Aprendendo a Ser Uma Família escrita por WaalPomps


Capítulo 43
Três anos e meio depois - Parte 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/442631/chapter/43

_ Giane, anda ou vamos chegar hora que o lugar fechar. – gritou Fabinho, sentado na sala – Para um pivete maloqueiro, você enrola demais para se arrumar.

_ Cala a boca e me deixa Fabinho. – mandou ela do andar de cima, e ele deu de ombros. Ligou a TV, colocando em um seriado qualquer.

Levaram as crianças para a casa dos avós no começo de noite, logo após Fabinho e Catarina chegarem em casa. Foi o tempo de dar banho na menina e trocar sua roupa, e a família seguiu para a mansão.

Nem bem pararam o carro na garagem, as crianças desceram do carro e sumiram. Os pais deixaram as mochilas e gritaram tchau, sendo respondidos. Agora, onde os pequenos estavam, esse era o mistério.

Por fim, o casal decidiu sair para uma noite de diversão, na companhia de Malu, Maurício, Caio, Camila, Luz e Jonas. Escolheram ir ao Cantaí, aproveitar a noite de folga dos filhos e talvez relembrar um pouco o tempo de recém-casados.

Se a vida em família era fácil, a vida como casal estava cada vez mais difícil.

Tinham certeza de que, se Fabinho não tivesse feito a vasectomia, aquela altura já estariam no quinto filho, se não sexto. E não por vontade de família grande.

Giane nunca se dera bem com os anticoncepcionais, sempre tendo alguma reação “alérgica” aos mesmos, então seu único método contraceptivo era a camisinha. E com três crianças acordando a noite inteira, resolvendo querer dividir a cama com os pais...

Não era raro conseguirem uma única noite em mais de semanas, e ainda uma noite “rápida”. Já fazia quase três semanas que não faziam nada, e a última vez havia sido uma rapidinha no chuveiro, em um sábado à tarde, enquanto os filhos assistiam ao filme mais recente da Disney.

Basta dizer que, quando finalmente conseguiam um tempo, a última coisa em que pensavam era na camisinha. E isso teria, com certeza, ocasionado em uma família bem grande.

_ Pronto fraldinha, to pronta. – Giane desceu as escadas, recebendo um assovio – Larga de ser besta.

_ Besta? Cê tá gostosona, se exibindo pra mim...

_ Quem vê pensa que eu to nua e fazendo stiptease. – ela bufou, parando ao lado dele.

_ Não seria uma má ideia... Reaver nossos tempos de juventude. – ele a abraçou pela cintura – Eu sempre achei que preto é a sua cor.

_ Cê acha que qualquer cor é a minha cor.

_ Claro, você fica bonita de qualquer jeito. – ele sorriu, lhe dando um selinho – Especialmente um bege bem clarinho, que nem a tua pele.

_ Seu pervertido. – ela riu alto – Vem, vamos logo. Estou com saudade de irmos ao Cantaí.

_ Já falei para irmos com as crianças, mas você acha que eles não vão se comportar. – o publicitário deu de ombros, enquanto iam abraçados para a garagem.

_ Você fala como se não conhecesse o Miguel e a Isabelle. – suspirou a corintiana – Eu amo nossos filhos, mas pelo amor de Deus, como aquelas crianças conseguem ser tão arteiras?

_ Eles são a combinação dos nossos genes. Puxaram o que tínhamos de pior, enquanto a Cat puxou o pouco que tínhamos de melhor. Eles são nossas versões aperfeiçoadas, seja na arte da bagunça ou na arte de ser adorável.

_ Muito profundo, fraldinha, quase poético. – Giane gargalhou alto – Agora vamos... Quanto mais cedo formos, mais cedo voltamos.

_ Essa é a minha maloqueira.

~*~

Na casa de Plínio e Irene, o pandemônio era geral. Os dois, é claro, não ligavam, a não ser que fosse Pedro o autor das artes. O mais velho dos pequenos já contava 9 anos, mas não era o líder da gangue. Por incrível que pareça, esse papel havia ficado com Isabelle.

A garotinha havia puxado o gênio espevitado da mãe, e a destreza do pai para armar as coisas. Poderia ser uma líder de guerra nata, se não tivesse um coração tão bom. Bom, mas ainda sim sapeca.

