Saint Seiya Initiu Legends: Saga Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 22
Torneio Galáctico - Quebra de Sigilo




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Santuário de Athena - Grécia

Os passos seguiam firme pelo corredor com sua capa esvoaçante. Quando, diante do Patriarca, dobrou seu joelho e curvou seu corpo para frente em sinal de obediência. A indumentária dourada reluzia, assim como seu punho parecia exibir um misterioso brilho.  Seus olhos semicerrados se elevaram até à figura imponente à sua frente e sorriu.

— Shura de Capricórnio se apresentando e trazendo novidades do Oriente... Grande Mestre. — disse o espanhol com leve sotaque, mas mantendo um tom cínico ao se referir ao título. — Segui as pistas e fui levado ao Japão como disse, confirmando as suspeitas de um torneio onde Cavaleiros de Bronze disputarão por uma 'Armadura de Ouro de Centauro', como eles mesmo dizem. 

"Armadura... de Centauro? Então é realmente...", pensava o Patriarca baixando o rosto.

— Descobri também que o Cavaleiro que disputou pela armadura de Pegasus também se encontra nesse torneio, junto de alguns outros Bronze. Pensei eu mesmo puni-lo, mas... — Shura sorriu com malícia ao levar o braço direito diante do rosto.

— Fez bem em não agir. Precisamos saber mais sobre como essa armadura foi parar no Oriente e o que pretendem reunindo esses Cavaleiros... — disse o Patriarca num tom firme.

— Acredita que essa jovem seja... — Shura ficou mais sério nesse momento.

— Há mais de 15 anos ele mapeou possíveis localizações das armaduras desaparecidas há mais de dois séculos, desde a última Guerra Santa. — dizia o Grande Mestre. — Se essas informações chegaram às mãos erradas, o Santuário estará exposto, e esse torneio ridículo apenas nos deixam ainda mais vulneráveis. 

— E o que pretende fazer quanto a isso? — indagou Shura preocupado.

— Já estou tomando todas as providências, a começar pelo resgate da Armadura de Ouro que chamam de Centauro e trazê-la de volta ao Santuário. — dizia o Grande Mestre. — Para isso, existe um espião entre eles enviando todas as informações precisas para quando for necessário agir.


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Hospital da Fundação

A imagem era desfocada, e quanto mais apertava os olhos, pior parecia ficar. A luz diretamente sobre ele também não ajudava muito, fazendo com que elevasse o braço direito enfaixado e imobilizado frente ao rosto que era virado para o lado. Na mesa de cabeceira, um vaso pequeno com flores da estação recém trocadas como era perceptível pelas folhas firmes e cores fortes. Na boca, ainda sentia o gosto ferroso, o que o fez fazer uma careta. A dor no corpo ainda existia, mas em menor intensidade. Levou a mão à fronte, percebendo a mesma também enfaixada.

Pouco a pouco voltava sua lucidez e ciente do que havia acontecido. As imagens surgiam em sua mente como um filme em fragmentos. Ambos lutando desprotegidos de suas indumentárias que foram destruídas durante o combate, movidos pelos seus egoísmos. Um estava a desafiar o orgulho de outro e sobrepujar suas forças e capacidades até que, de repente...

— Seiya? — ouviu alguém chamá-lo. Uma voz conhecida. Ainda estava deitado, e mover-se parecia coisa mais difícil que ele poderia fazer naquele momento. — Seiya, pode me ouvir? Sou eu. Miho!

A cama pareceu se mover, levantando seu corpo de modo a deixá-lo sentado. Sem mais aquela luz sobre seu rosto era um alívio e sua visão começava a tornar-se mais nítida. Miho estava diante dele sorridente, mas com uma visível olheira. O cabelo estava preso como sempre - dividido ao meio e preso em cada lado por uma fita discreta e invisível meio às mechas - e usando um macacão jeans com calça comprida e blusa básica branca. 

— Já estava preocupada. Finalmente acordou. — disse animada, colocando sua bolsa numa poltrona próxima. — Como se sente? Sente alguma dor ainda?

— O-Onde... Onde estou...? — balbuciou Seiya com alguma dificuldade. Ainda parecia bastante grogue. Percebeu fios preso a ele, possivelmente de um soro com algum remédio o deixando naquele estado e que fez menção de tirar, mas impedido pela Miho. — Quan-Quanto... Quanto tempo eu... eu dormi?

