Saint Seiya Initiu Legends: Saga Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 21
Torneio Galáctico - Levante-se, Dragão!


Notas iniciais do capítulo

A luta entre Seiya e Shiryu vai além dos limites. Contudo, nem tudo está perdido. Uma poderosa força se manifesta momentaneamente indiciando novos tempos para aqueles Cavaleiros.



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— O que vai ser, Shiryu? Vai tentar a sorte? — disse Seiya sorrindo de canto, lambendo os lábios cortados pelos incessantes golpes já recebidso, sentindo o gosto ferroso e o sangue ganhando seu queixo.

Do outro lado da arena estava Shiryu, respirando pesado, ainda que mantendo a postura ofensiva para seu ataque. Contudo, diferente de antes, estava a abrir e fechar as mãos incontáveis vezes, sinal este que não foi ignorado pela jovem junto aos seguranças. Ela mantinha o olhar apreensivo, mas fixo ao Cavaleiro de Dragão e em seus punhos. "Concentre-se!", pensava ela.

"É um blefe!", pensava o Dragão olhando para os punhos firmes de Seiya diante dele que parecia aguardar unicamente seu movimento para uma ofensiva. "Ele está blefando para me intimidar, para ganhar tempo... É impossível que ele tenha percebido isso. N-Não... Não pode ser possível...", continuava a pensar, respirando fundo e soltando a respiração. Transpirava ao pensar nisso, no terror incondicional que sentia sob o peso daquelas palavras de seu adversário. "Não posso me permitir ser derrotado.."

Um salto cortava o vento, e sua queda era como de uma pluma sobre uma grande pedra enquanto girava o corpo na ponta dos dedos dos pés antes de mais um salto contra a grande cascata de Rozan. O volume de suas águas era violenta, despencando de uma colina em seus 20m de altura, cobrindo toda uma parede da montanha que formava os Cinco Picos Antigos.

Shiryu treinava sob uma grande 'língua' de pedra frente a cachoeira, deferindo golpes contra essas águas e saltava executando diferentes performance de chutes, das quais muitas vezes caiu para a funda piscina presente alguns poucos metros abaixo que dava para uma segunda extensão da queda.

Do outro lado, em outra 'língua rochosa', havia um velho homem, com uma vestimenta ifu em cetim verde com mangas largas e soltas e nós em preto no peito, combinado a uma calça escura e às sapatilhas. Era um homem de idade avançada, barba branca longa que escondida seus lábios auxiliados pelo bigode que escorri até pouco abaixo do queixo. Em sua mão, uma bengala de um galho de árvore, bem esculpido e adequado para seu uso.

— Você está indo bem, Shiryu. — A voz do velho homem arranhou em seus ouvidos, soando mais alta que as águas da cachoeira. — Está indo muito bem, Shiryu, mas lhe falta atenção.

Os olhos de uma jovem que assistia Shiryu ganharam o velho homem e depois ao rapaz. Ela estava sentada sobre as próprias pernas, apenas observando a tudo aquilo.

— Atenção...? — dizia ele respirando cansado. Viu o mestre saltar diante dele, metade de seu tamanho e pele levemente bronzeada, apoiado numa velha bengala improvisada de um grosso e rugoso galho de árvore. — O que quer dizer, mestre?

— Vejamos... — dizia fazendo um rápido movimento obrigando Shiryu a reagir ao ataque de sua bengala.

Era como uma serpente se atirando contra sua presa. Apesar do tamanho e da idade, os movimentos daquele ancião estavam muito longe de serem lentos e sua força parecia superior a de muitos jovens praticantes da arte. E era assim que ele investia contra o rapaz que desviava com grande habilidade e esperava por um momento para revidar.

E foi num dos saltos de seu velho mestre sobre ele que Shiryu fez sua investida. Girou seu corpo pronto para golpear, ou fingir um. O seu punho direito avançou sobre aquele pequeno homem, mas foi contido pelo braço esguio de seu mestre. E em um movimento rápido, o ancião ergueu o punho que segurava a bengala e atingiu ao seu jovem aprendiz com o cabo grosso e rombudo, onde a mão do idoso segurava para se apoiar.

