Saint Seiya Initiu Legends: Saga Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 20
Torneio Galáctico - O Voo de Pegasus


Notas iniciais do capítulo

A derradeira luta entre Pegasus e Dragão continua, e num estágio jamais imaginado pela herdeira dos Kido.



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O público vibrou uníssono quando viu Seiya se levantar, cambaleante, mas decidido. Shiryu se virou muito lentamente e observando aquilo com uma mescla de surpresa e indignação. Esperava realmente que ele não mais se levantasse. A armadura estava parcialmente destruída com fissuras nas botas, as braçadeiras destruídas junto com seu elmo, sem contar com os ferimentos dele que não deveriam ser poucos. 

— Você recebeu duas vezes meus golpes, a sua armadura está destruída... Como ainda pode se colocar de pé? — indagou Shiryu impressionado. — Por um acaso é imortal? Por que simplesmente não desiste, Seiya!? Não existe a menor chance de me derrotar...

— Não, Shiryu... — disse Seiya cuspindo o sangue. — Não vou desistir... Não agora que seu como derrotá-lo! 

Shiryu recuou um pouco somente, se negando acreditar naquilo que ouvia. "Será que ele enlouqueceu? Não. Seus olhos estão determinados e está muito mais confiante. O que ele pretende fazer?", pensava Shiryu. Mas muito além disso, era o próprio sentir o cosmo de Seiya, pela primeira vez naquela luta, intimidá-lo, e aquilo, de certa forma, o fazia acreditar que poderia ser derrotado.

— Seiya está louco? — disse Nachi vendo Seiya se levantar. — O que ele pode fazer com aquela armadura destruída? 

Seiya está desesperado! — afirmou Jabu de braços cruzados e meneando negativamente. — Com uma defesa e um ataque tão preciso, Seiya não tem a menor chance.

— Na verdade existe uma chance. — disse Hyoga surgindo no corredor, com seu semblante sério e olhar incisivo, voltado para a arena. Todos se voltaram para ele surpresos uma vez que ele não estava ali até o último momento. Hyoga parou ao lado de Shun levando uma mão á cintura e mantendo o outro braço pendido na lateral do corpo. — E Seiya já sabe como fazer isso, mas só terá uma chance.

Todos, Shun, Jabu e Nachi, alternaram seu olhar de Hyoga para Seiya com incredulidade. Mesmo o público parecia não acreditar no que via. Miho respirava forte, como peito subir e a descer incessantemente.

— Agora entendi, Shiryu. Sei como vencer seu escudo e seu punho! — disse Seiya fechando seus punhos, deixando Cosmo envolver seu corpo. Aquilo fez com que Shiryu o fitasse surpreso, questionando-se daquela ação tão irresponsável e desesperada quando o viu avançar contra ele.

"O que ele pensa que está fazendo avançando pra cima de mim desta maneira? Que loucura... Se está querendo se matar, que assim seja!", pensou Shiryu levantando o braço com seu escudo. No entanto, o pulsar que vinha de Seiya permitiu que seu corpo se transforme no próprio meteoro avançando contra o Dragão. "Como? Ele se transformou... num cometa?!", e os olhos de Shiryu se contraíram ao ver apenas o punho de Seiya vir em sua direção, e um choque cegou a ele naquele milionésimo de segundos.

"O que foi isso? O que aconteceu aqui? De repente tudo se perdeu numa grande explosão de luz quando Pegasus avançava contra o Dragão e... MINHA NOSSA!!!" 

E realmente, nada parecia ter sido visto por qualquer um. Um silêncio se instaurou por parte do público, com o burburinho crescendo gradativamente sobre o que aconteceu. Seiya estava às costas de Shiryu, imobilizado olhando para seu punho, os olhos ainda arregalados. O seu punho estava com fissuras que se alastravam por todo o seu braço, até que o mesmo esfarelou.

"Co-Como foi que... que ele fez...", indagava-se Shiryu até sentir o cosmo de Seiya crescer novamente, fazendo-o se virar após um salto para ganhar distância. Novamente Seiya desferia seus meteoros em sua direção do Cavaleiro de Dragão que usava o escudo para se proteger. Seiya chocou-se contra o mesmo, destruindo o restante de seu elmo. Com o choque, recuou alguns passos cambaleante antes de cair ajoelhado no chão, aos pés de seu oponente, este que o olhava abismado para seu escudo se partindo, destruído.

