Linked escrita por Miss Hana


Capítulo 11
"Você confiou de verdade em mim"




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“Você confiou de verdade em mim”

Por: Hana

L-I-N-K-E-D

Um arrepio passou pela minha espinha quando constatei onde havíamos entrado: Na sala de relíquias. Não muito difícil de imaginar que eu nunca havia estado ali antes, mas como eu sabia onde estava? Já havia lido sobre cada relíquia presente naquela sala e como cada uma delas fora adquirida.

Era impossível não sentir o poder que cada um dos objetos emanava e a tentação de me aproximar de um deles e observá-los. Eram lindos. Poderosos. E perigosos. Acima de tudo, perigosos.

Loki – sussurrei, correndo um pouco para acompanha-lo – Eu não acho que devíamos estar aqui.

– Eu sei o que estou fazendo – não pus muita fé na certeza contida em sua voz, que era quase inexistente.

Assenti, mesmo que confusa, não hesitei em continuar a segui-lo até o final do estreito caminho, onde se encontrava uma caixa que emanava um intenso brilho azul. A caixa de Jotunheim. Há muitos anos atrás Odin havia pegado a caixa dos Jotuns na batalha contra Laufey.

Arregalei os olhos enquanto tudo se tornou claro em minha mente. Minha respiração tornou-se pesada e tive que entreabrir a boca para ajudar na passagem do ar. Olhei confusa e assustada para ele, que, por sua vez, encarava a caixa com os olhos vidrados.

– Quando estávamos em Jotunheim – sua voz me chamou a atenção. Ela não expressava muita coisa, mas estava entrecortada – Você viu quando aquele Gigante de Gelo tocou em mim.

Fechei os olhos com força. O que Loki queria me mostrar – ou mostrar para si mesmo era a mesma coisa que eu estava querendo saber. O flashback do braço do moreno ficando azul passou como um sopro pela minha cabeça e, de repente, minhas mãos começaram a suar e olhei para os lados nervosamente. A verdade me assustava, por que, apesar de eu não sabe-la, tinha ciência de que não seria exatamente boa.

Esperei que continuasse, mas ele simplesmente ficou em silêncio. Não desgrudava os olhos da caixa e caminhei até a lateral do objeto, o que me permitiu encarar Loki de perfil. Seus olhos agora demonstravam algum tipo de hesitação e vi-o erguer os braços até quase chegarem à caixa, mas, antes disso, ele parou. Olhou para mim rapidamente e depois para o objeto novamente.

Ei... – escutei minha voz saindo antes que eu pudesse processar o que falaria, apesar disso, consegui controlar o tom dela – Não importa o resultado do que quer que seja que estivermos fazendo aqui. Saiba que isso pode ser só uma suposição e que pode não dar em nada.

Ele não me respondeu. Simplesmente voltou a fitar a caixa, com a expressão mais confusa que eu já havia visto em minha vida. Balançando a cabeça levemente de um lado para o outro, pôs as mãos na lateral do objeto e segurou-o com força. Vi que os nós de seus dedos ficaram brancos e eu prendi a respiração, em uma estranha expectativa.

Durante dois segundos nada aconteceu, mas ao olhar direito para sua mão, vi que, da ponta dos seus dedos em direção ao resto do corpo, uma cor azulada tomava conta de sua pele. Arregalei os olhos. Não sabia muito bem o que aquilo significava, mas tinha certeza de que não era algo bom.

Levantei a cabeça, pousando os olhos no rosto do moreno, que tinha os olhos quase tão abertos quanto os meus. A cor azulada agora já estava em seu pescoço e subia para o queixo. Estiquei o braço para tocar em sua bochecha – ainda em sua cor normal, mas ele se esquivou rapidamente, olhando-me como se eu fosse algum tipo de louca. Franzi o cenho.

Antes que eu percebesse, todo o seu rosto estava encoberto pela cor azul e seus olhos estavam vermelhos como sangue. Um flash do rei dos Gigantes de Gelo passou pela minha cabeça e arregalei mais uma vez os olhos com a semelhança dos dois.

– Pare! – um voz severa soou atrás de nós, fazendo-me endireitar a postura.

Naquela hora não estava ligando muito para o que aconteceria comigo, já que não tinha permissão para estar naquela sala. Tudo o que eu conseguia pensar era em Loki. E na raiva acumulada, cujo eu colocava a culpa no rei. Pois é. Era culpa dele que Thor estava em sabe-se lá onde e, provavelmente, toda a confusão era culpa dele.

Pensei que aquilo iria esclarecer as dúvidas na minha cabeça, mas só fez multiplica-las. Por que o moreno estava azul? Por que ele se esquivara de mim, olhando-me tão estranho? Ele me achava louca por querer tocar nele naquele estado? Qual seria o grande problema nisso? Ele não confiava em mim? Ou estava se achando baixo demais para que eu o visse daquele jeito? Arregalei os olhos mais uma vez. Ele estava com vergonha. O brilho estranho em seu olhar deixava transparecer o arrependimento de ter me levado ali. Talvez por que ele não queria que eu o visse daquele jeito.