_ A vovó colocou o pote de biscoitos na terceira prateleira de cima. – Marcela e Miguel vieram correndo – E tem Negresco no pote.

_ Tudo bem, vamos ao plano... Cat, você vai distrair a vovó e o vovô. Inventa alguma coisa, mas deixa eles longe da cozinha, tudo bem? – perguntou Belle, e a irmãzinha assentiu, saindo correndo – Muito bem, agora é com a gente.

Eles desceram as escadas devagar, se assegurando que Catarina já havia tirado os avós da cozinha. Por sorte, a menina era tão inocente que ninguém desconfiaria dela, e logo, Plínio e Irene estavam com ela nos jardins, liberando o acesso das crianças.

_ A cadeira não alcança. – avisou Pedro, assim que eles entraram.

_ A cadeira não, mas alguém nas costas de alguém na cadeira, sim. – Belle sorriu – O Matheus é muito baixinho. Pedro, sobe na cadeira e o Rafa sobre nas suas costas.

_ Mas é perigoso. – o pequeno Vasquez lembrou.

_ Tá com medo frangote? – alfinetou Miguel, recebendo uma fuzilada do primo.

_ Anda Pedro, vamos pegar os biscoitos. Mas a maioria é nosso. – avisou o garoto, enquanto o tio subia na cadeira. Com ajuda de Miguel e Matheus, Rafael se apoiou na beirada do assentou, se impulsionando nas costas do outro. Se esticaram bastante, até que Rafael alcançou o pote.

Começou a bater nele, tentando trazê-lo mais para a beirada. Mas errou no calculo e o pote caiu, acertando a cabeça de Matheus.

_ Aaaaai. – o garotinho começou a chorar, colocando a mão na testa. Rafael pulou da cadeira, seguido de Pedro, e todos se assustaram com o sangue escorrendo pelo rosto do primo.

_ O que aconteceu aqui? – Plínio e Irene apareceram correndo, Catarina no colo do avô. Ao verem o sangue no rosto de Matheus, arfaram em desespero – Meu Deus, o que vocês fizeram?

_ O pote de biscoito caiu vovó, e acertou nele. – explicou Rafael, assustado.

_ Plínio, machucou bastante. Acho que vai precisar dar ponto. – a mulher tentou analisar o corte do neto – Pega ele e vai para o hospital. Eu vou ligar para a Luz e o Jonas encontrarem com vocês.

_ Vem campeão. E vocês... Depois nós todos vamos conversar. – avisou Plínio, pegando o neto e saindo as pressas para a garagem, enquanto Irene corria atrás do celular.

~*~

No Cantaí, o clima não podia ser mais tranquilo. Os quatro casais ao redor da mesa riam e conversavam, fazendo piadas e cumprimentando velhos conhecidos que apareciam por ali. Uma bandinha tocava músicas mais antigas, e vez ou outra, alguém saia para dançar uma mais lenta.

_ É tão bom poder fazer isso às vezes. – suspirou Luz – Esquecer um pouco a bagunça das crianças.

_ Pois é... Até a Camila largou a Gabriela, olha que milagre. – Fabinho brincou, recebendo uma careta da amiga – E o melhor é que, saindo daqui, a casa é inteiramente nossa.

_ A casa inteira. – Caio caiu com a cabeça para trás, erguendo as mãos para o céu – Não só o quarto trancado ou o chuveiro.

_ Reclamando desse jeito, as pessoas vão achar que não gostamos de ter filhos. – riu Malu.

_ Eu amo meus filhos, de verdade. Mas eu também quero poder ficar com a minha mulher sem encontrar uma espadinha no meio dos lençóis, ou ouvir alguém batendo na porta o tempo todo... – Jonas começou a citar, sendo interrompido por Fabinho.

_ Alguém querendo tomar banho junto toda vez que liga a banheira, para brincar de submarino...

_ Ou de festa de cachoeira das princesas. – suspirou Caio.

_ Realmente Malu, sinto falta de passar a noite com você sem o Rafa aparecer e se enfiar no meio de nós dois, porque teve pesadelo. – Maurício riu, concordando com os amigos – Eu acho que a gente podia fazer isso, sei lá, duas vezes por mês. As crianças tem avós para isso.

