Pedras Preciosas escrita por Melanie


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo!!
Estou inspirada, então vou aproveitar... Espero que gostem.



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– Foi só um sonho. – Repetiu para si mesma pela milésima vez enquanto olhava para si mesma no espelho.

Foi só um sonho. Apenas isso. Um sonho bizarro, mas ainda assim só um sonho. Não tinha significado nada. Sua mente estava apenas sobrecarregada. O sonho não significava nada. Não podia significar. Sua vida já estava complicada o suficiente sem que ela precisasse se preocupar em começar a desvendar sonhos. Ela tinha outras coisas com as quais se preocupar naquele momento, obrigada.

A primeira coisa com a qual ela precisava se preocupar naquela bela e tão esperada segunda-feira, era a escola. Porque mesmo que ela fosse o projeto de uma heroína quando colocava aquelas roupas, em tempo integral ela ainda era uma garota com problemas em casa e na escola. E agora estava prestes a sair de um para ir para o outro.

Respirou fundo, mandou a si mesma esquecer aquele sonho, e saiu de seu quarto.

Quando chegou à cozinha, apenas sua mãe estava lá. Nem seu pai nem seus irmãos estavam. Estranhou. Não o fato de seu pai não estar, até porque ela acreditava que ele estava na oficina trabalhando em algo que o ajudasse a pegá-la. Estranhou o fato de Jai e Alex não estarem. Seus irmãos não costumavam perder o café.

– Bom dia, mãe. – Disse como a boa educação exigia.

– Bom dia, querida. – Sua mãe respondeu desviando os olhos do tablet que segurava apenas por alguns segundos para então voltar a provavelmente trabalhar. Ela estava sempre trabalhando.

Mordeu a língua. Ela não queria, mas ao mesmo tempo queria. Brigou internamente consigo mesma e deu-se por vencida ao aceitar que perdeu a briga.

– Onde estão Jai e Alex, mamãe?

– Ah, essa é uma excelente pergunta. Jarvis disse que estão acordados, mas ainda em seus quartos. Vão acabar se atrasando se não descerem logo. - Lily franziu a testa estranhando ainda mais. – Na verdade, peça para eles descerem, Jarvis. Já está passando da hora de irem para o colégio.

– Sim, sra. Stark. – Respondeu o computador.

Lily tentou ignorar a sensação que estava com ela desde que acordou e que parecia ficar mais forte a cada segundo, e pegou um muffin para comer enquanto esperava seus irmãos descerem para irem. Não daria para eles tomarem café se não, se atrasariam.

Alguns minutos mais tarde, ouviu passos apressados se aproximando. Segundos depois, seus irmãos apareceram. Vinham correndo. Lily quase engasgou quando sentiu-se sendo puxada de repente por Alex pelo pulso.

– O qu... – Tentou falar enquanto engolia o que estava em sua boca para não engasgar, mas não conseguiu terminar.

– Não temos tempo, Lia. Estamos atrasados. – Disse Alex.

– Ei, não corram. – Exigiu sua mãe olhando surpresa para a cena que se desenrolava.

Lily não poderia culpá-la. Ela mesma ainda estava surpresa enquanto via Jai pegando sua bolsa e jogando para ela, para apressá-la. Alex ainda a puxava pelo pulso. Só pôde proferir uma frase completa quando já estavam dentro do elevador e aquele pedaço de muffin que comia enfim foi engolido.

– O que há de errado com vocês dois hoje? – Perguntou por fim enquanto puxava seu pulso para que Alex soltasse e arrumava sua bolsa em seu ombro.

– Ainda não, Lia. Ainda estamos na Torre. – Respondeu Jai rapidamente.

Lily arqueou a sobrancelha enquanto olhava para o irmão. O que estava acontecendo? Segundos mais tarde, o elevador abriu e os três saíram da Torre.

– Tá, agora podem começar a falar. – Exigiu pondo-se a andar em direção à escola.

– Passamos a noite toda praticamente tentando acessar o servidor em que Jarvis está colocando tudo o que consegue decodificar. – Começou Jai.

– A noite toda? – Lily estranhou. Seus irmãos conseguiam acessar essas coisas em questão de segundos. Ela também. Era algo de família.

– Sim. – Respondeu Alex. – E isso por si só já mostra como é algo grande. Nosso pai colocou travas de segurança realmente complexas. Seja lá o que for, ele parece estar com medo de que alguém de fora tente invadir.

– E vocês conseguiram invadir? – Perguntou.

– Claro que sim. Por favor, Lia. – Alex respondeu indignado. Lily tentou não sorrir, mas não conseguiu.

