Pages of my Life escrita por Anmitsu


Capítulo 1
Capítulo único




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Os treinos na Academia Samezuka começavam cedo. Os horários das grades curriculares eram alternados entre manhã e tarde para que a piscina do colégio não ficasse lotada. Quem estudava de manhã treinava a tarde e vice-versa. O primeiro treino do dia começava às 7 horas em ponto e foi com certo desanimo que Nitori chegou à concentração. Os belos olhos azuis reconheceram Rin de longe, entretanto, sua única reação foi um aceno acompanhado de um tímido sorriso. Eu não estou com ânimo nem para falar com o Senpai. O ruivo acenou em resposta e isso foi o máximo de contato que tiveram até o treino terminar.

Seu treinamento era, de longe, menos rígido que o de Rin. A primeira parte era composta por 2.000 metros de aquecimento e 1.000 de específico, que no caso era o nado livre. Nitori terminava os 3.000 metros em menos de uma hora e tinha dez minutos de descanso antes que os exercícios continuassem. A segunda e terceira parte do treinamento dependia do dia e, principalmente, do humor do treinador. O treino foi mais puxado que de costume, porém, naquele dia Nitori não reclamaria. Quanto menos tempo de pensar ele tivesse, melhor. Após concluir todas as etapas do treinamento sua função era ajudar Rin em suas baterias. O moletom preto foi colocado sem pressa e o caminho até a piscina em que Matsuoka nadava parecia estranhamente menor. O momento em que seus pés tocaram a borda da piscina coincidiu com a chegada do ruivo e Aiichiro engoliu seco, sabendo que não poderia mais evitar seu senpai.

– Yo. – Os óculos foram retirados e jogados na direção do garoto de cabelo cinza.

– S-Senpai! Não jogue seus óculos em mim, por favor.

Nitori sorriu ao ouvir um baixo ‘’Tsk’’ de sua companhia. Assim como nos outros dias, eles não precisavam verbalizar para saber quando o treino começava, portanto, assim que Rin pegou impulso na parede da piscina, Nitori começou a cronometrar. Os primeiros minutos de treino passaram tranquilamente, os tempos de Rin estavam, como sempre, excelentes e tudo parecia normal. Entretanto, uma parte de Nitori estava incrivelmente inquieta e seu estado de espírito passou a refletir nos minutos seguintes de treinamento. Ele não percebeu que estava sendo chamado até sentir uma forte mão segurar seu tornozelo direito, e seu coração falhou uma batida quando percebeu que estava sendo observado por um Rin irritado e levemente preocupado. Seu corpo se afastou automaticamente, e o garoto de cabelos cinza se desculpou, dizendo que não estava se sentindo bem e que voltaria ao quarto. Nitori não ligou, ou melhor, ignorou os xingamentos do ruivo e tudo ao seu entorno parecia ficar cada vez mais e mais distante. Eu estou com medo. Após sair do complexo de piscinas, Ai subiu as escadarias que davam no corredor dos alojamentos. O trajeto era feito mecanicamente e quando o quarto de número 210 entrou em seu campo de visão, o garoto de cabelos acinzentados correu o mais rápido que pôde. Eu estou com muito medo.

Nitori nunca se sentiu tão bem em não estar na companhia de Matsuoka. Seu belo rosto estava vermelho e lágrimas de pura frustração teimavam em escapar de seus olhos. Ele começou, pela centésima vez, a procurar por um objeto que estava perdido em algum lugar do cômodo. O pequeno diário fora comprado logo após ele ingressar no colégio, escrever sobre sua rotina era um hábito que Nitori tinha desde cedo. Sendo um garoto mais sentimental do que os outros, ele gostava de colocar no pequeno caderno tudo o que acontecia de especial como uma forma de expor seus sentimentos, já que ele não poderia simplesmente falar abertamente sobre com Mikoshiba e, muito menos, com Rin.