_ Eu gosto da ideia do Mau, mesmo achando que eles vão demorar um pouco para soltar a Clara e o Henrique. – Giane brincou, fazendo todos rirem – Mas tá aí uma boa ideia. Duas vezes por mês, uma noite sem crianças.

_ Sem crianças. – todos fizeram eco, erguendo os copos de cerveja e bebendo logo depois. Voltaram a conversar, até que o telefone de Luz tocou.

_ Oi Irene. Ele o que? Como assim? Para que hospital? Não, tudo bem, eu e o Jonas estamos indo para lá. Obrigada, tchau. – a moça desligou o celular, encarando a aflição de todas – As crianças tentaram pegar um pote de biscoitos e caiu na cabeça do Matheus. O Plínio levou ele para o hospital, porque parece que vai precisar de pontos.

_ Isso tem a cara da Isabelle... – suspirou Fabinho, virando o copo enquanto os amigos levantavam – Melhor buscarmos as crianças.

_ Não gente, relaxa. A Irene disse que o resto tá bem, só um pouco assustado. Mas a gente passa lá pegar a Larissa e mostra que o Matheus tá bem, aí eles relaxam. Curte a noite de vocês. – pediu Jonas, enquanto ele e Luz saiam. Os outros três casais se entreolharam, antes de suspirar.

_ Bom, a gente ia pegar o Rafa de todo o jeito, para ele ir conosco buscar as crianças amanhã. – avisou Malu – Mas vocês é que sabem.

_ Eu mereço uma noite decente com a minha mulher. – avisou Fabinho, largando o copo na mesa – Amanhã esquento a bunda das crianças, hoje vou é esquentar a bunda da Giane.

_ Fabinho. – ela estapeou o marido, enquanto todos gargalhavam – Isso lá é coisa que se diga em público?

_ Relaxa pivete, eles sabem que só vamos no convencional. – as risadas aumentaram, enquanto Giane corava bravamente – Adoro quando você fica corada.

_ Odeio quando você bebe demais, seu velho. Duas cervejas e já tá torto. – os amigos riam cada vez mais alto – Desse jeito, aos 40 anos não vai aguentar nem uma latinha.

_ Cê tá me provocando? – ele franziu o cenho, enquanto ela sorria.

_ Ai gente, vaza daqui antes que a gente veja o que não quer. – pediu Camila, e Fabinho levantou, jogando algumas notas na mesa – Eita, não achei que iam mesmo.

_ Não duvidem de mim. Nunca. – rosnou Fabinho, puxando Giane pela mão – Até amanhã no almoço. Isso se ela levantar da cama.

_ Exagerado que só ele. – todos riram de Giane, enquanto o casal saia as pressas do local.

O plano era irem para a própria casa, mas Fabinho estava muito alterado para dirigir e a licença de Giane havia ficado na outra bolsa. Então, decidiram aproveitar que os pais tinham ido passar a noite em um baile da terceira idade, e correram para a casa de ambos.

Fabinho quase estourou a porta da frente com o pé, entrando com Giane já içada a ele. Empurrou a porta, fazendo-a bater, e correu até o antigo quarto da corintiana. Havia ali um beliche com bicama, para os gêmeos e Cat dormirem quando quisessem. Eles simplesmente puxaram os colchões para o chão, os colocando lado a lado, e caindo por ali mesmo.

~*~

Quando Silvério e Margot chegaram em casa, no alto da madrugada, se surpreenderam ao encontrar a porta destrancada. O homem jurava para a esposa que havia trancado tudo, enquanto caminhavam pelo local. Pararam surpresos ao ver a luz do quarto dos netos acesa.

Caminharam em silêncio e com cuidado, tentando reprimir o riso com o que encontraram. Giane e Fabinho estavam enrolados em um lençol de pôneis, a única coisa que cobria seus corpos nus. Dormiam em sono alto, completamente enganchados um ao outro.

_ As crianças crescem, mas nem assim nos deixam em paz para uma noite a dois. – suspirou Silvério, arrancando risos de Margot. Acenderam o abajur e apagaram a luz, fechando a porta logo depois, e deixando as “crianças” terem seu sono dos anjos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!