Pedras Preciosas escrita por Melanie


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, depois de mais comentários incríveis, um novo capítulo para vocês.
Espero que gostem...



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Na manhã seguinte, Lily não sentia nenhum orgulho ao admitir que estava hesitando em sair de seu quarto.

Noite passada, quando voltou para a Torre com Alex e Jai, ambos notaram seu desconforto com a possibilidade de ter que encarar seus pais agora que sabia que era ela quem os tinha afastado. Quer dizer, o que ela deveria fazer? Se desculpar por ter se trancafiado em seu quarto ao ponto de ter parado de falar com eles, presumindo diversos fatos sobre si mesma que aparentemente não eram verdadeiros e então perguntar se podiam voltar a ser como eram quando ela tinha oito anos? Por favor... Mas então, o que ela deveria fazer?

Entretanto, graças a Deus ou a qualquer outra divindade, naquele momento ela agradeceu a todas que conseguiu se lembrar, seus pais não estavam na Torre. Ficou tão aliviada com essa constatação que nem se lembrou de perguntar a Jarvis onde eles estavam. Simplesmente foi para o quarto. Mas claro que Alex e Jai não a deixariam esquecer que ela precisava falar com eles, tentar concertar a bela besteira que fez durante todos esses anos, ou pelo menos tentar. Uma reaproximação talvez?

Disseram que ela não precisava se preocupar, que seria fácil. Eles sentiam sua falta também! Provavelmente nem fariam perguntas. Provavelmente. A certeza que ela estava procurando... Céus, ela não sabia se conseguiria lidar com mais um pouco de drama familiar naquele dia. Um drama por dia lhe parecia o bastante. E por sorte, aquele drama lhe havia sido adiado.

Até hoje.

Ela sabia que precisava sair. Já estava parada encarando aquela porta há quantos minutos? Vamos lá, Lily. Coragem. Você consegue!

Respirou fundo.

– Bom dia, mamãe. – Falou assim que a viu na cozinha, sentada na sua usual cadeira, com seu usual tablet nas mãos.

– Bom dia, querida. – Sua mãe lhe respondeu com um leve sorriso.

Será que aquele sorriso carinhoso sempre esteve ali e ela nunca reparou?

Olhou ao redor. Nem seu pai e nem seus irmãos estavam ali.

– Onde está o papai? – Perguntou sentando-se à mesa.

– Oficina. Ele está realmente empenhado em encontrar aquelas meninas.

Claro que está.

– E quanto ao Jai e ao Alex? – Pegou a jarra de suco.

– Saíram agora pouco. Disseram que precisava chegar mais cedo na escola e que esperavam que você não se importasse de ir sozinha hoje.

Revirou os olhos. Claro que eles precisavam chegar mais cedo na escola justamente hoje.

– Ah, ok. – O que mais ela poderia dizer?

Comeu seu café da manhã com o silêncio desconfortável servindo como música de fundo. Ela precisava pelo menos se esforçar mais para dizer que tentou. O que ela poderia fazer?

Observou sua mãe bebericar a xícara de café e então uma ideia absurdamente absurda lhe veio à mente. Mas... O que ela poderia perder?

– Hm, mãe? – Chamou-a hesitante.

As luzes vermelhas piscavam em sua mente lhe alertando que aquela era uma péssima ideia e ela provavelmente iria se arrepender muito disso depois.

– Sim? – Sua mãe agora mexia no celular.

Respirou fundo.

– Eu estava pensando em ir ao shopping hoje... Depois da escola. Comprar umas roupas novas, talvez. E... Estava pensando se não gostaria de vir comigo, sabe... Depois da escola, caso não tenha nada para fazer hoje mais tarde. – Falou enquanto torcia as mãos no colo e batia o pé direito repetidas vezes no chão, nervosamente.

Sua mãe tirou os olhos do celular e a fitou no mesmo instante.

Já estava arrependida. Foi tão horrível quanto eu acho que foi?

– Quer ir ao shopping? Comigo? – Sua mãe perguntou nitidamente surpresa e Lily sentiu como se lhe dessem um soco no estômago.

