Foi no Instituto de Durmstrang... escrita por Sensei, KL


Capítulo 35
Meio que gosto de você


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Mais um capítulo chegando e dessa vez todo no Ponto de Vista da Rose!
Como eu havia prometido, esse é o último capítulo com mais de dez mil palavras que postarei na história.
Vixe, que cansativo é isso.
O próximo será menor.
Espero que gostem ♥
Câmbio e desligo



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PDV Rose

—Meu Deus, Reed! Como foi que aconteceu? –A voz de uma primeirista da grifinória questionou.

Suspirei longamente.

Aquilo já durava uma semana!

Desde que saí do lago negro com Harry e a pequena Delacour do meu lado todo mundo andava me parando pelos corredores para saber como foi que aconteceu. Mas não era nada de mais, Dumbledore só colocou nós quatro num sono mágico e nos levou para os sereianos, eu nem me lembrava direito de como era debaixo da água.

—Não foi nada de mais Shelly, é sério. –Sorri para ela. –Eu já contei essa história milhões de vezes. O grande herói foi o Harry, você devia perguntar a ele.

Ela negou com a cabeça.

—Não, ele é O Harry Potter. –Ela disse com olhos arregalados. –Isso meio que me intimida.

Soltei uma risadinha.

—Ele não morde. Juro. –Respondi.

Naquele momento Harry entrou no salão comunal conversando animado com Rony e Lyra, Hermione vinha atrás mostrando alguma coisa para Gina. Shelly olhou para ele e depois para mim.

—Ele deve gostar muito de você, afinal, você foi o tesouro dele. –Ela comentou.

—Sim. Ele gosta mesmo de mim. –Falei olhando para ele.

Levantei de onde estava sentada e fui em sua direção, quando me aproximei o bastante Harry levantou o rosto e sorriu ao me ver.

—Rose! –Ele falou.

—Estou mandando todas as pessoas perguntarem a você como foi debaixo d’água. –Falei sentando ao seu lado. -Logo terá um monte de gente enchendo seu saco.

Ele fez uma careta. Lyra riu.

—Essa é a minha garota! –Ela falou colocando o braço nos meus ombros.

—E você? Ouvi rumores de que você e Cedrico estão FINALMENTE juntos. –Eu disse como quem não quer nada.

Harry, Hermione, Gina e Rony viraram para ela, todos com olhares inquisidores. Ela deu um passo para trás e levantou os braços.

—Inocente até que se prove o contrário. –Ela respondeu.

—Ah, para! –Harry disse rindo.

—Mentirosa. –Falei fingindo um espirro.

Todos riram, inclusive Lyra.

—E você Rose? Ouvi falar que você anda conversando bastante com um sonserino. –Ela soltou com malícia.

Arregalei os olhos.

—O QUE?! –A voz de Harry estalou feito um chicote. –Rose!

Gemi.

—Ah, não é nada de mais Harry. –Hermione veio ao meu socorro.

—Eles são só amigos. –Gina deu suporte. –Ela já me disse isso milhões de vezes.

Sim, era verdade. Eu já havia dito milhões de vezes para Gina que minha amizade com o Blásio era só isso, amizade. Mas isso não a impedia de sempre me perguntar desconfiada se era a mesma coisa para ele.

Mas isso eu não tenho como responder.

—É sério Harry, para. –Pedi. –Não é nada demais.

—Que mal gosto Rose, justo um sonserino? -Rony fez uma careta de desprezo.

—Nem todo sonserino é igual a Draco Malfoy. –Rebati, um pouco petulante, confesso.

Mas aquilo fez com que Harry me olhasse com sobrancelhas arqueadas.

—Quem te disse isso? –Ele perguntou, o tom de voz urgente.

—O que? –O olhei confusa.

—Quem te disse isso, que todo sonserino não é igual ao Malfoy? –Ele perguntou novamente.

Franzi o cenho.

—Ninguém, eu...

Ele me interrompeu.

—Esquece. –Harry falou balançando a cabeça. –Não é nada. Vou dar uma volta.

Ele se levantou, todos o miramos, olhares confusos em cada um de nós. Quando ele saiu do salão comunal nos entreolhamos.

—O que foi isso? –Lyra questionou.

—Ele pareceu um pouco alterado, não é? –Hermione sugeriu. –Vou ver o que aconteceu.

Olhei para a direção onde Harry havia ido, havia algo definitivamente estranho com meu irmão. Preocupada, Hermione levantou e foi atrás dele.

—--

Quando março começou, o tempo ficou mais seco, mas ventos cortantes esfolavam o rosto e as mãos todas as vezes que as pessoas saíam aos jardins, era terrível. Havia atrasos no correio porque o vento não parava de tirar as corujas da rota, por isso eu não esperava uma coruja naquele dia específico, mas quando Harry avisara que tinha mandado uma carta para Tio Sirius foi uma boa surpresa vê-la de volta.

Harry mal acabara de desprender a resposta de Sirius, a coruja levantou vôo, visivelmente receosa de que fosse ser despachada outra vez.

“Esteja nos degraus no fim da estrada que sai de Hogsmeade, às duas horas da tarde de sábado. Tenha certeza de trazer Lyra.”

—Ele não voltou a Hogsmead? - perguntou Rony, incrédulo.

—O que parece, não é? - disse Hermione.

—Não dá para acreditar - disse Harry tenso. - Se ele for apanhado...

—Mas até agora não foi, não é? - disse Rony. - E agora o lugar nem está mais infestado de dementadores.

—Fica tranquilo Harry, meu pai não é tão idiota! –Lyra falou.

—Mas ainda assim é perigoso. –Nate comentou. –Papai deve ter ficado louco com ele.

—Papai vive para enlouquecer o Tio Remus. –Lyra falou.

—Eu posso ir também? –Pedi baixinho. –Quero muito ver o Tio Sirius.

—Achei que você fosse com seu amigo sonserino. –Rony me alfinetou.

Sorri de lado.

—E eu que você fosse com a Francesa de cabelos azuis. Mas nós dois estávamos errados, não é? –Retruquei.

Todos deram risadinhas enquanto Rony ficava tão vermelho quantos seus próprios cabelos e abriu a boca para responder.

—Eu não...

Mas Lyra colocou a mão no ombro dele.

—Perdeu essa, garotão. Aceite.

Segui com Gina para as últimas aulas da tarde, transfiguração, muito mais animada agora que sabia que veria o Tio Sirius, sentia saudades de casa, mas com a animação que andava o castelo nem pensava em visitar agora.

A professora Mcgonagall estava dando animagos para nossa turma, matéria que eu já sabia um pouco graças ao tio Sirius então me permiti dar umas viajadas ao invés de prestar atenção na matéria, ainda bem, por que isso acabou me levando a prestar atenção em dois garotos da lufa-lufa, que era a casa com quem dividíamos essa aula, que liam um exemplar do profeta diário, aos risos.

Foi ao ver de relance o meu nome que puxei o papel deles e passei os olhos pelas palavras, rapidamente.

—Ei! –Um deles reclamou, mas arregalou os olhos ao notar quem havia pego o jornal.

Arregalei os olhos, mas por um motivo diferente.

"A MAGOA SECRETA DE HARRY POTTER"

Era o que dizia a manchete, logo abaixo uma foto de Lyra, Harry e Mione.

Um garoto excepcional, talvez - mas um garoto que sofre todas as dores comuns da adolescência, escreve Rita Skeeter. Privado do amor desde o trágico falecimento dos pais, Harry Potter, catorze anos, pensou que tinha achado consolo com sua namorada firme em Hogwarts, a garota nascida trouxa, Lyra Anderson. Mal sabia que em breve estaria sofrendo mais um revés emocional numa vida afligida por perdas pessoais. A Srta. Granger, uma garota sem atrativos, mas ambiciosa, parece ter uma queda por bruxos famosos e, de acordo com alguns colegas de turma, não descansou enquanto não separou o casal de pombinhos, fazendo com que a pobre Senhorita Anderson fosse se refugiar nos braços do terceiro campeão, Cedrico Diggory.

Mas parece que a Srta. Granger não é capaz de saciar sua busca por ascensão. Desde que Vitor Krum, o apanhador búlgaro e herói da última Copa Mundial de Quadribol, chegou em Hogwarts ela tem brincado com as aflições dos dois rapazes.  Krum, que está visivelmente apaixonado pela dissimulada Srta. Granger, já a convidou para visitá-lo na Bulgária nas férias de verão e insiste que “nunca se sentiu assim com nenhuma outra garota.”

Contudo, talvez não tenham sido os duvidosos encantos naturais da Srta. Granger que conquistaram o interesse desses pobres rapazes.

“Ela é realmente feia” diz Pansy Parkinson, uma estudante bonita e viva do quarto ano, “mas é bem capaz de preparar uma Poção do Amor, tem bastante inteligência para isso. Acho que foi isso que ela fez.”

As poções do amor são naturalmente proibidas em Hogwarts, e sem dúvida Alvo Dumbledore irá querer apurar essas afirmações.

O nosso querido Harry, no entanto, parece aos poucos superar essa grande decepção através dos encantos da sua amiga, também nascida trouxa, Rosemary Reed. Entrementes, os simpatizantes de Harry Porter fazem votos que, dessa vez, a garota quem ele entregar seu coração realmente o mereça.

—O que?! –Guinchei.

