_ Mamãe, papai... Aconteceu. – ouviram o grito de Catarina, que vinha correndo apressada – Meu dentinho tá mole.

_ Jura princesa? – Giane sorriu, se abaixando e olhando o dentinho que a menina balançava – Que legal.

_ Deixa o papai ver. – Fábio deixou os pratos na mesa, se abaixando ao lado dela – Olha só, a baixinha vai ficar bangula.

_ Logo a fadinha vem deixar moedinha. – Cat praticamente pulava no lugar – Será que cai antes do aniversário do Miguel e da Belle?

_ Faltam um mês para o aniversário dele, com certeza cai antes. – os pais riram, vendo-a balançar o dentinho mole – Mas você precisa esperar, está bem?

_ Mas papai...

_ Papai tá certo princesa. – Giane beijou a filha – Lembra que o Miguel tentou puxar o dele e se machucou?

_ Lembro. – ela resmungou.

_ Então, vamos esperar e ter calma. – os pais se levantaram, voltando para o que faziam. Catarina bufou, saindo correndo. Subiu as escadas as pressas, caminhando até o quarto de Miguel. O irmão mais velho estava sentado em frente ao videogame, e ela parou ao lado dele.

_ Meu dente tá mole.

_ E?

_ Eu quero que ele caia?

_ E?

_ Eu preciso que você me ajude.

_ Pede pra Belle. – resmungou Miguel, bravo por ela estar interrompendo o jogo.

_ A Belle tá na casa da tia Malu. – a pequena começou a chacoalhar o braço do irmão – Vai Miguelzinho, por favor.

_ Não me chama assim. – ele reclamou, largando o controle – Você me desconcentrou, me fez morrer.

_ Agora você pode me ajudar. – ela sorriu travessa – Vai me ajudar?

_ Tenho escolha, pentelha? – ele levantou, descendo as escadas com ela ao seu lado.

_ Você é o melhor irmãozão do mundo. – cantarolava ela, enquanto os dois se dirigiam para o escritório de Giane.

_ Eu sei, eu sei... Não que você tenha outro né. – o garoto começou a pesquisar – Tá aqui... Como fazer o dente mole cair.

_ E o que diz? – a caçula ainda não sabia ler mais do que poucas palavras. Miguel bufou.

_ Para balançar com a língua por 25 minutos por dia. Em dois meses cai.

_ Dois meses demora muito, a mamãe falou que vai cair antes. – reclamou Cat, e o irmão suspirou.

_ Calma Catarina, que ainda tem mais coisa. – ele rolou a página – Hum... Vamos no banheiro.

_ Pra que?

_ Pra você escovar o dente até ele sair. – ele entrou, pegando a escovinha dela – Pronto.

_ Mas e a pasta?

_ Você vai arrancar o dente, não limpar ele. – Miguel bufou – Vai Cat, começa a escovar.

Ela começou a passar a escovinha delicadamente, e o irmão bufou. Ele segurou a mão dela, fazendo-a forçar mais a escovação.

_ Ai Miguel, tá doendo. – ela choramingou.

_ Tem que doer né? Você tem que forçar seu dente, não adianta ficar fazendo carinho nele.

_ Não quero assim, dói muito. – ela choramingou, e Miguel bufou – Vamos para outra?

_ Tá bom, tá bom... – eles correram até o computador novamente – O próximo é... Mexe seu dente, até ele sangrar.

_ Mas vai doer.

_ Que saco Catarina, você quer tirar esse dento ou não? – Miguel perdeu a paciência. A menina confirmou – Então vai ter que aguentar a dor.

Ela começou a mexer o dente, primeiro devagar, depois com mais força e pressa. Quando sentiu o gosto de sangue, sorriu.

_ Tá sangrando.

_ Agora tem que torcer.

_ Como? – ela arregalou os olhos. Miguel estendeu a mão.

_ Posso?- ela assentiu, enquanto o irmão segurava seu dente com cuidado e torcia. Ela gritou de dor – Droga, para de reclamar.