Uma pequena fisgada foi sentida em seu peito nu, percebendo onde seu mestre apontava e olhando-o com surpresa. O seu punho esquerdo havia se retraído alguns milímetros somente para trás, oferecendo aquela pequena abertura.

— A sua guarda. Baixa demais a guarda, Shiryu. Acaba se expondo demais ao inimigo. Não pode fazer isso. Em uma batalha entre Cavaleiros, baixar a guarda é o mesmo que pedir pela própria morte. — o velho mestre removeu sua bengala e apoiou-se novamente no chão. — Não deve, jamais menosprezar seu oponente, muito menos atentar-se unicamente numa ofensiva como assim o faz. Shunrei…?

A jovem se levantou, juntando as pernas levantando as mãos, batendo com o punho aberto direito sobre a esquerda fechada enquanto se curvava.

— Prepare meu banho. Hoje o dia está realmente quente. Enquanto isso, Shiryu, pense sobre o que falei, ou vai se permitir ser derrotado por um descuido tolo?

“Por um descuido tolo!”, relembrou fechando o punho com tamanha força que era visível o fio de sangue que escorria por entre os dedos e ganhando o pulso e o chão em pequenas gotas. Seria realmente Seiya capaz de derrotá-lo naquela arena? Shiryu sorriu ao pensar naquilo, rindo contidamente e depois gargalhando daquelas palavras de Pegasus. Seiya piscou aturdido por aquela reação, no mínimo demente, meio àquela luta. A mesma reação tiveram Jabu e Shun que trocaram olhares com Nachi, que meneou negativamente. Hyoga, no entanto, cerrava os olhos, e sorriu de canto.

— Acho que já estendemos essa luta demais, não acha, Seiya? — disse Shiryu colocando-se em sua posição de ataque.

Seiya mantinha os olhos atentos sobre seu adversário. Observava Shiryu levar o braço direito à frente do corpo e as mãos abertas como uma fera exibindo as garras, enquanto o braço esquerdo mantinha-se mais junto ao peito e o punho fechado virado para cima. O seu cosmo ascendia novamente, e o Dragão em suas costas respondia parecendo mover-se, urrando antes de ganhar forma e contornando o corpo do Cavaleiro.

Seiya, somente mantinha-se imóvel, sorrindo de volta. As suas únicas palavras foram em concordância enquanto abria mais seus olhos que brilhavam intensamente.

— Odeio admitir isso, mas...  — comentava Jabu com certa relutância. — Os dois são muito bons.

— Esse será o ataque final. — disse Hyoga sem tirar os olhos da arena.

Se foram as palavras ou a expressão de Seiya que impulsionaram Shiryu a tomar a iniciativa daquele que seria o último embate, não se sabe. O que era sabido era que havia o orgulho ferido e uma ameaça crescente no Dragão que se negava a entregar aquela luta. Não seria intimidado pelas palavras de alguém que fora tantas vezes subjugados naquela arena na última hora.

A sua corrida era como de um dragão avançando contra sua presa, enquanto Seiya mantinha-se como um cavalo apenas aguardando o momento certo de agir preparando suas asas. Shiryu recolheu o braço direito como se puxasse o cosmo que o circulava e concentrando em seu punho. Um movimento, e Seiya saltou em seguida, também recolhendo seu punho com seu cosmo concentrado.

O que se seguiu foi como uma propagação de uma onda que silenciou momentaneamente a todos no Coliseu. Todos os olhares estavam para o alto, assim como as luzes que estavam estáticas sobre os dois corpos de Cavaleiros a mais de 4m do chão da arena. Embora fossem alguns milionésimo de segundos, a imagem pareceu estender por longos minutos até que os dois corpos desvencilhassem e caíssem em câmera lenta.

Todos que assistiram ficaram incrédulo àquela cena. Aos olhos de humanos comuns, o que viram  foram dois corpos colidindo no alto, gerando um misto de espanto, surpresa, horror e ceticismo do quão possível seria aquilo. Alguns chegaram a cobrir os olhos, outros os lábios a segurar o grito como foi Miho que tinha os olhos marejados sem que nem ao menos percebesse. Eiri estava apenas estática. A jovem, junto aos seguranças que olhavam embasbacados para aquilo, apenas mantinha os olhos arregalados e os dentes cerrados.