Acabei chamando a atenção da sala toda com meu barulho, a professora Mcgonagall me olhou com a testa franzida.

—Srta. Reed, a leitura do profeta diário em sala é estritamente proibida. Eu agradeceria se você pudesse prestar atenção em minha aula. Obrigada.

Coloquei o jornal para baixo.

—Sinto muito professora. –Falei com os dentes trincados tamanha era minha raiva.

—Menos 10 pontos para Grifinória. –Ela disse virando novamente para sua mesa.

Gina me olhava com as sobrancelhas arqueadas e se aproximou de mim discretamente.

—O que foi Rose? – Ela sussurrou.

Sem conseguir nem respirar direito eu joguei o jornal para ela.

—Eu vou matar essa Skeeter! –grunhi amassando um pedaço de pergaminho entre os dedos.

—--

—E então Rosemary? Está consolando o coraçãozinho do Potter?

Risadas.

Respirei fundo para evitar lançar uma azaração, não é como se eu já não estivesse acostumada a lidar com cobras. O dia todo havia sido assim, piadinhas e brincadeiras sobre aquele maldito jornal.

Mais tarde consegui encontrar com Hermione, Karina e Lyra que conversavam pelo corredor indo em direção ao salão principal, Hermione que era a mais afetada não parecia nem um pouco preocupada com o ocorrido. Karina, no entanto, parecia bastante chocada com tudo aquilo.

—Seu ministerrio é bastan liberral, non?  -Ela disse lendo o artigo com o cenho franzido. –O que Arry falou sobrré isso?

—Ele não precisa se importar, tudo o que essa maluca da Skeeter quer é me atingir. –Hermione respondeu.

—Não é como se um artigo no jornal fosse nos afetar tanto. –Lyra deu de ombros.

Isso por que não eram elas que estavam sofrendo com as piadinhas. Mas eu não podia contar nada sobre isso ou Lyra viria em meu resgate, se isso acontecesse era provável que alguém saísse com um osso quebrado, e esse alguém não era a Lyra.

Bufei irritada.

—Vocês estão tranquilas demais. –Reclamei e puxei o jornal. –Eu não gosto do que ela está fazendo com o Harry.

—Nenhuma de nós gosta, Rose, mas não podemos fazer nada por enquanto. –Hermione respondeu.

—E quando vamos poder fazer algo, hã? –Falei.

Virei as costas e sai dali.

—Rose! –Lyra me chamou, mas eu já estava andando para longe.

Encontrei Harry somente a noite, ele estava com Nate e Rony no salão comunal.

Ele sorriu quando me aproximei e começou a falar comigo.

—Hey Rose, eu...

Puxei-o pela blusa em direção a saída e só parei de andar até estarmos os dois sozinhos numa das salas do quarto andar.

—Você viu o jornal? -Perguntei.

—Eu imaginei que você fosse perguntar isso. –Ele disse envergonhado. –Você não está com raiva, está?

—Raiva?! Estou irada Harry Potter! Essa mulher está perseguindo você e eu não gosto nada disso. –Reclamei.

—Mas e sobre o boato de estarmos juntos? –Ele questionou.

—Oh, por favor. –Fiz um gesto desdenhoso. –Isso é besteira, nós estamos juntos Harry, você é meu irmão.

Harry sorriu.

—É, acho que pelo menos o artigo serviu para alguma coisa, afinal...

O olhei confusa.

—O que?

—Nenhum sonserino vai se aproximar de você se acharem que é a minha namorada. -Ele disse. Não consegui conter a minha gargalhada. –Ei, não ria, é sério.

—Ciúmes, Potter? –Perguntei.

—De você? Surpreendentemente sim. –Ele confessou. –Quem diria que eu era um irmão ciumento.

Ele deu de ombros.

—Eu não sei se fico lisonjeada ou irritada. –Respondi sincera.

—Se eu puder escolher escolho que fique lisonjeada. Não quero que fique irritada comigo. Por muito tempo eu achei que os Dursleys eram minha única família, saber que você existe me deixa feliz.

Eu não sabia se aquela declaração me fazia feliz ou triste, corri para os braços de Harry e o abraçei com força. Queria poder espantar todas as tristezas que ele já teve, queria poder dizer que daqui para frente tudo iria ser melhor, mas eu não sabia.

Naquele momento eu entendi por que Lyra nos protegia tanto... Ela queria nos fazer feliz.

—Amo você irmão.

Pude ver o rosto dele corar de vergonha.

—Eu também te amo Rose. –Respondeu baixinho.

—--

Nós voltamos para o salão comunal conversando aos risos, Harry estava cada dia mais confortável ao meu redor e acho que grande parte do motivo de eu não ligar para o ciúme que ele sentia era por que aquela era uma prova de que ele se importava comigo.

E isso era muito bom.

—Snape é um maníaco, parece que se um aluno da sala ao lado espirar a culpa é de Harry Potter, dez pontos a menos para a grifinória. –Ele suspirou – ...Se ao menos ele não fosse professor!

—Acredite, não é só com você que isso acontece. - Falei.

—Ah, mas ele tem uma cisma toda especial por mim. Desde que a sala dele foi invadida pelo senhor Crouch ele acha que fui eu quem fez isso. –Ele explicou.  –Alguém andou roubando araramboia da sala dele e Dobby roubou guelricho para que eu te tirasse do lago. E agora ele quer colocar veritasserum na minha bebida para que eu confesse!

—Você tem certeza que foi o senhor Crouch, Harry? –Questionei confusa. –Ele parece tão sério para fazer uma coisa dessas.

—Era o que dizia no mapa do maroto. Você sabe que ele nunca erra. –Ele deu de ombros.

—E onde está o mapa?

—O professor Moody pediu emprestado. Ele me ajudou quando meu pé ficou preso na escada então eu emprestei a ele.

Também não via nada de errado naquilo, mas por que tinha alguma coisa estranha naquela história?

—Ah, você vai amanhã para Hogsmead com a gente? –Ele perguntou.

—Claro, preciso ver o Tio e mandar um recado para a mamãe. -Falei.

—Eu também estou com... –Mas a voz dele foi morrendo ao olhar para frente. –O que você está fazendo aqui?

Virei para onde ele olhava, era Dafne Greengrass que vinha andando em nossa direção, rebolando os quadris com sensualidade, os cabelos loiros soltos, jogados por trás dos ombros.

—Boa noite. –Ela falou de modo arrastado e sorriu de lado, maliciosamente. –Por mais que sua companhia seja agradável, senhor Potter, não é com você que vim falar essa noite.

—De onde vocês se conhecem? –Perguntei.

Dafne não respondeu, apenas deu de ombros.

—Vim te entregar isso. –Ela disse me mostrando um livro. –Aconteceram uns imprevistos e Blásio pediu que eu trouxesse no lugar dele, espero que não se importe.

Neguei com a cabeça.

—Tudo bem. Não aconteceu nada grave, não é?

Ela sorriu.

—Não! Ele e Theo estavam num jogo de xadrez quando Blásio lembrou de trazer o livro, mas Theo o ameaçou se ele levantasse da cadeira naquele momento crítico do jogo. As peças estavam formando um motim. –Ela soltou uma risada e eu sorri imaginando a cena. –Os garotos e seus jogos! Quem pode para-los, hã?

—Rose... – Harry chamou minha atenção e apontou para Dafne com os olhos.

—Ah! Harry, essa é a...

—Rosemary. –Dafne me cortou. –Não acabe com a surpresa.

Eu olhei confusa de um para o outro.

—O que aconteceu entre vocês que eu não estou sabendo? –Questionei.

—O senhor Potter está numa cruzada para descobrir quem eu sou desde o dia do baile de natal. –Ela disse com um sorriso malvado. - Você não vai acabar com a diversão, vai?

Arqueei a sobrancelha, surpresa.

—Jura? Ah, então tudo bem.

—Rose! –Harry reclamou com um tom traído.

—O que? Eu estou achando interessante essa história. –Ri da careta que ele fez.

—Vamos lá senhor Potter, qual seria a graça se você descobrisse agora? –Ela perguntou mandando uma piscadela para o meu irmão.

Em seguida acenou rapidamente se despedindo e virou as costas.

—Ao menos eu estava certo sobre a sua casa. –Harry disse mais alto para ela ouvir.

—Garotos! –Ela respondeu rindo.

—Garotas! –Harry gritou de volta no mesmo tom.

Dafne olhou por sob o ombro rapidamente e eu podia jurar que vi um sorriso.

—--

No dia seguinte saímos do castelo eu, Harry, Lyra, Rony, Mione e Nate ao meio dia em direção a Hogsmead. Havia um pouco de sol o que deixava o clima mais ameno, por isso Lyra tirou o cachecol e sorriu.

—O calorzinho está bom, não é? –Ela disse.

E estava mesmo, quando chegamos em Hogsmead nenhum de nós usava mais capa.

Fomos até a Trapobelo Moda Mágica comprar um presente para Dobby, acabamos nos divertindo muito escolhendo as meias mais espalhafatosas que conseguimos encontrar, inclusive um par com estrelas douradas e prateadas que piscavam, e outro que berrava quando ficava fedorento demais. Então, à uma e meia subimos pela rua Principal, passamos a Dervixes & Bangues e saíram em direção aos arredores do povoado.

