Foi no Instituto de Durmstrang... escrita por Sensei, KL


Capítulo 4
As cartas de alguém


Notas iniciais do capítulo

Eu particularmente adorei esse capítulo, só digo isso!
Valeu meninas que comentaram no bônus, amo vcs! kkkk
Espero que gostem.
Atacar!



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PDV Lyra

–Vamos lá pestinha! Levantando! –A voz do Tio Ash soou alta.

Soltei um grunhido de frustação. Levantei a cabeça do travesseiro e olhei para a janela, o sol estava nascendo.

–Tia Ash, devem ser umas quatro da manhã! Por que me acordou agora? –Perguntei irritada.

–Na verdade são cinco da manhã! A sua mãe está fazendo um belo café da manhã que vamos tomar a sair para correr... A senhorita anda muito relaxada depois que entrou naquele tal de colégio interno! –Ele disse me puxando pelo pé.

Mamãe conversou com Tia Angela e Tia Andrea e elas acharam melhor que o Tio Ash não soubesse que éramos bruxos, então para ele nós estudamos num colégio interno que Tia Cassie sugeriu.

Remus e Ash começaram uma amizade estranha, mas não importava o quanto eu pedisse, o meu pai e ele não se entendiam... O que era incrível para minha mãe que estava sempre usando o Tio Ash para provocar o Sirius. Já fazia uma semana que Tio Ash estava com a gente e ficava cada vez mais difícil de esconder a magia levando em conta que meu pai é um animago e maroto.

Péssima combinação.

–Okay! Pode ir descendo que eu vou logo depois. –Eu disse resmungando.

–Se não descer logo eu vou jogar um balde cheio d’água em você. –Ele disse sério e saiu do meu quarto.

–--

Desci as escadas enquanto amarrava meu cabelo num rabo de cavalo, quando cheguei no último degrau notei meu pai e Remus conversando baixinho na mesa do café da manhã.

–O que vocês dois cochicham aí? –Perguntei sorrindo.

Sirius virou para mim sorrindo de lado e mostrou um pergaminho aberto.

–Carta do Harry! –Ele explicou. –Chegou ontem à noite.

–E você não me contou? Pai! Quero falar com o Harry há semanas! –Reclamei me aproximando deles e peguei o pergaminho.

Caro Sirius,

Obrigado por sua última carta, a ave era enorme, quase não pôde passar pela minha janela.

Sirius havia enviado a carta por uma arara, um pássaro brasileiro que o diretor Dumbledore arranjou, eu conversei com Remus e decidimos que se alguém pegasse a carta pensaria que o Sirius estaria num lugar tropical e não tão perto do Harry, assim espalharíamos uma pista falsa.

Fui proibida de contar ao Harry que Sirius estava morando comigo, do jeito que o professor Snape ficou irritado com a fuga do meu pai eu não duvido que ele coloque um pouco de veritasserum na bebida dele.

As coisas continuam na mesma por aqui. A dieta de Duda não está dando muito certo.

Minha tia o pegou contrabandeando rosquinhas fritas e açucaradas para dentro do quarto, ontem. Meus tios disseram que vão ter de cortar a mesada dele caso ele continue fazendo isso, então Duda ficou com muita raiva e atirou pela janela o PlayStation. Isso é uma espécie de computador com muitos jogos. Foi realmente uma burrice porque agora ele não tem nem um Mega-Mutilation parte três para distrair as idéias.

–Eu aqui louca para ter um PlayStation e aquele maluco jogando pela janela. –Bufei irritada, minha mãe se recusava a me comprar um PlayStation argumentando que deixava as crianças burras.

Eu vou bem, principalmente porque os Dursley estão apavorados que você possa aparecer e transformar eles em morcegos se eu pedir.

Mas aconteceu uma coisa estranha, hoje de madrugada. Minha cicatriz doeu outra vez.

A última vez que isto aconteceu foi porque Voldemort estava em Hogwarts.

Mas acho que ele não pode estar por perto agora, pode? Você sabe se cicatrizes produzidas por um feitiço podem doer até anos depois?