— O Seiya... O Seiya conseguiu destruir o punho e o escudo do Dragão!? — comentou Jabu descruzando os braços, piscando aturdido.

— Seiya também foi prejudicado nesse seu ataque suicida, mas... o que foi que aconteceu? — questionou Nachi.

Shun apenas estava paralisado, sem tirar os olhos da arena. O vídeo no telão tentava retratar o que aconteceu em câmera lenta, com todo o público apontando e querendo entender o que houve. Miho era a única a manter os olhos para a arena com as duas mãos frente aos lábios aterrorizada com o que viu.

— O Seiya... — dizia Shun num fio de voz, conseguindo atrair a atenção dos outros. — Ele... Ele simplesmente... desapareceu e... nem mesmo Shiryu foi capaz de entender o que aconteceu. Tudo aconteceu rápido demais!

— Seiya se atirou feito um louco pra cima de Shiryu... — comentou Nachi olhando na tela. — Mas depois, tudo desaparece! 

Mesmo Shiryu buscava assimilar o que aconteceu, olhando em direção de Seiya, arfando, sem ter certeza do que viu acontecer diante de seus olhos.

Foi um lampejo, mas Seiya atingiu uma incrível velocidade naquele segundo, sumindo diante de seus olhos, o que o surpreendeu. Viu Seiya avançar, seu corpo transformar-se quase num cometa e sumir, percebendo seu punho já bem diante dele, restando apenas deferir um golpe de modo a chocar-se com seu braço, e foi então a surpresa.

Seiya abriu sua mão e segurou aquele punho draconiano de modo, enquano seu outro braço 'puxou' aquele com o escudo de modo ambos se chocarem. Um simples atrito de forças inversas que 'rasgou' as duas armas, criando uma explosão de luz por conta dos cosmos de ambos. Naquele milionésimo de segundo, Seiya saltou para as costas de Shiryu e sendo preciso agilidade para deferi seus golpes, mais uma vez, contra um desnorteado Shiryu que, previsivelmente, usaria o escudo em sua defesa. Porém, uma vez danificado pelo golpe anterior, embora tenha suportado o ataque de modo a assegurar o Cavaleiro, não resistiria e se esfarelou diante dos olhos incrédulos do seu detentor.

A defesa e ataque do Cavaleiro do Dragão não mais existia e Shiryu estremeceu ao constatar aquilo.

— Foi um ataque suicida! — disse Shun finalmente. — Seiya poderia ter morrido nesse ataque se não... — e se calou, franzindo o cenho. Teria sido somente ele a perceber aquilo?

— Foi um risco, mas ele não tinha outra opção senão tentar. — comentou Hyoga com a mesma tranquilidade de outrora, soltando um suspiro até. — Trata-se de uma lógica sobre quando duas forças se enfrentam. Ou elas se anulam ou simplesmente se destroem por exercerem o mesmo poder de impacto. Seiya também pode ter se lembrado de um provérbio chinês sobre o encontro da lança mais forte do mundo contra o escudo mais poderoso. O que assistiram, é a resposta da contradição.

— Seria o fim da batalha? ——indagou Nachi se voltando para Hyoga, vendo-o apenas dar os ombros.

— Aparentemente... sim. Sem seu punho e seu escudo, Shiryu não tem muita chance, mas Seiya também não está em sua plena condição. — respondeu Hyoga.

um instante, toda a Cúpula do Coliseu pareceu silenciar-se. Shiryu ainda estava de pé, olhando perdido para a arena. Em sua mente, a imagem de Seiya vir em sua direção... desaparecer... ressurgir e tudo aconteceu. Voltou-se para ele caído no chão, tentando se apoiar, mas não encontrava forças para isso. Sentia seu corpo pesar, fazendo a dor aumentar.

— Seiya não tem mais condições de lutar... O que Shiryu faz parado no meio da arena? — comentou Jabu sem entender do porque Shiryu ainda paralisado.

— Ele estaria morto, é verdade, mas Seiya ainda vai se levantar e Shiryu sabe disso. — respondeu Hyoga à pergunta de Jabu com um cinismo da voz que fez o cavaleiro de Unicórnio voltar-se para ele. — Independente de quem sair vitorioso hoje... —  e sorriu de modo arrogante e indiferente. — Não é algo que terei de me preocupar.