_ Para Miguel, tá doendo. – ela afastou a mão dele, fungando – Não tem outra coisa?

_ Morder gelo e... Espera aqui.

O garoto saiu correndo, deixando a irmã sem entender nada. Ela ouviu uma pequena conversa na cozinha, e logo Miguel voltou com uma maçã na mão e um sorriso travesso no rosto.

_ Muito bem Cat... Mete o dente com tudo.

Os olhos da menina brilharam, finalmente achando algo que não doeria tanto. Ela pegou a grande maçã, abrindo a boca e mordendo-a com vontade. Porém, algo deu errado.

_ Miel, mo den tá peso. – ela resmungou, não conseguindo soltar a maçã. O menino tentou puxar, mas não conseguia – Tá doeo.

_ Vem. – ele a puxou pela braço, caminhando com ela até a cozinha – Mãe, o dente da Cat tá preso.

_ Como assim preso? – os pais se viraram surpresos, encarando as duas crianças – Ai meu Deus...

_ Miguel de Sousa Campana. – Fábio reprendeu o filho, que deu de ombros.

_ Ela que me pediu para ajudar a tirar o dente dela.

_ E você como o irmão mais velho responsável e prestativo ajudou, estou correto? – o menino deu um sorriso idêntico ao do pai – Depois conversamos.

_ Cat, a mamãe vai ter que puxar com um pouquinho de força, está bem? – perguntou Giane, e a filha tremeu – Fraldinha, abraça ela.

_ Vem aqui. – ele abraçou a filha pelas costas, e ela fechou os olhos. Miguel segurou a mãozinha da irmã, fechando os olhos também – Um, dois...

Giane não esperou o três e puxou a maçã com força. Fábio abraçou mais a filha, enquanto Miguel sentia suas mãos latejando. A garotinha gritou de dor, os olhos escorrendo as lágrimas.

_ E pronto, tá aqui o dente. – a mãe retirou o item da maçã, mostrando para a filha. Ela piscou os olhos, fungando – Vem aqui, chupa um cubinho de gelo. Vai ajudar a parar de doer.

_ Que dente pequeno. – Miguel se surpreendeu.

_ O seu era assim também. – Fábio riu do filho – E da Belle idem.

_ E a fadinha levou o deles também? – Catarina falou com a voz pastosa, enquanto chupava o gelo.

_ Ela levou todos os dentinhos dos seus irmãos, e vai levar o seu também. – concordou Giane, lavando o dente na pia – Bom, agora o jantar está pronto. Que tal sentarmos comer?

_ Mas não vai doer? – perguntou Catarina.

_ Talvez um pouquinho. Vai ser mais incômodo, mas nada que não dê para aguentar. – garantiu Fábio, enquanto os dois sentavam lado a lado.

~*~

Na manhã seguinte, todos já esperavam pelo que aconteceu. Catarina acordou com as galinhas e saiu correndo, aos berros, avisando que a Fada do Dente a havia visitado.

_ Eu ganhei uma moeda. – ela cantarolava, pulando na cama dos pais. O casal piscou com vagar, ainda sonolento – Olha, um real.

_ Que bom minha querida. – riu Giane, enquanto Fábio abraçava a caçulinha. Logo, Miguel e Belle se arrastaram pela porta.

_ Eu mereço metade disso. – o garoto resmungou – Porque eu ajudei a tirar esse dente.

_ Perca seu dente, e você ganha moedinha. – Catarina mandou a língua para o irmão.

_ E porque todos tem que acordar por isso? – resmungou Belle.

_ Olha, tem mais um dentinho mole. – gritou a caçulinha da família.

_ Quero nem saber disso. – os gêmeos saíram correndo, enquanto a menina saia atrás deles.

_ Só alegria? – perguntou Fábio.

_ Cala a boca e levanta logo. – riu a corintiana, pulando para fora da cama.