Vou mandar esta carta quando Edwiges voltar, no momento ela saiu para caçar. Diga olá ao Bicuço por mim.

Harry

P.S.: Se quiser entrar em contato comigo, estarei na casa do meu amigo Rony Weasley até o fim do verão. O pai dele arranjou entradas para a gente assistir à Copa Mundial de Quadribol!

A copa... Decidi deixar para pensar nisso depois.

–Não posso mesmo contar a ele que você está aqui? –Perguntei a Sirius fazendo carinha de pidona.

–Você sabe que não. –Remus respondeu.

Então eu olhei para o meu pai e fiz a carinha.

–Não! –Sirius disse arregalando os olhos. –Remus ela está fazendo aquilo de novo!

Ele apenas sorriu.

–Como é cair no seu próprio truque Sirius? –Remus perguntou.

Ele havia dito para Nate que a minha carinha era uma coisa genética por que Sirius costumava usar o mesmo artificio quando eles estudavam juntos.

–Por favor, papai! –Pedi manhosa.

–Lyra pare de atormentar o seu pai. –A voz da minha mãe soou atrás de mim.

Ela vinha em minha direção com um copo de suco e uma torrada com creme de nozes.

–Okay, eu paro. Bom dia mãe. –Sorri.

–Bom dia querida. –Ela disse me entregando o copo e a torrada, então me deu um beijo na cabeça.

O Tio Ash apareceu um pouco depois.

–Bom dia para todos. –Ele disse animado e se alongando.

–Bom dia Ash. –Mamãe falou sorrindo o que fez meu pai bufar.

–Bom dia. –Remus respondeu pegando o profeta diário para ler.

No mesmo momento eu vi o Tio Ash franzir o cenho vendo uma imagem se mexer no papel. Arregalei os olhos.

–Olha Tio Ash, aquela não é a Rose em cima da escada? –Falei rápida.

Todos olharam em direção as escadas, eu puxei o profeta diário e joguei por cima da amurada, ele caiu dentro da lixeira que tia Andrea deixava ali em baixo. Remus olhou confuso para mim.

–Não tem ninguém ali Lyra. -Tio Ash falou.

–Deve ter sido impressão. –Eu disse sorrindo.

Tio Ash então voltou a olhar para as mãos de Remus.

–Onde está o jornal? –Ele perguntou confuso.

–Voou. –Minha mãe respondeu sorrindo conspiradora para mim.

Tio Ash franziu o cenho novamente numa expressão de confusão e balançou a cabeça negativamente.

–Eu ainda devo estar dormindo, juro que vi a imagem se mexer. –Ele disse.

–Imagens que se movem no papel? Pff! O senhor realmente está mau Tio. –Eu disse fazendo caso.

–Ele está é ficando maluco. –Meu pai aproveitou para dar uma alfinetada.

–Esse cara está pedindo para apanhar. –Tio Ash grunhiu irritado.

Na sala a Tia Angie aparecia com uma vasilha cheia de torradas e vinha em direção à mesa do café da manhã, ela passou por nós colocando a vasilha na mesa.

–Bom dia Angela. –Tio Ash falou.

–Vai para o inferno. –Tia Angie respondeu simples e voltou para a cozinha.

O pessoal ficou momentaneamente calado. Remus sugou o ar fazendo um barulhinho estranho, meio sem graça.

–Alguém acordou de mau humor hoje. –Tio Ash disse.

–Eu ouvi isso! –A voz da Tia Angie soou na cozinha. –Mal humorada é a sua madrinha!

–Então... Acho melhor nós sairmos logo. –Minha mãe falou meio desconfortável. -Termine de comer Lyra.

–Eu acho que vocês deviam levar o maroto para correr com vocês, ele está há muito tempo trancado em casa. – Sirius disse sugestivo olhando para a minha mãe.

–Não, o cachorro fica em casa! –Ela respondeu.

–Ah, mas é uma boa ideia. Eu ainda não vi esse cachorro desde que cheguei. –Tio Ash disse sem saber que o cachorro na verdade era o meu pai.

Sirius riu.

–Viu? A montanha de músculos concorda! –Ele falou.