— Srta. Kido? Acha que a luta está encerrada, não é mesmo? — disse Tatsumi ao lado de Saori. — Não acha melhor encerrarmos essa luta? Se acontecer alguma coisa, será uma desgraça ao nome da Fundação e...

A jovem se mantinha calada observando Seiya caído no chão. Alternou seu olhar para o telão e vendo novamente a imagem da luta e do que aconteceu. Havia um corte, mas não por ser um problema de transmissão.

— Mande a equipe médica ficar à postos. —disse somente, mordiscando levemente o indicador. — Essa luta ainda não acabou. 

— Por que diz isso, Srta. Kido? — surpreendeu-se Tatsumi. — O Seiya está... 

— Ele não vai desistir. Ele está aqui por um objetivo, Tatsumi. Ele não vai desistir assim. — garantiu Saori.

"Eu não posso desistir. Não posso desistir agora. Cheguei até aqui para encontrar a minha irmã...! Para encontrar a minha irmã... Seika! Não posso desistir, não agora... Mas...", pensava Seiya, tentando abrir os olhos, mas por conta do sangue que escorria do corte em sua testa, ficava mais difícil. Em sua mente logo veio as lembranças do primeiro ano no Santuário, das surras em seu treinamento com Cássios. Lembrava das palavras de Marin que dizia para nunca se deixar cair.

"Por que está aqui, Seiya?", perguntava Marin. "Para que está treinando? Não disse que queria encontrar sua irmã? Pensa em desistir? Onde está sua força de vontade? Depois de tudo, vai entregar seus pontos?". Era como se ele a pudesse ouvir naquele momento.

— Levante-se, Seiya. — dizia Miho com a mão na altura do peito, com as lágrimas ganhando seu rosto. — Por favor, Seiya. Levante-se... — dizia, engolindo aquelas palavras, até que... — LEVANTE-SE, SEIYA!

Os olhos de Seiya, até então cerrados, abriram-se. Foi como se o grito de Miho ecoasse diretamente em seu cosmo. Fechou os punhos, trincou os dentes e ergueu o corpo. "Não... eu não cheguei aqui para desistir agora", pensava Seiya com seu pensamento ganhando voz. 

— EU NÃO VOU DESISTIR DE LUTAR!

Shiryu assentiu, pois assim como Seiya, estava decidido a continuar. Shiryu cruzou o braço frente ao corpo e abriu, fazendo com que a armadura reluzisse e a mesma fosse removida de seu corpo. Ela montou-se no ar, reunindo cada uma de suas partes até adotar a forma de uma estátua de Dragão. Ela logo desmontou-se novamente em inúmeras engrenagens e transformando-se numa espécie de urna guardando o brasão de um dragão. O que restou em Shiryu foi apenas uma calça fortalecida de malha preta com listas brancas e amarelas. Na extensão no braço, apenas algumas bandagens e a perna manteve aos da armadura.

"O Cavaleiro de Dragão teve seu Punho e Escudo do Dragão destruídos no ataque de Pegasus, e agora ele está removendo a sua armadura... Ele vai lutar sem a sua armadura!? Pode isso, produção?" 

O burburinho do público aumentava gradualmente, com alguns gritos histéricos e assovios. Saori arregalou os olhos ao ver que Shiryu fez, trazendo seu corpo para frente e deixando seu pensamento ganhar voz quando murmurou sobre o que ele pretendia.

Hyoga se mostrou igualmente surpreso, ganhando alguns passos à frente e piscando aturdido, quebrando sua neutralidade com relação àquela luta. Aquela ação não era algo da qual esperava. Jabu e Nachi agiram igualmente surpresos.

— Uma vez que o escudo e o punho foram destruídos, a armadura não tem qualquer utilidade nesse momento. — disse Shiryu levantando o braço direito, onde trazia o Punho do Dragão. Um cosmo concentrou-se momentaneamente quando ele fechou a mão. — Seiya, eu vou provar que posso vencê-lo usando apenas a minha força!

Seiya assistiu Shiryu remover as partes de sua armadura e a urna manter-se no canto da arena. Ele ainda estava abaixado, apoiando-se na perna quando ouviu aquele discurso, arfando, umedecendo os lábios que foram cortados também durante seu ataque. Abriu um sorriso, meneando negativamente.