– Demorou quase a noite toda, mas conseguimos. – Completou Jai.

– E o que descobriram? – Perguntou ansiosa. Seu sonho voltou à mente no mesmo instante e tentou afastá-lo outra vez. Ela precisava manter o foco no que importava.

– Jarvis está decodificando dados de uma das possíveis amostras do que havia dentro da caixa que estava sendo guardada naquela sala. Parece que o que havia lá dentro era o que continha radiação. – Respondeu Jai.

– E qual foi o resultado da amostra? – Se era algo que continha radiação...

– Veja por si só. – Respondeu Jai retirando um papel do bolso e entregando a Lily.

Lily parou na mesma hora para ler o que estava escrito naquele papel.

– Nós ainda não sabemos o que os resultados finais significam, mas vamos descobrir hoje mais tarde. Não tivemos tempo de fazer isso agora de manhã. Mas, sabemos que é uma sequência de testes feita com a amostra. – Começa a explicar Alex. Provavelmente achando que Lily não sabia disso.

Lily decidiu ignorar o que ele falava e ver os resultados por si só porque ela claramente sabia fazer isso. E a primeira parte que leu a deixou atônita ao ponto de se esquecer que Alex estava começando a explicar de um jeito não tão complicado o que havia naquele papel.

– É um teste de refração? – Perguntou interrompendo-o. Não fazia ideia do que ele estava falando, mas estava surpresa demais com o que havia ali para pensar direito. Não esperou nenhum dos dois responder. – É um teste de refração. – Continuou. – Por que fariam testes de refração com um material radioativo? Não faz sentido... Mas olhem isso. Usaram um refratômero para medir o grau em que o curso da luz foi alterado e até mesmo fizeram um gráfico demonstrando o arredondamento do resultado para o miliar mais próximo.

Lily estava ocupada demais lendo os seguintes testes para notar o olhar de surpresa que Alex e Jai trocaram. Ela estava ocupada demais juntando os pedaços daquele quebra-cabeça para se importar com o que saia da sua boca enquanto pensava em voz alta.

– E vejam o próximo teste... É um teste de dupla refração. E o próximo, é para verificar se a refração é simples ou dupla. Mas nada disso pode ser feito em um material radioativo. Radiação não refrate a luz. O que Jacobs estava tentando descobrir com esses testes? E os resultados... Esses números não se encaixam com nenhum material radioativo que eu conheça. Na verdade, se esses testes estiverem certos, então os números levam a uma amostra de... – Riu porque se lembrou de onde viu números assim uma vez. E não poderia ser... Poderia? – Rubi. – Sussurrou em choque olhando para os resultados outra vez.

– Rubi? – Alex perguntou. – A pedra preciosa?

Lily concordou com a cabeça.

– É claro. – Sussurrou caindo em si. – Testes de refração são feitos para se ter certeza de que uma pedra preciosa é de fato uma pedra preciosa. E essa amostra é uma amostra de Rubi. – De repente ela se lembrou de outra coisa. – Você tinha dito uma das possíveis amostras, Jai? Isso quer dizer que havia outras amostras?

– Sim, mas Jarvis decodificou apenas essa porque foram os primeiros testes a serem feitos. – Respondeu Jai.

– Ai meu Deus. – Sussurrou dando-se conta de que a coisa era bem mais complexa do que ela e as outras imaginavam. - Não era apenas radiação a qual eu e as meninas fomos expostas. Bom, na verdade, agora estou começando a duvidar se de fato houve algum contato com radiação. Quero dizer, olhem para esses testes. Não havia nenhum material radioativo lá. Isso é uma amostra de rubi. Rubi não é radioativo.

– Mas se não havia material radioativo, então como você e as outras tiveram o DNA alterado? – Alex perguntou.

– E se não tivemos o DNA alterado? E se isso foi apenas uma desculpa que contaram para nos afastar do que realmente aconteceu? O médico que nos atendeu... Ele poderia muito bem estar mentindo porque Jacobs poderia ter preparado todos os seus funcionários para darem uma explicação boa o suficiente para que nós nos contentássemos e não procurássemos saber a verdade por nós mesmas. – De repente, isso parecia fazer muito mais sentido para Lily do que o que aconteceu naquele dia.

– Ok, acreditando que suas teorias estão certas, Lia... Qual poderia ser a verdade? – Jai perguntou.

– E desde quando você entende tanto de... Bem, tudo? – Alex completou a pergunta e Lily entendeu a burrada que tinha feito.

– Droga. – Sussurrou consigo mesma e fechou os olhos rapidamente tentando pensar. – Eu não...