Tio Ash ignorou a tentativa do Sirius de ofendê-lo e pegou uma torrada na mesa.

–Não! –Mamãe falou firme.

–Por que não? –Meu pai perguntou sorrindo de lado de modo maroto.

Minha mãe pareceu um pouco perdida um segundo, mas então sorriu como se tivesse tido a ideia mais incrível do mundo.

–Porque... –Ela começou se aproximando de mim e colocando as mãos nos meus ombros. –Vou levar a minha filha Lyra para visitar seu melhor amigo e primo, Harry Potter!

FATALITY!

Ela sorriu vitoriosa.

Com esse argumento meu pai não podia então ele bufou irritado enquanto Remus ria.

–Okay, o cachorro fica. –Sirius respondeu.

–Afinal, onde está esse cachorro? –Tio Ash perguntou perdido.

–--

PDV Rose

Acordei com o Maroto lambendo a minha mão.

–Eca! Que nojo Tio Sirius, o senhor me babou. –Falei limpando a mão na fronha do travesseiro.

Maroto latiu e saiu correndo até a porta do meu quarto, ali ele latiu para o corredor, ouvi barulho de passos e Nate apareceu.

–Estamos saindo para levar comida para o bicuço, você vem?-Ele perguntou.

O cachorro latiu duas vezes como se me encorajasse a levantar.

–Quem vai? –Perguntei sonolenta.

–Eu, meu pai e Sirius. –Ele disse.

–Onde está Lyra? –Perguntei confusa.

Ela geralmente não perdia uma oportunidade de visitar o hipogrifo que a adora, acho que Bicuço tem um caso de amor platônico por ela por que, acreditem, aquele animal se jogaria na frente de uma bala por ela.

Super. Estranho.

–Ela saiu para correr com o Tio Ash e a Tia Kate. –Ele respondeu dando de ombros.

Resmunguei cansada. Coragem Rose!

–Vou escovar meus dentes. –Falei.

Nate sorriu e saiu.

Maroto ficou parado na porta do meu quarto como para ter certeza de que eu iria mesmo levantar.

–Já estou indo! –Eu disse rindo.

Levantei da cama e fui para o banheiro. Quando saí de lá Maroto ainda estava deitado na porta do meu quarto, então alguma coisa bateu na minha janela me fazendo dar um pulo assustado e Maroto levantar as orelhas, atento.

Era Charlie, a coruja do Nate, ela trazia uma carta, abri a janela deixando-a entrar, ela deixou a carta em cima da minha cômoda e pousou no espelho da minha cama.

Sempre que olhava para aquela coruja me sentia bobamente apaixonada, por que por algum motivo que eu desconheço o Nate decidiu colocar o nome dela de Charlie, que por coincidência (ou não) é o meu segundo nome.

Rosemary Charlie.

Balancei a cabeça para acabar com esses pensamentos e peguei a carta, era a resposta de Gina para a carta que eu havia enviado.

Oi Rose!

Vi que você mandou o Charlie, ainda sorri feito boba quando olha para ele? Okay, parei!

Enfim, papai conseguiu sim as entradas para a copa mundial de quadribol, ele chegou em casa super feliz por que conseguiu mais entradas do que o previsto e agora você, Lyra e Nate vão poder vir! É claro que eu adorei essa notícia, eu não iria aguentar passar tanto tempo somente com meus irmãos, talvez com o seu irmão, mas definitivamente não com os meus!

Ouvi mamãe falando que vão buscar o Harry para passar o resto das férias aqui na toca, no domingo às cinco horas, quem sabe sua mãe deixe você vir também. Ela adora o Harry não é? Fale com ela! Espero que consiga.

P.S.: Harry vai dormir na toca! Aaaaahhh!

Soltei uma gargalhada, essa Gina... Mas uma coisa ficou martelando na minha cabeça, ela disse que o pai dela conseguiu mais entradas do que o previsto.

Olhei para Maroto.

–Você ajudou o Senhor Weasley a conseguir mais entradas não é? –Perguntei.

Ele apenas sentou, colocou a língua para fora e latiu.