— Se é assim que deseja... Que a nossa luta seja nas mesmas condições, Shiryu... — disse Seiya se colocando de pé.

Assim como o Dragão, removeu cada uma das partes de sua armadura que se montou também no ar na forma da estatueta de um cavalo alado antes de, mais uma vez, desmontar-se e transformar-se numa urna. Posicionou-se em outro canto da arena, atrás de Seiya.

O locutor tentava dizer algo, mas parecia tão perdido quanto qualquer um do público que apontava para a arena. Nos telões apresentavam garotas delirando e gritando histericamente improvisando cartazes, enquanto alguns outros reclamavam alegando não terem pago para assistirem dois Cavaleiros retirarem suas armaduras. Outros fazendo coro com 'PORRADA! PORRADA! PORRADA!', acabando por contagiar outros grupos.

— Isso é... Isso é loucura! O que eles pensam que estão fazendo? — disse Shun assustado com o que via. — Eles vão se matar! Não podem lutar sem as armaduras... — e Shun deu alguns passos para em direção da arena onde Shiryu e Seiya se encaravam, mas foi segurando pelo braço pelo próprio Hyoga. — O que está fazendo? Eles não podem lutar assim. Se não fosse a armadura, Seiya estaria morto! Embora sejamos Cavaleiros, ainda somos humanos, com corpos frágeis a essa força... descomunal! — diz se desvencilhando de Hyoga, vendo Nachi e Jabu ainda em seus lugares. 

— Esqueça, Shun. Eles não estão preocupados com isso. Estão preocupados em vencer.  disse Jabu levando as duas mãos ao quadril. — Eles sabem disso, e ainda assim estão arriscando tudo nesse combate.

Hyoga se manteve calado, mas com seus olhos cerrados para direção da arena. Ambos eram persistentes, com nenhum deles a recuar naquele combate. Ao menos, não até que um caísse. Após sua inspeção no quarto de Saori e na leitura daqueles documentos, havia algo da qual o russo imaginava do porquê Seiya estar naquele torneio, e o nome dessa sua força de vontade era Seika, sua irmã.

Quanto a Shiryu, nada tinha dele a não ser o que estava contido na ficha, mas com informações não tão relevantes como de seu oponente naquele torneio. Isso até voltar-se para uma agitação dos seguranças numa das saídas com relação à uma jovem de tranças e de origem oriental, vestes tipicamente chinesas rosadas com flores brancas. Hyoga franziu o cenho e se voltou para a arena. Seria alguma ligação?

"Pegasus e Dragão abdicaram de suas armaduras nesse combate, levando a um risco ainda maior para esses dois Cavaleiros. Aviso que os riscos se tornam ainda maiores considerando suas técnicas e habilidades de combate..."

O público acompanhava tenso, apesar de alguns assovios e gritos de entusiasmo e mesmo de agonia, até que todos mergulharam em completo silêncio. As luzes se apagaram, focando apenas no centro da arena e para os dois, frente a frente, um a encarar o outro com suas posturas de luta.

Seiya era o mais debilitado e ferido dos dois, com cortes no queixo, lábios e testa, além do pulso quebrado e mãos feridas quando teve o punho da armadura destruído no escudo. Já estava ligeiramente pálido pela perda de sangue. Shiryu tinha apenas na mão direita, após destruir o Punho do Dragão. Ambos tinham um belo porte atlético com musculaturas definidas pelos anos de treinamento, além de uma pele levemente bronzeada.

— Diga-me, Seiya. Por que se empenha tanto em ganhar essa luta? — indaga Shiryu apontando para Seiya, mas logo recolhe o braço abrindo um irritante sorriso. — Sei que não é pela fama ou pela glória, muito  menos pela armadura sagrada... Percebo que existe uma razão profunda, tanto quanto eu... e isso que torna nosso embate ainda mais interessante.

"Não posso perder essa luta. Eu fiz uma promessa ao meu velho mestre e não posso decepcioná-lo. Ele me ensinou tudo o que sou e dedicou-se a mim todos esses anos. Tenho um dever a cumprir aqui, e não posso falhar.", dizia Shiryu mentalizando aquele momento.

— As minhas razões... Shiryu... dizem respeito... somente a mim. — respondeu Seiya com tom mais forte e incisivo. — Seja qual for suas razões, elas não me interessam, assim como as minhas não são interessantes a você. —

Seiya trouxe a mão direita que estava à frente aberta para junto do corpo fechando o punho e a outra sendo esticada em direção de Shiryu. O seu cosmo aflorou como se duas asas abrissem às suas costas antes de um cavalo se colocar de pé, com os olhos brilhantes para Shiryu.