Por favor, por favor, por favor. Eu preciso achar esse diário antes que o Senpai descubra qualquer coisa. A escrivaninha de Nitori era sempre organizada, mas naquele dia o móvel estava incrivelmente bagunçado, de tanto que o garoto já havia remexido no móvel. Livros, cadernos, mangás e infinitos diários antigos estavam na prateleira mediana logo acima da escrivaninha, e foi com grande relutância que Nitori concluiu que o seu diário atual não estava ali. Tudo foi colocado em seu devido lugar após alguns minutos de arrumação, e Nitori deitou-se na cama com barulho, permitindo que as lágrimas que ele tanto reprimira rolassem livremente pelas bochechas rosadas. Se ele achar será o fim. Respirar era difícil, tamanho era o peso em seu peito, e o garoto se perguntou se era possível sentir tanta tristeza. Eu não quero perdê-lo. Os braços magros abraçavam o travesseiro com força e foi desse jeito que Nitori caiu em um sono leve. Senpai...

O quarto estava escuro, salvo a iluminação que a lua proporcionava. Nitori acordou sentindo a cabeça latejar, sabendo que tinha perdido as aulas do dia. Eu não conseguiria me concentrar de qualquer maneira. Qual o problema de faltar um ou dois dias? Seu corpo estava cansado – já que desde que ele perdera o diário, isso há duas semanas, suas noites eram passadas praticamente em claro – e implorando por um banho frio, mas, aparentemente, isso e qualquer outra coisa teriam de esperar. Rin estava sentado em sua cama e, mesmo que o mais novo não pudesse ver, ele sabia que a expressão em seu rosto não deveria ser uma das melhores, principalmente devido à aura pesada em volta do ruivo. Nitori engoliu seco e a primeira coisa que passou pela sua mente foi que o diário, de alguma forma, tinha sido achado pela pior pessoa possível.

A hipótese de que o ruivo estava com o seu diário já havia passado em sua mente diversas vezes, mas o pensamento era afastado imediatamente. Nitori preferia acreditar que o objeto ainda estava perdido no quarto em que eles dividiam, porém, a realidade mostrava-se completamente diferente. É o fim...

– S-Senpai... – Sem saber o que falar, Nitori se sentou e abraçou seus joelhos como se aquilo pudesse lhe proteger da dor que sentiria dali em diante. Ele não havia percebido que estava tremendo até que seus braços se firmaram em volta de suas pernas.

– Você tem agido estranho nessas últimas semanas. O que aconteceu? – Nitori esperava uma represália seguida de diversos xingamentos, mas nada no mundo poderia prepará-lo para toda aquela indiferença. O tom de voz calmo o surpreendeu e fez com que tudo se tornasse infinitamente pior. Ele não sente nada. Saber sobre os meus sentimentos não o afetou.

– E-Eu... Desculpa, Senpai.

– Por que você está se desculpando?

– Com todo o respeito, mas, por favor, não finja como se não soubesse de nada.

O silêncio que procedeu àquele curto diálogo foi longo. Nitori passou a observar a Lua, perguntando-se por quanto tempo teria o privilégio de contemplá-la no quarto 210. Ele sabia que nada mais seria o mesmo, e os seus sentimentos, assim como Rin, seriam deixados de lado. Eu pedirei transferência para outro quarto. O senpai ficaria feliz por isso. Seu amor era unilateral e seria injusto que o ruivo, que não tinha culpa em nada, fosse prejudicado em qualquer aspecto. Chorar já havia se tornado um hábito doloroso, mas naquele momento, Nitori lutava com todas as suas forças para guardar as lágrimas para si mesmo. Ele não deixaria que Rin visse seu lado patético, por isso se esforçava tanto para sempre sorrir seu melhor sorriso, mesmo que por dentro não existisse nada além de dores e dúvidas.

– Eu posso tomar um banho primeiro? Depois nós conversamos... – Eu sou um covarde...

– É por causa do diário? – Rin segurou o menor pelos braços antes que ele pudesse sair da cama, deitando-se e formando uma gaiola em volta de Nitori para que ele não pudesse tentar fugir novamente – Você está se desculpando por causa do que sente por mim?

