Beneath your walls escrita por MrsHazelLevesque


Capítulo 1
Beneath your walls


Notas iniciais do capítulo

Depois de séculos com a minha conta pegando teia de aranha, eu voltei o/ (ou quase. Mas enfim).Como o fato de agora o Nico estar fora do armário, ou melhor, ter sido empurrado pra fora dele, e meus feels com ele, e com o Leo, e com a ship que agora é belamente reconhecida pelo fandom, tive umas ideias pra uma fic Valdangelo. Não, é sério, pensem bem e os dois se completam.Anyway, quero pedir desculpas por qualquer incoerência com A Casa de Hades. A fic se passa no meio da missão, sim, mas não levei o livro em conta porque... 1 - quero evitar spoilers pra quem não leu 2 - ainda não consegui terminar de ler, então nem rola, rçQuero também desde já dedicar essa fic pro meu amigo/irmãozinho (LeL fics), que está sempre (puxando meu saco e acariciando meu ego) me apoiando. Não só isso, foi por causa dele e de nossas conversas e headcanon que essa fic teve início. Love you, little big brother! ♥E sem delongas, boa leitura!



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Leo não sabia quando passara a encarar Nico daquela forma. Só sabia que, àquela altura, por algum motivo, não conseguia tirar os olhos dele.

Para alguém hiperativo como ele, deveria ser impossível concentrar-se em qualquer coisa que não fosse peças de engenharia por tanto tempo. Nada conseguia prender sua atenção melhor do que um projeto em andamento. Agora, porém, ele sentia-se como se pudesse construir um perfeito autômato de Nico, com mesmo os mínimos detalhes.

Como as partes levemente mais escuras de seu rosto pálido, que já estava ganhando cor novamente.

Ou as quase imperceptíveis sardas que haviam passado a se formar em seu nariz.

Ou a pequena, mas longa cicatriz no canto de sua mão direita (Leo não podia dizer por quê estava olhando pra mão dele, de todos os lugares).

Ou, principalmente, seus olhos. Havia algo neles quase viciante de se olhar. Eram como cristais, que brilhavam com uma tristeza que pesava dia e noite. Aquele brilho era mais intenso quando ninguém estava por perto - ou quando Nico assim acreditava. Leo suspeitava que sua presença de pouco contava para ele. Nico provavelmente não o via como alguém quepoderia algum dia enxergar sua dor.

Mas ele via, e quase sentia-se impulsionado a dizer que a compreendia.

(…)

Antes que pudesse perceber, estava reparando até mesmo nos mínimos maneirismo de Nico.

Ele poderia escrever um livro sobre o tema, se ao menos tivesse a paciência e o talento necessários. Como suas sobrancelhas saltavam com suas pálpebras,quando ele tentava manter-se acordado, ainda que estivesse caindo de sono. Como ele mexia com seu anel de caveira em momentos de nervosismo ou frustração. Como covinhas se formavam em seu rosto quando ele sorria levemente.

Nico nunca ria. Leo notara aquilo com uma rapidez impressionante. Muitas vezes em que contava uma piada ou aparecia com uma frase esperta, todos caíam na gargalhada, mas não Nico. Nico sorria por um segundo, mas o sorriso já desvanecia no próximo, e as covinhas desvaneciam junto. Dava uma rápida risada sem som às vezes, se Leo estava com sorte, mas ela também desaparecia no ato. O filho de Hefesto se perguntava se ele ainda se lembrava de como rir. Não o culparia se a resposta fosse não.

Pouco tempo atrás, Leo encarava o filho de Hades como um mistério, um completo estranho que carregava sempre uma áurea sombria ao redor de si. Agora, não mais. Sentia que, de uma forma estranha, o compreendia. Sentia que, acima de tudo, podia compreendê-lo como ninguém. Como se fossem dois lados de uma mesma moeda.

Ambos tinham a alma machucada. Ambos queriam impedir qualquer novo ferimento. Cada um tinha sua forma de se defender. Leo fingia que estava tudo bem. Nico fingia estar fechado para sentimentos. Era simples, mas não podia sertudo.