Eu nunca fora para aqueles lados antes. A estradinha serpeante os levou para os campos sem cultivo em torno de Hogsmeade. As casas ficavam mais espaçadas ali e os jardins maiores, nós caminhamos em direção ao morro a cuja sombra se situava em Hogsmeade. Então fizemos uma curva mais a frente e vimos uma escada no fim da estradinha.

À nossa espera, as patas dianteiras apoiadas no degrau mais alto, havia um enorme cão preto, que segurava alguns jornais na boca e parecia bastante familiar...

—PAPAI! –Lyra gritou correndo quando nos aproximamos.

Sirius se jogou nos braços dela lambendo seu rosto e balançando o rabo com alegria.

— Olá, Sirius - disse Harry.

O cachorro latiu e deu as costas, começou a se afastar atravessando o mato ralo que subia ao encontro do sopé rochoso do morro. Nós subimos os degraus e seguiram o cachorro. Sirius levou-os exatamente para o sopé do morro, onde o terreno era coberto de pedras e pedregulhos. Era fácil para ele com suas quatro patas, mas nós logo ficamos sem fôlego, pelo menos aqueles de nós que não eram lobisomens, Nate teve o bom senso de parecer envergohado. Continuamos a acompanhar Sirius, que começou a subir o morro propriamente dito. Durante quase meia hora escalamos uma trilha íngreme, serpeante e pedregosa, atrás de Sirius que abanava o rabo, suando ao sol.

—Meu Merlim, papai! Como isso é longe! –Lyra reclamou.

Então, finalmente, Sirius desapareceu de vista, e quando chegamos ao lugar em que ele desaparecera havia uma fenda estreita na rocha. Nos esprememos para passar por ela e ali havia uma caverna fresca e fracamente iluminada. Preso a um canto, uma ponta da corda passada em volta de um pedregulho, estava Bicuço, o hipogrifo e ao lado dele, alisando levemente suas penas, estava tia Kate, a mãe da Lyra.

—Mamãe! –Lyra gritou correndo em direção a ela.

—Olá querida. –Tia Kate a abraçou com força e deu um beijo em sua cabeça.

Eu e Nate acabamos ganhando abraços também, Tia Kate abriu os braços para que Harry viesse até ela, ele hesitou, mas apesar de envergonhado ele andou até os braços dela e recebeu o abraço.

—Bom ver você Harry querido. –Ela disse dando um beijo na cabeça dele.

—Bom ver você também senhora Anderson... Digo, Kate. –Ele se corrigiu quando ela lançou um olhar de censura para ele.

Quando virei para olhar Lyra ela já tinha a cabeça nas penas de Bicuço, enchendo-o de beijos.

—Own, papai está cuidando bem de você? Está querido? –Ela sussurrava alisando as penas da cabeça.

Metade cavalo cinzento, metade enorme águia, os olhos ferozes e alaranjados de Bicuço brilharam ao ver os visitantes. Fizemos uma profunda reverência para o animal que, depois de nos olhar, imperiosamente, por um momento, dobrou o joelho escamoso e permitiu que Hermione corresse para acariciar o seu pescoço coberto de penas. Harry, porém, observava o cachorro preto que acabara de se transformar em seu padrinho.

Sirius estava usando uma blusa branca de botões e uma calça jeans, os cabelos negros estavam mais compridos do que da última vez que eu o vira, ele trazia amarrado num rabo de cavalo.

—Harry! –Sirius abraçou o afilhado com carinho.

— Que é que você está fazendo aqui, Sirius? - perguntou.

— Cumprindo minhas obrigações de padrinho. Não se preocupe comigo, Kate está cuidando bem de mim, ela jamais me deixaria vir aqui se não soubesse que é seguro. Quem dirá vir comigo! –Ele disse.

Ele ainda sorria, mas, ao ver a ansiedade no rosto de Harry, continuou com mais seriedade:

— Quero estar em cima do lance. A sua última carta... bem, digamos que as coisas estão começando a cheirar pior. Tenho recebido os jornais que Nate assinou lá para casa e, pelo que parece, eu não sou o único que está ficando preocupado.

Sirius apontou para alguns jornais que estavam numa mochila no chão junto a bicuço. Rony se abaixou para olhar.

Harry, no entanto, continuou a encarar o padrinho com preocupação.

— E se eles pegarem você? E se virem você? –Ele perguntou.

— Vocês e Dumbledore são os únicos por aqui que sabem que eu sou um animago. - disse Sirius sacudindo os ombros.

Rony cutucou Harry e lhe passou os exemplares do Profeta Diário. Havia dois, o primeiro tinha a manchete Doença misteriosa de Bartolomeu Crouch, e o segundo, Bruxa do Ministério continua desaparecida - o Ministério da Magia agora está pessoalmente envolvido.

— Estão fazendo parecer que ele está à morte - disse Harry lentamente. - Mas não deve estar se conseguiu vir até aqui...

—Não consigo acreditar em informações que venham da mídia! –Tia Kate comentou observando um outro jornal que estava na bolsa e bufando em seguida.

Me aproximei para ver o artigo que Harry lia, frases soltas sobre o estado de Crouch: “não é visto em público desde novembro...” “casa parece deserta...” “O Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos não quer comentar...” “Ministério se recusa a confirmar os boatos sobre doença grave...”.

—Que estranho... –Comentei.

—Meu irmão é assistente pessoal de Crouch. - informou Rony a Sirius. - Ele diz que o cara está sofrendo de estresse.

—Não sei não, isso parece bem mais grave que estresse. –Nate comentou com o cenho franzido.

—Veja bem, ele realmente parecia doente na última vez que eu o vi de perto. – disse Harry devagar, lendo o artigo ao meu lado. - Na noite que o meu nome foi escolhido pelo Cálice...

—Está recebendo o que merecia por despedir Winky, não? - comentou Hermione friamente. Ela acariciava Bicuço ao lado de Lyra. -Aposto como gostaria de não ter feito isso, aposto como sente a diferença agora que ela não está mais lá para cuidar dele.

Eu não consegui não rir. Parecia que tudo agora era culpa da escravidão dos elfos domésticos para Hermione.

—Mione está obcecada por elfos domésticos - murmurou Rony para Sirius, lançando à garota um olhar aborrecido.

Sirius, no entanto, pareceu interessado.

—Crouch despediu o elfo doméstico dele?

—Despediu na Copa Mundial de Quadribol - disse Harry e começou a contar a história do aparecimento da Marca Negra, de Winky ter sido encontrada com a varinha de Harry na mão e da fúria do Sr. Crouch.

Quando Harry terminou, Sirius se levantou novamente e começou a andar para cima e para baixo na caverna.

—O que houve Six? –Tia Kate perguntou o seguindo com o olhar, estranhando o comportamento dele.

Lyra e eu não deixamos passar em branco o uso do apelido e olhamos uma para a outra com olhares maliciosos.

— Deixe-me entender isso direito. - disse ele depois de algum tempo. - Primeiro você viu o elfo no camarote de honra. Estava guardando um lugar para Crouch, certo?

— Certo. – dissemos juntos.

— Mas Crouch não apareceu para assistir ao jogo?

— Não. - confirmou Harry. - Acho que ele disse que esteve ocupado demais.

Sirius deu outra volta na caverna em silêncio. Então disse:

— Harry, você procurou sua varinha nos bolsos depois que deixou o camarote de honra?

— Hum... - Harry se concentrou. - Não - respondeu finalmente. - Não precisei usa-la até chegarmos à floresta. Então meti a mão no bolso e só encontrei o meu onióculo. - Ele olhou para Sirius. - Você está dizendo que quem conjurou a Marca furtou minha varinha no camarote de honra?

—É possível - disse Sirius.

—Winky não furtou a varinha! - protestou Hermione com voz aguda.

—O elfo não era o único ocupante do camarote - disse Sirius, enrugando a testa e continuando a andar. - Quem mais estava sentado atrás de você?

—Um monte de gente - respondeu Harry. - Uns ministros búlgaros... Cornélio Fudge... os Malfoy...

—Os Malfoy! - exclamou Rony subiramente, tão alto que sua voz ecoo pelas paredes da caverna o que fez Bicuço agitar a cabeça nervosamente. – Aposto como foi o Lucius Malfoy!

—Argh, Rony, dá para deixar os Malfoy fora disso? Lucius Malfoy nem se aproximou de Harry, acredite, eu teria visto. –Lyra falou.

—Mais alguém? - perguntou Sirius.

—Não.

—Ah, sim, tinha o Ludo Bagman - lembrou Hermione a Harry.

—Ah, foi...

—Não sei nada sobre o Bagman, exceto que costumava bater para os Wimbourne Wasps - disse Sirius, ainda andando. - Que tal é ele?

—Um pouco brincalhão demais. –Lyra comentou.

—Muito sorridente. –Nate falou desconfortável.

—Falso! Extremamente falso! –Falei.

—Ele é ok. - disse Harry. - Fica o tempo todo se oferecendo para me ajudar no Torneio Tribruxo.

—Fica, é? - perguntou Sirius, aprofundando as rugas na testa. - Por que será que ele faria isso?

—Disse que se afeiçoou a mim. –Harry explicou.

—Hum... - murmurou Sirius pensativo.

—Nós o vimos na floresta pouco antes da Marca Negra aparecer - contou Hermione a Sirius. - Vocês lembram? - perguntou ela a Harry e Rony.