A mesma imagem 'simplória' não era assim vista pelos Bronze. Cada um assistiu os Cavaleiros personificarem suas estrelas guardiãs naquele momento. Seiya, o alado Pegasus, alçando voo em direção do grande Dragão que abria sua boca pronto para devorá-lo. Foi quando houve o choque das duas forças em pleno ar, com Shiryu acertando seu punho direito no rosto de Seiya fazendo-o cuspir sangue e virar o rosto, mas não sem antes também golpear à esquerda do peito com punho brilhante de Pegasus em seu oponente. Aquilo fez o Dragão urrar silencioso antes de começar esmaecer, contorcendo seu corpo enquanto este desaparecia como se fosse cinzas levadas ao vento. Com o golpe recebido de cada um, seus corpos perderam as forças.

Saori Kido, de seu camarote, observava aquela cena bem altura de seus olhos, e tinha certeza que pôde ver os olhos de Seiya sobre ela antes de iniciar sua queda, juntamente com de Shiryu. A jovem apoiara-se no parapeito, respirando acelerado, enquanto todo o estádio parecia catatônico.  Até que chegassem ao chão, o mundo parecia ter parado, com todos prendendo a respiração até o grande baque.

O corpo de Shiryu caiu fora da arena, rolando alguns metros até parar com o Cavaleiro notoriamente inconsciente. Seiya, no entanto, teve um golpe pouco mais violento em virtude do golpe de Shiryu. Ainda que tenha usado suas últimas forças para tentar cair de pé, o impacto foi forte o bastante para fazê-lo saltar e apoiar-se nas correntes que circulavam o centro da arena, apoiando-se nas mesmas. Por alguns segundos, tudo estava mergulhado no silêncio, quebrado pelo sinal do painel que reconhecia Pegasus como vencedor. Aquilo pareceu despertar todos de um grande transe, dando início às ovações e gritos comemorativos por sua vitória.

"MAS... MAS... O QUE FOI ISSO?! QUE EMBATE ESPETACULAR! Pegasus é o vencedor dessa surpreendente batalha, senhoras e senhores. Incrível o salto que podem rever em nosso replay, direto do telão e..."

Enquanto todos no estádio comemoravam, comentavam ou reviam aquilo que assistiram, apenas Miho observava ainda um Seiya cambaleante  junto às correntes. Percebia seu corpo estremecer, a respiração pesada e dificultosa do Cavaleiro 'esquecido' na arena. Ela o chamava,  em vão meio à balbúrdia, buscando se soltar de Eiri e tentar abrir caminho pelo público excitado demais com aquele combate.

O próprio Cavaleiro piscava aturdido, olhando todos comemorarem por ele no estádio. Até ameaçou levantar a mão, mas o braço se negava a responder. Todo o seu corpo se negava a obedecê-lo naquele momento. Os seus sentidos estavam confusos. O som do estádio parecia abafada e lenta demais, sua visão tornava-se turva e vermelha.

Cambaleou pela arena, levando a mão ao rosto, lavado de sangue. Olhava em direção às arquibancadas, perdido. "Seika...? Seika...!", chamava silencioso, esticando o braço e deixando corpo pender para frente, caindo na arena diante do grito desesperado de Miho.

"A equipe médica segue em direção da arena para os primeiros socorros aos dois combatentes dessa noite. Pegasus parece ter desmaiado na arena após conquistar sua vitória sobre o Dragão. Vamos aos intervalos comerciais e voltaremos com mais informações dessa fantástica noite!"

De seu camarote, Saori assistiu quando Seiya caminhou cambaleante e caindo 'inconsciente' no centro da arena. Demorou alguns instantes até que o público tivesse notado, impactado pelo combate de alguns minutos.

— Tome todas as medidas cautelares. Quero ser informada do diagnóstico de cada um. Nenhum boletim médico deve ser passado sem a minha autorização! — disse Saori incisiva e olhando para Tatsumi que obedeceu e se retirando momentaneamente da sala. A taça em que tinha ao seu lado foi jogado contra a parede. Respirou fundo, levantando a cabeça e fechando os olhos.