– Ah, por favor. Não vá nos dizer que você não entende porque pelo o que pareceu, você entende sim. E muito bem, aliás. Testes de refração, resultados que envolvam analises amostrais... – Alex a cortou.

É, ela entendia e tinha falado demais. Mas, por sorte, no instante em que ia dar uma desculpa realmente esfarrapada, Lily ouviu alguém lhe chamando e quase não conseguiu evitar suspirar aliviada.

– Ah... Que bom que te encontramos antes de chegarmos à escola. – Sam falou se aproximando. As outras vinham atrás.

– Algum problema? – Perguntou preocupada.

– Não. Mas Jade falou com a gente e bom... – Sam disse indicando Alex e Jai com a cabeça e Lily entendeu.

– Certo. Eu quase tinha me esquecido. – Murmurou.

Um pequeno silêncio ali se instalou após as outras se aproximarem.

– Ok, a situação está começando a ficar estranha. – Alex falou tentando quebrar o clima tenso, mas Lily entendia. Nenhuma das meninas parecia confortável com o fato deles agora saberem a verdade.

– Vocês não vão contar a ninguém, não é? – Bella perguntou rapidamente, quase interrompendo Alex.

– O quê? Não, claro que não. – Jai respondeu após notar que essa parecia ser a grande preocupação de cada uma delas.

– Bom. – Vick suspirou aliviada.

– Principalmente depois do que aconteceu. – Alex continuou. – Não vamos entregar nossa própria irmã ou qualquer uma de vocês ao Jacobs.

Ah, olha ali. O pronome possessivo sendo utilizado para se referir a ela de novo... Para Lily, isso era muito estranho. E não era a única. Notou cada uma das meninas tentando disfarçar o olhar de surpresa. Pois é... Ela também continuava se surpreendendo.

– Jade falou sobre isso também. – Tory disse. – Não acredito que agora ele vai usar os Vingadores pra nos achar. A coisa já está saindo do controle... Minha tia não vai gostar disso quando souber.

– Sua tia... Charlotte? Ela também sabe? – Jai perguntou fazendo Lily se lembrar de que se esqueceu de contar esse pequeno detalhe.

– Sim. – Tory confirmou. Lily não percebeu o momento em que voltaram a andar, mas era o que estavam fazendo.

– Ela ajudou alterando as imagens da TUR naquele dia. – Vick resumiu.

– E nos reconheceu noite retrasada, então não pudemos continuar negando. – Completou Jade.

– E sua tia por acaso tinha acesso direto à sala onde o acidente na TUR aconteceu? – Alex perguntou como quem não quer nada e Lily parou.

– Alex, não. – Cortou-o.

– Por que não? Poderia facilitar as coisas para a gente. – Tentou argumentar Alex.

– Não vamos colocar Charlie nisso. Além de ela poder sair prejudicada, vai ficar claramente óbvio que ela sabe quem somos caso seja pega.

– Ela tem razão, Alex. – Concordou Jai. – Não é uma boa ideia.

– Tá, que seja. Só achei que seria bem mais rápido para descobrirmos o que aconteceu de verdade...

– Hm... Do que é que vocês estão falando? – Tory pediu confusa e Lily se lembrou de que ainda não tinha tido tempo de falar sobre os últimos acontecimentos.

– Alex e Jai...

– Agora não, Lia. – Jai a interrompeu. – Nós já chegamos. – Disse apontando para os prédios da escola. Lily não havia percebido o quanto andaram enquanto conversavam.

– Sério? Vão deixar a gente no escuro assim mesmo? – Sam perguntou.

– Vocês têm algum lugar em que se encontram? Para treinar, por exemplo... – Alex perguntou ignorando Sam que revirou os olhos.

– Sim, temos. – Vick respondeu.

– Podemos nos encontrar lá depois da aula e então explicar. – Sugeriu Jai.

As meninas se entre olharam. Será que era uma boa ideia deixá-los fazer parte disso? Lily ainda não tinha certeza, mas sabia que elas precisariam de ajuda e Alex e Jai de certa forma já estavam ajudando.

– Certo. – Jade concordou por todas. – Estejam nesse endereço depois da aula. – Falou enquanto escrevia no celular e em seguida enviava a mensagem para Jai.

Jai pegou o celular e leu a mensagem.

– Tá legal. – Falou anuindo.

– Nos vemos mais tarde então. – Alex falou acenando em seguida.

Jai imitou o irmão e ambos voltaram a andar em direção à escola enquanto as meninas permaneciam paradas exatamente onde estavam.

– Nos vemos mais tarde então? – Jade perguntou olhando para Lily.

Lily riu.