—Lembramos, mas ele não ficou na floresta, não foi? - disse Rony. - Assim que falamos do tumulto, ele saiu para o acampamento.

—Como é que você sabe? - disparou Hermione. - Como é que você sabe para onde foi que ele desaparatou?

—Você está dizendo que acha que Ludo Bagman conjurou a Marca Negra? –Nate perguntou incrédulo.

—É mais provável que ele tenha feito isso do que Winky. - retrucou ela teimosamente.

—Eu lhe disse - falou Rony dando um olhar significativo para Sirius -, eu lhe disse que ela está obcecada por elfos...

Mas Sirius ergueu a mão para calar Rony.

—Depois que a Marca Negra foi conjurada e o elfo descoberto segurando a varinha de Harry, que foi que o Crouch fez?

—Foi procurar no meio das moitas - disse Harry -, mas não havia mais ninguém lá.

—Claro. - murmurou Sirius andando para cima e para baixo -, claro, ele teria querido pôr a culpa em qualquer um menos no próprio elfo... e então o despediu?

—Foi - disse Hermione num tom acalorado -, despediu, só porque ela não tinha ficado na barraca esperando ser pisoteada...

—Hermione, será que você pode dar um tempo com esse elfo? - pediu Rony.

Minha cabeça era quase um ping e pong acompanhando aquela discussão.

Mas Sirius balançou a cabeça e disse:

—Ela avaliou Crouch melhor do que você, Rony. Se você quer saber como um homem é veja como ele trata os inferiores, e não os seus iguais.

Tia Kate olhou para Sirius com uma expressão chocada.

—Uh, que homem sábio, você quase me convenceu que não é idiota, Six! –Ela disse sorrindo.

Sirius sorriu para ela e soltou uma piscadela marota, mas quando virou para nós estava novamente sério.

— Todas essas ausências de Bartô Crouch... ele se dá ao trabalho de garantir que seu elfo guarde um lugar para ele na Copa Mundial de Quadribol, mas não se importa de ir assistir. Ele trabalha com afinco para restabelecer o Torneio Tribruxo, e em seguida pára de comparecer também... Isto não se parece nada com o Crouch. Se ele alguma vez tiver faltado ao trabalho por causa de doença, eu como o Bicuço.

Bicuço levantou a cabeça ao ouvir seu nome e Lyra riu.

— Você conhece o Crouch, então? - perguntou Harry.

O rosto de Sirius ficou sombrio. Inesperadamente pareceu tão ameaçador quanto na noite em que o vimos pela primeira vez, quando ainda acreditávamos que ele fosse um assassino.

— Ah, eu conheço Crouch, sim. - disse ele em voz baixa. - Foi quem deu a ordem para me mandar para Azkaban, sem julgamento.

— Quê?!- Nós exclamamos juntos, Harry, Lyra, Hermione, Nate, Rony e eu.

Tia Kate virou o rosto para olhar Sirius tão rápido que quase pude ouvir seu pescoço estalar.

— Você está brincando! - disse Harry.

— Não, não estou. - respondeu Sirius. – Crouch costumava ser chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, vocês não sabiam?

Negamos. Nenhum de nós tinha ideia disso.

—Previa-se que ele fosse o próximo Ministro da Magia. Ele é um grande bruxo, Bartô Crouch, de grande poder mágico, e de grande fome de poder. Ah, nunca foi partidário de Voldemort. - acrescentou, ao ver a expressão no rosto de Harry. - Não, Barrô Crouch sempre foi abertamente contra o partido das trevas. Mas, por outro lado, muita gente que era contra o lado das trevas... bem, vocês não entenderiam... são muito jovens...

Aquilo me irritou, não só a mim pelo jeito por que Nate soltou bufo ofendido.

—Foi isso que papai me disse na Copa Mundial - disse Rony, com um quê de irritação na voz.

—Não é como se tivéssemos cinco anos de idade. –Hermione respondeu.

—Experimente nos contar, papai. –Lyra disse num tom imperioso.

Um sorriso perpassou o rosto magro de Sirius, ele olhou para Tia Kate que acenou que sim com a cabeça compartilhando do sorriso dele.

—Está bem, vou experimentar...

Ele andou até um lado da caverna, voltou e então disse:

—Imaginem que Voldemort detivesse o poder agora. Vocês não sabem quem são os partidários dele, não sabem quem está e quem não está trabalhando para ele. Vocês sabem que ele é capaz de controlar as pessoas para que façam coisas terríveis sem conseguir se conter. Vocês próprios estão apavorados, suas famílias e amigos, também. Toda semana vocês têm notícias de mais mortes, mais desaparecimentos, mais torturas... o Ministério da Magia está desestruturado, não sabe o que fazer, tenta ocultar dos trouxas o que está acontecendo, mas nesse meio tempo os trouxas estão morrendo também. Terror por toda parte... pânico... confusão... era assim que costumava ser. Bem, tempos assim fazem vir à tona o que alguns têm de melhor e o que outros têm de pior. Os princípios de Crouch podem ter sido bons no início - eu não saberia dizer. Ele subiu rapidamente no Ministério e começou a mandar executar medidas muito severas contra os partidários de Voldemort. Os aurores receberam novos poderes - para matar em vez de capturar, por exemplo. E eu não fui o único a ser entregue diretamente aos dementadores sem julgamento. Crouch combateu violência com violência e autorizou o uso das Maldições Imperdoáveis contra os suspeitos. Eu diria que ele se tornou tão impiedoso e cruel quanto muitos do lado das trevas. Ele tinha os seus partidários, me entendam - muita gente achava que ele estava tratando o problema corretamente, e havia bruxas e bruxos exigindo que ele assumisse o Ministério da Magia. Quando Voldemort sumiu, pareceu que era apenas uma questão de tempo para Crouch assumir o posto maior no Ministério. Mas então aconteceu uma infelicidade... - Sirius sorriu amargurado. -O único filho de Crouch foi apanhado com um grupo de Comensais da Morte que tinham conseguido sair de Azkaban contando uma boa história. Aparentemente pretendiam encontrar Voldemort para reconduzi-lo ao poder.

—Crouch tem um filho?

—O filho de Crouch foi apanhado?

Eu e Hermione acabamos perguntando ao mesmo tempo.

—Ele tinha somente um e ele foi apanhado. - disse Sirius. - Imagino que tenha sido um choque e tanto para o velho Bartô. Deveria ter passado mais tempo em casa com a família, não acham? Deveria ter saído do escritório mais cedo um dia... Procurado conhecer o filho.

Sirius olhou para Lyra com carinho.

— O filho dele era mesmo um Comensal da Morte? - perguntou Harry.

— Não faço idéia - respondeu ele. - Eu próprio estava em Azkaban quando o trouxeram. Descobri a maior parte do que estou contando depois que saí. O rapaz foi sem a menor dúvida apanhado em companhia de gente que, posso apostar minha vida, era Comensal da Morte, mas ele talvez estivesse no lugar errado na hora errada, como esse elfo doméstico.

—Ou talvez não. –Falei fazendo todos olharem para mim.

—Crouch tentou ou conseguiu livrar o filho? - sussurrou Hermione.

Sirius deu uma risada que pareceu muito mais um latido.

—Se Crouch livrou o filho? Achei que você o tinha avaliado corretamente, Hermione. Qualquer coisa que ameaçasse manchar a reputação dele precisava ser afastada, ele dedicou a vida inteira a chegar a Ministro da Magia. Vocês viram ele dispensar um dedicado elfo doméstico porque o associou com a Marca Negra, isso não diz a vocês que tipo de pessoa ele é? O máximo a que sua afeição paternal chegou foi dar ao filho um julgamento e, é voz geral, que isso não passou de uma desculpa para Crouch mostrar como detestava o rapaz... depois mandou-o direto para Azkaban.

—Que horror! –Nate comentou.

—Ele entregou o próprio filho aos dementadores? - perguntou Harry em voz baixa.

—Isso mesmo. - disse Sirius e ele não parecia estar achando graça alguma então. - Eu vi os dementadores trazerem o rapaz preso, observei-os pelas grades da porta da minha cela. Não devia ter mais de dezenove anos. Foi encarcerado em uma cela perto da minha. Ao cair da noite ele já estava gritando pela mãe. Mas, depois de alguns dias, se calou... no fim todos se calam... exceto quando gritam durante o sono...

Por um momento, a expressão mortiça nos olhos de Sirius se tornou mais acentuada que nunca, Tia Kate se aproximou dele e colocou a mão em seu ombro, Sirius olhou para ela e sorriu de lado.

—Então ele ainda está em Azkaban? - perguntou Harry.

—Não - disse Sirius sem emoção. - Não, ele não está mais lá. Morreu um ano depois de o levarem para lá.

—Morreu?

—Ele não foi o único - disse Sirius com amargura. - A maioria enlouquece lá, e muitos param de comer quando se aproximam do fim. Perdem a vontade de viver. A gente sempre sabia quando a morte estava próxima, porque os dementadores pressentiam e ficavam excitados. O rapaz tinha um ar bem doentio quando chegou. Por ser um importante funcionário do Ministério, Crouch e a mulher receberam permissão para visitá-lo no leito de morte. Foi a última vez que vi Bartô Crouch, meio que carregando a mulher ao passar no corredor diante da minha cela. Parece que ela também morreu pouco depois. Tristeza. Definhou como o filho. Crouch nunca foi buscar o corpo do rapaz.