— Três dias. — respondeu ela prontamente e impedindo-o de remover os aparelhos em seu braço. — Acordou um dia depois da cirurgia, mas como sentia muita dor, os médicos o deixaram dormir e reduzindo os remédios aos poucos. Está no Hospital da Fundação e não vai fugir como na outra vez!

— Três dias...?! — Seiya lamentou, levando a mão atada ao rosto e coçando entre os olhos. Pediu por água e atendido por Miho. — O Shiryu... O que aconteceu…?

— Ele está bem! Você o salvou, Seiya. Não Há o que se preocupar. Agora, fique aqui e vou chamar o médico. — disse ela arrumando o cobertor e deixando o quarto.

Seiya a assistiu sorrir e sorriu de canto, apesar de sentir um curativo nos lábios. Saber que tinha conseguido salvar o Shiryu era uma ótima notícia. Por alguma razão a sua mente quanto ao resultado daquilo era um grande vazio, como se tivesse perdido os sentidos antes mesmo de concluir seu intento. Tudo à sua volta se silenciou e ele nem mais sentia seu corpo até aquele momento que abriu os olhos, três dias depois.

Quando Miho voltou com o médico, ele fez todas as avaliações e suspendendo mais alguns remédios às enfermeiras seguida de novas outras orientações, das quais Miho ouvia com atenção, assim como Seiya. No entanto, também mantinha sua mente distante. Quando ficaram novamente sozinhos, pediu a amiga para contar o que exatamente aconteceu, provocando estranhamento na jovem sobre aquilo.

Porém, levando em consideração os acontecimentos, do traumatismo sofrido, cirurgia e remédios, era aceitável aquele esquecimento - embora nada a surpreenderia mais que ele mostrar-se bem mais consciente após tudo que aconteceu. Uma pessoa normal não agiria como ele naquele momento.

Ela narrou os acontecimentos daquela noite no Torneio Galáctico. Seiya ouviu tudo com o máximo de atenção. Havia fatos que não acompanhou, como o grito do público mostrando apoio e gritando seu nome e dos companheiros incentivando-o e o ajudando.

A sua única lembrança era uma única voz ecoando em sua mente pedindo que se levantasse, que queimasse seu cosmo e que seria capaz de realizar o feito. E quando tomado pela dúvida se seria capaz de deferir o ataque no ponto certo, foi guiado por asas douradas que iluminaram seu caminho criando uma linha até o punho do dragão. Esta era sua única recordação naquele momento antes de ser engolido pela luz e despertar naquela cama de hospital.

Coube a Miho explicar que seu golpe fez o coração de Shiryu voltar a bater e ser trazido para o hospital para novos exames e ficar em observação, recebendo alta na tarde seguinte. Comentou que houve visitas de colegas e que até mesmo viu Saori no hospital, mas que não entrara no quarto. Aquilo até surpreendeu Seiya, mas nada o intrigava mais que aquela ‘borboleta dourada’ como ele mesmo passou a chamar, mentalmente.


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Uma pilha de jornais se encontrava sobre a mesa, e todas com as mesmas manchetes acerca do Torneio Galáctico. Não somente havia os principais e influentes jornais japoneses como também da europeia e americana:

— DRAGÃO SALVO! - Oponente é salvo da morte

— PEGASUS MASSACRA O DRAGÃO E O SALVA DA MORTE

— TORNEIO MORTAL: MORTE E RENASCIMENTO ENTRE GLADIADORES

— A VITÓRIA DE PEGASUS E A MORTE DO DRAGÃO

— DIREITOS HUMANOS INVESTIGARÁ TORNEIO GALÁCTICO

— MORTE AO VIVO: A LUTA ENTRE PEGASUS E DRAGÃO

— GOVERNO ESTUDA PROIBIR EXIBIÇÃO DO TORNEIO GALÁTICO.

— Já se passaram três dias e continuam a falar do Torneio Galáctico. — comentava Jabu virando um dos jornais. — Alguns são bem sensacionalistas.

— Isso indica que mesmo após três dias ainda somos notícia em todo mundo, o que é muito bom. — comentou Saori com leve desinteresse e deixando a xícara de seu chá sobre a mesa. — Voltaremos com o torneio neste fim-de-semana. Após o hiato e tudo sobre os ingressos terem sido resolvido, não tem por que adiar mais. 

— Pretende ainda falar com a imprensa? — indagava Jabu enquanto recolhia os jornais. 

