamente como é a dor do outro, cada dor é diferente. Mas você ficar aqui, se afundando em autopiedade... Não é bom para você, pro Rafael ou pro Maurício, que você querendo ou não, está sofrendo tanto quanto você, ama o Rafael tanto quanto você e precisa de você, tanto quanto você precisa dele.

_ Eu sei. – gritou Malu, caindo em prantos – Eu sei que eles precisam de mim. Mas eu não consigo. Eu não consegui ser... O Rafael quase morreu, porque meu útero é errado, porque a placenta amadureceu muito rápido, porque ele se enrolou no cordão...

_ A sua parte você fez Malu. – garantiu Giane, acariciando os cabelos sujos da cunhada – E agora se culpar ou culpar alguém, não adianta. O Rafael precisa de você, do seu carinho, do calor do seu corpo. Ele precisa saber que você e o Maurício estão ali, cuidando dele, protegendo ele. Juntos.

_ Por que você demorou tanto? – sussurrou Malu, e Giane a abraçou.

_ Tem certos demônios que não são fáceis de enfrentar. – garantiu Giane – Agora toma um banho bem gostoso, faz um coque bem bonito e coloca aquela roupa que a Irene trouxe ontem. Eu vou fazer uma coisa, mas eu volto daqui a pouco.

A pedagoga assentiu, levantando da cama e rumando para o banheiro. Giane saiu do quarto, encontrando os quatro e mais Plínio, Irene e Madá, no corredor.

_ Ela está tomando banho. – todos suspiraram aliviados – Fraldinha, pega a sacola que nós trouxemos e vem comigo. Temos algo para fazer.

~*~

_ Pronta? – perguntou Giane, após ajudar Malu com o cabelo. A pedagoga assentiu, e abraçou a cunhada, as duas rumando para fora do quarto. Todos se levantaram ansiosos, e Malu recuou. Giane apertou seu braço – Mau?

O promoter se aproximou, enquanto Giane soltava Malu. O homem estendeu a mão, que Malu apanhou trêmula. Ele puxou a mulher para perto de si, beijando sua testa.

_ Vocês vêm? – perguntou a pedagoga, e Giane negou.

_ Esse é um momento de vocês três. – garantiu Fabinho, abraçando a mulher. Malu assentiu, começando a caminhar com Maurício – Deles três, Plínio.

O cineasta parou, encarando o filho mais velho. Ele olhava a irmã no corredor, mas de alguma forma sabia que o pai havia tentando ir atrás.

Maurício e Malu caminharam em silêncio, parando em frente à porta da UTI. Higienizaram as mãos e entraram, seguindo pelo caminho de berços conhecidos, até chegar ao de Rafael. E lá, ficaram surpresos.

Estava cheio de fotos de toda a família, coladas em uma cartolina colorida. Havia dois ursinhos de pelúcia ladeando a incubadora, assim como um macacãozinho do São Paulo pendurado junto com o soro.

_ Seu irmão e sua cunhada que fizeram. – contou a enfermeira – Eles fizeram quase o mesmo quando os gêmeos ficaram aqui, e agora fizeram para o Rafael. Ficou bem animado, não acham?

O casal Vasquez apenas assentiu, se aproximando do filho. Para a surpresa dos dois, havia apenas o tubo de respiração preso ao nariz do bebê, que piscava os olhos para os pais.

_ São azuis. – sussurrou Malu, emocionada. Maurício concordou, e a enfermeira sorriu para ambos.

_ Bom, ele ainda não conseguirá se alimentar de leite do seu peito, mas já estamos trabalhando nisso. Daqui uma semana ou duas, poderemos começar a dar leite em um copinho especial, e logo, se tudo ocorrer bem, ele já vai ter força para sugar no peito. – os dois concordaram maravilhados – Quer pegar seu filho Malu?

_ Mais que tudo no mundo.

A moça sentou na cadeira de balanço, enquanto a enfermeira pegava Rafael com cuidado. Outra enfermeira auxiliava com os fios e tubos, enquanto colocavam o menino no colo da mãe. Malu se atrapalhou um pouco, mas logo havia acomodado o bebê em seus braços.

Maurício se ajoelhou a sua frente, encostando o rosto nas costas do filho, sentindo sua respiração. Malu sentiu os olhos cheios de lágrimas, enquanto sentia a mão do marido na sua. Sua família estava completa.


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Notas finais do capítulo

Foi triste, mas foi fofo.
ENFIM, comentem.
Beeeijos