Shiryu apenas sorriu com aquela resposta, respondendo à postura de Seiya também com uma agressiva, dobrando o braço esquerdo e mostrando os músculos enquanto suas mão assumia posições de garras e outra passava por baixo. Aos seus pés, o seu cosmo aflorou na forma de um dragão verde que o rodeou, dobrando-se para direita e esquerda e direita antes de se voltar para a direção de Seiya com sua grande boca aberta.

O público não era capaz de sentir, mas um violento cosmo emanava do centro daquela arena. Apenas Cavaleiros ali presentes eram capazes de sentir isso, assim como a própria Saori que se encontrava de pé diante do vidro assistindo aquilo com seus olhos azuis mais brilhantes que seu natural. Tatsumi a chamava, mas o olhar de Saori estava compenetrado. Tocou no vidro e o mesmo se recolheu, abrindo para os lados e permitindo ela alcançar a sacada que ali havia na forma de uma mulher com os braços abertos em forma de asas.

— Um verdadeiro Cavaleiro deve provar seu valor. — dizia ela com a voz calma, mas ao mesmo tempo imponente. — Devem provar que são capazes de prevalecer por eles mesmos, e não de suas indumentárias sagradas. Não estão a lutar pela glória, mas deverão sobrepujar o orgulho que está envenenar seus espíritos... nem que para isso encontrem a morte.

Tatsumi ouvia aquilo com certa perplexidade. Chamou pela jovem que não atendeu, mantendo sempre seu olhar parado em direção da arena.

— Srta. Kido...? Srta Kido, o que está dizendo... — indagava ele tentando uma aproximação.

Ela não respondeu, apenas mantendo o olhar fixo à arena.

Pela primeira vez naquele torneio, o público parecia segurar a respiração de fato. Os assovios e gritos se silenciaram e todos os olhares recaíram para os dois Cavaleiros naquela arena, nus de suas armaduras. O olhar de ambos era compenetrados, como se cada um aguardasse a investida de outro. Mesmo o locutor do evento mantinha-se apreensivo, com sua respiração sendo denunciada no microfone que seu assistente desligou sem que o mesmo percebesse.

Em diversos televisores espalhados em bares, clubes, ruas e domicílios, todos aguardavam de quem sairia a primeira investida naquela fase inesperada do Torneio Galáctico. Nenhuma propaganda cortava a transmissão naquele momento.

Jabu havia se recostado na entrada que permitia acesso à área privada dos competidores, cruzando os braços e mantendo um sorriso de canto. Shun mantinha-se apreensivo, respirando controlado, enquanto Nachi parecia temer piscar e perder algum detalhe. Quanto a Hyoga, ele apenas se mantinha de braços cruzados, mais atrás do trio, com o olhar atento à arena.

Os olhos de Seiya mantinham-se bem abertos e atenciosos, embora o sangue continuava a escorrer por sua testa e pesar sobre seus cílios. Porém, isso não o impediu de ver Shiryu empurrar sutilmente a perna para frente, denotando que ele seria o primeiro a quebrar a postura e realizar a investida. Avançou sobre Seiya usando seu punho esquerdo para desferir um golpe preciso, mas Seiya esquivou no último segundo desviando o rosto e sentindo o punho soprar em sua face quando jogou o corpo para o lado apesar de sentir os reflexos lentos.

Shiryu percebeu a ação de Seiya e virou-se rápido após perceber que ele se voltara para seu lado. Aproveitaria aquele momento também para golpeá-lo naquele instante, mas assim como próprio fez há pouco, agachou-se dobrando um pouco somente o joelho e pendendo o corpo para o lado. Seria o suficiente para levantar a perna direita na tentativa de chutá-lo. Seiya só teve tempo de cruzar o braço frente ao rosto e empurrar a perna de Shiryu para o lado, o que pareceu Shiryu adivinhar o bloqueio e apoiar-se no braço esquerdo no chão e levantar o corpo, fazendo a outra perna atingir Seiya  no rosto e fazê-lo girar.