Nitori arregalou os olhos, não sabendo se sentia medo pelo tom de voz agressivo do ruivo, surpresa pela maneira direta com que o assunto fora abordado, ou vergonha pela posição em que se encontravam. Sem escapatória, azul e vermelho se encontraram e permanecerem fixos um no outro por longos minutos. Perdidos em seus próprios pensamentos, em suas próprias dúvidas, nenhuma palavra fora proferida por ambas as partes, até que a dor de Nitori se tornara forte demais para ser reprimida.

– S-Senpai... M-Matsuoka-senpai... Por favor, eu não sei o que f-fazer – Tudo o que Nitori conseguiu enxergar antes das lágrimas embaçarem sua visão foi o espanto estampado no rosto do mais velho e braços fortes envolverem seu corpo trêmulo em um terno abraço.

– ‘’O Matsuoka-senpai é realmente incrível... ’’ – Os lábios próximos sussurravam no ouvido esquerdo de Nitori – ‘’O jeito de nadar e até a personalidade arrogante, não há nada que eu não goste nele. ‘’ – Escutar suas próprias frases através dos lábios daquele que tanto amava fez com que seu rosto de tornasse absurdamente quente – ‘’Hoje eu saí com Senpai e me diverti bastante’’... ‘’Eu acho que estou amando o Senpai. ’’ – As lágrimas rolaram livremente quando um beijo foi depositado em seu ouvido – Não precisa chorar, Nitori.

– M-Mas Senpai... O que eu sinto por você é e-errado... Você provavelmente me odeia e eu não quero isso... – O pouco de autocontrole que restava no garoto de cabelos cinza desceu ralo a baixo quando Rin acariciou seu rosto. Não... Não seja tão compreensivo comigo, por favor.

– Você é um grande idiota mesmo, huh? O que eu tenho que fazer para que você acredite que eu não te odeio e sim o contrário? Eu já li tantas vezes os trechos em que eu sou mencionado em seu diário (e vamos combinar que não são poucos) que até os decorei.

– Então quer dizer que você gosta... De mim?

– Não, na verdade eu gosto do Capitão Mikoshiba. – Rin revirou os olhos, sentindo que sua cota de paciência com o mais novo estava chegando ao limite.

– Do Capitão Mikoshiba?! Mas você acabou de dizer que...

– Céus... O quão lerdo você consegue ser? Você acha que eu estaria aqui se eu gostasse daquele cara que diz ser Capitão? Eu gosto do Nitori Aiichiro, o idiota que não larga do meu pé e não me dá um minuto de sossego! Agora podemos pular para a parte em que nos beijamos?

Palavras eram insuficientes para descrever o que Nitori sentiu ao escutar àquela confissão. Todas as suas dúvidas e anseios haviam se transformado em genuína alegria e as lágrimas, que até então eram carregadas de sentimentos negativos, passaram a ser de pura felicidade. As nuvens que pairavam em seu coração se dissiparam e foi como se o sol voltasse a reinar dentro de si.

– Eu quero que você me beije, Matsuoka-senpai...

Rin sorriu vitorioso.

Seu corpo tremeu quando sentiu a língua de Rin provando e devorando sua boca com força e seus braços subiram pelo peitoral definido do ruivo, sentindo os músculos e a pele quente, já que a jaqueta do colégio estava aberta e ele não usava absolutamente nada por baixo. Nem as melhores fantasias de Nitori poderiam ser comparadas com a realidade. Era doce, intenso, inebriante. O garoto sentiu que iria ao inferno e ao paraíso somente com aquele beijo, um calor gostoso tomou conta de seu corpo, principalmente na altura de seu peito. Os movimentos eram sincronizados, como se ambos soubessem o que deveria ser feito ali; e mesmo que fosse seu primeiro beijo, o garoto de cabelos cinza sabia que jamais vivenciaria algo como aquilo novamente.

– O Senpai beija bem... Q-Quer dizer, seus dentes são afiados, então eu sempre me perguntava se eles não machucariam caso...