Ela realmente havia afastado todos, não é?

– Hm... Sim, mas só se você não tiver que trabalhar ou algo do tipo. Se não eu...

– Não, não. – Sua mãe a interrompeu balançando tanto a cabeça quanto as mãos. – Digo... Tudo bem.

– Então... Nos encontramos lá?

– Sim, nos encontramos lá. – Sua mãe respondeu com um sorriso enorme no rosto que a fez também sorrir enquanto se levantava.

– Ok. Até mais tarde então. – Despediu-se ainda nervosa enquanto pegava sua bolsa que havia deixado aos seus pés na mesa.

– Até. Tenha uma boa aula, querida.

Lily congelou com o pedido repentino. Já havia se virado, mas então se voltou para sua mãe tentando disfarçar a surpresa.

– Hm... Obrigada.

Acenou e então se virou novamente. Saiu da cozinha apressadamente, com a expressão de felicidade no rosto de sua mãe em sua memória. Ela realmente havia ficado feliz com o convite inesperado, não é?

Encostou a cabeça no elevador e fechou os olhos. Sua mãe lhe pareceu tão contente... Não parecia nada preocupada com o fato de poder ser vista em público com a filha desastrada e sem senso de moda. De onde Lily havia tirado essa ideia mesmo? Não conseguia se lembrar... O que mais ela poderia ter inventado ao longo desses seis anos que ainda acreditava fielmente ao ponto de cegá-la para o que realmente acontecia?

Assim que o vento bateu em seu rosto, do lado de fora da Torre, reconheceu duas cabeças mais a frente. Revirou os olhos e passou rapidamente por eles.

– Até que enfim. Por que demorou tanto? Estamos quase atrasados, sabia? – Alex perguntou após começar a andar ao seu lado.

– Ué, vocês não precisaram ir mais cedo para a escola?

– Você sabe que só queríamos deixar você falar com a mamãe a sós. – Respondeu Jai sem parecer nenhum pouco arrependido andando do seu outro lado.

– E então? Como foi? – Alex pediu.

– Bem. – Respondeu.

– Bem? bem? – Alex pediu novamente.

– Vamos ao shopping hoje depois da escola, então sim, eu diria que foi tudo bem.

– Espera. Você e a mamãe vão ao shopping depois da escola? – Jai perguntou soando incrédulo. Lily não pôde evitar rir levemente.

– Pois é. Foi a única coisa na qual eu consegui pensar, tá legal?

– Eu não disse nada. – Falou Jai.

Lily balançou a cabeça.

– Vamos por partes. Primeiro shopping e então depois eu penso.

– Tudo bem. – Alex disse, mas Lily conseguiu ouvir a incredulidade em sua voz também. Preferiu dar esse assunto como encerrado.

Algum tempo depois, andando lado a lado, como há muito não faziam, e conversando sobre banalidades, coisa que há um tempo maior ainda não faziam, Lily avistou os portões da escola.

– Eu fico por aqui. – Falou parando de repente. – Vou esperar as meninas. Sempre entramos juntas. – Completou vendo ambos a olharem confusos.

– Tá bom. – Concordou Jai.

– Nos vemos no almoço. – Alex completou despedindo-se com um aceno. Jai também acenou e logo voltaram a andar.

Lily pensou em lembrá-los que prometeram não fazer nada quanto aos seus amigos, mas hesitou. A verdade? Ela só não queria entrar com eles. Quando tinha sido a última vez que isso aconteceu? As pessoas não eram burras, perceberiam que alguma coisa havia mudado. E isso era tudo o que ela não queria, por isso pediu para que ambos não fizessem nada.

Então, esperou pacientemente pelas meninas que não demoraram a chegar. Se preocuparia com o fato de Alex ter dito que se encontrariam no almoço quando o almoço chegasse. Talvez conseguisse convencer as meninas a comerem em um lugar afastado? Poderia inventar alguma desculpa, não poderia?

– Lily? Tudo bem? Parece preocupada... – Vick comentou enquanto se sentavam em suas carteiras.