— Já enviei uma nota para a imprensa. Não há necessidade de um pronunciamento meu. — e tomava um biscoito, comendo sutilmente enquanto olhava em direção ao jardim. — Pode levar esses jornais, Jabu.

Ele assentiu, recolhendo cada um deles. Porém, seus olhos recaíram momentaneamente sobre a jovem Kido. Durante o torneio, tinha certeza do que viu e conversou brevemente com Tatsumi que compartilhou também de suas impressões. Ao longo daqueles dias, ambos se mantiveram atentos e próximos o bastante de Saori, mas nada aconteceu de tão extraordinário.

O que era notável pelos dois era o visível olhar de cansaço de Saori desde a última apresentação do Torneio Galáctico. Estava inquieta ao longo dos dias querendo saber cada atualização do boletim médico de Seiya e Shiryu além do recolhimento de suas armaduras no Arena Coliseu. Quando Shiryu recebeu alta, deixou disponível um quarto com acompanhante no prédio da Fundação — onde estavam os outros Cavaleiros. Restava ainda Seiya, a quem soube que foi preciso induzir um coma para ajudar em sua recuperação e respondendo muito bem em curtíssimo tempo em relação à pessoas comuns.

Desde sua última visita ao hospital e o transtorno que presenciou, Jabu percebeu que ela se manteve em seu quarto ou no escritório que pertenceu ao seu avô, fechada para todos — com exceção de Tatsumi quando relatava as últimas informações de tudo um pouco. 

“Será que ninguém viu aquilo além de mim? Naquele momento, será que ela...”, pensava Jabu quando percebeu a aproximação de alguém e vendo Tatsumi na porta batendo para que chamasse a atenção da jovem, olhando-o por cima dos ombros.

— Trouxe notícias do hospital, Srta. Kido. Seiya acordou e apresenta grande melhora em seu quadro clínico. — disse Tatsumi entregando uma pasta com selo do Hospital da Fundação.

Jabu, que já havia recolhido o jornal, apenas se despediu e trocando um rápido olhar com Tatsumi que assentiu. Uma serviçal de cabelos castanhos-escuro e mechas onduladas caindo sobre a face era agora quem se aproximava para recolher a bandeja de chá.

— Segundo boletim médico emitido nessa manhã... — dizia Tatsumi vendo Saori virar-se e tomar a pasta em mãos. — Seiya reagiu bem aos medicamentos e os suspenderam hoje. Ele está bem comunicativo. Aquela jovem, Miho, ainda o acompanha no hospital.

Saori folheava a pasta e esboçou um sorriso, de alívio, ao ouvir aquilo. Até o próprio Tatsumiu desenhou um sorriso em seu rosto naquele momento. Viu a jovem recostar-se na cadeira enquanto fechava a pasta e levar a ponta dos dedos à fronte e descer até a boca, batendo com o indicador frente aos lábios.

— Uma preocupação a menos. — disse colocando a pasta sobre a mesa e se levantando. Arrumava o vestido de manga que usava e caminhando dentro da varanda. — Informe essa nota aos jornais sobre Seiya. Certamente isso acalmará mais os ânimos. 

— Imediatamente, Srta. Kido. Quanto à jovem Eiri, será tomado alguma providência? — questionou Tatsumi, e aquilo fez Saori desviar o olhar momentaneamente para o jardim. 

Quando esteve no hospital, logo na manhã seguinte, foi abordada por Eiri, outra jovem que trabalhava no orfanato junto com Miho. O que a levou a fazer cobranças e ameaças como aquela certamente foi pela carga emocional da amiga durante o combate e pelo estado grave em que Seiya se encontrava naquele momento. Uma pessoa comum certamente não suportaria danos como aquelas que um Cavaleiro foi submetido, e talvez temendo a isso falara aquelas palavras um tanto desnecessárias.

Tudo foi dito numa sala particular do médico responsável que deixou Saori sozinha com a jovem, acompanhada de Tatsumi e Jabu — este que queria levar a garota para longe dali, mas contido pela própria herdeira dos Kido que deixou que a jovem desabafasse enquanto brincava com o anel em seu dedo. Aguardou pacientemente o fim daquele excesso, e quando se fez o silêncio novamente que a jovem Kido se manifestou.