A mão da Tia Kate escorregou pelo braço de Sirius até que os dois deram as mãos, ele apertou a mão dela de volta. Lyra sorria com a mão do dorso de Bicuço.

—Enfim... –Sirius continuou. - Os dementadores o enterraram do lado de fora da fortaleza, eu fiquei assistindo. Então o velho Crouch perdeu tudo, quando achou que chegara ao topo. Num momento, um herói, pronto a se tornar Ministro da Magia... no momento seguinte, o filho morto, a mulher morta, o nome da família desonrado e, pelo que ouvi desde que fugi, uma grande queda na popularidade. Depois que o rapaz morreu, as pessoas começaram a sentir um pouco mais de simpatia por ele, e começaram a indagar como é que um rapaz de boa família tinha entortado daquele jeito. A conclusão foi de que o pai nunca se preocupara muito com ele. Então Cornélio Fudge ganhou o lugar de ministro e Crouch foi deslocado para o Departamento de Cooperação Internacional em Magia.

Houve um longo silêncio. Cada um de nós com seus próprios pensamentos, por minha vez eu fiquei encarando as mãos unidas de Tio Sirius e Tia Kate.

— Moody diz que Crouch é obcecado para caçar bruxos das trevas. - disse Harry a Sirius.

— É, ouvi falar que se tornou uma espécie de mania nele. - disse Sirius concordando com a cabeça. - Se você quer saber a minha opinião, ele ainda acha que pode recuperar a antiga popularidade capturando mais um Comensal da Morte.

— E ele veio escondido a Hogwarts para revistar a sala de Snape! - exclamou Rony com ar de triunfo, olhando para Hermione.

— É, e isso não faz o menor sentido - disse Sirius.

— Claro que faz! - disse Rony excitado.

—Na verdade, eu também não acho que faz sentido. –Comentei. -Não sei, se esgueirar pela noite e invadir a sala de Snape se ele tem autoridade o bastante para revista-la.

Sirius balançou a cabeça, concordando.

—Escute aqui, se Crouch quisesse investigar Snape, por que então não tem ido julgar o torneio? Seria a desculpa ideal para fazer visitas regulares à escola e ficar de olho em Snape.

—Então você acha que Snape pode estar aprontando alguma? - perguntou Harry, mas Hermione os interrompeu.

— Olhem, eu não acredito no que vocês estão dizendo, Dumbledore confia em Snape...

— Ah, corta essa, Hermione - disse Rony impaciente. - Eu sei que Dumbledore é genial e tudo o mais, mas isto não significa que um bruxo das trevas realmente inteligente não possa enganar ele...

— Por que foi, então, que Snape salvou a vida de Harry no primeiro ano? Por que simplesmente não o deixou morrer? –Lyra disse num rompante.

— Não sei, vai ver pensou que Dumbledore lhe daria um chute... –Sugeri.

— Que é que você acha Sirius? - perguntou Harry em voz alta fazendo todos olharem na direção dele.

—Acho que todos têm uma certa razão - disse Sirius, olhando pensativo para nós. - Desde que descobri que Snape estava ensinando na escola, tenho pensado por que Dumbledore o contratou. Snape sempre foi fascinado pelas artes das trevas, era famoso por isso na escola. Um garoto esquivo, seboso, os cabelos gordurosos - acrescentou Sirius, e Harry e Rony se entreolharam rindo. Mas Lyra não pareceu achar graça da descrição e olhou feio para o pai. – Desculpe querida. Snape conhecia mais feitiços quando chegou na escola do que metade dos garotos do sétimo ano e fazia parte de uma turma da Sonserina, que, na maioria, acabou virando Comensal da Morte.

Sirius ergueu a mão e começou a contar nos dedos.

— Rosier e Wilkes, os dois foram mortos por aurores um ano antes da queda de Voldemort. Os Lestranges se casaram, estão em Azkaban. Avery pelo que ouvi dizer livrou a cara dizendo que tinha agido sob o efeito da Maldição Imperius, continua solto. Mas até onde sei, Snape nunca foi acusado de ser Comensal da Morte, não que isto signifique grande coisa. Muitos deles jamais foram presos. E Snape certamente é muito inteligente e astuto para conseguir ficar de fora.

— Snape conhece Karkaroff muito bem, mas não quer divulgar isso. - disse Rony.

— É, você devia ver a cara de Snape quando Karkaroff apareceu na aula de Poções ontem! - disse Harry depressa. - Karkaroff queria falar com Snape, disse que o professor andava evitando ele. Karkaroff parecia realmente preocupado. Mostrou a Snape alguma coisa no braço, mas não pude ver o que era.

— Ele mostrou a Snape alguma coisa no braço? - exclamou Sirius, parecendo sinceramente espantado.

Tia Kate ficou alerta.

—O que? O que foi Sirius? –Ela perguntou.

Sirius olhou para ela.

—Bem, não faço idéia do que possa ser... Mas se Karkaroff está genuinamente preocupado, procurou Snape para obter respostas...

—É tão ruim assim? –Tia Kate questionou.

Os dois pareciam trocar algum tipo de comunicação pelo olhar.

—Mas ainda temos o fato de que Dumbledore confia em Snape, sei que Dumbledore confia no que muita gente não confiaria, mas não consigo vê-lo deixando Snape ensinar em Hogwarts se algum dia tivesse trabalhado para Voldemort.

—Então por que Moody e Crouch estão tão interessados em entrar na sala de Snape? - insistiu Rony.

—Bem - respondeu Sirius lentamente -, eu não duvidaria que Olho-Tonto tivesse revistado as salas de todos os professores quando chegou em Hogwarts.

—Papai, o que o senhor acha do professor Moody? –Lyra perguntou.

Achei estranha aquela pergunta e franzi o cenho em direção a ela, Lyra me ignorou.

—Ele leva a sério a Defesa contra as Artes das Trevas, o Moody. Não tenho certeza de que ele confie em alguém, e depois das coisas que tem visto, isto não é surpresa. Mas vou dizer uma coisa a favor do Moody, ele nunca matou ninguém se pudesse evitar. Sempre capturou as pessoas vivas, quando era possível. Ele é durão mas nunca desceu ao nível dos Comensais da Morte. Por que, querida? –Ele perguntou olhando para ela.

Lyra sorriu.

—Nada não.  –Ela respondeu.

Sirius virou para Harry e continuou a falar.

—Já Crouch é outra conversa... ele está mesmo doente? Se está, por que fez o esforço de se arrastar até o escritório de Snape? E se não está... o que é que ele anda tramando? Que é que ele estava fazendo de tão importante durante a Copa Mundial que não apareceu no camarote de honra? Que é que ele está fazendo enquanto devia estar julgando o torneio?

Sirius caiu em silêncio, ainda fitando a parede da caverna.

Todos pareciam pensar naquelas questões, inclusive Tia Kate que tinha um olhar concentrado no rosto.

Finalmente Sirius ergueu os olhos para Rony.

—Você disse que seu irmão é assistente pessoal do Crouch? Você tem jeito de perguntar se ele tem visto Crouch ultimamente?

—Posso tentar - disse Rony em dúvida. - Mas é melhor não parecer que desconfio que Crouch esteja fazendo alguma coisa escondido. Percy adora Crouch.

— E poderia, ao mesmo tempo, tentar descobrir se encontraram alguma pista da Berta Jorkins - disse Sirius, apontando para o segundo exemplar do Profeta Diário onde o nome dela estava estampado.

—Bagman me disse que não tinham - informou Harry.

—É, ele é citado no artigo do Profeta. Alardeando que a memória de Berta é bem ruizinha. Bem, talvez ela tenha mudado desde que eu a conheci, mas a Berta que conheci não era nada desmemoriada, muito ao contrário. Era um pouco obtusa, mas tinha uma excelente memória para fofocas. Isso costumava metê-la em muita confusão, nunca sabia quando ficar de boca calada. Posso entender que representasse um certo risco para o Ministério da Magia... talvez tenha sido por isso que Bagman não se importou de procurar por ela tanto tempo...

—Que horrível. –Comentei.

Sirius deu um enorme suspiro e esfregou os olhos contornados de sombras escuras.

—Que horas são?

—São três e meia - informou Hermione.

—Já está na hora de eles voltarem, Six. –Tia Kate avisou se aproximando de onde Lyra estava.

—Kate tem razão. É melhor vocês voltarem para a escola. - disse Sirius. - Agora, escutem aqui... - E olhou mais insistentemente para Harry. - Não quero vocês saindo escondidos da escola por motivos fúteis, certo? Se quiser falar comigo só precisa mandar uma coruja pela Lyra ou pelo Nate. Continuo querendo saber de qualquer coisa estranha. Mas vocês não devem sair de Hogwarts sem permissão, seria uma oportunidade ideal para alguém atacá-los.

—Até agora ninguém tentou me atacar, exceto o dragão e uns dois grindylows. -disse Harry.

—Harry! Que brincadeira mais sem graça. –reclamei. Harry sorriu para mim, mas Sirius amarrou a cara para ele.

—Não quero saber... Vou respirar outra vez em paz quando esse torneio terminar, o que não vai acontecer até junho. E não se esqueçam, se estiverem falando de mim entre vocês, me chamem de almofadinhas, OK? No caso de Lyra... Papai está bom pra mim.