Sorri já sabendo a resposta, ele tinha dado o seu jeitinho Black.

–Me pergunto como você consegue mexer esses pauzinhos no ministério quando é um foragido dos aurores... Você e Lyra então sempre me surpreendendo! –Falei balançando a cabeça negativamente.

Ele latiu novamente.

–Vamos Sirius! –Falei saindo do quarto.

–--

PDV Lyra

–O que? Depois eu é que estava relaxada hein! –Falei rindo.

Estava olhando para onde tio Ash ofegava atrás de mim e da minha mãe. Okay, eu também estava cansada, mas jamais o deixaria notar, tenho meu orgulho!

Ele entrecerrou os olhos.

–Olha o respeito garota, eu ainda sou o seu tio! –Ele disse.

–O senhor está é ficando velho. –Falei rindo.

–Vamos Ash, falta pouco para a casa do Harry! –Mamãe disse sorrindo.

–Afinal, quem esse Harry?! –Ele perguntou irritado voltando a correr.

–É o irmão da Rose. –Eu disse.

Tio Ash parou de correr me encarando.

–Angela teve outro filho? –Ele perguntou pasmado.

Mamãe soltou uma gargalhada.

–Irmão por parte de pai Ash! –Ela respondeu.

Então Tio Ash ficou rígido.

–Vocês estão me levando para a casa do homem que tem uma filha com a mulher que foi a minha vida? –Ele perguntou, a voz com um tom de dor.

Eu e minha mãe nos entreolhamos um pouco desconfortáveis.

–Tio Ash... –Comecei. –Os pais do Harry... Er...

–Rose não tem pai Ash. –Minha mãe explicou. –O pai de Rose e Harry morreu no mesmo dia em que ela nasceu num... Acidente de carro. Ele morreu junto com a esposa e Harry mora com os tios, é para lá que estamos indo.

Pela expressão no rosto do Tio Ash eu podia apostar que ele esperava qualquer resposta, menos essa.

–O pai da Rose está morto?-Ele perguntou chocado.

–Há uns bons treze anos. –respondi. –Harry estuda no colégio interno comigo, Nate e Rose, foi lá que descobrimos que eles eram irmãos.

–Ah. –Ele disse de um jeito entre sem graça e sem saber o que dizer.

Tomei uma respirada funda, tinha algo para dizer e queria que ele entendesse logo da primeira vez.

–Olha Tio Ash, eu entendo que foi um choque para o senhor chegar à casa da sua irmã e descobrir que os pais dos seus sobrinhos, que você não sabia que existiam, estavam lá. –Comecei a falar claramente. – Por isso e somente por isso eu não falei nada quando o senhor gritou que queria expulsar o meu pai da MINHA casa e tem ajudado a minha mãe a irritá-lo. Eu entendo sua confusão, mas quero que entenda também que em toda essa história não existem pessoas mais confusas que eu, Rose e Nate. Nós que estamos tendo que aprender a viver com essa nova realidade e não é uma coisa simples, acredite em mim. E é por isso que agora eu estou pedindo para que dê uma chance de conhecer o meu pai, Remus e de conhecer o Harry também, por que ele é um garoto incrível e eu juro por qualquer coisa nesse mundo que me seja importante, se o senhor machucar algum deles eu vou chutar a sua bunda daqui até o outro lado do país.

Tio Ash me olhou boquiaberto e mexeu nos cabelos de modo envergonhado, sem consegui me dar uma resposta a altura ele simplesmente acenou que sim com a cabeça.

Então eu virei para a minha mãe.

–A senhora também não está fora do sermão mamãe, já que estou falando sobre o Sirius a senhora também tem que receber uma dura.

–O que? –Ela me olhou confusa. –Agora a culpa é minha se ele fica me paquerando a cada cinco segundos?

–Eu sei que meu pai é um cachorro, literalmente, mas a última coisa que ele precisa é ser escorraçado como um quando ele passou tanto tempo você-sabe-onde. Ele é um maroto, mãe, e se a senhora está irritada com as investidas dele seja franca e diga isso para ele, se ficar discutindo e criando briguinhas só vai fazê-lo continuar tentando e a senhora sabe disso por que mesmo não querendo admitir é uma marota também. Por isso se não quiser nada com ele faça-o parar. –Eu respondi.