— Terminou o que tinha para dizer? Ótimo. — disse sem mesmo perder a calma. — Pode ir então. Vai em frente e conte tudo à mídia. Apenas saiba que, se fizer isso, eu tirarei o patrocínio da Fundação sobre o orfanato.—— falou ela  baixando os olhos  para as unhas, como se olhasse algo em seu esmalte. — Será que vai conseguir outro patrono antes de conseguir fechar as portas? Sinceramente, acho que não... Ninguém vai querer ajudar um cão que morde a mão do dono... — e ergueu os olhos azulados com um ar de desprezo. - E aquelas crianças? Para onde irão se o orfanato fechar? Pense nisso. — E Saori deixou Eiri ali, sozinha e atônita, naquela sala.

Fazer algo contra ela estava longe de seus propósitos. Fosse pelo medo ou real arrependimento, enviou uma carta de desculpas da qual Saori leu somente quando em seu quarto. Admitia seu erro e que foram palavras levadas pela emoção do momento, da qual nem mesmo Miho tinha conhecimento. Estava disposta a demitir-se se preciso, mas assegurar a amiga no trabalho junto aos órfãos a quem tanto se dedicava.

— Não. Não há nada a ser feito. Ela tem coberto Miho que tem acompanhado Seiya no hospital. Aceitei as desculpas dela, ao menos reconheceu seu gravíssimo erro. — comentou Saori ao Tatsumi que sorriu de canto com certo orgulho. — Mantenha-me informada do estado de Seiya. Estarei em meu quarto. — disse somente e seguindo para o interior da mansão, pedindo que sua refeição fosse servida em seus aposentos.

Tatsumi apenas assentiu e a acompanhou por cima dos ombros. Sorriu com mais vontade e suspirando. Por mais firme que aparentasse diante de todos, aquela notícia parecia ter removido uma grande carga sobre seus ombros.

— Faltam três meses. Como bem disse, Sr. Kido. Já começou. — comentou para si mesmo.

— Então Seiya já está fora de perigo? Que boa notícia! — disse Shun animado e se sentado na poltrona onde, até poucos instantes, estava deitado. — Será que ele pode receber visita? 

— Isso não sei dizer, Shun. O que sei é que aquela garota, Miho, é quem está acompanhando ele, desde que ele foi internado. — dizia Jabu fazendo alongamento no braço direito, abrindo e fechando a mão e fazendo movimentos circulares com ombro. — Não tem previsão de alta  ainda. Deve ficar em observação por mais alguns dias e... 

— Jabu. — interrompeu Shun fitando-o, agora com uma expressão mais preocupada. — Ainda com aquela torção no braço? deveria procurar o médico novamente. 

— Não é nada! — disse ele largando os braços e estalando o pescoço para disfarçar.  Apenas andei abusando além da conta nos exercícios e sentindo câimbra. Nada que interfira nos jogos do fim-de-semana. — disse animado, fazendo um aquecimento e chamando Nachi para uma corrida. Nem mesmo esperou o fim daquela conversa.

Shun até tentou dizer algo, mas desistiu. Viu Jabu e Nachi saírem para a corrida e se manteve observador vendo os dois distanciarem. Há alguns dias notara que ele passou usar mangas compridas como se quisesse esconder algo, e aquilo o preocupava. Desviou o olhar para o quadro na parede e viu a grade de lutas programadas para aquele turno, indicando quais os Cavaleiros que se digladiariam pelas próximas semanas.

Jabu havia vencido Ban de Leão Menor e estava marcado em roxo no diagrama até a chave daquela “quarta de final”. O seu nome, em rosa, se encontrava com a linha dele, indicando que seriam eles a estrelar a luta daquele sábado. Porém,  com o seu futuro oponente naquele estado, Shun não tinha certeza de que era uma boa ideia. Talvez devesse pedir à organização do evento para que trocasse sua luta com a próxima. Seria tempo o suficiente para convencer o teimoso Cavaleiro de Unicórnio a procurar por uma ajuda médica.

A luta seguinte, que se daria em dias depois era a de Nachi, mas seu adversário ainda não havia dado sinais de que estava chegando. Aquilo o fez soltar um longo suspiro. Havia semanas que tinha voltado ao Oriente e não tinha qualquer sinal de seu irmão. Lembrava-se da promessa que tinham feito um dia antes da viagem, e até aquele momento…

— Shun? — chamou Hyoga parando ao seu lado, trazendo uma garrafa d'água com ele e bebericando. — Tudo bem? 