Por algum motivo, ele sentia-se tentado a desvendar completamente o garoto. Se infiltrar pelas barreiras e conhecê-lo além do que via no exterior, além das poucas conversas à mesa para refeições, além do que Hazel lhe contava. Se agarrava à possibilidade de conseguir entender Nico como se o ato pudesse ser um verdadeiro objetivo ali, onde tudo que cercava a mente da maioria era derrotar Gaia e seus bonequinhos monstruosos.

Leo temia o que tudo aquilo dizia sobre si mesmo.

***

Quando puxara assunto pela primeira vez, fora um simples “está tudo bem?” após um ataque ao navio, junto a uma piadinha para aliviar a tensão. Um sorriso apareceu no rosto de Nico. As covinhas apareceram. Uma estranha luz também, em seu olhar. Mas apenas três segundos, e já não havia mais nada.

Agora, de alguma forma, conversavam sobre o tempo, e mecânica, e as lembranças do passado. Eram frases simples, baixas; era sempre Leo que iniciava a conversa. Não se aprofundavam em sentimentos, não com suas barreiras para pará-los, mas Leo não acreditava que precisassem. Ele se virava para o garoto enquanto estavam no convés do navio, e podia ler sua expressão como Annabeth podia ler um diagrama de Dédalo.

Antes, suspeitava que Nico continuava ali, conversando, por pura educação. Agora, o filho de Hades simplesmente passava pelo tombadilho superior e ali ficava, o olhar alternando do navio para o céu. Aquilo trazia uma estranha satisfação a Leo, como se tivesse feito uma grande conquista. Os assuntos vinham naturalmente.

De certa forma, ele ansiava por aquilo. Pelo momento em que Nico simplesmente parava ali. Não podia dizer que sentia-se solitário no Argo II, não como sentia-se antes — tinha Piper, tinha Jason, tinha Hazel, e mesmo os outros, em alguns raros momentos, e eles eram o suficiente —, mas havia algo na presença de Nico que se diferenciava. Talvez fosse a estranha ideia que ele aprendera a cultivar, de que ambos se entendiam, de quetinhamde se entender. Podia encará-lo como um velho conhecido, mas não era verdade. Não totalmente.

E o fato trazia a estranha sensação de um espaço vazio a se preencher.

(…)

Lentamente, como metal se fundindo, as coisas se modificavam entre eles.

Leo sorria quando Nico se aproximava, como se quisesse induzi-lo a fazer o mesmo. O ato não soava tão forçado quanto era com os outros, quando tinha de se esforçar para fingir que estava bem porque simplesmentetinhade estar bem. Por eles.

Leo se importava com Nico - cada ataque, cada noite em claro, quando Nico sentava-se no convés com a cabeça entre as mãos. Leo não conseguia tirar os olhos de Nico. Pensava antes que assim que alcançasse seu objetivo — assim que conseguisse conhecer mais de Nico -, tudo voltaria ao normal, e ele se relacionaria com p filho de Hades como com qualquer outra pessoa, apenas o compreendendo melhor. Aquilo se provara mentira. Quanto mais parecia conhecer sobre o garoto, mais queria conhecer. Sabia de muito agora que não sabia antes, mas não era o suficiente.

Nico possuía um magnetismo único sobre ele. Era uma das poucas coisas que conseguia distraí-lo do caos e confusão do mundo ao seu redor. Leo mal conseguia entender porque sentia-se assim.

(…)

Nico estava no convés. Não como sempre. Não estava ao lado de Leo. Ele notara de imediato - havia algo errado.

O filho de Hades estava sentado em uma área recoberta, as pernas estendidas, a cabeça baixa. Leo não sabia se deveria sentir-se honrado por Nico confiar o suficiente nele para ficar ali quando parecia tão triste, nem se deveria aproximar-se. Ainda assim, algo nele dizia, implorava que tentasse.

Andando lentamente até ele, sentou-se ao seu lado. Não sabia o que dizer, nem mesmo o que realmentequeriadizer, para começar. Apenas ficou ali, encarando o garoto.Nico, o convés, e ele.

Por fim, o filho de Hades levantou a cabeça, o encarando com uma sobrancelha arqueada.

Leo podia ler quase tudo em seu olhar. Ainda assim, algo ali, algum pensamento, parecia incompreensível, inacessível. Escondido.