A prova de física começaria dentro de alguns minutos. Prova para a qual Lily não havia estudado, mas... Não era como se ela precisasse. Lembrava-se perfeitamente de tudo o que tinham visto até agora com o professor. Alguns pontos positivos de se ter uma memória fotográfica...

– Só pensativa. – Respondeu.

– Pensando em quê?

– No fato de que depois da escola vou ao shopping com a minha mãe. – Disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça e não era mentira. Isso também a preocupava.

–O quê? – Vick perguntou tão incrédula quanto seus irmãos um pouco mais cedo.

– Não pergunte. – Respondeu e logo em seguida o sinal bateu.

Lily pegou o material necessário para fazer a prova, mas quando olhou para Vick ainda a viu encarando-a surpresa. Arqueou a sobrancelha e Vick balançou a cabeça, com uma expressão que dizia claramente que Lily teria que contar essa história direitinho.

Afinal, Lily não saía com a mãe. E muito menos para ir ao shopping... Suspirou. O dia de hoje aparentemente também seria longo.

~*~

– Então deixa eu ver se entendi... Você vai ao shopping com a sua mãe depois da escola? É isso?

– Eu não sei qual parte do “vou ao shopping com a minha mãe depois da escola” ficou confusa para você, Sam. – Lily falou.

As meninas riram.

– É só que não é algo que eu escute regularmente. – Sam defendeu-se dando de ombros.

Lily balançou a cabeça com um leve sorriso nos lábios antes de se levantar para comprar algum doce.

Almoço. Ainda não tinha visto Alex ou Jai durante toda a manhã e estava meio apreensiva sobre como agiria quando os visse com aquele bando de idiotas que chamavam de amigos. Bom, talvez não mais...

As meninas conseguiram afastar seu pensamento desse iminente encontro focando-a em outro encontro que teria mais tarde. Sua mãe. A cada aula que passava, uma delas lhe fazia a mesma pergunta, “você vai ao shopping com a sua mãe depois do almoço?”. Lily não aguentava mais ouvir essa pergunta. Ela sabia que devia ser difícil acreditar, mas caramba!

Ainda não teve tempo de contar exatamente o que conversou com seus irmãos naquela fábrica e não sabia se queria mesmo contar a elas. Quer dizer, mesmo que elas soubessem de tudo, isso lhe parecia pessoal demais para contar. Ou talvez só não quisesse admitir que era a grande culpada. Então, falou apenas superficialmente sobre o que achou que elas deveriam saber. Agora, ali estava ela. Tentando a todo custo não olhar para os lados e correr o risco de vê-los.

Chegou à conclusão de que o melhor era continuar agindo normalmente e, para ela, o normalmente envolvia não procurá-los. Tanto que se sentou de costas para a porta de entrada do refeitório e para a mesa que eles usualmente usavam. Lily estava realmente se empenhando para que as coisas não mudassem tanto assim.

Mas claro que ela já devia ter percebido que nada mais acontecia do jeito que ela esperava.

Ali estava ela. Parada, em frente à máquina de doces que se encontrava próxima a porta de entrada, concentrada na difícil decisão de escolher entre uma barra de chocolate preto ou uma barra de chocolate branco quando seu adorável irmão se aproximou e colocou fim no seu brilhante plano de agir normalmente.

– O que está fazendo, Alex? – Perguntou olhando-o se relance.

– Eu vim comprar uns chocolates, ué. – Ele respondeu encostando-se na lateral da máquina.

Lily o fitou de má vontade e arqueou a sobrancelha.

– E também vim te ajudar a escolher entre... – Olhou para a máquina por alguns segundos. – Chocolate preto ou branco?

Lily revirou os olhos.

– Você não mudou muito, não é? – Alex perguntou com um sorriso presunçoso no rosto se referindo ao fato de que Lily sempre foi uma viciada em chocolates e que, aparentemente, se lembrava disso.

– O que está fazendo conversando comigo, Alex? – Ela refez a pergunta enquanto se decidia pelo clássico e delicioso chocolate preto e branco. Se não conseguia se escolher entre os dois, o melhor era comprar ambos.