– Não pergunte. Estou tão surpresa e confusa quanto todas vocês.

~*~

Ajude-me, Lily.

Ajude-me.

Lily...

Lily...

– Lily!

Lily abriu os olhos imediatamente e sentou em um pulo. Levou alguns segundos para se encontrar e quando o fez, deu de cara com vários pares de olhos a olhando. Droga.

Ela havia dormido?

Sentiu seu rosto corar com essa constatação e olhou desesperada para suas amigas, um pedido silencioso de ajuda. Focou em Bella que estava ao seu lado e que havia lhe acordado e notou que ela olhava repetidas vezes para frente da sala. Ainda confusa, Lily seguiu seu olhar e deu de cara com o sr. Jones parado em frente à sua carteira. Como não havia o visto antes?

– Eu fiz uma pergunta, srta. Stark. – A voz do professor Jones se fez ouviu alta e clara. – Talvez gostaria de nos responder ao invés de continuar dormindo. – Que vergonha... – Sim, imagino que devido aos últimos acontecimentos esteja tentada a descansar em sala de aula, mas sugiro que espere a hora do almoço pelo menos. – Sr. Jones finalizou, e por acontecimentos ela sabia que ele estava se referindo à festa de sábado.

Maravilha. Agora seus professores começariam a achar que ela era do tipo que preferia festas a estudar e então que dormia em plena sala de aula. Ótimo.

– Sinto muito, sr. Jones. – Desculpou-se. – Qual... Qual foi a pergunta? – Perguntou timidamente e se encolheu levemente ao ouvir risos abafados vindo do fundo da sala.

– Silêncio! – O professor exclamou e então voltou seu olhar para Lily. – Perguntei se poderia nos dar seu ponto de vista sobre o livro Orgulho e Preconceito, o qual a srta. seguramente já leu, não é?

Aquela havia sido uma das leituras obrigatórias para o verão. Sim, ela já havia lido. Mais por prazer do que por obrigação, mas o sr. Jones não sabia disso. E como tal, principalmente após esse pequeno problema com sua conduta, pretendia usá-la como exemplo do que aconteceria caso fizesse uma pergunta sobre uma obra estudada e o aluno sequer tivesse lido a obra. Ah, mas ela não lhe daria esse gostinho.

– Claro, sr. –Respondeu. – Bom, os obras de Jane Austen em um panorama geral se centram em aspectos cotidianos, utilizando mecanismos capazes de aproximar o leitor das suas personagens criadas. Em Orgulho e Preconceito é possível notar isso no fato de que a protagonista, Elizabeth Bennet, e sua família, pertencem a uma classe social baixa. Sr. Darcy, Sr. Bingley e Lady Catherine de Bourgh são claros representantes da burguesia daquele momento. E são através deles que Jane Austen tece sua crítica à sociedade da época, buscando romper as barreiras sociais ao mostrar, por exemplo, com o casamento entre os protagonistas, uma fusão das classes.

Ao finalizar, Lily se surpreendeu levemente por não encontrar um olhar de surpresa no rosto do sr. Jones. Ao invés disso, encontrou algo muito parecido com orgulho, mas que desapareceu rapidamente dando lugar a uma expressão séria. Ela deixou passar. Devia estar vendo coisas.

– Correto, srta. Stark. – Disse o professor depois de alguns segundos. – Pelo menos um de vocês deu-se ao trabalho de ler o livro... – Dizendo isso, virou-se para a lousa.

Lily suspirou. Que bom que havia lido o livro e sabia a resposta... Se não estaria ferrada. Notou Jade a olhando e arqueou a sobrancelha.

– Você nunca deixa de surpreender, não é, Lily? – Perguntou, mas não esperou por uma resposta.

Lily sorriu levemente e balançou a cabeça. Mas, embora tentasse focar sua cabeça no restante da aula, não conseguia. Ainda podia ouvir aquela voz dentro da sua cabeça.

O que estava acontecendo com ela? Nunca foi de dormir em sala de aula! Mesmo que estivesse morta de cansaço, conseguia ficar acordada porque sempre achou uma falta de respeito dormir enquanto um professor falava. E agora... Lá estava ela. Acordando no susto.

Era a mesma voz do sonho que teve na noite passada...

Não. Balançou a cabeça novamente e tentou se focar nas anotações que devia fazer. Era apenas um sonho. E, por não conseguir parar de pensar no sonho que teve noite passada, agora ficava tendo alusões a esse mesmo sonho. Ela era a própria culpada.

Precisava parar e se focar no que realmente importava.

Sua vida e a das outras.

Não um sonho estúpido.