Ela me olhou meio contrariada.

–Okay, você está certa. –Ela disse.

–Algum de vocês tem alguma coisa a dizer? –Perguntei.

–Não. –Tio Ash respondeu envergonhado.

–Não. –Mamãe respondeu emburrada.

Merlin! As vezes parecia que eles eram as crianças aqui.

–Era só isso que eu tinha para dizer, por isso vamos que eu ainda quero ver o Harry antes de ir para casa. –Falei;

Calados, os dois me seguiram em direção a Rua Privet Drive número 4.

–--

PDV Andrea (Bônus)

Sentei na grande poltrona acolchoada na minha biblioteca, que por acaso também é o meu escritório, já que Kate não gosta muito de ficar lendo e Angela prefere ficar na cozinha a biblioteca é a minha parte da casa. Peguei os papeis do departamento de Quimica da Universidade e suspirei cansadamente, minha cabeça estava explodindo.

“Vamos lá Andrea tome as rédeas da sua vida! Ninguém vai fazer as coisas por você garota.” A voz do meu pai soou dura na minha cabeça.

Meu pai era um militar, nunca foi um homem de dar muito carinho e isso se intensificou quando a minha mãe saiu de casa pedindo o divórcio e levou eu e meu irmão junto com ela.

Eu tinha apenas oito anos e o Talon tinha doze.

As lembranças daquela época são um pouco embaçadas, mas tem uma coisa que ficou marcada na minha cabeça, no dia em que a minha mãe entrou no meu quarto na casa da vovó e me disse que eu teria que morar com o meu pai enquanto ela ficaria com o Talon. Eu chorei muito naquela noite por que queria continuar com meu irmão, mas Talon jamais iria morar com o nosso pai por que os dois eram tão diferentes que viviam discutindo, nosso pai era fechado, intransigente, e Talon não aguentava isso.

Eu não entendi por que tinha que morar com meu pai, somente alguns anos depois eu descobri que eles haviam tido uma batalha judicial e meu pai havia pedido a minha guarda... Somente a minha. Quando estava com quinze anos eu entrei na biblioteca onde ele costumava passar horas somente lendo e perguntei a ele “Por que eu?”.

Ele simplesmente tirou os óculos de leitura e disse:

“Por que você se parece comigo.”

Aquilo me deixou tão irritada! Eu não queria parecer com ele, nunca! Era um homem frio e muitas vezes maldoso. Nunca me dirigiu uma só palavra de carinho e o máximo de sentimento que o vi demonstrar foi quando ficava irritado por eu estar errando em alguma das coisas idiotas que ele me obrigava a fazer... Tipo piano. Argh! Por causa disso eu fiz de tudo para irritá-lo, eu pintei o cabelo de verde, pus um piercing no nariz, fiz uma tatuagem, tudo o que eu sabia que iria irritá-lo e quando eu cheguei em casa ele simplesmente balançou a cabeça negativamente, soltou um risinho sarcástico e voltou para a biblioteca.

Isso me deixou revoltada!

Balancei a cabeça rindo de mim mesma, do quanto eu era imatura naquela época. Senti uma dor no coração por ter sido tão injusta com ele então me lembrei da época em que ele ficou doente.

Câncer.

Eu vi o meu grande general definhar lentamente e houve momentos, tenho vergonha de pensar neles, mas realmente houve momentos em que eu pensava que ele merecia aquilo, merecia sofrer de câncer por ter sido tão ruim em sua vida, por ter afastado a mamãe, ter afastado o Talon e continuar me prendendo ali com ele quando a única coisa que eu queria era ir morar com a minha mãe e meu irmão.

Então ele morreu... Eu tinha dezoito na época. Houve uma grande cerimônia, salva de tiros, mamãe, Talon e os amigos do exercito vieram e fizeram discursos do quanto ele foi incrível, falaram coisas engraçadas e bonitas que ele disse e fez, coisas que eu jamais imaginei que ele tivesse feito ou falado um dia. Aquilo me fez perguntar por que ele nunca fez nada assim para mim.