– Eu não sabia que era um crime querer conversar com a minha irmã. – Alex falou como se fosse óbvio.

Lily hesitou, mas se virou para encará-lo cara a cara.

– As pessoas estão olhando. – Sussurrou esperando que ele se desse conta de que essa conversa não deveria estar acontecendo.

Alex arqueou a sobrancelha antes de virar o rosto e olhar para o refeitório. Lily quis bater nele. Podia ser mais sútil do que isso? Ela não precisava olhar para lá também para saber que apenas umas poucas cabeças desviaram o olhar. De repente ele voltou-se para ela e cruzou os braços.

– E daí?

Lily revirou os olhos e balançou a cabeça. Claro que ele não entendia.

– Esqueça. – Murmurou e então pegou seu chocolate para sair logo do centro das atenções.

Mas, quando passou em frente de Alex, este segurou em seu braço sutilmente, apenas para que ela parasse.

– Eu vou conversar com você quando quiser, Lizzie. – Disse simplesmente antes de soltá-la. E então repetiu o que havia lhe dito ontem. – Acostume-se.

Lily ainda ficou uns bons segundos parada antes de voltar a andar. Ela deveria estar feliz com essa afirmação, não deveria? Considerando os seis anos perdidos... Mas não estava totalmente feliz. Parecia que Alex não entendia as implicações que fugir da normalidade fariam com ela... Ah, ela tinha certeza que Amber e Kelly haviam visto esta pequena interação. Esperava que fossem burras o bastante para não entenderem.

Voltou para onde estava com as meninas sentindo os cochichos e sussurros daqueles que estavam no refeitório. Como odiava ser o centro das atenções. Respirou fundo. Não havia motivo para pânico.

~*~

Uma das melhores partes de se ter uma memória fotográfica, ou memória eidética, era que Lily sempre era uma das primeiras a acabar os testes que fazia e dessa forma, ficava um bom tempo livre sem fazer nada.

Naquela tarde, por exemplo, quando a professora Smith passou um teste surpresa de matemática pegando todos literalmente de surpresa, Lily acabou os problemas em exatos quinze minutos e então se retirou da sala, caminhando até o pátio, onde poderia sentar embaixo de uma das árvores e ler seu livro enquanto esperava Bella, com quem fazia aquela aula, acabar o teste também.

Ela ainda se lembrava de quando descobriu que seu cérebro não era como o das outras crianças. Claro que se lembrava. Tinha quatro anos e a psicóloga da escola gastava bastante tempo conversando com ela. Essa foi a primeira pista de que alguma coisa com ela não estava certa.

Lily passava muito tempo respondendo perguntas, vendo imagens e desenhando. Quando a diretora chamou sua mãe em um belo dia, Lily ouviu quando foi chamada de uma criança muito especial, mas então foi levada para onde as outras crianças brincavam para não ouvir mais nada. Quando saíram da escola mais tarde, sua mãe lhe comprou um sorvete e contou que ela era diferente. Um diferente bom. E pediu para que ela não contasse nada ao seu pai.

Lily não entendeu. Por que seu pai não poderia saber o quanto ela inteligente? Sua mãe lhe disse que, caso seu pai soubesse, ele automaticamente esperaria coisas demais dela e Lily tinha apenas quatro anos. Quando ela estivesse maior e pudesse decidir o que fazer, então seu pai poderia saber porque assim não poderia exigir mais do que ela estivesse disposta a aceitar. Lily concordou.

Agora, enquanto se lembrava desse dia nos mínimos detalhes, se perguntava por que sua mãe não falou nada quando ela começou a fingir que não era tão inteligente quanto todos gostariam. Sua mãe a deixou mentir. Até os oito anos, até aquele cachorro, Lily percebeu que se soubessem a verdade sobre ela, seria tratada diferente, e ela não queria ser diferente, então mentiu. Mas depois... Talvez agora que estava tentando uma reconciliação com sua mãe deveria perguntar por que ela a deixou mentir.