— Cansado? — Leo indagou em um murmúrio. Tentara pensar em qualquer frase inteligente ou confortadora para dizer. Não havia nada.

Nico o encarou por um longo tempo antes de encolher os ombros.

— Só sinto falta… — ele se interrompeu por um breve momento. Sua voz estava rouca ultimamente, Leo notara. E mais grave. — De como as coisas costumavam ser.

—Antes de tudo?

Nico assentiu, uma silenciosa afirmação escapando de seus lábios.

Havia algo não dito naquela frase. Algo com que Leo podia se identificar. Antes de tudo não era simplesmente “antes da guerra”, “antes dos ataques”, “antes de a mãe-terra decidir acordar e liberar seu espírito psicopata e sair estragando tudo por aí”. Era antes de tudo aquilo ter começado. As mortes, as dores, a vida como fantoches dos deuses. Ambos sentiam falta de serem meros mortais, e não meio-sangues, com um mundo inteiro, mortal e sobrenatural, para lidar.

Leo aproximou um joelho de seu tronco, apoiando os braços nele. Era engraçado como ele nem se lembrava de como era não ter de lidar com as consequências de ser um semideus. Cobiçava algo que nunca tivera, e nunca teria.

O silêncio já pesava entre ambos.

—Eu entendo, sabe? —falou. Não sabia para onde aquela conversa os levaria, apenas estava falando sem pensar. - Como é ter que passar por… tudo, e não ter ninguém. Ou você acha que tem, mas não tem. E não saber como lidar com o espaço vazio… ou com tudo o que ‘tá acontecendo. Menos de um ano atrás, eu estava em uma escola pra alunos problemáticos. Como a gente veio parar aqui?

Leo riu, uma risada pesada, sem qualquer humor. Nico apenas o observava, como um quadro, mas Leo sabia que ele o ouvia. Podia sentir que era real.

—E sentir falta de alguém que você ama — murmurou. —É a pior parte. E se sentir perdido em meio a tudo… e não querer demonstrar.

Nico assentiu; um leve aceno de cabeça, mas que carregava um ar de definitiva compreensão. Aquela conversa era diferente. Nunca falavam diretamente sobre seus sentimentos, ainda que fosse só Leo falando. Aliás, ele nunca soubera como verbalizá-los. Agora, porém, as palavras simplesmente apareciam, e caíam.

Nico continuava a observá-lo.

—E então… —ele tentou continuar. Sua voz parecia ecoar pelo convés, como o fantasma de um sussurro.

E então…

Realmente, Valdez. E então?

Ele se virou para Nico.

Seus olhos castanhos eram como a fogueira do Acampamento Meio-Sangue. Exóticos, mas acolhedores.

No silêncio, ele podia ouvir a respiração do outro. Podiasentira respiração do outro. Era como um convite.

Sua cabeça estava se inclinando para a frente.

O que raios você está fazendo?, perguntava sua consciência.

Antes que pudesse repensar o ato, tinha seus lábios grudados nos de Nico. Uma de suas mãos estava no rosto do garoto, e ele estava agora extremamente ciente de que seu toque, marcado pelos calos de dias de trabalho no Bunker 9 e no que mais não, não era nada macio. Mas insistia, continuava, os olhos fechados, a boca contra a dele.

Subitamente, Nico correspondeu. Sua boca abriu passagem lentamente para a língua de Leo, que não pensou duas vezes em continuar. Estava o beijando como se aquele fosse seu último dia ali (o que poderia ser verdade).

Uma parte de sua mente gritava “Você perdeu a noção?”. A outra retrucava “Ah, duck it!”.

Aquela parte vencera.

Quando quebrou o beijo, ambos estavam ofegantes. Leo ainda não conseguia raciocinar direito sobre o que acabara de fazer. Não fora um beijo qualquer, não fora uma tentativa de xavecá-lo. Era algo mais.

Talvez fosse aquele sentimento que estivera ali o tempo inteiro.

Leo estava rindo. Por algum motivo, estava simplesmente rindo, como que tomado pelo frenesi do momento. Voltou a abrir os olhos lentamente. Nico não parecia nem um pouco contente como ele.

Perceber aquilo era como levar um tapa na cara, apenas algumas centenas de vezes pior.