Aquela primeira ação levantou o público, provocando maior agitação e muitos começarem a vibrar. A Cúpula do Coliseu começou a ecoar em batidas e aplausos, com o locutor reiniciando sua narrativa na luta. Nos bares, todos voltaram a comentar da ação imponente a covarde do Dragão, da maestria a fraqueza de Seiya.

O público se dividia em todos os cantos. Apenas duas pessoas se mantinham neutralizadas assistindo aquilo. Uma era Miho, ainda próxima à mureta, respirando pesado, com a mão frente ao peito, assustando-se com cada movimento de Seiya, enquanto que a outra era a jovem junto aos seguranças que piscava apreensiva.

Seiya somente limpou o canto da boca e cuspindo mais sangue com aquele golpe. Shiryu, por outro lado, aproveitou o golpe e rodou o corpo, apoiado ainda no chão, e colocando-se de pé, ainda que de costas para Seiya. Com o movimento de seus cabelos, Seiya pôde reparar algo nas costas de seu oponente, lembrando um dragão que parecia se desenhar em suas costas. "Um dragão...?”, pensou ele, mas logo voltando à realidade daquele combate. Aproveitaria aquela curta vantagem e seria ele agora investir num ataque direto.

Shiryu só teve tempo de voltar-se contra Seiya, segurando seu golpe com as mãos, acabando por entrelaçar seus dedos ao dele numa medida de força intensa. O cosmo de ambos estavam a conflitar naquele momento como duas forças de compressão de grande intensidade.

"Senhoras e senhores, a luta retoma aqui na Cúpula do Coliseu com Pegasus e Dragão. Os dois estão numa grande disputa de força nesse momento, com os sensores registrando uma força de compressão de 625Kgw de Pegasus contra os 845kwg do Dragão. Com essa força seria esmigalhar os ossos de um homem comum..." 

Ambos transpiravam naquele momento, e com o sangue que escorria do alto de sua cabeça e testa, logo o rosto de Seiya estava a ficar lavado do vermelho, deixando gotas mancharem próximo aos seus pés. Se continuasse naquela disputa de força, o jovem Pegasus sabia que acabaria por ceder, e não poderia permitir abrir mais vantagem a Shiryu.

Seiya preciso exercer uma força maior empurrando o corpo de seu oponente para trás o suficiente para que pudesse encolher a perna direita e esticá-la na tentativa de um ataque mais direto. Porém, Shiryu percebeu a investida e soltando sua mão, saltando para trás enquanto assistia Seiya recuar. Dragão executou um mortal perfeito, caindo de frente, apoiando o joelho no chão, os cabelos caindo por suas costas e cobrindo o grande dragão.

— Eles precisam mais que isso. — comentou Jabu injuriado. — Enquanto ficarem a se defender um do outro, essa batalha não terá fim.

— Eles estão sendo precavidos. — comentou Shun sem tirar o olho da arena. — Eles sabem que um único erro, poderão não sair vivos dessa batalha. Estão totalmente vulneráveis sem as suas armaduras. 

— Apenas aguardam pelo momento certo. — comentou Hyoga com um ar entediado. — Aquele que baixar a guarda primeiro, perde essa batalha.

Todos concordaram com aquilo, embora ninguém ali expressasse isso. Shiryu e Seiya estavam a estudar um e outro, cada um aguardando o momento certo de utilizarem seus golpes mais poderosos de modo a findar aquela batalha. Porém, Seiya era quem mais precisava dessa concessão, de obter uma única vantagem.

A cada momento sentia-se mais fraco como se fosse a desmaiar. "Shiryu só bloqueou os meus golpes graças ao escudo, e ainda que possa se defender com as mãos nuas, seu corpo não resistirá...", pensava Seiya, enquanto buscava por mais ar.

Shiryu mantinha sua posição de luta, com o braço esquerdo cruzado frente ao peito e a direita  dobrada para cima com as mãos em garra para fora. Cerrou os olhos quando viu Seiya posicionar os braços mais uma vez, elevando a direita e trazendo a esquerda para junto do corpo. Shiryu apenas sorriu. "Previsível demais, Seiya", pensou ele sorrindo de canto. Com a esquerda concentrando o cosmo, jogou-a para frente e desferindo inúmeras rajadas de luz em forma de meteoros em direção de Shiryu.