Lyra riu.

—Certo pai. –Ela disse correndo até ele para lhe dar um abraço.

—Ah! Lyra, antes de ir, preciso da sua ajuda. Tem alguma coisa errada com a sua cobra. –Tia Kate falou.

—A senhora tem alimentado ela direito? –Lyra perguntou.

—Todos os dias como você me pediu, mas ela anda meio melancólica. Acho que sente sua falta. –Ela disse.

Sirius fez um barulho e desdém.

—Como você pode saber disso Kate? É uma cobra. –Ele disse.

—Ela demonstra, está bem? –Tia Kate reclamou.

Eu comecei a rir.

—Como ela faz isso, tia? –Perguntei sem conseguir segurar a risada.

—Não sei! Ela só faz! –Ela disse não se importando com as gaiola com a cobra dentro.

—Mamãe! Você sabe que a Grazy odeia gaiolas! –Lyra reclamou começando a abrir agaiola.

—Não abre isso! –Hermione gritou se afastando.

Nate riu.

—É só uma cobra Mione. –Ele disse.

—Ah é? Vamos ver se você vai ficar tão calmo quando ela te morder. –Ela respondeu.

Nate riu mais, negando com a cabeça.

Lyra ignorou os dois e abriu a gaiola mesmo assim, ela aproximou a mãe com cuidado até que Grazy pudesse serpentear pelo seu braço em direção ao seu ombro. Merlim! Sempre que Lyra fazia isso me dava calafrios. Ela costuma fazer sempre que está em casa, deixa a cobra livre no quarto dela quando está sozinha. Completamente louca!

—Lyra você não tem medo dela te morder? –Rony perguntou se afastando como Hermione tinha feito.

—Medo de quê? A Grazy é um amor. –Ela respondeu.

Ela amava a cobra e de um jeito meio bizarro era quase como se o bicho correspondesse ao sentimento dela. Lyra levantou o braço e olhou para a cobra por uns instantes, seus olhos estavam nivelados.

—Você está certa, mamãe. Grazy está triste. –Ela disse.

Tia Kate olhou para Sirius com uma expressão vitoriosa.

—Viu? Eu avisei! –Soltou ela.

Tio Sirius sorriu.

—Sim, você avisou. Psicóloga das cobras, rainha dos répteis. –Ele brincou. –Mas o que vão fazer sobre isso?

Lyra virou para Harry e olhou para ele por uns segundos.

—Harry... –Ela disse com uma voz manhosa.

Harry a encarou sem entender por um tempo, até que o pedido dela finalmente foi entendido.

—Ah não! Não mesmo Lyra, não me faz fazer isso. –Ele disse.

—Por favor... –Lyra pediu com mais manha e fez aquela carinha.

Harry arregalou os olhos. Sirius, Nate e eu rimos, todos que já conheciam aquele truque, Tia Kate sorriu colocando a mão na cintura.

—Eu nunca tinha visto essa carinha em ação, vamos lá Harry, como você vai sair dessa? –Ele perguntou ao afilhado.

Harry olhou para Lyra em desespero.

—Lyra...

—Por favor!

—Mas....

—Por favooooor!

Harry suspirou, derrotado. Eu soltei uma gargalhada.

—E a vitória vai para... Lyra! –Nate brincou.

Meu irmão andou em direção a cobra, o bicho percebeu a aproximação e virou a cabeça para ele. Harry sibilou em língua de cobra e todos esperamos em tensão quando a cobra finalmente sibilou de volta. Lyra olhava maravilhada.

—Não parece que ela está xingando todos vocês? –Ela perguntou analisando Grazy.

Olhei para a cobra, ela estava mexendo a cabeça em nossa direção e fazendo sibilos agressivos, nada mais que isso.

—Não, não parece. –Rony respondeu irritado.

Harry então riu.

—Bom, a Lyra está certa. –Ele disse. –A cobra realmente estava chamando todos nós de idiotas.

Lyra soltou uma gargalhada, mas eu me senti particularmente ofendida.

—O que mais ela disse? –perguntou.

—Ela realmente estava triste, como você disse. Ela disse que gosta de você, você e sua mãe são as únicas de nós que não são idiotas.

Harry sibilou mais alguma coisa em língua de cobra e o bicho respondeu.

—Ela entende o que vocês dizem e gosta quando falam com ela. –Ele traduziu. –Mas Kate não é tão divertida quanto Lyra e não brinca com ela, por isso ela quer ficar com você.

—Own... –Kate se aproximou de Lyra e da cobra se abaixando e nivelando seus olhos com os do bicho. –Sinto muito Grazy, tenho medo de machucá-la.

A cobra aproximou-se do rosto de Tia Kate, por um segundo Tio Sirius, Nate, Mione, Rony e eu prendemos a respiração, Harry notou e riu da nossa reação, pois a cobra apenas esfregou-se a bochecha de Tia Kate, quase como se fizesse carinho.

—Obrigada, querida. –Tia respondeu.

—Okay, já está bom, pode se afastar Kate. –Sirius falou puxando ela para longe.

Todos rimos.

—Mas o que você vai fazer Lyra? –Mione perguntou. –A cobra não quer voltar, quer ficar com você.

—Eu posso trazer uma mascote para a escola, não é? Neville tem o sapo dele. Mandy tem um rato e até mesmo o Filch tem uma gata! Deixei Minam com a mamãe, então... –Ela argumentou.

Nate negou com a cabeça.

—Você tem uma coruja. –Ele disse.

—Neville também. –Ela rebateu.

—Mas cobras não estão permitidas no regulamento do colégio. –Mione falou.

Lyra pareceu perdida por um instante, ela olhou para Grazy com tristeza e a cobra a olhou de volta. Eu pensei em algo rapidamente, mas não falei, pensei se devia ou não, mas o rosto de Lyra... Eu senti que me arrependeria daquilo.

—Não é que elas não estejam permitidas. –Começei, todos viraram para mim. –Elas simplesmente não estão lá. Eles permitem uma mascote e dão os exemplos gato, rato e sapo, mas não li nada sobre proibirem as cobras.

Os olhos de Lyra brilharam.

Nate, Hermione, Harry e Rony me olharam fulminantes.

Me encolhi.

—Rose, você é um gênio!

E foi assim que acabamos levando Grazy para Hogwarts.

—--

Sirius nos levou até a entrada do povoado. Ali ele deixou cada um de nós lhe acariciar a cabeça e, em seguida, virou as costas e saiu correndo pela periferia do povoado. Nós voltamos para Hogsmead e dali para Hogwarts.

— Será que o Percy conhece toda essa história sobre o Crouch? - comentou Rony quando subimos a estrada do castelo. - Mas vai ver ele não se importa... provavelmente ia admirar o Crouch ainda mais. É, o Percy adora regulamentos. Ia dizer que o Crouch se recusou a infringir os regulamentos em favor do próprio filho.

—Percy não atiraria nenhuma pessoa da família dele aos dementadores – disse Hermione com severidade.

— Não sei, não - respondeu Rony. - Se achasse que estávamos atrapalhando a carreira dele... Percy é realmente ambicioso, sabem...

Subimos os degraus de pedra e entramos no saguão do castelo, os cheiros gostosos do jantar no Salão Principal vieram ao nosso encontro.

—Vou levar Grazy para o salão comunal. –Lyra avisou apontando para a pequena gaiola na mão.

—Ah, não mesmo! Você vai agora mesmo contar isso ao diretor e... –Lyra saiu andando. –Lyra!

Mione correu atrás dela.

Atrás de nós Karina vinha andando com Dimitri. Ela parou ao nosso lado e por um instante pareceu que Lyra nem havia saído dali, tamanha era a semelhança entre as duas.

—Olá Rose. Onde Lyrra está indo? –Ela perguntou apontando para Hermione e Lyra.

—Fazer alguma coisa proibida. –Nate respondeu.

Karina sorriu, o mesmo sorriso de Lyra.

—Olá Nate! Olá Harry! Olá Romy!

—Oi Karina. –Eles responderam ao mesmo tempo.

Dimitri acenou com a cabeça num cumprimento.

—Focês estão indo para o salão? –Ela peguntou.

Acenei que sim com a cabeça notando o quanto o inglês dela estava melhor desde que havia chegado em Hogwarts, quase não errava mais as palavras e o sotaque estava sumindo. Karina se aproximou de Rony segurou o braço dele com intimidade, tamanha era a liberdade que ela havia ganhado no nosso grupo. Eu a via andando para cima e para baixo com os gêmeos do mesmo jeito que Lyra fazia.

—Enton, Romy. –Ela começou a falar andando ao lado dele. –Por acaso focê tem falado con seu irmão?

—Qual deles? –Rony perguntou confuso.

Nós fomos em direção ao salão comunal num grande grupo.

—George. –Ela disse.

—Hum... Sim. As vezes. –Ele respondeu.

—Ele, hum, porr acaso, falou alguna coisa sopre... mim? –Ela perguntou como quem não queria nada.

Dimitri riu ao notar a sutileza da prima.

—Oh, que lindo! Minha prrima está apaixonada. –Ele disse sarcástico.

—Cala a boca, Dimitri! –Karina falou letal.

Todos pararam olhando para ela, Nate, Harry, Rony, Dimitri e eu, cada um de nós com expressões chocadas.