— Ahn... sim. Apenas estava, pensativo. ——respondeu Shun despertando de seu devaneio. Acompanhou Hyoga passar por ele enquanto coçava a fronte. Franziu o cenho e chamando pelo russo que se voltou para ele. — Hyoga, sobre aquela luta de Seiya e Shiryu, além dos jornais, é claro, ninguém aqui parece comentar sobre isso, mas... — dizia apoiando o braço nas pernas e batendo os dedos da mão. — Acha que aquilo pode se repetir nas lutas seguintes?

Hyoga estranhou aquela pergunta, isso até olhar para a grade de lutas e compreender onde ele queria chegar. Arqueou o semblante e deu os ombros como se não soubesse responder aquilo. Sentou-se numa poltrona quase de frente a Shun e jogando os pés sobre a mesa de centro que havia ali, cruzando-os.

— Preocupado exatamente com o quê, Shun? — questionou Hyoga olhando pra ele. — Não creio que seria tão irresponsável como aqueles dois. 

— Não, não chegaria a tanto. — disse tentando rir daquilo, mas apenas baixou o olhar. — Na luta de Seiya e do Geki, a senhorita Saori passou um sermão em todos nós e sobre o cuidado que deveríamos tomar, mas até agora... — ele levantou a cabeça suspirando. — Ela não se pronunciou nada a respeito do que aconteceu. Aliás, nem sei se valeria a pena continuar desse jeito, sabe? Não sei se minha motivação para estar aqui, competindo por algo que não tenho o mínimo interesse, vale o sangue de alguém.

— Shun, vamos por partes. — comentou Hyoga acabando de bebericar sua água. — Primeiro que Saori está mais preocupada com a imagem da Fundação do que realmente com cada um de nós. Se ela foi ao hospital, vejo mais para saber se Seiya e Shiryu estavam bem suficiente para voltar para seu grande circo que é esse Torneio Galáctico. — e o russo riu com aquilo. — Nisso tenho que concordar com Seiya. 

— Mas a nossa atuação também está diretamente atrelada ao nome da Fundação, Hyoga!— Shun tentou argumentar.

— Sim, estamos, Shun. Estamos aqui quebrando inúmeras regras nesse torneio. — respondeu Hyoga de imediato se voltando para Shun. — Estou mais interessado em saber quais as reais motivações dela para tudo isso. Já se perguntou do porquê de estarmos aqui? Não somos seus fantoches, Shun. Estamos muito além desta Fundação. 

— O que quer dizer com isso, Hyoga? — indagou Shun perdido naquelas palavras do russo. — Onde está querendo chegar?

Foi então que Hyoga percebeu que estava a falar demais. Olhou para Shun enquanto bebia mais de sua água e praguejando mentalmente pela sua falta de senso naquele momento. Riu de modo a descontrair e disfarçar seu nervosismo.

— Não sei os motivos de cada um aqui, mas você eu sei que é para reencontrar seu irmão, certo? — e Shun assentiu, ainda com estranhamento, mas desviando o olhar. — Não sei os motivos de Seiya, Shiryu... E falando neles dois, não disse que iria visitá-lo?

— S-Sim, eu disse. Farei isso hoje já que não poderei fazê-lo na véspera e acho que Seiya não receberá alta até lá. — respondeu se levantando, pegando o casaco que estava ao seu lado. — Não quer ir comigo? 

— Eu dei uma passada por lá ontem, mas ele ainda estava inconsciente. E como não sei se ele está liberado, não deixarão muita gente. Vou mais tarde. — e ofereceu a garrafa como um brinde.

— Verdade, é uma pena. Enfim! — e vestia o casaco, despedindo-se. — Irei tentar visitá-lo logo. Torça por mim! — Falou ele, com um sorriso gentil.

Hyoga acenou em despedida e manteve-se sentado. O seu sorriso gentil se desfez e ele levou a mão ao cabelo, jogando a franja para trás e bufando por quase falar demais. Dedilhou sobre a garrafa e deixando-a sobre a mesa antes de se levantar. Olhou o relógio e depois à sua volta, saindo daquela sala de descanso e arrumando o casaco. Estava dentro do horário. Era o momento de repassar novas informações à fonte e receber novas coordenadas.