Quando eu voltei para casa a única coisa que eu queria era deitar e dormir, mas então a campainha tocou, era o advogado do papai, ele disse que o general tinha um testamento, eu me lembro até hoje as palavras.

Flashback

–Desculpe incomodá-la senhorita Kepner, mas eu achei que a senhorita iria querer terminar tudo hoje para que pudesse arrumar toda a parte burocrática amanhã.

–Não, tudo bem. –Eu respondi.

Nós entramos no escritório e ele abriu uma maleta preta, tirou de lá um envelope pardo, começou a ler.

Eu, Jefferson Nathaniel Kepner, estando em perfeito juízo e em pleno gozo de minhas faculdades intelectuais, sem nenhuma interdição. Livre de qualquer induzimento ou coação resolvo lavrar o presente testamento particular no qual exaro minha última vontade, pela forma e maneira seguinte:

Primeiro: Deixo para o meu filho Talon Alexander Kepner três (3) dos meus patrimônios imobiliários que se resumem a um imóvel na Rússia e dois na Inglaterra. Além de todo o restante dos meus negócios que compõe a minha parte disponível por ocasião da minha morte.

Segundo: Deixo para a minha filha Andrea Stephania Kepner dois (2) imóveis, na Inglaterra e na França, além de um fundo em dinheiro para que ela possa cursar a sua faculdade, seja ela qual for, e possa viver bem pelo resto de sua vida.

Declaro não existir testamento anterior em qualquer de suas formas legais.

Dou, assim, por concluído este meu testamento particular.

General Jefferson Nathaniel Kepner

XX de XXXXXX de 19XX

Naquele momento eu fiquei um pouco chocada, ele havia deixado para Talon três casa, além de todos os seus negócios, suas empresas de publicidade, e para mim a casa da França onde costumávamos passar as férias e a casa da Inglaterra onde morei com ele por toda a minha vida.

–Ele me deixou um fundo em dinheiro? –Perguntei.

–Ele não queria deixa-la desamparada. –O advogado respondeu.

–De quanto dinheiro estamos falando? –Perguntei.

–De tudo o que ele conseguiu juntar em toda a sua vida.

Então ele me passou um papel com um número de seis dígitos, bem gordo. Ofeguei surpresa.

–Tem mais uma coisa. –O advogado disse.

–Tem? –Perguntei chocada.

Eu jamais havia imaginado que meu pai tinha tanto dinheiro guardado, nós vivíamos em uma boa condição, mas não sabia que era tão boa.

O advogado abriu a pasta novamente e tirou de lá de dentro cinco envelopes.

–Essas cartas foram escritas pelo seu pai, ele queria que eu lhe entregasse.

Um pouco incrédula eu peguei os envelopes, a letra do meu pai me saudou no papel. Duas delas estavam como o meu nome, outra com o nome do Talon, outra com o nome da mamãe e a última havia apenas: Para os meus netos(as).

–Obrigada. –Eu disse chocada.

–Ele pediu que você lesse primeiro essa. –Ele apontou para uma das cartas em cima da mesa com o meu nome. –Tenha uma boa noite senhorita Kepner.

Eu levei o advogado até a porta e voltei para a biblioteca, com uma sensação estranha na boca do estômago eu sentei na poltrona que ele costumava sentar e abri a carta que ele me mandou.

Querida Andrea,

Quando somos bebês somos fáceis de decifrar, choramos quando estamos com fome, quando estamos cansados... Mas quando viramos adultos tudo fica mais complicado. Começamos a esconder nossos sentimentos, erguer barreiras, a ponto de não sabermos mais o que as pessoas sentem, nos tornamos os mestres dos disfarces, mesmo sem querer. E é justamente por isso que eu sempre gostei de ter você comigo, você sempre foi tão transparente, eu sempre sabia o que você estava sentindo ou pensando e isso me fascinava.