Lily nunca quis ter uma memória fotográfica. Seus irmãos eram inteligentes, ela gostaria de ser como eles... Uma inteligência considerada normal para os padrões da sua família, como de seu pai e de seu avô. Nunca pediu para ser uma espécie de gênia, gênia. Ela simplesmente nasceu assim. Mas também nunca pediu para ganhar esses poderes e agora os tinha. Como a vida era engraçada. Tinha aquilo que não pediu, mas não tinha aquilo que gostaria de ter.

Suspirou.

Pegou seu celular para checar as horas e imaginou se Bella já não teria terminado. Não era legal ficar sozinha no pátio, embora houvesse outros alunos lá. Aparentemente, sua professora de matemática não foi a única que passou um teste surpresa.

Guardou o livro que tinha começado a ler e se levantou. Mas se arrependeu de ter saído do lugar onde estava no instante em que entrou no corredor que levava a um dos banheiros femininos e viu que apenas Chad estava ali, parado, próximo ao banheiro masculino.

Chad Miller. Mais um dos idiotas que podia ser considerado amigo de seus irmãos. Namorado de Kelly e claro, bonito, mas burro. Burro ao ponto de não se importar em ser um fantoche nas mãos de Kelly desde que pudesse dizer que estavam juntos. Mas todos sabiam que ambos tinham um relacionamento aberto. Desde que um não visse o outro traindo, fingiam que não sabiam que estavam sendo traídos. E Chad era particularmente irritante com Lily. Não era cruel como Cody ou Kelly, era apenas imaturo e muito, muito irritante. E Lily não queria correr o risco de se irritar.

Abaixou a cabeça e se pôs a caminhar em frente. Não sabia se agradecia ou não pelo corredor estar vazio. Quando Chad a notou, falou algo, mas Lily prontamente ignorou e continuou andando. Infelizmente, Chad não gostou e a segurou fortemente pelo braço, impedindo-a de continuar e fazendo-a se voltar para ele.

Lily prendeu a respiração. Suas mãos formigavam para que ela o empurrasse contra os armários. Seria tão fácil fazer isso agora com seus poderes. Mas se fizesse, nem Chad era tão burro assim para não juntar as peças. Então, apenas respirou fundo.

– O que você quer, Chad? – Perguntou impaciente.

Seu braço começava a doer onde ele continuava apertando, mas Lily morreria antes de se deixar demonstrar alguma dor.

– Não gosto de ser ignorado, garotinha.

– Então diga logo o que quer.

Chad sorriu. Um sorriso irônico.

– Você está toda corajosa agora, não é? Falando com o Alex na frente de todo o refeitório... Acha que isso vai mudar alguma coisa?

– Eu não sei do que você está falando. E será que você pode me soltar? – Perguntou tentando puxar seu braço, mas Chad apenas a apertou mais forte.

Não perca a paciência, Lily.

– Ah, sabe sim. E sei que também sabe que isso não faz diferença. – De repente, Chad se aproximou. – Você pode conversar com Alex na frente das pessoas o quanto quiser. Pode conversar com Jai, até mesmo com os dois ao mesmo tempo, mas você sabe que isso não vai mudar nada. – Ele levantou a mão que estava livre e pegou numa mecha de cabelo de Lily. Lily foi para trás no mesmo instante e Chad sorriu outra vez. – Faça o que quiser garotinha, mas você e eu sabemos que nunca vai conseguir mudar o fato de ser uma maldita esquisita.

E esse foi o fim da paciência de Lily. Ela apertou os punhos. Podia sentir que estava perdendo o controle de seus poderes e não se importava. Queria usá-los. Queria tirar aquele sorriso da cara de Chad. E iria fazer isso se Chad não tivesse sido puxado para trás violentamente.

Lily piscou. Seus poderes se acalmando enquanto tentava assimilar o que estava acontecendo. Foi quando viu Alex acertar um soco na cara de Chad e derrubá-lo contra os armários. O barulho a fez pular e arregalar os olhos enquanto processava tudo.

– Alex, o que... – Sussurrou, mas seu irmão não a ouviu.

Ao invés de olhar para ela, Alex segurou Chad pelo colarinho e lhe acertou outro soco. Lily novamente se sobressaltou.