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Um copo vazio com algumas pedras de gelo foi posta sobre uma mesa de vidro escuro. Ergueu a mão de modo a chamar a atenção de uma jovem de cabelos escuros longos caindo pelas costas que servia outra mesa adiante meio a assédios. Ela usava um body preto com grande decote nos seios, deixando-os bem acentuados, e descendo até altura do umbigo. fechava numa saia de pregas bem curtas acima da coxa vestida com meia-calça preta arrastão.

Abriu um sorriso diante do cliente, abaixando-se para evidenciar ainda mais os seios e onde recebeu o pagamento por mais aquela bebida que ela o servia. Quando alguém se aproximou com um casaco preto de capuz cobrindo a cabeça, deixando apenas uma mecha loira visível, levantou-se e logo sendo dispensada. Nenhum pedido partiu daquele novo cliente que se sentou-se sem qualquer cerimônia, meio que escondido nas sombras de uma pilastra de ferro que havia ali.

— Ele saiu do coma. Despertou hoje de manhã. — disse sem rodeios, com a voz rouca e baixa, voltando-se para o homem com mancha no rosto bebericando seu drinque. — Não saiu nos jornais porque ela está mantendo o máximo de sigilo. Uma nota deve sair logo na imprensa mais tarde, sem muitos detalhes. 

— Isso pode ser um problema para nós? — questionou o homem mais atento à dança no palco por duas garotas até perceber uma hesitação na voz de seu contato. — Vejo que já adiamos demais. Deixem tudo preparado. 

— Tem mais uma coisa. — dizia com certo anseio. — Não tenho certeza, mas acho que não estamos sozinhos aqui. 

— Sim, eu já sei. — o homem exibiu um sorriso de canto. — Mas aquela armadura será minha!


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HOSPITAL DA FUNDAÇÃO

— Então Saori suspendeu o torneio ao longo desses dias? — comentou Seiya arrumando-se na cama.  — Eu quase acreditei na preocupação dela.

— Não fale assim, Seiya… — comentou Shun rindo daquilo. — Eu não a vejo desde quando o tiraram da Arena Coliseu. Só a vi na sala de jardim dela hoje de manhã quando estava fazendo meu exercício e ela parecia bem cansada.

— Preocupada com a imagem da Fundação, certamente! — apontou Seiya tomando sua garrafa d'água. — Comigo e com Shiryu que não foi. 

— Você está falando igualzinho o Hyoga... — comentou de maneira solta e vendo a garrafa ficar vazia. Tomou a mesma, a pedido do Seiya para que enchesse no filtro que havia no quarto.

— Vejo que o Pato Congelado e eu pensamos igual quanto a Srta. Mimada! — disse com escárnio e tomando a garrafa de volta para beber mais água. 

A sede era em demasia e era a segunda garrafa que acabava em menos de 30 minutos. Sentia um alívio, ajudando a minimizar o gosto ferroso na boca. Com a Miho dormindo tão profundamente no sofá, a visita de Shun foi mais que bem-vinda, pois teria que aguardar ou uma enfermeira no quarto ou a próprio Miho para encher a garrafa, e isso era algo da qual Seiya não queria, visto o cansaço da mesma.

— Ela não saiu daqui um dia. — comentou Shun voltando a se sentar e olhando Miho adormecida. — Ela estava muito preocupada com você, Seiya.

— Miho e eu nos conhecemos desde muito pequenos. — comentava Seiya olhando pra ela, abrindo um discreto sorriso. — Brigávamos muito, e minha irmã era sempre que nos segurava. — e mordiscou os lábios. baixando o olhar e desfazendo sorriso de há poucos instantes. — Ela quem ficou mais tempo com Seika quando fui levado para a Fundação e tem me ajudado a saber mais sobre ela, mas… — suspirou. - Sem muito sucesso. Saori é quem mais tem informações e está segurando o quanto pode.

Seiya bebia mais água, mas parou quando viu Shun abaixar a cabeça e sabia bem o motivo. Eles dois eram quem mais tinham razões para voltar, unicamente por conta de uma promessa: reencontrar seus irmãos mais velhos. Seiya esperava encontrar Seika como um acordo com Mitsumasa Kido, enquanto Shun era com seu irmão que partiu mesmo dia que ele, mas com destinos diferentes. Nenhum dos dois tinham qualquer informação concreta.

— Ikki ainda não apareceu, né? — e viu Shun menear negativamente, mas confirmando que o irmão realmente ainda não havia dado qualquer sinal. — Já cobrou isso dela?

