Abri os olhos depois do abraço que foi correspondido fortemente por Peeta. Na poltrona, onde a vi sentada na última vez que vim a este quarto, havia um papel, provavelmente uma carta suicida. E não é que acertei?

A carta dizia:

"Oi, sou Primrose Mellark, ou só Prim, caso você ainda lembre-se de mim. Nasci em uma família que só me fez sofrer até o último segundo em que me tiraram daquela antiga casa. Minha nova família me transportava ao redor do mundo, então, provavelmente, o problema era eu. Cresci do jeito em que eu me via, com manias e atitudes que eu achava ser boas para mim. Ninguém se importava. Talvez um. Tive que lidar sozinha com os meus problemas, mas isso não foi um problema. Ela me acompanhou desde a minha primeira decisão de usá-la. Sim, a frágil lâmina. Arranjar algo para fazer na vida é fácil, em qualquer coisa ou lugar se arranja uma nova coisa, ou uma nova distração. Se cansar disso tudo é mais fácil ainda. Quando não se vê mais esperança... Essa é a certeza. E você se vai. De qualquer forma. Seja você quem for que esteja lendo isso, neste exato momento, eu já não estarei presente, aliás, nunca estive de verdade, mas agora é em todos os sentidos possíveis. Não nasci para estar aqui, ou minha missão foi bem curta mesmo. Não preciso de suas lágrimas, pois as minhas já limparam toda minha alma. Aos amigos desse que posso chamar de irmão obrigada por tentarem me fazer feliz, aliás, vocês já estão prontos para o funeral, e não quero que se sintam culpados. Agradeço a Peeta, por ter tentando me compreender. Pena que não é possível. 
Adeus,
Prim."

Prim era carente e sofria por isso, então, descontava se mutilando. Ela parecia acreditar em algo e, provavelmente, já havia marcado de se matar no seu calendário ou foi uma crise existencial de momento, em que passou a ser pior que drama.

— Eu tenho a aparência de forte para tantas coisas, mas estou me sentido tão fraco com essa situação. Eu não vou aguentar segurar essa barra sozinho. – diz Peeta olhando para janela.

— Se precisar de ajuda para qualquer coisa, só me ligar Peeta, eu moro na outra calçada. Não me incomodaria de jeito algum. – falo para ele depois de massagear seus ombros. E que ombros... foco Katniss!

Ele se vira para mim e permanece me encarando com seus olhos azuis que parecem tão vazios, o dando uma aparência de frágil. Eu também o encaro e é automático quando ele leva sua mão a meu rosto (N/A: oia os pensamento malicioso dos leitores) para secar uma lágrima que eu derrubara. Agora que percebi que eu estava chorando.

— Vou precisar da sua ajuda Katniss, eu não sei nem o que fazer.

— Liga para seus pais, mas não diga o que aconteceu, só de dicas que tem algo de anormal acontecendo em casa para eles voltarem o mais rápido possível. Eu já volto. – saio do quarto e encontro Clove na escada.

— Já desci e subi umas três vezes e você não voltava. Já estava achando que estava tendo um ménage à trois lá dentro. – Clove diz rindo. Provavelmente nessas descidas deve ter descido uns copos de álcool na goela dela também.

Entanto agora eu percebo de fato no que acabara de acontecer. A ficha caiu. Jogo-me nos braços de Clove e começo a chorar até soluçar e sair meleca. Ela não entende nada.

— Katniss, o que aconteceu? – ela fala com uma voz assustada. – Te agrediram lá dentro? – e a mesma se afasta do meu abraço e olha meu rosto que aposto estar tão inchado quanto o de Peeta.

Clove sai andando pelo corredor até que acha o quarto de Prim e adentra mal percebendo onde pisa. Eu a sigo.

— O QUE VOCÊ... – Clove entra gritando e batendo a porta, até que Peeta se vira com o telefone no ouvido e as lágrimas escorrendo novamente. Clove para de gritar na hora, e percebe onde pisa e até onde a estrada escura leva.