– Eu sou amaldiçoado? – pôs a Caixa de Jotunheim de volta em seu pedestal, fechando levemente os olhos e trincando o maxilar.

– Não

– Então o que eu sou?

– Você é meu filho.

Ignorando-me, voltou-se para Odin. Dei um passo em sua direção, vendo a cor azul regredir e seus olhos voltarem ao seu usual tom verde.

– E o que mais além disso? – sua voz saiu arrastada, quase como se ele estivesse sibilando aquilo.

Pôs-se a andar em direção a Odin, que estava no topo da escada. Seus passos pesados agora eram claros, sobressaindo-se no silêncio mortal que a sala fazia.

– Não levou apenas a Caixa de Jotunheim naquele dia, não é?

Eu não sabia o que sentia exatamente naquele momento. Não sabia o que pensar ou fazer. Apenas senti que deveria deixar o rumo das coisas correr do jeito que deveriam. Respirei fundo mais uma vez.

Eu definitivamente não falaria nada, muito menos faria nada. Não iria interromper a conversa de Loki com Odin. Aquilo era muito importante para os dois. Esperaria para poder conversar com o moreno e dar um abraço no mesmo. Se não por ele, por mim, por que eu estava realmente precisando de um.

– Não – estremeci com sua resposta – Depois da batalha eu entrei no templo e encontrei um bebê.

Tive certeza de que o meu queixo caiu. Loki era de Jotunheim?!

– Pequeno, para um descendente de gigante – respirou fundo – Abandonado, sofrendo, deixado para morrer. Filho de Laufey.

De Jotunheim e Filho de Laufey? Aquilo deveria ser tanta informação para ele absorver sozinho. Tanta coisa sendo repentinamente jogada em seus ombros. Ninguém merecia aquilo. Mais do que nunca, quis abraça-lo. Dizer que estava tudo bem e que eu estava com ele. Mas, como havia dito antes, iria ficar quieta até ter a oportunidade de, mais tarde, falar com ele.

Talvez parecesse um pouco estranho o fato de que eu não conseguia pensar em mais nada além da dor que Loki deveria estar sentindo naquele momento, mas estava doendo no meu próprio coração, como se eu sentisse sua dor.

– Filho de Laufey? – repetiu em um tom baixo, mais para si do que para qualquer um naquela sala.

– Sim – Odin sussurrou.

– Por quê? – sua voz estava embargada e fui andando a passos lentos até ele, ficando um pouco atrás do mesmo – Estava banhado em sangue Jotun, por que me levar?

“Por que você era só um bebê”. Respondi mentalmente.

– Você era uma criança inocente – falou calmo, em seu tom costumeiro.

– Não – ele ofegou, indo um pouco mais para frente e aumentando levemente o tom de voz – Você me pegou com um propósito. Qual foi ele?

Ele estava certo. Havia razão para tudo o que Odin fazia e eu temia do fundo do meu coração a resposta que o rei daria. Fechei os olhos com força, rezando mentalmente para que o que Odin dissesse não aumentasse a dor e a dúvida em Loki.

Eu não iria interferir na história... repeti na minha mente, como um mantra, mas assim que o moreno gritou, não consegui segurar minha mão.

– Diga-me! – seus olhos estavam brilhantes, mas não era nada além de lágrimas, dor e dúvida.

Estiquei meu braço em sua direção e pus minha mão em seu braço. Não puxando-o. Não repreendendo-o. Apoiando-o. Eu queria mais uma vez que ele tivesse certeza de que eu estava ali.

Vendo-o ali, mais confuso do que eu e claramente magoado, tive uma vontade de pegar aquela caixa e jogar na cabeça de Odin. Meu coração afundou e senti que algo faltava em meu peito, como se tivessem arrancado alguma coisa dele. Alguma coisa muito importante, por sinal.

– Pensei que podíamos unir nossos reinos um dia – rangi os dentes – Fazer uma aliança permanente através de você.

– O quê...? – desviou o olhar

Seu cenho estava franzido e a voz trêmula. Loki ofegava e eu tive que guerrear contra a minha vontade de abraça-lo.

Aquilo era algo completamente estranho, considerando que eu não me lembrava de uma única vez em que vira o moreno tão frágil. Tão magoado. Tão humano. Fechei os olhos com força, sentindo uma leve ardência em meus olhos. Por que eu iria chorar? Agarrei o braço dele com força, enterrando minhas unhas no tecido de sua roupa. Senti-o segurar com força essa mesma mão.

– Mas esses planos não interessam mais.

– Então eu não sou nada além de outra relíquia roubada – sua voz não era chorosa, mas expressava mais do que claramente o que ele sentia naquele momento – preso aqui, até que você decida me usar?

Não! Gritei mentalmente. Queria tanto que ele pudesse me ouvir naquele momento. Que ele soubesse qual era a minha opinião sobre tudo aquilo. Eu não esperava que ele ficasse calmo e continuasse a vida como sempre tinha sido ante, por que Loki estava certo em estar tão alterado. Eu não tirava sua razão.

Mas queria que ele parasse de sentir tanta dor, por que ela também chegava até mim.