—O que? –Ela perguntou confusa.

Por um instante... Um segundo... Ela falou igualzinho a Lyra. A mesma entonação, a mesma voz, nenhum sotaque! Se não fosse a roupa e a cor dos olhos eu juraria que Lyra estava aqui na minha frente.

Harry balançou a cabeça em confusão.

—Vocês são mesmo muito parecidas. –Ele disse, externando o pensamento de todos.

Dimitri puxou a prima para a mesa da sonserina onde Krum estava sentado.

—Focê está passando tempo demás com Lyrra! –Ele falou rebocando ela.

Nate olhou para mim.

—Por um segundo... –Ele disse.

—É... –Eu respondi indicando que também me sentia daquele jeito.

—--

No dia seguinte, Harry, Ron, Mione e Lyra foram para a cozinha entregar o presente de Dobby, enquanto Nate estava com a Francesa.  Eu não segui os dois se é isso que está pensando, eu só estava passando por um corredor aleatório quando encontrei os dois aos cochichos.

Nate estava com uma cara de idiota enquanto ela contava sobre a vida na França, eles se olhavam intensamente por segundos, aos risinhos, até que ele colocou a mão na bochecha dela e...

Saí de lá antes de ver o que não queria, mas pelo resto do dia aquela imagem ficou na minha cabeça me deixando de mal humor. Por que Nate não podia olhar para mim daquele jeito? Por que ele não tocava meu rosto? Coloquei a mão na bochecha como que para imaginar o calor, mas senti a minha cicatriz. Ah! Eu devia saber. Escondi a cicatriz jogando o cabelo em frente ao rosto, há um bom tempo que não fazia, me esconder, digo. A amizade com Gina me deu um fôlego de confiança que eu nunca tivera, por isso andar de cabeça erguida e mostrar o meu rosto como ele é não era mais um problema para mim.

Pelo menos até se tratar de Nate. A culpa que ele sente jamais o deixará ficar ao meu lado. Nunca. Sempre que olhar meu rosto ele verá o erro, a deformação.

Ele nunca me olhará além da cicatriz.

Então por que o meu coração idiota não desiste?

No caminho para o salão comunal naquela noite encontrei Harry saindo de lá com uma expressão aborrecida.

—O que houve Harry? –Perguntei.

Ele parou ao meu lado.

—Rony e Hermione estão me dando nos nervos! –Ele respondeu. –E Nate ao invés de ajudar parece que só aumenta a discussão. Lyra desistiu e saiu de lá há quinze minutos. Eu não consigo aguentar mais.

—Quer companhia? –Perguntei.

Ele negou.

—Na verdade não. –Deu de ombros. –Eu vou só mandar uma carta para o almofadinhas.

Acenei que sim com a cabeça sem ligar muito, na verdade eu havia perguntado mais por educação, era visível que Harry queria um tempo para ele. Acenei em despedida e fui em direção ao salão comunal, mas ao chegar em frente ao quadro notei que também não queria ficar ali.

Queria ficar sozinha.

—Vai entrar ou não? –Senhora Gorda perguntou.

Virei as costas sem responder e voltei pelo corredor em que vim. Andei aleatoriamente pelo castelo sem destino exato, minha cabeça não parava de pensar na mão do Nate tocando o rosto de Michelle.

Suspirei.

Levantei o rosto e percebi que meus pés haviam me trazido para as masmorras.

—Isso não é a sua conta! – voz irritada de Lyra falou mais a frente.

Lyra?

Franzi o cenho e caminhei até onde a voz dela tinha vindo. O que ela fazia na masmorra a essa hora? Aliás, o que ela faria na masmorra qualquer hora além de ir a aula de poções?

—Eu só estava caminhando. –Ela dizia.

—Conta outra! Você estava era me procurando. –Uma voz respondeu.

Era uma voz conhecida.

—Te procurando? Você se põe em muita alta conta Draco. Não tem tanta importância assim. –Ela rebateu.

Malfoy?

Virei o corredor e vi os dois distantes, mas antes que eu pudesse falar com eles alguém colocou a mão na minha boca e me puxou para um corredor escuro. Me debati em desespero.

—Calma! Sou eu. –A voz falou.

Arregalei os olhos puxando a mão da minha boca.

—Que diabos, Blásio! –reclamei.

—Shhhh! –Ele colocou um dedo nos meus lábios e apurou os ouvidos para ver se os dois tinham nos ouvido.

—O que tem de errado com você? –Sussurrei.

Ele olhou discretamente para onde Lyra e Malfoy discutiam, estranhamente perto um do outro.

—Calma Rosemary. –Ele disse.

—Por que está espionando minha irmã? –Questionei.

Ele não respondeu.

Mordi o lábio sabendo que Lyra me mataria se descobrisse, mas não vou mentir dizendo que também não estava curiosa para saber o que tanto ela e Malfoy conversavam. Me escondi ao lado de Blásio para observar, pude ouvir um risinho baixo dele quando me deu espaço.

—Não mete o Cedrico no meio. –Lyra reclamou.

—Uh, Cedrico? Você até já o chama pelo primeiro nome. –Ele disse cheio de escárnio. -O negócio está mesmo sério.

—E por acaso isso é da sua conta? –Ela questionou.

Malfoy ficou sem resposta. Blásio riu baixinho.

—Ele nem consegue mais disfarçar. –Ele comentou para mim.

Olhei para Malfoy que encarava Lyra intensamente. Disfarçar o quê?

—Eu só quero ter certeza que não me passou nenhum germe quando nos beijamos. –Malfoy falou.

Arregalei os olhos. Oi?! Beijou?! Quem?! HÃ?!

Blásio pareceu chocado como eu.

—Estava se encontrando com ele as escondidas, não é? Eu conheço esse comportamento. –Malfoy disse.

Lyra suspirou antes de responder.

—Não seja cínico Draco, você sabe muito bem que entre eu e Cedrico não acontece nada... –Ele começou a sorrir. -... Ainda.

Malfoy respirou fundo.

—Vocês realmente combinam. Ralé merece ralé. –Ele comentou.

Lyra sorriu.

—Ciúmes, Malfoy?

—De você? –Ele riu. –Nos seus sonhos, Anderson.

O loiro virou as costas e saiu andando na outra direção. Lyra suspirou quando ele foi embora.

—Por que você não disse a ele tinha vindo apenas me ver? –Uma voz perguntou.

Olhei ao redor procurando alguém, mas não havia ninguém ali. Lyra virou para o quadro na parede.

—Por que eu realmente gostaria de me desintoxicar de Draco Malfoy, Merlim. Ele não me faz bem nenhum. –Ela disse.

Ela estava falando com a pintura.

—E não é sempre assim, minha querida? Nos apaixonamos sempre pelos mais difíceis.

Lyra riu cheia de escárnio.

—E quem disse que eu estou apaixonada por Draco Malfoy?

—Seus olhos.

—Merlim... Merlim... Não coloque minhocas na minha cabeça.

O quadro riu.

—Está na hora de ir senhorita Black.

Dei um pulo ao som daquele sobrenome e torci que Blásio não tivesse ouvido direito, e se ouviu, não tivesse prestado atenção. Olhei para ele, mas não parecia interessado no assunto. Suspirei.

—Até outro dia. –Ela se despediu. –Volto com uma música nova da próxima vez.

Lyra virou as costas para o quadro e veio andando em nossa direção, Blásio me puxou para o escuro, me encostando na parede e ficando na minha frente com um dedo em frente a boca, pedindo silêncio. Vimos o momento que ela passou sem nos ver. Respiramos aliviados.

—Então minha irmã gosta de Draco Malfoy? –Perguntei chocada.

—É tão óbvio que muitos sonserinos já notaram. –Blásio respondeu. –Eu só não imaginei que eles tinham avançado tanto.

—Como assim?

—O beijo. –Ele informou, sua respiração batendo no meu rosto.

Naquele momento eu notei o quanto estávamos perto um do outro. Blásio era um pouco mais alto que eu, então tive que levantar o rosto para olha-lo.

Prendi a respiração ao me encontrar tão conectada aos seus olhos.

Blásio não disse nada por um tempo, ficamos só nos olhando, até que ele tocou meu rosto com carinho, alisando minha cicatriz. Aquilo me fez pensar na sua facilidade em me tocar.

Por que para Nate não era tão fácil?

—Blásio... –Respirei.

—Eu meio que gosto de você, sabe? –Ele confessou num suspiro.

Arregalei os olhos.

—Eu... eu meio que notei. –Falei envergonhada.

Senti meu rosto ficar quente, sabia que estava tão vermelha quanto os cabelos de Gina. Blásio sorriu.

—Desculpe, não fui muito discreto. –Ele brincou.

Ri meio sem graça.

—Blásio eu... Meu coração ele...

—Eu sei. –Ele disse, seus olhos subitamente trites. –Mas isso não significa que eu vou desistir. Se até Malfoy conseguiu conquistar o coração da Anderson, acho que eu também posso conquistar o seu.

—Você tem certeza? –Perguntei.

—Sim. –Ele disse firme.

Meu coração perdeu uma batida, me sentir tão querida daquele jeito era estranho, dava uma sensação esquisita no estômago.

Ele se afastou me deixando livre, dei uns passos para ir embora e virei.

—Não conte a ninguém sobre o Malfoy e a minha irmã, tá bom? –Pedi.