Aquilo fez metade da Cúpula ficar de pé para assistir. Shun e Jabu ganharam alguns passos à frente buscando entender o que acontecia, sendo eles dois além de Nachi e Hyoga entenderem o que se sucedia enquanto o público apenas enxergava rastro luminosos naqueles breves segundos. Ao fim, todos apenas assistiam a expressão de incredulidade de Seiya que engolia a seco... pelo seu fracasso.

Shiryu conseguiu esquivar-se das rajadas meteóricas de Seiya de modo espetacular, como se mesmo nem precisasse se mover. Nem mesmo o punho de Pegasus foi capaz de tocá-lo, com Shiryu virando o rosto de olhos fechados e sentir apenas uma brisa, enquanto Seiya passou por ele até suas costas, paralisado ainda com o braços esticado para frente e perceber que sua investida em nada resultou.

Um breve silêncio novamente se formou, com todos assistindo desnorteados, confusos. Mesmo os Bronze ali ficaram com os olhares compenetrados, perplexos com o que viram.

— N-Não... Não pode ser...! — e Seiya se voltou, com as mãos levemente trêmulas para Shiryu, ainda de costas para ele. — Como foi que você... 

— Ora, Seiya... Achou realmente que poderia me atingir com esses meteoros, fraco como está? — Shiryu baixou a cabeça, olhando-o pelo canto dos olhos, orgulhoso em ver a expressão de incredulidade dele. — Nem mesmo precisei me esforçar tanto para esquivar-se de seu golpe. Além do mais... — virou-se um pouco somente, vendo-o por cima dos ombros. — Era um tanto previsível, você não acha? 

A expressão de assombro de Seiya era a melhor resposta que se poderia ter. Até pensou em responder algo, mas ficara tão perdido por aquilo, que buscava outro modo de ganhar vantagem naquele embate. A sua primeira investida havia falhado. Quando finalmente disse, eram mais pensamentos que realmente palavras em resposta.

— Isso... isso não é possível! Os meus... me-meteoros podem... podem chegar à velocida... velocidade do...  do som... — disse Seiya falhando nas palavras.

— Não, Seiya, é nisso que você se engana. Nem todos chegam a esta velocidade, e fraco como está apenas alguns poucos alcançaram essa velocidade enquanto que as outras nem chegaram perto. — e Shiryu riu, mantendo o sorriso irritante no rosto. — Eu tenho olhos treinados suficiente para enxergar esses seus golpes e esquivar-se deles.

— CALA ESSA BOCA! — exclamou Seiya avançando mais uma vez contra Shiryu com seu golpe.

Seiya nem bem teve tempo de executar seu golpe, pois foi surpreendido com Shiryu saltando sobre ele numa esquiva e vir golpeá-lo com seu punho do alto. O Cavaleiro de Pegasus desviou por pouco, tropeçando nas próprias pernas, mas não caindo por conseguir se equilibrar.

— Ainda quer tentar me acertar, Seiya? Desista! Já disse que esses golpes não tem qualquer efeito sobre mim. — e Shiryu se levantou, rindo em escárnio. — Seria mais honrado se desistisse, mas se deseja continuar, mesmo com isso que chama de meteoro...

Seiya cerrou os dentes e fechou os punhos com força ao ouvir aquilo, a ponto dos ferimentos da mão deixarem gotas de sangue irem ao chão. Shiryu estava a desmerecer do golpe que passara anos aperfeiçoando? Tamanha era sua raiva naquele momento que seu cosmo concentrou-se bruta em sua mão fechada, inconscientemente.

Bem lembrava de quando executou seus primeiros golpes, provocando apenas ranhuras nas pedras e nas paredes até conseguir explodi-las de fato, de suas rajadas ganharem a forma de um meteoro e agora ouvir que elas não alcançavam a velocidade precisa. Não discordava que estava fraco, mas não imaginava que estava a ponto de torná-la tão previsível... e fraca. 

— Essa luta chegou ao fim, Seiya. Enfrente... O CÓLERA DO DRAGÃO!

Os olhos de Seiya focaram em Shiryu naquele momento, vendo-o em sua arrogância e prepotência de uma vitória que acreditava ser dele. O público estremeceu mediante aquelas palavras do Dragão, levando muitos cobrirem o rosto, outros vibrarem e preparando as câmeras.

Jabu, Shun e Nachi se entreolharam assustados afirmando que aquele seria a o fim de Seiya em vista do que viram anteriormente. Miho arregalou os olhos gritando por Seiya meio aos gritos e ovações, sendo segurada por Eiri que continuava ao seu lado.