– Nitori... Se você quiser eu posso te mostrar que beijar não é a única coisa que eu sei fazer bem – O tom de voz rouco levou uma onda de arrepios pelo corpo de Nitori, suas pernas se abriram inconscientemente e tal movimento não passou despercebido por Rin, que se limitou a sorrir divertido, surpreso com tamanha honestidade.

O espanto de Nitori ao perceber o quão rápido estava sendo o progresso foi substituído pela leve frustração quando o ruivo acomodou-se ao seu lado, suas palavras contradizendo com seus atos. Por um momento eu pensei que iríamos até o final. O rosto corado aos poucos voltava à palidez original, mas as sensações vividas até então ainda estavam presentes em cada fibra de seu ser. Parece até um sonho. Meus sentimentos são correspondidos e eu estou abraçado com o Senpai. O pensamento de que aquele momento tão especial era resultado de seu descuido fez com que Nitori sorrisse internamente. Por falar nisso...

– Nee Senpai, você escondeu o meu diário, não é? Por quê?

– Sei lá. Eu só queria te provocar um pouco – O tom de voz era malicioso e os lábios do ruivo abriram-se em um sorriso irritantemente sacana.

– Como você é cruel, Senpai! E ler sobre a intimidade alheia também não é nada agradável, eu quero meu diário de volta!

– Tsk, do que você está reclamando?

A frustração de Nitori aumentou quando o ruivo virou de costas, claramente o ignorando. Não se dando por vencido, ele sentou-se em cima do quadril alheio, socando o peitoral forte como se fosse uma criança pedindo que seu brinquedo favorito fosse devolvido.

– Meu diário, eu quero meu diário de volta!

Urusai! Não grite no meu ouvido, seu idiota! E não se preocupe, eu não pretendo ficar com seu diário por mais tempo. Pode voltar a escrever o quão incrível seu senpai é.

Aquela atitude extremamente convencida tiraria qualquer um do sério, mas Nitori estava feliz demais para dar importância aos ataques de narcisismo do ruivo. Tudo o que o garoto de cabelos cinza fez foi abraçar a pessoa abaixo de si, deixando que seu corpo relaxasse conforme inspirava o perfume de Rin.

– Eu te amo, Matsuoka-senpai! Eu estou tão feliz que poderia morrer! – Nitori beijou os lábios do ruivo, oferecendo um sorriso verdadeiramente feliz em seguida.

– Então morra. ­­

– SEENPAAAAI!

Era incrível como Rin conseguia mudar o humor de Nitori com poucas palavras. Durante longos minutos Nitori reclamou de como o seu senpai era cruel e sem coração, que ele não levava seus sentimentos em consideração e etc. Tais reclamações eram cotidianas, no entanto, o garoto de cabelos cinza não estava realmente bravo, não quando ele estava entre os braços fortes e protetores de Rin, sentindo seu peito tornar-se aquecido com com aquela nova e diferente intimidade entre eles.

O garoto de cabelos cinza providenciaria outro diário, pois se aquele que estava em posse de Rin coincidia com a sua entrada na Samezuka, o outro seria sobre o começo de sua relação com o ruivo. Entretanto, independente de diários, Nitori queria acreditar que o ruivo sempre estaria presente nas páginas da sua vida.

– FIM.


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Notas finais do capítulo

Yey, minha primeira fanfic de Free! :3

Segundo o Drama CD, o Nitori realmente tem um diário em que o Rin é mencionado em cada página. Li a informação no Free! Wiki e quis escrever sobre isso na hora hahaha e eu já tinha terminado de escrever a fanfic quando descobri que tem um OVA sobre os dois, mas como não traduziram ainda, não sei se o diário é mencionado.

Gostei de escrever POV Nitori, porque me identifico um pouco com o Sr. Stalker. Agora só falta um Rin aparecer na minha vida HAHAHAHA se inspiração e tempo deixarem, escreverei uma RinAi especial de Natal, mas é só um talvez.

That's all folks!
Espero que tenham gostado e obrigada por lerem até aqui ♥