As equipes médicas chegaram em poucos instantes, com uma seguindo em direção da arena onde estava Seiya. Ele, respirava com dificuldade e recebia oxigênio de um dos enfermeiros. O médico, um homem de meia idade, tomava sua pulsação e conferia sua pupila, solicitando a preparação de uma sala de cirurgia urgente e que uma transfusão de sangue deveria ser providenciada.

Não muito longe, outra equipe fazia o atendimento ao Shiryu. Após alguns exames preliminares, a médica responsável conversava com os enfermeiros, um deles se levantando e pegando o telefone. A ligação foi diretamente para Tatsumi que já retornava ao camarote onde estava uma Saori ansiosa, caminhando de um lado para outro a espera de notícias.

Ao ver a expressão de seu tutor, pareceu ler seus pensamentos. A sua expressão foi de assombro para a notícia recebida, fazendo-a caminhar pela sala perplexa e parando frente à sacda de onde assitira todo aquele fim de combate. Nem mesmo percebia, de imediato, os acontecimentos próximo à arena.

A jovem, contida até então pelos seguranças — agora caídos no chão — avançara em direção ao corpo de Shiryu que era coberto por um dos enfermeiros. A médica espantou-se ao ver a garota cair próximo ao Cavaleiro, chamando-o claramente pelo nome e tocando seu rosto, buscando despertá-lo em vão. Alguns dos enfermeiros tentaram puxá-la, mas desvencilhando facilmente deles.

—Desculpe, senhorita... — dizia a médica buscando chamar a atenção da garota de olhos vermelhos pelas lágrimas. — Senhorita, e-eu... eu sinto muito, mas... — umedecia os lábios, tocando em suas mãos sobre o dela no peito de Shiryu  — Ele... está morto.

Os olhos da jovem arregalaram-se, alternando da médica para o corpo de Shiryu, inerte naquele chão frio. Não podia acreditar que ele tivesse morrido naquela luta, negava-se aceitar isso.

— Ele certamente sofreu um infarto durante a luta. O seu coração parou... — "O seu coração...?", pensou ela ouvindo aquilo. — Tentamos revivê-lo, mas não chegamos a tempo. Eu lamento muito...!

— Ele não está morto. — disse a garota desenhando a sombra de um sorriso. Aquilo causou surpresa na médica que apenas reagiu com ceticismo. — Ele não está morto. Não ainda. — disse mais uma vez olhando para a médica.

—Senhorita, me desculpe, mas... Não, espere! — dizia quando foi surpreendida pela jovem puxando o corpo de Shiryu e virando-o de bruços. Removia os longos cabelos escuros de suas costas e sorriu, prendendo a respiração por alguns segundos.

Como imaginou, o Grande Dragão ainda estava 'vivo' em suas costas, embora seus olhos já não brilhassem e mais parecia uma tatuagem gigante no dorso. A médica e os enfermeiros nada entendiam do que ela pretendia vendo aquilo. As mãos percorrerem a imagem da criatura até ganhar o que seria o 'punho direito do dragão'. Ela sentia o local ainda quente e balbuciava algo.

A equipe médica que atendia Seiya já o havia removido para a maca e desciam da arena quando notado pela garota. Ela levantou-se acompanhando a sua remoção e sendo segurada pela médica que ainda buscava consolá-la achando ser um surto de descrença, comum de amigos e parentes de vítimas. Porém, assustava-se com a reação daquela jovem que se virou para ela com um sorriso luminoso.

— Ele ainda tem uma chance... — disse olhando para a médica e para os enfermeiros que nada entendiam sobre aquilo. — Ele... E-Ele ainda tem uma chance...! — e soltou-se deles, correndo em direção da outra equipe, pedindo que esperassem.

Os Bronze que assistiam distante, já informados do que aconteceu, perceberam todo o movimento, da abordagem da garota sobre Seiya e a intervenção do médico enquanto os seguranças tentavam contê-la.

— O que está acontecendo ali? — comentou Jabu confuso. — Quem é aquela garota? 

— Acho que vi aquela menina com Shiryu, hoje mais cedo. — comentou Nachi. — Acho que eu o ouvi a chamando de... Shunrei.

E todos se entreolharam e correram para saber o que acontecia, ouvindo apenas ela dizer sobre 'salvar Shiryu' e de 'ainda estar vivo'. O próprio Hyoga pediu para os seguranças a soltarem, sendo assim atendido e ela voltar para junto de Seiya, segurando sua mão.