~*~

– Ainda não acredito que você dormiu na aula do sr. Jones. – Vick comentou pela... Lily havia perdido a conta.

– É, bom... Eu também não acredito. – Murmurou enquanto pegava a toalha para tomar um banho.

Essa havia sido a última aula. Ed. Física. E agora tudo o que Lily mais queria era um banho. Gostaria de poder dizer que depois disso poderia ir para casa, mas ainda tinha assuntos muito importantes para resolver. Deus... Ela só queria poder voltar a ser uma adolescente normal, com preocupações normais.

– Você nunca dorme na escola... Eu durmo. Você não. – Jade comentou e Lily nem se deu ao trabalho de responder, apenas revirou os olhos antes de seguir para a ducha.

Será que era pedir demais ter apenas um dia dentro dos parâmetros da normalidade? Aquela voz não saia de sua cabeça, assim como o sentimento de conhecer aquela mulher. Lily só havia visto o rosto daquela mulher uma vez na noite passada, mas se lembrava dos mínimos detalhes. Alguma coisa não estava certa, ela podia sentir. Quanto mais se lembrava do sonho, mais tinha certeza de que não era apenas um sonho e ela gostaria muito que fosse porque apenas a possibilidade de precisar entender o que era já a deixava assustada.

Não sabia quanto tempo havia passado embaixo do chuveiro, mas percebeu que já era hora de sair ao notar que seus dedos estavam começando a ficar enrugados.

Desligou o chuveiro e abriu a porta para pegar a toalha, mas o invés disso não encontrou nada. Fechou os olhos esperando que não fosse o que ela estava pensando, mas quando os abriu e olhou por entre as frestas, notou que não apenas sua toalha havia sumido como também suas roupas.

– Pelo amor de Deus, Kelly... – Sussurrou balançando a cabeça, sem querer acreditar em tamanha infantilidade.

Desde o incidente com o nariz quebrado, Kelly havia se tornado particularmente irritante com Lily. As meninas achavam difícil que Kelly sequer desconfiasse que Lily teve algo a ver com aquilo, mas para Lily, não desconfiar não impediu que Kelly achasse alguém para culpar. E esse alguém havia sido ela.

Tudo bem. O que ela podia fazer para sair daquela situação? Revirou os olhos para si mesma ao notar que desejou tanto ter problemas normais naquele dia que, no fim, acabou tendo um problema desagradavelmente normal.

Entretanto, Lily para todos os efeitos era uma heroína! Havia lutado contra um idiota que tentou destruir sua casa e machucar pessoas com as quais se importava. Havia até mesmo salvado as estúpidas vidas de Kelly e Amber sem perceber. Ela podia sair dessa. Não, ela iria sair dessa.

– VICK? JADE? – Tentou gritar por alguma das suas amigas. – ALGUÉM?

Suspirou derrotada.

Com tantos dias para que suas amigas esperassem por ela do lado de fora da escola, tinham que ter escolhido justamente hoje? Ela não tinha culpa da treinadora ter pedido para que ela ajudasse a guardar as bolas. E precisava ter pedido, justamente hoje, para que levassem sua bolsa junto? Com seu celular dentro? Que sorte!

Pensou.

Ela poderia usar seus poderes, não poderia? Balançou a cabeça. Iria sair voando pela janela sem estar vestindo roupa alguma? Por favor... Tentou se lembrar se havia alguma roupa reserva em seu armário do vestiário. Poderia abri-lo e fazer a roupa levitar até ela. O vestiário aparentava estar vazio além dela, ninguém veria. Mas logo descartou essa ideia também. Não havia roupa nenhuma em seu armário.

Abriu a porta e olhou ao redor desesperada. Era esse o tipo de humilhação que Kelly queria fazê-la passar. Ser vista nua... Apertou os punhos com raiva após fechar a porta novamente. Como odiava aquela garota! Tinha certeza de que a essa altura ela estaria encostada em seu belo carro vermelho, rindo com Amber ao imaginar o que Lily deveria estar passando desde que se deu conta de que não conseguiria sair.

Por que elas a odiavam? O que Lily havia feito?

Só uma vez na vida. Uma vez, Lily gostaria que aquelas duas passassem por algum tipo de sufoco como o que ela estava passando agora. Uma vez, Lily gostaria de vê-las sentir exatamente o que ela sentia toda vez em que era atacada. Uma vez, Lily gostaria que elas pagassem. Uma vez...

Suspirou derrotada outra vez. Ela sabia que isso nunca iria acontecer. As regras do ensino médio eram assim. Ninguém nunca era punido... Apoiou a testa na parede gelada e sentiu seus olhos lacrimejarem. Não queria chorar. Estava tão cansada de chorar por algo que lhe era feito. Ao invés disso, se concentrou na raiva que estava sentindo.