– Está distorcendo as minhas palavras

– Por que você não me contou o que eu era desde o início? – como se ignorasse minhas preces mentais, sua voz só ficou mais carregada de tudo o que eu queria afastar. Tanto dele quanto de mim. Apertei com mais força seu braço.

– Você é meu filho – seu tom apático me fez abrir os olhos – Só queria protege-lo da verdade.

– Por que eu sou o monstro de quem os pais falam para os filhos a noite? – sua voz era trêmula e ele gaguejava. Algo que eu nunca tinha visto antes. Trinquei o maxilar.

Claro que não. Por que ele não via aquilo? Por que ele não percebia que era muito mais do que estava deduzindo ser? Fechei os olhos com força. Meus olhos lacrimejavam e eu o amaldiçoei por fazer-me chorar.

– Não... – o rei negou, mas sua voz baixa se perdeu no tom forte e alto de Loki.

– Tudo faz sentido agora – como da água para o vinho, sua voz passou de um tom triste e doloroso para algo forte e raivoso. Franzi o cenho. Aquilo estava errado – Por que favorecia Thor por todos esses anos.

– Não... – sussurrei fracamente, ao ver o rei cair na escada. Ele estava fraco.

– Por que não importava o quanto você dizia me amar – deu um passo à frente, mas eu não o soltei do aperto – Nunca teria um Gigante de Gelo no trono de Asgard!

Abri rapidamente os olhos e o puxei de volta em minha direção, ficando de frente para o mesmo. Meus olhos chorosos se encontraram com os seus e ele arqueou as sobrancelhas. Tentou se virar para Odin novamente, mas segurei em ambos os seus braços, fazendo-o olhar diretamente para mim. Afrouxei o aperto.

– Não! – falei alto – Você tem algum problema?! Você é bem mais do que isso, Loki. Não vê que não importa quem você seja, ou o que você seja, sempre vai ter pessoas que vão estar ao seu lado?!

Fiquei na ponta dos pés e segurei seu rosto entre as mãos, aproximando-me um pouco demais. Perdi-me na imensidão esverdeada que chamavam de olhos. Ele não parara de chorar, mas parecia mais ameno. Sorri minimamente.

– Eu, sua mãe, Thor... – minha voz saiu fraca e trêmula até demais – Ninguém dá preferência a ninguém. Todos nós te amamos do mesmo jeito.

Seus olhos e sua feição me pareciam confusas. Talvez comigo, talvez consigo mesmo, talvez com tudo. Talvez com o fato de que ele estava com o braço apertando minha cintura e me trazendo muito mais para perto dele. Anh... esse era meu motivo.

Fechando os olhos com força, joguei-me em sua direção, com os braços envoltos em seu pescoço, enterrando o rosto na curva de seu pescoço.

– Eu te amo do mesmo jeito – falei baixo, em um tom abafado. Tive certeza de ele me ouviu, quando senti seus músculos enrijecerem.

Enrubesci com medo de que aquilo soasse de um modo mais ambíguo do que devia. “E esse segundo modo é errado, Anna?” A minha pequena eu interior perguntou de um jeito malicioso. Engasguei. “Não!” Gritei para ela, que riu maldosamente. Não havia nada entre mim e Loki. Eu estava triste e tudo o que eu queria naquele segundo era que ele me abraçasse de volta. E ele o fez.

Arregalei os olhos. Aquela era a primeira vez em todos os anos em que nos conhecíamos em que ele me abraçou com vontade. De verdade. Senti sua cabeça apoiada em meu ombro e seus braços me apertarem com força contra si.

Respirei com dificuldade, mas pouco me importei com aquilo. Tremores estranhos correram pelo meu corpo e eu senti algo se esquentar dentro de mim. Não queria soltá-lo. Não queria sair dali, apesar de terem sido dadas as circunstâncias. Tive certeza de que ele podia sentir o meu coração bater fortemente contra seu peito e me envergonhei por isso.

Nunca pensei que fosse tão bom abraça-lo de verdade.

– Obrigada... – sussurrei e ele me soltou um pouco, afrouxando o aperto.

– Pelo quê? – apesar de aquela ter sido uma deixa, fiz questão de não soltá-lo. Loki não se moveu – Eu deveria estar te agradecendo – falou com sinceridade

– Por que você confiou de verdade em mim – apertei-o com toda a força que consegui. Ele bufou e me apertou de volta.

– Me desculpe – franzi o cenho.

– Pelo quê? – repeti sua pergunta.

– Por fazer você chorar. Eu não entendi muito bem o porquê.

– Para falar a verdade, eu também não – apertei os olhos – Mas tudo bem.

Depois de alguns segundos que se passaram rápido demais, nos soltamos. Olhei novamente em seus olhos e seu olhar me aqueceu de um jeito que seria impossível de explicar.

Foi ali que eu lembrei de Odin. Onde ele estava? Me virei para a escadinha em que ele estava anteriormente e arregalei os olhos, tapando a boca para reprimir o grito.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? A partir daqui o draminha vai crescer cada vez mais:3
Muito obrigada, mais uma vez!
XOXO