— Não, não depois de tudo isso que aconteceu com você e Shiryu… e tenho estado preocupado com a minha próxima luta. — e percebeu o olhar interrogativo de Seiya e responder que seria com Jabu. Seiya começou a rir. — É sério, Seiya. Ele não me parece bem, e isso já tem alguns dias. Eu não quero que aconteça o que aconteceu na luta de vocês.

— Shun, relaxa, ok? — sorriu Seiya. — Shiryu e eu fomos imprudentes em lutar sem nossas armaduras. Não creio que chegarão a isso. — e Seiya acomodou-se na cama. — Eu só queria reencontrar a Seika, e largava tudo isso... — e suspirou. — Nem pensaria duas vezes.

Quando Shun o deixou, Seiya se manteve perdido em pensamentos, nas lembranças de sua última luta com Shiryu, além da imagem e voz que ecoaram em sua mente. Aquilo ainda o deixava intrigado. Sentiu uma força incomum emanar ali, algo que nunca sentiu nem mesmo quando estava no Santuário. O que seria aquilo, não fazia a menor ideia.

Olhou de volta para a poltrona e vendo Miho, ainda adormecida. Deveria estar há dias sem dormir e estava recuperando o sono perdido. Retirou o envelope que guardava debaixo da almofada com os documentos sobre Seika. Havia pedido a Miho naquela manhã que estava em sua quitinete, e voltando a ler as marcações. Focava nas páginas faltantes, estas que ainda se encontravam com Saori, e aquilo irritava ainda mais Seiya com relação à herdeira dos Kido que visava manipulá-lo. O que ela realmente pretendia com aquilo era algo que intrigava o Cavaleiro de Pegasus.

Tal como Seiya observava a tarde avançar rápido naquele dia pela janela, o mesmo também assistia Saori de seu quarto. Da sacada de seu quarto, observando cada um dos garotos caminhando pela propriedade. Aquela imagem remeteu há alguns anos atrás quando muitos deles corriam por aquela área enquanto ela apenas ficava a assisti-los ou de seu quarto, como fazia agora, ou de outros cômodos da mansão com acesso ao jardim.

— Srta. Kido? — chamou a serviçal parada ainda junto à porta com as mãos postas pra frente. — Vim saber se devo trazer sua ceia no quarto como nos últimos dias ou se descerá para jantar. 

— Traga-me em meu quarto, Kurai. Uma sopa bem leve. — dizia Saori caminhando para uma área de estudos de seu quarto, um micro escritório pessoal. — Quem me procurar, diga que já me retirei e... 

Falava Saori quando se sentou próximo à sua escrivaninha quando parou de falar. Tocava em alguns objetos sobre a mesa e abrindo uma das gavetas como se conferisse alguma coisa. A serviçal piscou aturdida por aquela reação da jovem Kido. Não se aproximou, mas perguntou preocupada.

— Srta. Kido? — chamou a serviçal. — A senhorita dizia...? 

— Faça o que pedi, Kurai. Não estou pra ninguém senão ao Tatsumi. Pode ir. — disse dispensando a jovem sem nem ao menos fitá-la diretamente.

A jovem assentiu franzindo o cenho e se retirou do quarto, deixando Saori sozinha junto a sua mesa. Ao ouvir a porta se fechando, recolheu a chave dentro de um dos porta-lápis e abrindo a gaveta. Tudo parecia em ordem, com a pasta de documento ordenado e contendo as folhas faltantes do relatório entregue a Seiya. Porém, algo chamava a atenção de Saori que era um clipe solto à mesa, exatamente um que demarcava uma daquelas folhas. "Alguém esteve aqui", pensava Saori respirando fundo.

No corredor, a serviçal desfez o sorriso simpático de poucos instantes e mantendo uma expressão mais séria. Conferiu o corredor e estava sozinha. Nenhum sinal de Tatsumi ou mesmo daquele Jabu que estava sempre a acompanhar a herdeira dos Kido. Do bolso de seu avental recolheu um pequeno aparelho. Afastou-se suficiente da porta para que não fosse surpreendida pela mesma.

— Há infiltrados na mansão. Precisamos agir. — disse num tom incisivo. — Aguardo instruções! 

"Será informada de quando agir. Mantenha-se alerta e descubra quem é", disse uma voz firme e masculina.

— Tenho minhas suspeitas e as providências estão sendo tomadas. — e desligou, mantendo um sorriso cínico no rosto.


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