– Vamos, Chad. – Ouviu-o falar por entre os dentes. – Repete o que disse. – Ordenou acertando outro soco no rosto de Chad.

Lily nunca o havia visto tão furioso. E Alex definitivamente estava furioso.

– Repete! – Gritou derrubando Chad no chão com outro soco.

Foi então que Lily finalmente reencontrou o controle sobre suas ações ao ver o sangue de Chad começar a manchar o chão.

– Alex! – Gritou tentando atrair sua atenção. – Pare!

Mas Alex a ignorou enquanto continuava a socar Chad, os dentes cerrados de raiva.

– Ela é minha irmã, seu filho da puta!

Lily começou a sentir o coração acelerar. Alex iria acabar matando-o. Ela precisava fazer alguma coisa! Estava prestes a usar seus poderes para segurá-lo quando ouviu passos se aproximando. Uma multidão.

Rostos curiosos e surpresos aproximavam-se de onde Lily estava. E em meio a esses rostos, Lily viu Jai correndo em direção à briga.

– Mas que... – Ouviu-o sussurrar quando colocou seus olhos na briga. – Alex! – Gritou enquanto se aproximava para separar o irmão de um quase inconsciente Chad que agora parecia lutar para se afastar.

Jai segurou Alex pelos braços enquanto o puxava para trás. Lily viu Cody se aproximar correndo e ajudar Chad a se levantar e a se afastar de Alex. Alex ainda tentava se soltar de Jai para voltar a bater em Chad.

– Quer parar, Alex? – Jai perguntou irritado ao irmão enquanto lutava para segurá-lo.

– Me larga. Eu ainda não acabei. – Alex cuspiu as palavras. Seus olhos ainda brilhando de raiva não contida.

–Não acabou? O que deu em você, Alex? Quer matar o Chad? – Cody perguntou enquanto se colocava no meio de Alex e Chad.

Chad agora se apoiava no armário e Lily viu o estrago que seu irmão havia feito. O olho direito de Chad estava roxo, mais fechado que aberto, e sangue saía da sobrancelha. Seu nariz parecia quebrado e mais sangue saía. Sem mencionar a boca. Lily o observou cuspir um pouco de sangue.

– Algo bem perto disso. – Murmurou.

– Já chega, Alex. – Jai exigiu parecendo perder a paciência.

– O que diabos aconteceu? – Cody perguntou.

– Quer contar ao Jai, Chad? O que você fez? – Alex perguntou irritado enquanto se soltava do irmão, parecia mais controlado. Jai hesitou, mas o soltou.

Lily observou que a multidão de telespectadores havia se reunido ao redor deles e deu um passo instintivamente para trás quando viu que parecia estar no meio daquilo. Jai finalmente pareceu notá-la e onde ela estava e franziu a testa, enquanto voltava a olhar para Chad.

– O que você fez, Chad? – Perguntou.

Chad não respondeu.

– Chad?

– Alex enlouqueceu! – Chad finalmente respondeu. Parecia irritado. – Não havia necessidade para tanto.

– Alex! – Jai exclamou irritado enquanto puxava Alex, que havia tentado ir para cima de Chad, para trás de novo.

– Não havia necessidade? – Perguntou furioso.

– Quer fazer o favor de se acalmar, Alex? – Pediu Jai enquanto Alex tentava se soltar. Alex pareceu se acalmar e Jai o soltou outra vez. – Que merda você fez, Chad?

Jai também estava perdendo a paciência.

Lily viu Chad olhar para ela e então para Cody, como se estivesse pedindo ajuda. Lily estava certa então... Nenhum deles queria que Alex e Jai ficassem sabendo o que faziam com ela. Mas Jai não precisou mais do que isso para entender que Lily estava envolvida.

Ele olhou para Alex e não foi preciso palavras para que Alex confirmasse sua suspeita. Lily o viu fechar as mãos em punho enquanto fitava Chad com uma raiva não tão contida assim.

– Ah, por favor... – Cody falou de repente. – Foi apenas uma brincadeira. Chad não estava falando sério... Realmente, não havia necessidade para tanto, Alex.