— Seiya! Seiya, por favor... Você é o único que pode salvar o Shiryu! — dizia ela em prantos. Todos a olhavam sem entender o que ela queria dizer. O médico tentava intervir, mas Shun pedia-lhe calma. — Shiryu ainda tem uma chance. O deus Dragão... ainda está com ele!

Seiya apertou os olhos, perceptível a dor que sentia. Olhou em direção da jovem, de Shunrei, e a ouvia. Ela, por outro lado, segurava pouco mais firme sua mão, sendo correspondida pelo Cavaleiro.

— Escute-me. O meus mestre disse que somente o Cavaleiro que o parou pode fazer o coração do deus Dragão voltar a bater golpeando em direção de seu punho, Seiya. — dizia sem tirar seus olhos sobre os de Pegasus. Todos ouviam aquilo surpresos. Os Bronze curiosos, mas os médicos descrentes. — Você é o único que pode dar o mesmo golpe. Precisa fazer isso antes que seja tarde demais, Seiya...!

As lágrimas ganhavam sua face, caindo sobre sua mão e de Seiya. Implorava ao Cavaleiro que a ajudasse. O médico, não mais permitindo aquilo, foi ao seu encontro e a tomou pela mão, chamando-a de volta e abrindo passagem para equipe médica seguir para a ambulância já parada, aguardando.

— Lamento, senhorita. — dizia médico puxando sutilmente a garota. — Se não o levarmos urgente para o hospital ele não vai aguentar. Eu sinto muito.

— Esperem! — disse Shun olhando para o médico e para os enfermeiros. — Se ainda existe uma chance...

— Ele tem razão, Shun. — interrompeu Jabu voltando-se para o Shun. — Veja o estado dele. Seiya não tem condição alguma de fazer o que ela disse.

Shunrei desesperou-se, mas em silêncio. Soltou-se do médico e caiu ajoelhada no chão ao ver o corpo de Shiryu sendo novamente coberto, restando apenas levar a mão ao rosto, encolhendo-se porque nada mais podia ser feito. Entretanto, algo pareceu chamar a atenção de todos. A própria pareceu ouvir a voz de Seiya. Ele estava a remover o respirador sob o protesto dos enfermeiros. Os Bronze que ainda estavam ali, observavam aquilo com surpresa.

"Eu quero voltar pra lá...!", foi o que se ouviu, e o médico, incrédulo, via o jovem se levantar. Shun foi ao seu encontro, ajudando-o a sob o olhar interrogador dos enfermeiros sobre o que poderiam fazer apesar de sendo desvencilhados pelo paciente.

— O que está dizendo? Você quer morrer? — questionou o médico.

— Doutor... Se houver... uma chance de salvá-lo... e-eu quero... eu quero tentar...!— disse Seiya com dificuldade.

— Seiya... — foi a vez de Hyoga se aproximar, olhando-o nos olhos do Cavaleiro de Pegasus. — Acha realmente que pode ajudá-lo no estado em que está?

Seiya olhou para a jovem Shunrei, levantando-se e olhando-o esperançosa. Ele apenas assentiu, tentando sorrir.

— Eu preciso... tentar... E-Eu preciso... salvar... o Shiryu. Eu n-não pensei que... que fosse matá-lo... — dizia, conseguindo se colocar de pé e caminhando, a passos curtos, em direção do corpo do Shiryu.

O estádio inteiro estava parado, silencioso assistindo aquilo. Até mesmo os locutores nada diziam senão filmar aquela cena. Saori assistia do seu camarote ao lado de Tatsumi. Miho tinha as mãos juntas em forma de prece frente aos lábios e Eiri estava ao seu lado.

Todos acompanhavam Pegasus, caminhar arrastado até onde estava Shiryu, tendo o espaço aberto pelos enfermeiros. Shunrei moveu-se correndo até onde estavam os dois Cavaleiros. Praticamente jogou-se ao lado do corpo de Shiryu e puxava-o novamente de modo a mostrar o punho direito do dragão, já sem a tonalidade forte de antes.