Onde vocês estão, meninas?, pensou. Estou com problemas... Onde vocês estão? Não acredito que Kelly aprontou de novo. Ela levou minhas roupas... Onde vocês estão?!

Alguns minutos depois, surpreendeu-se ao ouvir passos apressados vindo em direção ao vestiário. Trancou a porta rapidamente. Agora isso? Ela não conseguiria fugir mesmo da humilhação, não é? Sentiu seu coração acelerar.

– LILY? – Reconheceu a voz de Vick.

– VICK? – Não conseguia acreditar que era mesmo Vick.

No segundo seguinte viu sombras paradas à sua frente.

– Ai meu Deus, Lily. Você está bem? – Ouviu a voz de Bella. Eram mesmo suas amigas.

– Sim. – Falou aliviada.

– Aqui. – Tory falou antes de passar uma toalha por cima. Lily encarou atônita a toalha e ficou ainda mais surpresa ao ver que também havia roupas ali.

– Como vocês... – Tentou perguntar, mas não sabia ao certo como colocar em palavras.

– Você não vai acreditar. Na verdade, nem a gente acredita. – Jade falou.

Lily pegou a toalha e as roupas e começou a se vestir. Àquela altura ela já estava basicamente seca e só queria sair o mais rápido possível.

Estávamos esperando por você do lado de fora da escola, como combinamos. – Sam continuou sem dar tempo de Lily perguntar o que tinha acontecido. – Então, de repente, todas nós ouvimos sua voz.

– Minha... Minha voz?

– Sim! Nos viramos, procurando por você, mas não te vimos em lugar nenhum. Então ouvimos de novo e foi quando percebemos que a sua voz estava nas nossas cabeças! – Sam completou e Lily congelou.

– O quê?! – Perguntou atônita após abrir a porta.

A primeira coisa que notou foi as expressões de êxtase nos rostos de Jade e Sam.

– Nas nossas cabeças! – Jade repetiu com um enorme sorriso no rosto, mas vendo que Lily continuava sem expressão rolou os olhos. – Não entendeu ainda, Lily? Telepatia!

– Telepatia? – Sussurrou. Ela tinha entendido errado, não é?

– A habilidade de se comunicar por pensamentos. – Sam respondeu.

– Eu sei o que é telepatia! – Exclamou. – Eu só não... Como eu...

– Bom, aparentemente, esse é mais um dos seus poderes. – Disse Vick.

– Telecinese e telepatia... Legal. – Tory falou sorrindo.

– Será que você também pode ouvir pensamentos? – Sam perguntou entusiasmada.

– Eu realmente espero que não. – Lily respondeu na mesma hora enquanto andava em direção à saída. – Não faço ideia de como fiz para falar com vocês por pensamento... Imagine se eu começar a ouvir o pensamento de todas e não souber como parar.

– É, talvez não seja uma boa ideia enquanto você não souber controlar. – Jade ponderou e Lily revirou os olhos.

De fato não estava surpresa em poder fazer isso. Quer dizer, olhe o que ela e as outras conseguiam fazer! Uma nova habilidade não era surpreendente. Na verdade, era um pouco preocupante porque agora teria que tomar um cuidado extra com o que pensava.

– Como vou aprender a controlar se não faço ideia de como fiz para fazer isso para início de conversa? – Perguntou exasperada. – Eu só pensei.

– Melhor ter cuidado com o que pensa de agora em diante, Lily. – Tory falou fechando a porta do vestiário atrás de si.

– Aliás... Por que é que vocês demoraram tanto? – Perguntou de repente. – Se eu pensei e vocês ouviram, vocês deveriam ter chegado antes. – Agora que parava para pensar nisso, era verdade.

– Sim, mas tivemos um pequeno problema para entrar. – Jade falou.

– Que tipo de problema? – Lily perguntou.

– Acho que a escola inteira se reuniu no estacionamento para ver o carro da Amber pegar fogo. – Disse Sam.

– E para ver a Kelly sem roupa, não se esqueça disso. Na verdade, acho que foi mais por isso do que pelo primeiro. – Completou Jade divertida.

– Espera, o quê? – Lily perguntou assustada voltando-se para suas amigas.

– Bom, parece que Amber e Kelly estavam dentro do carro quando o motor começou a pegar fogo. – Começou a explicar Bella estranhando a cara de assustada de Lily. – Nós não vimos isso, mas ouvimos as pessoas comentando. Aparentemente as portas emperraram e elas não conseguiam sair de jeito nenhum.