No dia em que sua mãe deu a luz eu havia ido até o hospital e fiquei te olhando por trás do vidro, você era tão pequena e eu não conseguia imaginar como eu fui capaz de criar uma coisa tão linda. E a única coisa que eu conseguia pensar era: Eu vou conseguir ser o pai que ela merece? Nunca tive essa dúvida com seu irmão, por vezes parece que ele já nasceu andando de tão auto-suficiente que é.

Um dia você me perguntou por que eu quis ficar com você e não com seu irmão e eu respondi que foi por você se parecer tanto comigo. Bem, não era só por causa disso. Quando ocorreu a batalha pela guarda de vocês eu havia ganhado a guarda de ambos, mas Talon veio até mim e pediu para que eu o deixasse ficar com a mãe, pois ele não queria deixa-la sozinha. Na verdade ele gritou e me xingou de megalomaníaco controlador... Ele nem fazia ideia do significado da palavra megalomaníaco. Eu não queria obriga-lo a ficar, mas você era a minha princesa, eu não podia te deixar ir embora, mas então a sua mãe lhe disse que eu não quis ficar com seu irmão e quando você veio viver comigo já não havia volta, você tinha a pior imagem possível de mim.

Você sempre soube a versão da sua mãe para a nossa história, está na hora de saber a minha.

Entenda minha princesa, eu e sua mãe nos separamos não pela falta de amor, mas por amarmos demais. Eu a amava e ela amava seu amante. Mas nenhum segundo eu a odiei, nem quando ela virou meu filho contra mim, nem quando ela virou você contra mim... Mesmo assim eu ainda a amei. Os cérebros da sua mãe e o meu reagem às coisas de modo diferente, ela se comunica com a linguagem, os detalhes, a empatia. Eu, não muito. Não significa que sou menos capaz de me emocionar, de amar, posso conversar sobre meus sentimentos, é só que... Na maioria das vezes prefiro não conversar.

Eu queria ter tido a coragem de te dizer isso quando ainda estava vivo, de ter as palavras para te explicar, mas não pude, não consegui. Ainda assim eu agradeço a Deus todos os segundos que te tive do meu lado, quando você vinha para a minha biblioteca e ficava lendo, fingia que eu não estava ali, tentava me irritar, eu só conseguia achar gracioso o quanto você tentava chamar minha atenção.

Eu tentei me aproximar de você.

Meu bebê. Minha princesa.

Ajudaria se soubéssemos o que estava por vir?

Eu saberia que esses seriam os melhores momentos da minha vida?

Quando o impacto é de repente você não consegue se preparar, não dá tempo. E, de repente, a vida como você conhecia... Acaba. Para sempre.

Você e seu irmão foram a melhor coisa que eu já fiz.

Seu pai.

P.S.: Existem mais quatro cartas que eu gostaria de deixar a seu encargo entregar, conto com você para cumprir o meu pedido.

A primeira é para você, peço leia apenas quando você souber que será mãe.

A segunda é para o seu irmão, não entregue a ele agora, deixe para entregar no momento em que ele estiver mais perdido e não saber como continuar.

A terceira é para a sua mãe, peço que entregue quando você achar melhor.

E a última é para os meus netos(as), filhos seus e filhos de Talon, não importa, peço que leia para todos eles.

É só.

Fim do flashback

Naquela noite eu chorei tanto.

Meu pai foi um homem incrível e eu não pude conhecê-lo melhor por que não sabia onde olhar. Eu me apeguei a imagem que a minha mãe havia feito dele para mim e não me preocupei em descobrir quem ele realmente era por baixo de toda aquela seriedade.

Esse foi e ainda é o meu maior arrependimento.

Eu fiz o que ele queria que eu fizesse, fiz faculdade de Quimica, lá conheci meu ex-marido e tive uma grande paixão.

A carta da minha mãe foi entregue no dia em que ela se separou do segundo marido, eu nunca soube o que havia escrito nela e minha mãe nunca se preocupou em me contar, bem, desde a morte do meu pai nós duas meio que ficamos afastadas.