— Precisa acertar o punho direito do dragão, Seiya. Somente assim o coração de Shiryu voltará a bater. — disse ela controlando a respiração ansiosa, e vendo Seiya concordar. 

— Isso é loucura! — comentou Jabu. — No estado em que ele se encontra, como pode executar a mesma força do golpe às costas de Shiryu. Isso pode matá-lo!

— Somos Cavaleiros, Jabu. — comentou Hyoga. — Somos mais resistentes que humanos comuns. — e avançou em direção de Seiya, juntamente com Shun e Nachi, ambos ajudando a levantar Shiryu.

Hyoga buscou apoiar Seiya, ainda cambaleante. Nachi ajudava com Shiryu e apoiando-o no corpo de Shun. Era o máximo que os dois poderiam fazer, por hora. As correntes de Andrômeda ofereceriam um apoio maior para as costas  para o eminente golpe que seria deferido. Nenhuma grande distância seria necessariamente preciso, mas o suficiente para calcular o impacto a ser dado.

Jabu apenas observava à distância, com os braços cruzados. Estava também apreensivo, não poderia esconder aquilo. Percebeu a chegada de Geki de Urso, Ban de Leão Menor e Ichi de Hidra, sem suas armaduras. Viam todo o movimento à distância e questionando o que acontecia, com tudo sendo explicado pelo Cavaleiro de Unicórnio.

Nesse ínterim, Shun posicionava o corpo de modo que o punho do dragão ficasse visível para Seiya, permitindo Geki de ver a imagem mitológica tornar-se cada vez mais translúcido, perturbando a todos ainda mais, principalmente Shunrei que assistia a tudo calada. "Quando o deus Dragão desaparecer completamente, a vida de Shiryu também se extinguirá", pensava Shunrei juntando as mãos em prece.

"Aqui no Coliseu a tensão ainda é muito grande. Pegasus é o único quem pode ajudar o Dragão, mas está muito ferido em virtude do combate. Todos esperam, que Seiya possa ajudar o Shiryu...!"

Seiya, no entanto, estava notavelmente fraco, quase desmaiando se não fosse Hyoga a apoiá-lo para que não fosse direto ao chão. O efeito dos medicamentos parecia já fazer efeito no Cavaleiro, somado à fraqueza pela falta de sangue. A sua respiração parecia falhar e uma enxaqueca já causava enjoos. O seu punho tremia, e foi a vez de Hyoga intervir segurando-o.

— Tenha calma, Seiya. Você tem apenas uma chance. — dizia Hyoga voltando-se para em direção de Shiryu. — Concentre-se no punho direito do dragão. — e soltava lentamente a mão de Seiya. — Concentre seu cosmo e sua força nesse golpe. Tenha foco em seu objetivo.

Seiya assentiu, respirando fundo e focando-se no punho do dragão às costas de Shiryu. Empurrou um pouco o pé direito para frente e movia os dedos até fechar o punho. "O punho direito do dragão. O punho... direito... direito...", pensava, mas aquilo parecia somente aumentar a dor, fazendo-o apertar os olhos. Hyoga percebia que Seiya estava a resistir ao máximo, mas nem mesmo ele seria capaz de suportar por mais tempo.

"Seiya... Você consegue, Seiya", pensava Miho com as mãos juntas. Não parecia piscar, mantendo seus olhos fixo no Cavaleiro de Pegasus. Todo o estádio tinha seus olhos sobre Seiya naquele momento.  Tamanho era o peso daquela responsabilidade que Seiya pareceu sentir cair sobre seus ombros e suas pernas não suportarem, fazendo-o perder o equilíbrio e cederem, sendo amparado por Hyoga sob o lamento do público.

— Vamos, Seiya, levante-se! — dizia Saori num murmúrio de seu camarote, olhando-o em direção onde estava todos. — Você consegue, Seiya. Concentre-se. Concentre-se...!

As suas mãos, finas e delicadas estavam em forma de prece. Parecia entoar um mantra, e Tatsumi tinha a impressão de sentir algo diferente emanando naquele ambiente, embora não soubesse dizer o quê. Os lábios rosados de Saori moviam-se pedindo a Seiya como se o mesmo estivesse bem diante dela, mas ganhando um tom mais firme a cada palavra.