— Está pronto, Sei... — dizia puxando o braço esquerdo de seu peito  para fora quando suas palavras foram cortadas, com uma expressão de vitória dando lugar a uma de dor. — ARGH!

Shiryu jogou a cabeça para trás e o sangue veio à boca, fazendo-o cair ajoelhado e apoiar as mãos no chão. A garota de tranças apenas arregalou os olhos, chamando por seu nome. O cavaleiro de Dragão olhou rapidamente em sua direção, perceebndo a aflição em seus olhos e se voltando para Seiya, vendo o cosmo ainda presente em seu punho e percebendo sua respiração pesada.

"O que foi isso que...", pensou Shiryu levando a mão a altura do abdômen  e percebendo um leve hematoma que surgiu ali. Tinha certeza que havia se esquivado de todos os seus golpes... ou ele teria realizado um naquele segundo sem que ele tivesse notado? "Não... Não pode ser. Como não pude ver esse seu ataque?", e levantou a cabeça em direção de Seiya, com seus olhos, antes brilhantes pela vitória dando lugar ao descontentamento meio às mechas escuras de seus cabelos.

Seiya, por outro lado, trazia o punho mais para junto do rosto. Então seus golpes não teriam sido todos falhos. Algum realmente o atingiu. Aquilo o reanimou, reacendendo sua chama, seu cosmo. Shiryu percebeu isso, levantando-se no momento que viu aquele brilho em sua direção. Foi preciso agir rápido e saltar antes mesmo de Seiya avançar contra ele, fazendo-o pular por cima de Pegasus e cair às suas costas. Aquilo fez o público ir ao delírio, assim como Shiryu sentir-se confiante.

No primeiro momento, acreditou realmente que havia escapado, mas logo sentiu uma segunda dor, agora na boca do estômago que o fez perder o ar por breves instantes e fazê-lo novamente cair. "Não consigo acreditar! Como ele, fraco do jeito que está, pode ter conseguido me atingir? Como e quando ele me atingiu? Como não pude enxergá-lo!?", pensava Shiryu se colocando de pé, apoiando-se na perna e olhando Seiya às suas costas.

O Cavaleiro de Pegasus estava fraco, bem mais debilitado, mas estava conseguindo atingi-lo, algo que até poucos instantes era impossível. "Os seus meteoros estão ficando mais fortes e... perfeitos, mas... como?".

"INCRÍVEL, senhoras e senhores... Pegasus abre vantagem contra o Cavaleiro de Dragão desferindo dois golpes certeiros. O público aqui, na Cúpula do Coliseu se divide entre os dois Cavaleiros" 

"Eu não posso permitir que Seiya abra vantagem sobre mim. Preciso derrotá-lo agora...!", dizia Shiryu elevando seu cosmo, com o dragão às suas costas parecendo responder à força que empregava. Mais uma vez puxou seu punho para fora enquanto o outro braço se elevava. Se executasse seu golpe ali, com Seiya no estado que estava, a luta seria definitivamente encerrada.

— Shiryu... — chamou Seiya baixando levemente sua guarda. — Eu não faria isso se fosse você. 

— O quê? — indagou Shiryu sem entender aquelas palavras, franzindo o cenho. — O que está dizendo, Seiya? 

— Eu vou derrotá-lo antes mesmo que execute seu Cólera do Dragão. — respondeu Seiya com convicção, e aquelas palavras não soavam um blefe. — Você se expôs demais, Shiryu. Se escolher executar seu golpe, apenas um de nós ficará de pé. O que você escolhe?

Ouvir aquilo fez Shiryu engolir a seco. Ele não estava mentindo e podia ler isso em seus olhos. Estava determinado, bem certo do que pretendia fazer, e aquilo fez Shiryu estremecer. "Por um acaso ele foi capaz de ver... Não! Ele não pode ter percebido isso após ter sido golpeado uma única vez. Não, não tem como ele me vencer, não do jeito que ele está". Shiryu se negava acreditar naquilo, e foi sua vez de transpirar, denotando seu nervosismo, e sua respiração falhar naquele momento.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo:
O Santuário inicia seus movimentos, mas outras ameaças rodam às sombras Cúpula do Coliseu na noite de decisão da maior de todas as batalhas em sua arena.



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