E então Lily deu um leve pulo, assustada, quando Jai socou Cody.

Ninguém estava esperando por isso. Em um segundo Jai estava ao lado do Alex e no segundo seguinte Cody estava atordoado, tentando assimilar que Jai o socara. Até mesmo Alex ficou surpreso.

Jai tentou bater em Cody outra vez, mas antes que pudesse causar um estrago maior do que um simples soco, todos se sobressaltaram ao ouvirem a voz do diretor e se dispersaram no mesmo instante. Menos Lily e os quatro.

– O que vocês pensam que estão fazendo? – O diretor perguntou parando a alguns metros de distância. – Srta. Stark, se não participou dessa briga diretamente, vá para sua sala agora.

Lily hesitou. Ela poderia ficar e explicar o que aconteceu. Não diminuiria os atos de Alex e Jai, mas pelo menos Cody e Chad não se passariam por vítimas. Não queria contar o que aconteceu... Era embaraçoso falar em voz alta que foi chamada de esquisita, mas se pudesse ajudar seus irmãos mesmo que um pouco... Olhou para ambos que, sutilmente, negaram com a cabeça.

Não queriam que ela se envolvesse.

– Sim, senhor. – Concordou.

Olhou uma última vez para seus irmãos antes de se virar. Esperava que eles conseguissem se livrar dessa. Afinal, eles ainda eram filhos de Tony Stark. E, se tinha uma coisa que seu pai sabia fazer, era enrolar as pessoas.

~*~

Lily olhou o relógio pela quarta vez. Estava sentada ali já fazia quase uma aula! Dessa forma não conseguiria falar com eles antes que tivesse que ir para a última aula. Voltou a bater o pé repetidas vezes no chão outra vez. Sinal da sua ansiedade.

Ao invés de ir para a aula, como o diretor gentilmente sugeriu, Lily se esgueirou até o lugar onde costumava ir quando queria se esconder um pouco da escola. Não parou para pensar que suas amigas já haviam ouvido sobre a briga e provavelmente queriam falar com ela até que chegou onde queria chegar.

Pegou o celular e mandou uma rápida mensagem resumindo o ocorrido. Elas teriam que se contentar com isso. E ficou por lá por alguns minutos enquanto esperava os corredores se esvaziarem para poder ir até a sala do diretor e esperar no corredor mesmo, mas sem correr o perigo de ser vista.

Quando achou que já tinha esperado o bastante, caminhou até a sala do diretor, onde esperava desde então, sentada em um banco longe o bastante para não ser vista por ele, mas perto o suficiente para que Alex e Jai a vissem quando saíssem. Esperou mais alguns minutos, até que ouviu a porta sendo aberta.

Levantou-se em um pulo, arrumando a bolsa no ombro, e esperou até que a vissem. Não demorou muito. Logo, ambos estavam andando em sua direção.

– E então? – Perguntou ansiosa. – Ficaram muito encrencados?

– Nah... – Alex respondeu parando na sua frente. – Temos créditos o suficiente para não sermos expulsos ou suspensos.

– Mas, vamos ter que ficar depois da aula para ajudar a organizar os livros da biblioteca. – Completou Jai.

– Fora a detenção durante uma semana. – Emendou Alex.

– O que mamãe disse quando ligaram para ela? – Fez a pergunta que estava temendo.

Uma coisa era seus irmãos saberem sobre a escola, outra era seus pais. Não poderia ser mais humilhante.

– Nada. – Respondeu Alex.

– Como nada?

– Os créditos eram bons o bastante para que nos livrássemos dessa sem precisar colocar nossos pais no meio. – Disse Jai.

– Claro que o fato do nosso pai ser o Homem de Ferro e estar ocupado demais tornando o mundo um lugar melhor para vir até a escola pode ter ajudado um pouco também. – Completou Alex fazendo Lily sorrir levemente.

Sim, isso decididamente ajudava um pouco.

– Não deveria estar na aula agora? – Jai perguntou.

– Hm... Estava esperando vocês saírem. – Respondeu Lily.

– Nós deveríamos ir. Não seria bom arrumar mais algum problema quando mal nos livramos de um. – Jai falou para Alex.