Ela vira para trás onde eu estava faz uma cara de interrogação e eu só afirmo com a cabeça. Nos abraçamos novamente.

[...]

Logo depois que Peeta conseguiu falar com os pais pelo telefone inventamos uma desculpa que Prim e ele estavam passando mal e que seus pais estariam chegando e não daria para continuar a festa. Todos ficaram decepcionados, óbvio! Cada um fez uma marmitinha para não sobrar nada. Clove queria ficar, mas achei melhor que ela fosse com Cato, mas pedi para ela não espalhar o ocorrido.

Quando os pais de Peeta chegaram já estavam com os peritos criminais, devido Peeta não ter conseguido não contar a eles.

Fui para casa na madrugada, para se sincera, quase amanhecendo e contei para meus pais. Eu ainda estava em choque. Minha mãe sugeriu de Peeta dormir aqui em casa, mas ele queria ficar o mais próximo da irmã antes da mesma ir para terra abaixo.

No domingo foi o funeral e eu já tinha dado a notícia para todos meus amigos. A maioria foi para a cerimônia. Minha família super apoiou a família Mellark. Por incrível que pareça, eu estava sentindo muita pena de Peeta e realmente estava disposta a ajuda-lo, principalmente na escola. As aulas já voltariam na segunda (no outro dia).

As semanas iam se passando e quase todas as tarde ou eu ia para casa de Peeta ou ele para minha. Sua mãe mesmo pediu para que eu o apoiasse para ele não desistir. Eu fazia o possível para distraí-lo, fazendo piadas ou inventando qualquer coisa. De início ele parecia um morto vivo, quase não se alimentava e era perceptível sua falta de vontade de viver, depois ele foi se soltando mais, mas demorou muito, praticamente uns dois meses.

[...]

— Peeta, você não vai acreditar! Acredita que o babacão do diretor Haymitch chamou minha mãe na escola?! – reclamo com Peeta enquanto o mesmo tenta resolver uma questão de química e não me da à mínima. – MELLARK! – grito seu nome alto atraindo sua atenção e ele começa a rir da minha careta.

— Que pena Kat, por que será? – diz ele devagarosamente como se tivesse falando com uma criança de sete anos, e ainda por cima é irônico.

— Quer saber? Eu desisto de você. –digo arrumando minha mochila para ir embora.  – O cara liga direto para a minha casa querendo falar com a minha mãe, chama a mesma direto para a diretoria pra discutir sobre mim e você está nem ai. Nem parece que estou no ensino médio, quase me formando! Se eu for expulsa daquela escola não haverá uma Katniss Everdeen 2 pra te ajudar quando você estiver triste não, ok? – me levanto e abro a porta indo para casa.

— ATÉ AMANHÃ! – ele grita. Pior que ele sabe que eu vou vir pra cá amanhã, e se eu não vim, ele vai até mim e no final das contas eu acabo o deixando entrar na minha casa e minha mãe não se importa, já que meu pai está viajando demais e ela não para em casa.

[...]

— Ain meninas, eu não estou aguentando de curiosidade para saber o que o Haymitch quer tanto falar com minha mãe. – digo. – Eu tenho sido uma ótima pessoa, né?

Todas me olham com uma cara de “mais ou menos”.

— Eu vou naquela sala! – afirmo.

— E depois você não quer que reclamem do seu mau comportamento Katniss? – diz Annie.

— Deixa ela. – diz Johanna.

—Vai lá e luta pelos seus direitos, vai. – diz Clove.

— Já estou até lá. Até depois! – e essa foi minha deixa.

Vou em direção à sala do diretor que por sorte tem janelas de vidro, e por azar estão fechadas. Que raiva!

Entretanto as paredes são de gesso e acabo ouvindo barulhos estranhos. Confesso que um milhão de coisas passou pela minha cabeça, e eu, como qualquer ser humano, tenho minhas malícias, mas quando abro a porta... Eu realmente queria ser a pessoa mais inocente do mundo.