—Só se você aceitar sair comigo nas férias. –Ele pediu.

Arqueei as sobrancelhas.

—Hã? Só nós dois?

Ele sorriu.

—Você pode levar alguém se for confortável, mas meu plano era ser apenas nós dois. –Ele confessou.

Eu ri incrédula. Ele era tão sincero para um sonserino, não sabia como agir perto dele.

—Com uma condição. –impus.

—Qual? –Ele perguntou.

—Eu escolho o lugar. –Respondi.

O sorriso dele foi largo.

—Tudo bem. Me surpreenda.

Eu ri sem conseguir me conter e acenei em despedida.

Na volta para o salão comunal o lugar onde a mão de Blásio havia tocado parecia estranhamente mais sensível que o resto do meu corpo.

E eu realmente não sabia como lidar com isso.

—--

PDV Dafne

—Vai sair Daf? –Theo perguntou.

Olhei para o lado onde ele estava, sentado logo a frente do fogo, havia uma luminária verde logo acima dele o fazendo ficar com um aspecto doentio.

Levantei a carta na minha mão.

—Para a minha mãe. –Contei.

—Não demore muito. – Ele avisou. -Hum... Se encontrar o Blásio pelo caminho avise que já está tarde. Logo o aborto vai começar a patrulhar o corredor.

Franzi o cenho.

—Você pode ser menos escroto? –Questionei.

—O que? Ele é um aborto, não é? –Ele arqueou as sobrancelhas me convidando a rebater.

Suspirei com desdém.

—Esqueça. –falei fazendo um movimento desinteressado com a mão. –Não é da minha conta.

Ele sorriu maliciosamente.

—Quem diria? A rainha de gelo tem coração! –Ele brincou.

Revirei os olhos e sai andando ao som de suas risadas.

A passagem se abriu quando me aproximei, Malfoy entrou com pressa sem olhar para ninguém e foi diretamente para o dormitório masculino. Ignorei aquela atitude, Malfoy nunca foi lá muito normal, e continuei meu caminho para o corujal.

Encontrei Blásio pelos corredores.

—Ei, onde estava? -Perguntei.

—Vendo algo que não devia. –Ele respondeu com um sorriso malicioso.

Franzi o cenho.

—Como assim?

Ele riu cheio de significados.

—Não posso contar. Prometi. –Ele deu de ombros.

— A quem?

—Rosemary!

—E por acaso isso vai te meter em alguma coisa errada? –Questionei.

Ele negou com a cabeça.

—Mas me arranjou um encontro com ela.

—Espera! –Eu ri daquele absurdo sem conseguir me conter. –Você viu algo que não devia, prometeu não contar e vai levar a Rosemary para sair?

Blásio riu.

—Inacreditável, não é?

—O que você viu afinal?

Ele novamente deu de ombros.

—Eu prometi. Vamos para a comunal?

Neguei com a cabeça.

—Vou no corujal. Mas Theo está lá, ele pediu que você fosse direto para a comunal por que Filch vai começar a patrulhar os corredores. –Avisei.

Ele acenou que sim com a cabeça.

—Não demore muito então. –Ele disse antes de acenar em despedida e sair andando.

Eu ri de toda aquela situação o caminho todo para o corujal. Blásio estava, pouco a pouco, conquistando a garota, do jeito que ele falou que faria. Posso respeitar sua determinação.

Subi as escadas do corujal amarrando os cabelos num coque e pensando como essa coisa de amor é estranha. Loucura, é o que eu acho que seja.

Eu definitivamente quero essa coisa longe de mim.

Amor é pra gente estúpida.

—Garota da sonserina? –Uma voz falou.

Virei surpresa com aquela nominação. Em meia luz, na janela gigante onde as corujas saiam voando, tinha alguém parado de costas me observando por sob o ombro.

—Harry Potter? –Sussurrei incrédula.

Ele virou com um sorriso surpreso.

—Está me seguindo? –Ele perguntou.

Soltei uma risada de escárnio.

—E eu lá tenho cara de quem segue homem? Te enxerga, Potter.

Ele riu alto, algumas corujas piaram irritadas pelo barulho, era noite, então todas estavam acordadas, olhos vidrados olhando para nós. Chamei uma coruja e entreguei a carta, o tempo todo sentia os olhos de Harry Potter em mim.

—É um pouco injusto que você saiba meu nome e eu não saiba o seu. –Ele começou.

—E que culpa tenho eu se comecei na vantagem? –Dei de ombros. –Estou trabalhando com o material que tenho, você deve fazer o mesmo.

—Não vai me dizer mesmo seu nome? - perguntou ele.

Olhei-o para por um segundo e voltei a amarrar a carta.

—Não vai nem se esforçar para descobrir? –Falei. -Achei que os Grifinórios eram mais persistentes. Vejo que me enganei.

Ele pareceu ofendido. Sorri.

—Tem muitas coisas sobre os grifinórios que você ainda não sabe. –Ele disse com ironia.

Eu o olhei surpresa.

—Quem diria? O grande Harry Potter não é tão perfeito quanto dizem nos jornais. Ele sabe ser irônico.

—Tenho aprendido bastante com uma certa sonserina. –Ele falou virando as costas e olhando para o campo da escola.

A coruja voou com a minha carta momentos depois, suas assas rufando na escuridão da noite, observei até que ela sumisse de vista. Me aproximei da janela e parei ao lado de Potter. Dali de cima dava para ver o terreno da escola, a casa do guarda-caças, o navio de Durmstrang, a carruagem de Beauxbatons e as copas das árvores balançando ao vento, como grandes cabeleiras negras.

—Eu nunca percebi o quanto Hogwarts era bonita. –Comentei.

Era um comentário aleatório, simplesmente surgiu de repente na minha cabeça.

—Isso por que você nunca parou para olhar para ela. –Ele apontou para um ponto na floresta. –Vê aquela árvore ali?

Olhei naquela direção, havia uma árvora que se destacava, era levemente torta, logo ao lado da casa do guarda-caça.

—Aquela na orla da floresta? –Perguntei.

Ele acenou que sim com a cabeça.

—Se você olhar o castelo daquele lugar ele vai parecer muito mais alto do que realmente é. Nas noites de lua cheia as luzes do castelo refletem na beira do lago e é quase como se houvessem fadas dançando sob a água. –Ele contou.

Eu conseguia imaginar a cena que ele descrevia, mas nunca sequer saberia que isso acontecia ali.

—Como você descobriu? –Perguntei curiosa.

Ele sorriu.

—Foi no primeiro ano. –Ele disse. –Uma vez eu e Lyra fomos a casa de Hagrid a noitinha e vimos. Ela que me mostrou e aquilo nunca saiu da minha cabeça.

—Parece realmente uma coisa única de se ver.

Ele acenou que sim com a cabeça.

—Lyra tem mais sorte que eu nesse caso. Ela já viu muita coisa estranha nesse colégio. Uma vez, ela me contou que encontrou um jardim com folhas cor de chumbo.

—Cor de chumbo? –O olhei confusa. –Aqui em Hogwarts?

—Também não entendi. Mas parecia muito bonito quando ela contou. –Ele respondeu.

—Anderson realmente vê as coisas de modo diferente do resto do mundo. –Comentei.

Potter acenou que sim com a cabeça e se encostou a amurada de pedra, fechando os olhos. O vento mexeu os cabelos dele levemente deixando a cicatriz em forma de raio a mostra.

As vezes, quase dava para esquecer quem ele era.

O menino que sobreviveu.

—Tenho que ir. –Me afastei.

—Já?

Olhei para o seu rosto e sorri com malícia.

—Por quê? Já está sentindo minha falta, Potter?

Ele riu pelo nariz.

—E eu achando que terminaríamos essa noite com uma conversa civilizada, só para variar. Mas você tinha que começar com sarcasmo.

Gargalhei. As corujas piaram.

—O que foi? Magoei seus sentimentos? –Fiz uma vozinha fina. –Bebê vai chorar?

Ele riu baixinho.

—Merlim! Você é uma pedra de gelo. –Ele disse.

Meu riso foi tão repentino que joguei a cabeça para trás, meus cabelos se soltaram do coque e caíram pelas minhas costas.

—Quando se trata de frieza, eu sou a rainha, Harry Potter. –Confessei.

Ele me olhava ainda com um sorriso no rosto, o corpo encostrado a amurada.

—A rainha de gelo da Sonserina. –Ele concluiu.

Achei graça da coincidência, aquele era justamente o título que eu ganhara dos meus colegas de casa. Virei as costas e andei até a saída do corujal, mas antes de sair virei o rosto por sob o ombro e olhei em sua direção.

—Você não tem ideia do quanto está certo. –Respondi. -Boa noite senhor Potter.

E saí.

—Boa noite... Minha Rainha. –Pude ouvi-lo sussurar antes de ir embora.

Minha rainha, hein?

Eu sabia que brincar com Harry Potter seria divertido.

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Notas finais do capítulo

Para quem deixa review:OBRIGADA! Amo vocês Suas lindas *-*
Para quem não deixa por que não tem perfil: Tudo bem, eu perdoo.
Para quem não deixa por preguiça: Gente, o dedo não vai cair, faz esse esforcinho vai, por favor?
BEIJOOOS LIINDAS *----------*
RECOMENDEM PLEASE!
Câmbio e desligo