– Mas falta uns quinze minutos para o fim desse período. Qual o sentido de assistirmos só a quinze minutos de aula? – Pediu Jai.

– Tem um lugar... – Começou Lily atraindo a atenção de ambos. – Vamos. – Disse por fim pondo-se a andar.

Alex e Jai foram atrás, claramente confusos.

– Pra onde? – Perguntou Jai.

– Vocês vão ver. – Respondeu simplesmente.

Lily imaginava que talvez Jai fosse contestar um pouco mais, mas ele apenas se colocou a caminhar em silêncio ao seu lado enquanto a seguia. O mesmo fez Alex.

Não demorou muito para que saíssem da escola e fossem para o enorme campo de futebol que ali havia. Atravessaram o campo e foram em direção às arquibancadas, mas, ao invés de subirem como era o costume, Lily os guiou para baixo.

– Ninguém nunca vem aqui. – Comentou enquanto se sentava onde há alguns minutos estava. – Na verdade, não acho que alguém alguma vez se preocupou em saber se dava para ficar em baixo das arquibancadas.

– Como você soube que dava para ficar embaixo das arquibancadas? – Jai perguntou.

Lily deu de ombros.

– Não lembro. – Respondeu sinceramente. – Mas dá para matar aula sem problemas ficando por aqui.

– Uau... Não esperava que você matasse aula regularmente, Lizzie. – Brinca Alex fazendo-a rir levemente.

– Não é bem para matar aula que venho aqui. – Confessou olhando para suas mãos.

Um silêncio pesado se instalou ali e Lily sabia que eles entenderam o que ela quis dizer. Mas não havia sido por isso que ela os trouxe até ali. Ela tinha um propósito que não podia esperar até que voltasse do shopping à noite.

– Bom, eu... – Começa inserta, quebrando o silêncio. – Queria agradecer por terem, sabe, me defendido. Mesmo que não houvesse necessidade... Vocês podiam ter se metido em sérios problemas por nada.

– Por nada? – Alex pergunta incrédulo. – Não foi por nada. E eles mereceram.

Lily balança a cabeça.

– Vocês prometeram que não fariam nada, lembram?

– E também dissemos que não faríamos nada a menos que os víssemos fazendo algo. – Lembra-a Jai.

– E foi exatamente o que aconteceu. – Completa Alex. – Bom, pelo menos para mim. Jai só chegou um pouco atrasado.

Lily vê Jai revirar os olhos, mas não parecia nada arrependido de ter batido em Cody. Nenhum dos dois parecia arrependido. Sem saber ao certo o que mais falar, Lily simplesmente abaixa a cabeça e olha novamente para suas mãos.

– Lizzie. – Jai a chama de repente e mesmo não querendo, Lily o fita. – Nós somos irmãos. Se alguém fizer alguma coisa contra você, qualquer coisa, não importa quem seja, vamos estar lá por você.

Ah... O que mais ela poderia fazer além de abraçar a ambos ao mesmo tempo? E é exatamente isso o que ela faz.

– Obrigada. – Sussurra enquanto os sente retribuir a mais um abraço inesperado.

Esperou mais alguns segundos antes de se afastar e quando o fez, sorriu agradecida.

– O sinal já vai bater. – Anuncia de repente. – É melhor eu ir, ou vou me atrasar.

– Vamos ficar por aqui por mais um tempinho se você não se importar. – Alex fala se recostando contra a parede e Lily ri levemente.

– Só não me vão matar a última aula. – Pede e então se despede com um aceno, ainda sorrindo.

Tudo parecia bem.

Ela só esperava que as coisas continuassem assim depois que fosse ao shopping com sua mãe.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Um pouquinho mais de momento entre irmãos para nos despedirmos porque vou precisar diminuir um pouco esses momentos entre os três nos próximos capítulos.
Próximo capítulo, foco na Pepper como prometido. ;D
Ah, o próximo também já está pronto.
Mais comentários tão incríveis quanto os do capítulo passado e posto o próximo rapidinho também.
É isso.
Até o próximo!
XOXO