— Seiya, levante-se. Levante-se... — dizia, e seu sorriso pareceu desaparecer, e seu tom ganhando mais firmeza. — Pegasus!

Ao dizer aquelas palavras, Tatsumi sentiu uma presença indescritivelmente forte, e ao olhar em direção de Saori, percebeu um reflexo brilhante envolvendo a jovem.

— Levante-se, Pegasus. Cumpra seu dever, Cavaleiro. — entoou ela mais uma vez, com seus cabelos esvoaçando.

Seiya mantinha a cabeça baixa, a mão no fronte. O som que ecoava era perturbador, mas algo ecoou meio ao zunido, claro e perfeito. "PEGASUS!", e ele levantou a cabeça, sentindo algo mexer diretamente com seu Cosmo. Alguém parecia chamá-lo, mas não por seu nome, mas de seu título de Cavaleiro. Olhava para Hyoga que parecia lhe falar algo, mas ouvia apenas um som abafado e lento, assim como tudo à sua volta. Tudo parecia rodar. Mesmo coçando os olhos, nada parecia adiantar.

"SEIYA!". Alguém gritou, e foi o único som da qual realmente ouviu ecoar em sua mente além e vir próximo a ele. Olhou para o lado e viu Miho bem próxima a ele.

— Vamos Seiya. Você consegue! — dizia ela meio às lágrimas.

"Miho... Shun... Hyoga... Todos esperam que eu salve Shiryu, mas...", e voltou-se para o Cavaleiro de Dragão alguns metros diante dele. Era um, mas logo tornava-se dois, e novamente um, e depois tudo perdia o foco, tornando-se turvo. "Se eu errar... Posso atravessar o Shiryu com meu punho...", pensava ele, deixando uma lágrima ganhar sua face, temendo seu fracasso naquele momento. Até mesmo se negava a ver qualquer um.

"Levante-se, Pegasus. Não há o que temer...", e Seiya arregalou os olhos ao ouvir aquela voz, quente e acolhedora novamente falando diretamente com seu Cosmo como há poucos instantes.

"Confie em você. Não há o que temer, Pegasus. Exploda seu Cosmo!". Ecoava novamente, e sem que percebesse, Seiya se colocava de pé com auxílio de Hyoga ainda que não julgasse necessário. Porém, os olhos, a visão ainda era turva e parecia nublar diante dele. "E-Eu não posso... Não consigo ver o punho direito do dragão...!".

"Não confie em seus olhos. Deixem que o Cosmo veja por você, Pegasus". Um ponto de luz surgiu diante de Seiya, com pequenas asas da qual ele conseguiu distinguir bem. Ela mantinha-se à sua frente, voando de um lado a outro buscando a atenção do Cavaleiro, e conseguindo seu intento, voou deixando um rastro de luz diante de Seiya e parando diante do punho direito do dragão, este iluminando-se e tornando nítido para Seiya.

"Eu v-vejo. Eu estou vendo o punho do dragão", pensou Seiya arregalando seus olhos e estes brilhando quase num dourado  avermelhado. O seu punho indiciou um cosmo que fez Hyoga se afastar. Nachi parecia controlar a respiração observando aquilo e olhando Shun, este preparando-se para o momento.

Os outros Bronze tinham os olhos novamente voltados para Seiya, com Geki apontando frente ao grupo para as costas de Shiryu e o dragão tornando-se cada vez para translúcido, não restando mais tempo. Num impulso, o Cavaleiro de Urso gritou, acompanhado por Ban e Ichi, acabando por incitar o público que passava a ecoar o nome de Seiya em todo o estádio. Até mesmo o painel piscava seu nome. Porém, não era aquilo que Seiya ouvia.

"Agora, Pegasus. Avance. QUEIME SEU COSMO!". Seiya abriu os braços, preparando seu punho, deixando o cosmo concentrar-se ao máximo. Cruzou os braços frente ao rosto, elevando a esquerda e recuando a direita. "Não desapareça...", gritava em sua mente. Jogou o corpo para frente, somente os Cavaleiros seriam capazes de ver uma projeção de seu cosmo transforma-se quase num cometa e avançar contra Shiryu meio a um grito que soltou dos pulmões.

— NÃO DESPAREÇA, DRAGÃO!— e seu golpe ganhou às costas de Shiryu.