Ele não tinha coragem de falar. Agora que finalmente a ficha do que fizera havia caído, se perguntava se não deveria ter ouvido a parte de seu cérebro que dizia que ele perdera totalmente a noção.

—Jason te contou? —Nico finalmente partiu o silêncio. Sua voz estava trêmula. - É isso? Você queria ter certeza.

Leo franziu o cenho. Não estava compreendendo nada. Nico parecia desejar soar firme e indiferente, mas não era bem assim. Na verdade, parecia odiar o filho de Hefesto agora.

Mais do que nunca, Leo sentia-se um idiota.

Um grande idiota. Gigantesco idiota. De fato, um idiota maior do que um hiperbóreo de salto alto.

—Nico, eu… olha, me desculpa se…

As palavras haviam desaparecido tão rápido quanto chegaram - e a coragem desaparecera junto.

— Se…? — Nico perguntou, uma grande pitada de amargura em sua voz. Leo se perguntava se o que havia feito era realmente tão ruim.

A parte de seu cérebro que realmente pensava um pouco teve vontade de estapeá-lo.

Ele olhava para todos os cantos do navio que não fossem Nico. Estava vermelho como um tomate, disso tinha certeza. Não sabia o que dizer.

Finalmente, voltou a encarar o garoto.

— O que você quer dizer com Jason me contar?

Daquela vez, Nico parecia tão confuso quanto ele.

—Você me beijou —afirmou, novamente falhando em soar indiferente.

Leo abaixou a cabeça.

—Beijei —murmurou.

—E…? —Nico indagou. Parecia… inseguro. — O que você queria com isso?

Leo fitava o chão do convés como se fosse a mais bela obra-prima já criada pelo homem.

—Não é que essa é uma boa pergunta? —tentou soar descontraído, mas estava falhando miseravelmente. —Eu simplesmente… queria.

—Me beijar?

Ele suspirou.

—Você —respondeu, sem pensar.

Agoraestava definitivamente convencido de que não pensar antes de fazer as coisas era uma má ideia. Uma péssima ideia. E que provavelmente acabara de arruinar o que poderia ser uma longa e duradoura amizade.

Mas, ao invés disso, teve sua cabeça não tão gentilmente puxada para cima, e Nico estava o beijando no próximo segundo.

Leo estava começando a conectar os pontos. A compreender a reação de Nico — como conseguia compreender tantos de seus outros gestos. Naquele momento, porém, preferia deixar reflexões e perguntas para depois. Tinha um filho de Hades o beijando extraordinariamente.

***

— Algo aconteceu? —foi a primeira coisa que ouviu no dia seguinte, de Piper, na mesa do café da manhã. Um sussurro na ponta de seu ouvido, que soava mais como uma pergunta retórica do que com uma indagação curiosa. Ela não pedia por respostas; pedia por detalhes.

Talvez Leo tivesse metade da culpa. Estava sorrindo e cantarolando desde o dia anterior.

—Não —respondeu. Pelo olhar de Piper, podia ver que não a convencera. —Nadinha.

A filha de Afrodite arqueou uma sobrancelha, prendendo o riso. Seus olhos de caleidoscópio alternavam dele para Nico. O garoto também sorria - não como Leo, mas sorria, com covinhas acentuadas no rosto.

— Se quer saber —Piper tinha um sorriso estranhamente satisfeito no rosto, que já estava começando a assustá-lo. —, estava mais do que na hora.

Leo não tinha certeza se ela ria de sua falta de jeito em relação àquilo - o rubor de seu rosto provavelmente aniquilava qualquer possibilidade de negação -, ou do fato de ambos pensarem que poderiam manter algo escondido dela por muito tempo.

Algo dizia que ambas as opções estavam corretas.


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Notas finais do capítulo

Saiu bem mais meloso do que eu esperava, mas saiu. Faz um tempinho que não escrevo uma fic, e também escrevi grande parte desta lá pelas 4/5 da matina (DORMIR PRA QUÊ), então peço desculpas se estiver pior do que o usual (provável). Críticas (construtivas, por favor) e reviews são sempre levados como um incentivo. Espero que tenham gostado, ao menos um pouco, e muito obrigada por lerem!