A carta do Talon... Ela foi entregue no dia em que ele descobriu que seria pai, ele veio até mim desesperado e contou que havia perdido a mulher de sua vida por que bebeu demais e engravidou outra mulher e a mesma mulher estava ameaçando tirar a criança se ele não a ajudasse. Ele não sabia o que fazer. Também nunca soube o que havia na carta do Talon, mas seja lá o que o papai falou mudou totalmente a vida dele. Meu irmão realmente perdeu a Angela, mas ele aceitou que tinha uma filha e a ama mais que tudo nesse mundo.

“-Angela. – Ele me disse naquele dia no Hospital. – O nome dela vai ser Angela, em homenagem a única mulher que amei em toda a minha vida.”

A carta para os netos(as) ainda está fechada, ainda não está na hora de lê-la.

Mas a carta para mim...

Levantei da poltrona saindo de minhas divagações, Nate havia saído com seu pai, Rose e Sirius, minha amiga e grande amor do meu irmão, Angela, estava na cozinha, Kate, Ash e Lyra haviam saído para correr, ainda era cedo.

Fui em direção ao meu quarto, abri a porta do guarda-roupa e tirei da prateleira de cima uma caixa verde... Verde da cor dos olhos do meu pai, da cor dos meus olhos, da cor dos olhos do meu filho. Ali dentro estava a carta que meu pai havia escrito para mim, no dia em que meu ex-marido descobriu que eu estava carregando o filho de outro ele pediu que eu abortasse a criança, naquele momento todo o encanto se acabou e eu vi o quanto ele era idiota! Eu chorei muito abraçada a mim mesma, sem saber o que fazer, foi então que eu me lembrei da carta do meu pai.

“Quando você souber que será mãe.” Ele havia escrito.

Naquele dia eu li a carta e sempre depois disso eu a relia, eu me sentia mais perto do meu pai. Peguei o papel já amassado e velho, as letras puxadas e firmes.

Querida Andrea,

Se você está lendo isso é por que estou morto e você... Você está grávida. Morte e vida. Não poderia escolher um assunto melhor para começar essa carta.

Primeiro minha princesa eu quero que você saiba que não importa se a sua vida seja sofrida ou ferrada, você e seu irmão são a maior benção que eu já tive e se eu pudesse voltar no tempo e mudar a minha vida eu não mudaria nada por que vocês me fizeram sentir incrível. E é essa a sensação que eu quero que você tenha, a sensação de ser incrível e isso é algo que somente um filho pode dar.

Quando você pegar aquela coisinha pequena entre seus braços, aquela coisinha tem um pedaço seu e isso é a única coisa que importa, você vai sentir um amor tão grande como se tivesse sido pega em uma tsunami de sentimento. Você vai descobrir que é capaz de matar e de morrer por esse amor.

Então a sua coisinha vai crescer e você vai estar lá, vendo, ajudando, cuidando, e você vai adorar cada segundo. Vai haver um momento em que sua coisinha vai querer começar a andar com as próprias pernas e nesse momento você vai querer ajuda-lo... Mas não force. Deixe-o tentar sozinho, deixe-o livre, pois por mais que você queira guardar sua coisinha debaixo de sua asa os filhos são criados para o mundo e não para os pais.

Vão haver momentos em que você vai ficar irritada com a sua coisinha e momentos em que sua coisinha ficará irritado com você, mas não deixe que esse momentos o impeçam de ver o quanto você o ama.

Por favor, por favor, por favor não deixe que isso impeça que seu filho ou sua filha veja o quanto você o ama, Andrea.

Você pode acha que o amor verdadeiro é a única coisa que pode quebrar seu coração. A coisa que vai iluminar sua vida... Ou destruí-la. E então... Você vai se tornar mãe.

Eu amo você princesa.

Seu pai.

As lágrimas escorreram pela minha bochecha.

–Eu também te amo papai. –Sussurrei.

–--


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Notas finais do capítulo

Para quem deixa review:OBRIGADA! Amo vocês Suas lindas *-*
Para quem não deixa por que não tem perfil: Tudo bem, eu perdoo.
Para quem não deixa por preguiça: Gente, o dedo não vai cair, faz esse esforçinho vai, por favor?
BEIJOOOS LIINDAS *----------*
RECOMENDEM PLEASE!
Câmbio e desligo