Porém, invés do violento golpe contra seu corpo, ainda que capaz de sentir a pressão exercida de seu punho sobre o corpo, a força estava concentrada inteiramente em seu cosmo que ganhou as costas de Shiryu, com o punho de Pegasus seguindo a linha tênue dourada até o punho do dragão, quando a figura de asas desapareceu.

O corpo de Shun chocou-se contra a teia de suas correntes, impedindo que fosse jogado para trás com o corpo de Shiryu, suportando o impacto esperado. Após sua investida, Seiya ainda se manteve parado em posição de ataque, mas colocando-se de pé e cambaleando, recuando alguns passos enquanto esperava ter conseguido atingir o objetivo. O estádio que o chamava, calou-se, e todos pareciam ansiosos por um resultado, incluindo os médicos e enfermeiros.

Um som ecoou aos ouvidos de Shun, e somente ele de início. Conforme as palpitações aumentavam, a criatura mitológica às costas de Shiryu contornava em tons fortes até que os olhos do dragão voltassem a brilhar, com as batidas do coração conseguindo ser ouvidas pelos Bronze e até mesmo pelos médicos que se aproximavam quando Shun deitou novamente Shiryu no chão.

A médica que o consultara usava seu estetoscópio. Porém, nem mesmo precisou de dizer qualquer coisa quando Shiryu abriu os olhos, reagindo com uma busca de ar. O painel  anunciava de imediato: 'O DRAGÃO ESTÁ SALVO!', ouvindo ovações de toda a plateia com uma salva de palmas.

Shunrei chorava agradecida, indo ao encontro de Seiya amparado por Hyoga e em seguida por enfermeiros com as macas para o recolhimento dos dois. Agradeceu curvando seu corpo para frente e depois indo de encontro ao Shiryu. Miho também se aproximou, mas de Seiya. Ela o acompanharia na ambulância, enquanto Eiri apenas observava a amiga, até então tão tensa, ao lado do Cavaleiro de Cisne. Trocaram breves olhares, mas logo se afastaram.

Os Bronze também vibravam, com exceção de Jabu que parecia ser despertado de um breve transe. Seus olhos estavam em direção do camarote onde se encontrava Saori, vendo-a ainda próxima à sacada até que luzes refletiram e impedindo uma melhor imagem. Somente depois pareceu se dar conta do salvamento de Shiryu apesar de toda ovação eclodindo no estádio.

No camarote, Tatsumi estava estático olhando em direção das jovem Saori Kido que, fechou os olhos e estes tornaram-se simplesmente os claros da qual ele sempre conheceu, antes do azul intenso de poucos instantes. Ela se voltou para ele com largo sorriso, os olhos lacrimejando sutilmente e que ela limpou com a ponta dos dedos. Ela falava, mas Tatsumi ainda parecia hipnotizado, até se dar conta quando a viu diante dele.

— Tatsumi!? — ela franziu o cenho. — Providencie para que sejam enviados ao hospital e sejam mantidos longe do assédio da imprensa.  — e ele assentiu, roboticamente, até deixar aquela sala.

Uma vez sozinha, Saori sorriu, levando as duas mãos ao rosto e girando, antes de cair sentada em seu trono e recostar a cabeça fechando os olhos. Nem mesmo percebeu o báculo brilhar, ainda que sutilmente, e o círculo ser fechado por asas que se elevarem, ganhando novamente a sua forma e silenciar-se.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente pedir desculpas. Foi uma fase complicada e estou retomando aqui, este aos poucos. Não desisti desse projeto de releitura. Concluindo esses dois capítulos que foi o mais tenso, por hora, e ainda fechar o arco com muitas surpresas. Até aqui, certamente perceberam que algo está mais extensivo que o original, né?

Desde que passei a fazer essa releitura os capítulos tem ficado pouco maiores, principalmente nesses dois últimos. Tentarei, juro, manter um limite de 4000, o máximo. Porém, esses dois últimos foi difícil cortar e optei por manter nesse tamanho.

Nos próximos capítulos...
Um novo personagem chega ao Torneio Galáctico, ao mesmo tempo que novas peças do tabuleiro se movem e ameaças começam a sair das sombras. O que serás que nos espera os Cavaleiros?



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