– A essa altura as entradas estavam bloqueadas de gente, então tivemos que entrar pelo campo. – Disse Vick.

– Sim. Eu estava para apagar o fogo e sabe, impedir um alvoroço maior ainda, mas do nada elas abriram as portas e saíram correndo. – Continuou Sam e Jade começou a rir.

– Mas aí, acho que Kelly abriu a porta com muita força porque a porta voltou a fechar e prendeu parte da blusa dela. Kelly não viu porque estava saindo correndo do carro, mas já da para imaginar. Quando ela foi notar, já estava sem a parte de cima da roupa... – Completou Tory ignorando as risadas de Jade.

– Ah, eu sei que não deveria estar rindo... Mas foi realmente hilário ver ela se dar conta de que estava sem roupa só quando começaram a tirar fotos. E a cara dela... – Disse Jade entre risadas.

– Por favor... Claro que podemos rir. Não foi nada demais. O fogo nem era um problema... Era só fumaça na verdade e elas presumiram que fosse fogo e então começaram a gritar atraindo atenção de todo mundo. – Sam falou e as outras concordaram com a cabeça.

– Sim, elas exageraram. Como sempre. Mas não saíram por cima... – Disse Vick sem poder conter uma pequena risada.

– Por que está com essa cara, Lily? – Tory perguntou ainda sorrindo, mas estranhando a reação de Lily.

– Lily? – Vick chamou quando ela não respondeu. Lily parecia perdida em pensamentos.

– Porque acho que... Acho que fui eu quem fez isso. – Sussurrou dando-se conta da verdade.

Então colocou-se a contar. Não tentou esconder o sentimento de raiva durante seu relato porque todas odiavam aquelas duas e lhe entendiam perfeitamente. Não escondeu nada. Contou exatamente o que pensou, e quando finalizou ninguém mais sorria.

– Pode ter sido só coincidência. – Sugeriu Jade e quando todas a olharam céticas, completou. – Tá, eu sei que não foi coincidência.

– Não acredito que fiz algo assim e sequer percebi. – Lily murmurou ainda assustada.

– Não foi sua culpa. – Disse Tory imediatamente.

– É, você não sabia que era capaz de fazer algo assim. – Completou Vick. – Na verdade, parece que ainda há muitas coisas que não sabemos. Só precisamos redobrar os cuidados.

– Redobrar... Estamos treinando há um mês e quando eu pensava que já não era mais um perigo a ninguém, acontece isso. – Disse Lily começando a andar de um lado para o outro. – Talvez Jacobs tenha razão. Talvez Fury tenha razão. Talvez...

– Ok. Pode ir parando. – Cortou-a Tory. – Você sabe que eles não são confiáveis. Só está falando isso porque está nervosa, então trate de se acalmar. Não vamos nos precipitar. Esse foi um pequeno acidente que não deixou nenhum ferido. acidentes acontecem com qualquer um.

– Sim. Sempre soubemos que não seria fácil. – Concordou Bella.

– Sim, mas...

– Lily. – Interrompeu-a Vick. – Não podemos confiar em nenhum deles para nos ajudar. Só podemos contar com nós mesmas. – Pensou. – E com Charlie. E aparentemente com Alex e Jai. Qualquer outra pessoa a mais pode significar a nossa morte.

Silêncio.

– Você está certa. Todas vocês estão. – Disse Lily por fim, respirando fundo. – Um passo de cada vez... E o nosso próximo passo é ir até a fábrica porque vocês precisavam saber o que Alex e Jai descobriram. Também não vão acreditar nisso.

~*~

– Bom, acho que não vamos ficar sabendo tão cedo assim. – Murmurou Jade olhando em volta.

– Talvez eles tenham se atrasado. Nós nos atrasamos... – Sugeriu Tory.

– Devem ter ficado para ajudar Kelly e Amber. – Falou Lily sentando-se e apoiando a cabeça nas mãos.

As meninas se entre olharam.

– Não pode continuar se culpando, Lily. – Disse Bella.

– Eu sei, é só que...

– Além do mais, nada que acontecer com aquelas duas não vai ser algo que elas não mereçam.

– Jade!

– Não sei do que você está falando, Bella. Você também pensa exatamente assim. – Defendeu-se Jade. Lily riu levemente.

– Você está certa, Jade. Todas nós sabemos que está. Nada que aconteça com elas não vai ser merecido, é só que...

– Isso tem a ver com o Alex e com o Jai, não tem? – Vick perguntou sentando-se ao lado de Lily.

Lily levantou a cabeça e a encarou.

– Estamos muito possivelmente ferradas. – Começou Lily. – Qualquer erro que cometermos pode resultar na nossa captura por parte do Fury, ou na nossa morte, por parte do Jacobs. Ou seja, não podermos cometer erros. Se não tomarmos cuidado, nossas vidas nunca mais vão ser as mesmas. Provavelmente nem vamos ter uma vida para nos preocuparmos se ela foi ou não estragada... Precisamos descobrir qualquer coisa que puder nos ajudar e os dois estão descobrindo coisas que podem nos ajudar, mas ao invés de estarem aqui, estarem aqui por mim, estão lá com aquelas duas!

Sentia-se tão estúpida por acreditar que eles estavam realmente preocupados... Se estivessem preocupados com ela, estariam ali. Por que pensou mesmo que eles fossem começar a se preocupar com ela agora só porque de repente havia ganhado poderes sem explicação? Estúpida.

– Vamos lá, Lily... – Bella tentou começar a animá-la, mas não parecia saber ao certo o que falar. – Você nunca precisou deles antes, então com certeza não precisa deles agora.

– É verdade. Principalmente agora que você tem esses poderes incríveis. – Continuou Tory fazendo-a sorrir levemente.

– Ok, já percebi que estou fazendo tempestade em copo d’água. Podem parar agora. – Falou tentando soar divertida.

– Além do mais... – Continuou Jade sentando-se do seu outro lado e ignorando-a de propósito, o que fez com que o sorriso de Lily ficasse maior. – Você sabe que sempre vai poder contar com a gente no que se tratar daquelas duas vacas nojentas. – Disse Jade empurrando Lily levemente com o ombro.

– Ainda mais agora que pode nos chamar só com o pensamento e vamos estar seja lá onde rapidinho pra te ajudar no que for. – Falou Vick.

– É uma pena que eu não tivesse esses poderes quando elas me trancaram naquele armário, lembram? – Alguma coisa havia mudado porque agora já não doía mais lembrar dessas coisas.

– E como... Foi muito difícil te achar. – Disse Sam fazendo-a rir.

– Era só ter rastreado meu celular.

– Porque com certeza sabíamos fazer isso. – Completou Jade.

As meninas riram levemente com a lembrança. Com tudo o que estavam passando, lembranças que antes eram ruins pareciam ser o paraíso perto dos problemas que agora tinham. Até Lily precisava admitir que Amber e Kelly eram muito mais fáceis de lidar do que Jacobs e Fury.

– Ah, teve também o da tinta. – Lembrou Tory. – Quando também precisamos te encontrar para levar outra troca de roupas porque você não podia voltar para casa toda suja.

– Esse eu ainda pude ir falando o caminho. – Disse Lily. – E foi um sacrifício tirar toda a tinta verde do meu cabelo.

– Foi na mesma época em que você precisou cortar a franja? – Perguntou Bella.

– Não. O incidente com o chiclete foi bem depois... Já tinha dado pra me livrar da tinta.

– Essas coisas parecem que aconteceram em outra vida. – Suspirou Vick.

– Pois é... Embora hoje tenhamos comprovado de que não importa o quanto a vida pode estar complicada, Amer e Kelly provaram que vão estar sempre por perto para nos lembrar que ainda existe um pouco de normalidade para nós. – Disse Lily.

– É, elas estão evoluindo. – Comentou Jade. – Como hoje, por exemplo... Quem diria que passariam de pequenas humilhações apenas para o próprio prazer, para o roubo de toalhas e roupa do vestiário feminino com o risco de toda a escola ver?

Lily sorriu e balançou a cabeça. Como ficar qualquer coisa além de bem na presença dessas garotas?

– Bom, eu... – Mas não continuou porque o som de passos a fez gelar.

– Elas fizeram o quê?!


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Notas finais do capítulo

ATENÇÃO: Qualquer semelhança com a mutante Jean Grey é mera coincidência. Repito. Qualquer semelhança com a mutante Jean Grey é mera coincidência.
Sou apenas uma grande fã... kkkkk E não pude deixar de me inspirar nela.
Agora deixa eu ver...
1- Tudo nessa história está interligado, inclusive o motivo para os nomes delas serem de pedras preciosas. Não sei se alguém não entendeu, ou se eu não consegui passar isso direito pra história, mas agora está explicadinho aqui.
2- Eu pesquisei. Juro que fiz meu dever de casa, mas não faço ideia se mesmo assim acabei escrevendo alguma besteira na parte dos testes. Se sim, por favor me avisem para que eu possa corrigir. Obrigada.
3- Próximo capítulo: O confronto direto.
É isso... Espero que tenham gostado.
Comentários?
Até o próximo.
XOXO



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